Languedoc-Roussillon
Languedoc-Roussillon é uma região pouco encontrada em livros sobre vinhos, especialmente dos autores nacionais. Sinal de pouco prestigio? Talvez, mas ledo engano de quem esquece esta região Francesa que produz belos e saborosos vinhos por uma fração do preço das famosas regiões produtoras, que nem sempre entregam o que prometem. Criada em 1985, é uma região em plena e constante mutação no sentido de elaboração de regulamentação e estabelecimento de novas AOCs, diferentemente de Bordeaux, que teve uma revisão em 150 anos, e Borgonha onde os produtores estão acorrentados por regulamentações muito restritivas. Bom em alguns aspectos, limitante em outros. Sendo uma das 26 regiões administrativas Francesas, geográficamente se inicia na fronteira com a Catalunha, Espanha, e vai quase até à Cote D’Azur no Sul da França. A parte mais em contato com a Catalunha, e conhecida como a Catalunha Francesa, é Roussillon que até ao século XVII pertencia aos Espanhóis.
É a região que mais produz vinhos na França, cerca de 30%, e é, individualmente, a maior região produtora do mundo com aproximadamente 28.000 quilômetros quadrados de vinhas. Algo como duas vezes superior a toda a produção dos Estados Unidos, quatro vezes a Austrália e duas vezes Bordeaux. Até aos anos 70, a produção era bem superior à demanda, a qualidade era medíocre e os preços altos. Era mudar ou morrer e eles mudaram. Mudaram a filosofia comercial, investiram em novas tecnologias, replantaram vinhedos, substituindo cepas de baixa qualidade por outras nobres. Hoje é uma região onde se encontram ótimos vinhos com preços bem acessíveis quando comparados a Bordeaux, Borgonha, Alsácia e Champagne. Junto com Cote du Rhône, que veremos em Julho, as regiões que mais me atraem do ponto de vista da relação Qualidade x Preço x Satisfação. É aqui que os consumidores mais podem obter prazer sem que percam as calças no processo.
São cerca de 50.000 vinhedos, 400 cooperativas (quase uma por vilarejo), cerca de 2800 produtores de vinhos produzindo aproximadamente 2 milhões de garrafas de vinho. Destas, cerca de 17% advém de regiões AOC, 15% de Vin de Table (vinho de mesa) e a maior parte, 68%, é de Vin de Pays (VdP) ou vinhos regionais. É nesta denominação de VdP que saem alguns dos maiores achados de vinhos que recomendei. Esta denominação tem de tudo, de bons, alguns ótimos e também muito vinho de baixa qualidade, porém permite que os produtores inovem e busquem fazer coisas diferentes já que têm mais liberdade quanto ás uvas que podem plantar e cortes que podem fazer. Apesar do apelo maciço a Bordeaux e Borgonha, é por aqui que nós consumidores nos podemos esbaldar, pois a quantidade de bons rótulos no mercado nos permite tomar bons caldos por bons preços sendo esta a região em que eu mais depositaria meus parcos trocados na faixa de vinhos Franceses de até R$100,00. Gosto muito do caráter e frescor dos vinhos produzidos na região. Tanto dos brancos como, especialmente, dos tintos. Os cortes com Syrah, Mouvédre, Granache e Carignan são especiais e diferenciados em função dos diversos terroirs. Na lista de Tomei e Recomendo existem alguns grandes rótulos por preços realmente muito bons. Prove!
As principais AOCs e regiões produtoras são; Saint Chinian, Faugéres, Fitou, Corbiéres, Minercois, Banyuls (quase na Catalunha), Rivesaltes, Pic St. Loup, Coteaux du Languedoc, Cotes du Roussillon, Limoux com seus espumantes e Costiers de Nimes. Esta ultima tem uma característica muito especial, que é o fato de que mesmo pertencendo geográfica e politicamente à região de Languedoc-Roussillon, seu terroir, uvas e cortes, têm muito mais a ver com a região de Cotes-du-Rhône.
Roussillon por sua vez, é famosa na França, não tanto por aqui, pela produção de seus vinhos “Vin Doux Naturels” (vinhos doces naturais), que de naturais não têm é nada. Embora o açúcar seja inerente à uva, o método de elaboração destes vinhos inclui a intervenção do homem que interrompe sua fermentação adicionando-lhe álcool viníco para que o vinho conserve a doçura. Os mais conhecidos são o Banyuls um vinho tinto cantado em prosa e verso como o grande acompanhante de chocolate, o Muscat de Rivesaltes que é, essencialmente, branco e o Maury tinto que é praticamente só consumido na região.
No mês que vem falaremos sobre Borgonha, Loire e Cotes du Rhône. A partir de amanhã, uma sequência de destaques de Boas Compras que nossos parceiros disponibilizam. Alguns provei e existem belos vinhos por preços bem camaradas. Neste primeiro post, mais de vinte diferentes rótulos para você se aventurar.