Garimpando Bordeaux
Bem, o garimpo mesmo não foi feito por mim, eu só fui sorver do trabalho do CIVB (Conselho Interprofissional dos Vinhos de Bordeaux) em seu projeto “Bordeaux ao Seu Alcance” que tem tudo a ver com os objetivos deste blog. Como disse ontem, vinhos BGB (Bons, Gostosos e Baratos) existem em qualquer lugar e, mais do que nunca, há que se divulgar isso. Parece que os produtores e importadores, pressionados pela crise, finalmente veem descobrindo o que nós consumidores queremos, Qualidade com Preço, sendo este evento um claro exemplo disto.
Muito bem organizado pela Cristina Neves num local muito bonito (Espaço Siquini Gourmet), o evento teve a participação de cerca de 15 importadores com algo ao redor de uns 80 ou 90 rótulos à prova. Nesta faixa de preços de até R$100,00, com alguns poucos desvios, os vinhos são mais jovens e prontos a beber não sendo rótulos de grande guarda apesar de que alguns podem evoluir com mais dois ou três anos de garrafa. Na grande maioria, no entanto, são vinhos já prontos a beber. Destes provei uns 28 a 30, na grande maioria bons, tendo cerca de uma dúzia deles se destacado. Falemos desses vinhos:
Casa do Porto, três rótulos entre eles o famoso Mouton Cadet, o Baron Nathaniel e o que mais me agradou, o Chateau Bastian 2005. Com 50% de Merlot, vinho muito saboroso, redondo, fresco e frutado sem grande complexidade porém bastante equilibrado e fácil de tomar. Uma boa relação Custo x Beneficio por R$65,00, o que acabou sendo uma constante no evento.
La Cave Jado, um pequeno e seletivo importador que tem por filosofia trabalhar com pequenos produtores e grandes sabores, escolhidos a dedo, ou melhor, a goles garimpados em diversas viagens pela região. Dois muito bons vinho; um mais leve e fácil de agradar porém já mostrando alguma complexidade e o outro um degrau bem acima, ambos da margem direita o que significa uma maior influência da uva Merlot no assemblage. O Chateau Piron 2005, um bom ano na região, é um vinho de médio corpo, pronto mas podendo evoluir um pouco mais em garrafa com uma entrada de boca cativante, taninos finos, cheio sem ser denso, boa acidez um vinho que agrada aos sentidos e ao bolso já que custa apenas R$59,00. O Cuvée Hommage 2003, um outro bom ano, apesar de características diferentes, mostrou-se um pouco mais fechado, complexo, de corpo médio para encorpado, fresco, boa estrutura e volume de boca, mostrando ser um vinho de guarda que deve evoluir bem por mais uns três ou quatro anos. Produção orgânica e um preço de R$92,00, o mais caro de seus vinhos, o que demonstra que este é um importador a se visitar e garimpar.
Decanter. Parceiro firme, importador sério e com ótimo portfolio trouxe quatro rótulos ao evento (Chateau Bel Air Perponcher branco e tinto, Chateau La Gasparde e Chateau Noiallac), todos bons porém com destaque para dois vinhos. O Bel Air Perponcher Reserve 2007 branco, um corte de Sauvignon Blanc, Sémillon e Muscadelle produzido pela família Despagne é muito saboroso, cítrico, balanceado e fresco por cerca de R$72,00 e o muito bom Chateau Noaillac 2005, corte de Cabernet Sauvignon/Merlot e Petit Verdot da sub´região do Medoc sendo produzido pelo conceituado Chateau La Tour de By. Um Cru Bourgeois de primeira com aromas de boa intensidade frutado e algo floral, na boca mostra-se ainda levemente fechado, mas já delicioso, complexo, estilo clássico da região, bem equilibrado, taninos aveludados, final algo mineral. Vinho para hoje e melhor ainda em mais dois ou três anos e o preço de R$104,00 é bem em linha com o que entrega.
Expand. Três vinhos entre eles um velho conhecido o Chateau David 2005, vinho simples, e saboroso porém sem grandes atrativos. Gostei bastantate do Clos du Roy 2006 branco que, apesar da safra, ainda apresenta uma boa acidez e conseqüente frescor assim como uma paleta olfativa muito aromática e convidativa. O destaque, no entanto, vai para o Chateau Le Monastère 2005 um mui agradável assemblage de Merlot/Cabernet Sauvignon e Malbec com12 meses de barrica. Frutado, intenso, bom volume de boca e final muito saboroso por apenas R$60,00, uma das muito boas relações Custo x Beneficio apresentados neste evento. Não presentes, porém ótimas sugestões também, são os Chateaus: Rocher Calon, Jalousie e Plaisance sem contar a baba que é o Chateau Peyruchet Blanc.
Mistral. Dentro seu imenso portfolio, a agradável e simpática presença do Chateau la Gatte apresentado por seu proprietário. O elétrico e apaixonado, Michael Affatato um Ítalo-americano produzindo vinhos muito bons em Bordeaux junto com sua esposa francesa. Seu La Butte Vieilles Vignes (100% Merlot) representou os Merlots franceses em meu Desafio de Merlots do Mundo realizado ontem à noite. O resultado, bem esse é um outro assunto que postarei mais adiante.Foram quatro bons rótulos (La Gatte Rosé 07, com sabor e corpo de vinho, Domaine de Montalon 05, La Gatte Tradition 05 e La Butte Vielles Vignes 05) todos dignos de destaque. O que mais impressiona pela relação Custo x Beneficio e, nesse sentido, o melhor que vi no evento é o La Gatte Tradition 2005, um vinho jovem que não passa por madeira e está com um preço ao redor de R$45. Pleno de sabor, leve, suave, fácil de beber e harmonizar com os pratos de nosso dia-a-dia, mineral e harmônico, um grande achado que certamente virá a freqüentar minha mesa com uma certa assiduidade. O La Butte Vieilles Vignes 2005 é um Merlot produzido com vinhas de mais de 50 anos de idade, bem equilibrado, boa concentração, gostoso de se tomar e com um bom preço, ao redor de R$85,00, apesar de uma produção limitada. Domaine de Montalon 2005, o mais complexo deles todos, um vinho de muito boa estrutura, ainda firme, porém elegante na boca, vibrante mostrando um bom frescor, ótima textura, taninos finos e elegantes, um Bordeaux Superieur de primeiro nível e o preço é bem em linha com o produto, algo em torno de R$82,00.
Vinci. Três rótulos; Chateau Rauzan-Despagne Reserve 05, Chateau Saint-Marie 06 e, a meu ver, o destaque entre eles, o Legende R 2006, de Domaines de Baron de Rotschild, com tudo no lugar. Pronto, redondo, rico em sabores, sedoso e equilibrado, um vinho vibrante que enche a boca de satisfação deixando um gostinho de quero mais. O Preço ronda os R$90,00.
Vinea. Três rótulos; Chateau Grand Jean 2004, Chateau Desclau Cuvèe Marguerite 2002 e o Chateau la Raze Beauvallet 2005. Os dois últimos são ótimos e o Cuvée Marguerite 2002 (R$98,00) já me tinha sido recomendado pelo Luiz Horta. Como as sugestões dele dificilmente dão errado comigo, este mais uma vez comprovou uma certa sinergia de gostos. Muito bom corte de Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot, com uma paleta olfativa intensa e frutada, frutos negros tipo cassis e nuances de couro. Na boca possui taninos sedosos, corpo médio, redondo e absolutamente pronto a beber com um final de boca algo especiado e de boa persistência. O Chateau La Raze Beauvallet 2005 (Mèdoc) foi o vinho que me virou a cabeça e me conquistou. Muito raramente numa degustação destas, tenho a capacidade de escolher um como o vinho da noite. Sempre tem alguns que me encantam por uma ou outra razão, mas desta vez cravei este vinho desde que levei a taça ao nariz e confirmei na boca. Um vinho que mostra ser ainda um pouco jovem, mas como a maioria dos bons vinhos, já mostra uma harmonia, riqueza de sabores e elegância de taninos que permite que seja tomado desde já e com muito prazer. Certamente evoluirá muito ainda, mas seu final de boca longo, bem fresco e frutado convida a mais uma taça. Tá, o preço está um pouco fora do combinado, está por R$127,00, mas ô R$27 bem pagos!
Vitis Vinífera. Mais uma das dicas do Luiz que tive que conferir. Não tive oportunidade de pegar preços, mas vi que o Luiz tinha mencionado em seu blog um preço ao redor de R$82,00 para o Chateau Lesparre 2002 de Michel Gonet (o mesmo do Champagne) que foi o vinho de maior destaque disponível no estande desta importadora do Rio de Janeiro. Macio, saboroso, bem equilibrado, boa estrutura, algo vegetal, taninos sedosos e um final de boa persistência. Realmente um bom vinho que agrada fácil, mesmo não sendo um vinho simples, e está prontíssimo para ser apreciado em toda a sua plenitude. Da linha de vinhos provados, o Lesparre Rosè e o Merlot também são vinhos muito agradáveis, simples, mas bem saborosos. Dependendo do preço duas interessantes escolhas.
Winery. Bons vinhos com bons preços. Dois vinhos em destaque; Grand Palais 2004, um vinho fácil, simples, macio e saboroso porém descompromissado sem grandes apelos emocionais, com um preço arrasador, em torno de R$35,00. O que mais me chamou a atenção foi o Chateau Giraud – Cheval-Blanc 2006 alguns degraus acima do primeiro, ainda um pouco fechado, mas mostrando taninos finos, elegante e amistosos, bem equilibrado, final aveludado e saboroso um bom vinho para acompanhar comida, mais do que para tomar solo e um preço muito camarada, por volta dos R$50,00.
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Adorei a concepção do evento que vem demonstrar ao publico, através da imprensa e de formadores de opinião de nossa vinosfera, de que até da França chegam bons vinhos que cabem em nosso bolso. É isso que queremos e é isso que esperamos venha a ter mais divulgação, tanto é que a própria disseminação de blogs de vinho acaba sendo decorrência e indicação disso; a busca de bons vinhos a bons preços. Os grandes vinhos são ótimos, mas passam longe do poder aquisitivo da maioria do consumidor médio que não tem cartão corporativo e tem que trabalhar para pagar suas contas. Estes eventos mostram-nos que existe luz ao fim do túnel e não é um trem chegando! Parabéns aos promotores do evento, espero que ocorram mais do gênero com vinhos da Itália, da Espanha, de Portugal, da Austrália, Nova Zelândia, etc.
Salute e Kanimambo
Bom dia.
Como Representante do Conselho Interprofissional dos Vinhos de Bordeaux – CIVB – para o Projeto “Bordeaux ao seu alcance”, eu gostaria de agradecer pelos comentários tecidos ao Salão Privado dos Vinhos de Bordeaux, evento organizado e patrocinado pelo CIVB.
O Salão é a segunda atividade do Projeto e tem como objetivo principal destacar e promover vinhos de Bordeaux com boa relação qualidade / preço.
O Projeto terá a duração de três anos e pretende envolver em suas diversas atividades os profissionais do meio do vinho e o consumidor.
Atenciosamente
Anna Carolina Possebon
Merci!
Tenho acompanhado seu blog a algum tempo, e gosto muito das suas dicas.
Gostaria de saber o que vc acha de comprar vinhos fora dos distribuidores , como mercados do tipo Pão de Açucar, Carrefour ou St.Marché, etc.
As vezes os preços e variedades oferecidas valem a pena?
Raquel.
Oi Raquel, eu pessoalmente tenho algeriza a comprar vinhos em supermercados porque, na sua grande maioria, possuem a menor diversidade e os mais altos preços. É que as pessoas estão passando e, na facilidade, compram uma grarrafa. Se for comprar duas, procure outro lugar, preferencialmente uma loja especializada. No meu post “Onde Comprar” tenho diversas sugestões caso vc seja de São Paulo. Pão de Açucar, com exceção feita a algumas promoções, é o mais caro de todos e não é pouco não, pode chegar a 30 ou 40%! Carrefour possui vinhos de pouca qualidade, mal cuidados e, quando melhorzinhos, o preço é caro. St. Marché e Emporium São Paulo são melhores e mixam bons preços com alguns mais caros, mas a diversidade é bem razoável e são bem cuidados. WalMart pode ser interessante em alguns momentos e alguns produtos. De qualquer maneira, se der, deixe de lado o supermercado, diferentemente do Chile, e busque as lojas onde vc terá, na maioria das vezes, melhor atendimento, preço e diversidade.
Abs e grato pelo contato
Ganhei um vinho do tio da minha namorada ele é um:vinho chateau sainte-marie bordeaux supérieur grand via de bordeaux 2006 vicilles vignes, quero saber como faço para encontrá-lo, na internet é muito complicado.
Everton, não conheço o vinho e creio que a unica forma de descobrires algo é exatamente na internet, fuçando no ggogle e esses caminhos virtuais. Se ainda tiveres a garrafa e ela tiver sido comprada aqui, deverá ter no contra rótulo o nome do importador, essa é uma boa pista a seguir. Boa sorte
Quero saber também se é um vinho de ótima qualidade?
JFC,
salvo engano, tem na Vinci Vinhos, nesta mesma safra.
Abs.