Uvas & Vinhos – Tempranillo, um Ícone Espanhol
Falar de Tempranillo é falar de Espanha onde as primeiras videiras foram plantadas por volta do ano 1.100 aC, na região de Cádiz (perto de Jerez de La Frontera), provavelmente pelos Fenícios. Os primeiros vinhos eram adocicados e pesados. Contudo, durante o século 8º até 15º, a Espanha esteve sob ocupação dos mouros e, para a cultura desse povo, a produção de vinhos não era prioridade. Sendo assim, o desenvolvimento vitivinícola ficou estagnado até meados do século XV. O padrão de qualidade conhecido atualmente, aparece depois da crise da phylloxera, no século 19. Hoje a Espanha se encontra entre os três maiores produtores mundiais, sendo a maioria dos seus vinhos tintos elaborados com Tempranillo, uva ícone do país, em forma varietal ou em cortes com Garnacha, Graciano e Mazuelo e uvas internacionais como Cabernet Sauvignon e Merlot em menor escala. A origem de seu nome vem provavelmente da palavra espanhola temprano, que significa cedo, devido á precocidade de seu ciclo vegetativo em relação às outras variedades tintas da região.
Seu cultivo predomina na região de Rioja, com cerca de 70% dos vinhedos, mas está espalhada pelo país com nomes muitas vezes diferentes como; Ull de Llebre (Catalunha); Cencibel (La Mancha); Tinto Fino (Ribera Del Duero);Tinta del Pais (Ribera del Duero onde a presença é também bastante forte) e Tinta de Toro (Toro). Possui casca espessa e escura, bago de tamanho médio, acidez não muito alta e equilibrada, normalmente não produzindo vinhos com alto teor alcoólico, variando entre 10,5 e 13 %. Em geral, os vinhos de Tempranillo são elegantes, estruturados e complexos quando passam por madeira. Seu estilo fica entre os tintos de Bourgogne e Bordeaux. Podem apresentar aromas de frutas vermelhas como morango, caramelo e especiarias, mas não é, tradicionalmente, uma uva que gera vinhos de forte presença aromática sendo mais exuberante em boca. A complexidade aromática, quando existente, vem normalmente com o corte com cepas outras que, preferencialmente, também lhe aportem maior acidez. Por suas características, é bastante resistente á oxidação o que lhe permite um maior tempo de contato com madeira, tradicionalmente carvalho americano, como nos casos dos Reservas e Gran Reservas que passam no mínimo 24 meses em barricas e uma longevidade bastante estendida.
Conforme Oz Clarke em seu livro, Grapes & Wines, a Tempranillo é uma uva que não reproduz muito o seu terroir, ao contrário da Pinot Noir, e sim suas próprias características o que faz com que seus sabores sedutores se possam sentir nos mais diversos locais onde é plantada, preferencialmente em regiões quentes. Sua complexidade vem mesmo é do estilo de vinificação a que a uva é submetida. Além da Espanha, a Tempranillo é cultivada em outros países como Portugal, nas regiões do Douro (onde é conhecida como Tinta Roriz)) e do Alentejo (com o nome de Aragonez) assim como na Argentina e Austrália onde os vinhedos desta cepa têm aumentado exponencialmente. Dizem que será a uva do futuro, especialmente no Novo Mundo, então esperemos para ver.
Jovens Tempranillos, tendem a ser de corpo leve para médio, macios e amistosos devendo assim como os pinots, serem servidos levemente refrescados, por voltas dos 15 a 16º quando melhor demonstram toda a sua sedução, alcançando a plenitude dos sentidos como bem me recordou meu amigo Juan Rodriguez, o mestre da Tempranillo no Brasil. Os vinhos de Ribera Del Duero, Toro e Douro (Roriz) tendem a ser mais encorpados com uma carga tânica maior precisando de mais tempo para se abrir e mostrar toda a sua exuberância ao palato. Definitivamente, vinhos para serem decantados.
Eis o que o amigo Álvaro Galvão (Divino Guia) nos diz sobre sua harmonização – “é uma espécie que é colhida mais cedo, precocemente, e tem versatilidade enorme, pois se fazem vinhos com ela sem madeira, com madeira, em cortes, e todos muito gastronômicos, devido à sua acidez balanceada e taninos quase sempre domados. Carne de mamíferos e aves, de preferência as mais rústicas como caças, galinha D’angola e Faisão, em geral vão bem com ela. Coelho, à caçadora, lebre assada e paella também se harmonizam. Experimente uma morcella assada, que seja levemente apimentada e muito aromática, vai ficar muito bom.
Não nos esqueçamos também que para bebericar um Tempranillo sem madeira, jovem e com vivacidade, levemente resfriado é algo muito saboroso em dias mais quentes, acompanhando a maioria das tapas. Em geral, os vinhos de Tempranillo são boa opção para acompanhar comidas de sabor médio a pronunciado.”
Ainda de acordo com a Mariana, e eu assino embaixo, os Riojas maduros como os Reservas e Gran Reservas merecem algo mais substancioso como um porco assado ou pernil de cordeiro. Em geral, os Tempranillos de Rioja também combinam muito bem com cogumelos; os crianza, por exemplo, são uma boa opção para pratos com curry pouco apimentados. Quer tirar a prova dos nove, então comece pelos mais acessíveis e vá subindo na escala de preços e qualidade. Os vinhos abaixo foram todos provados e aprovados e os preços dados são meramente referenciais do mercado:
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Fincas Privadas Tempranillo 2007 – Argentina/Casa Palla – R$15,00. (dia-a-dia sem erro)
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Abadia Vegas 2006 – Castilla y Leon/Espanha/Expand – R$23,60 (verdadeiro achado).
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Fortaleza do Seival Tempranillo – Miolo/Brasil – R$24,00 (dos melhores no Brasil).
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Clos Torribas – Penedés/Espanha/Pinord do Brasil – R$29,00 (leva um tico de Cabernet Sauvignon)
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Don Roman – Rioja/Espanha/Casa Flora – R$35,00 (leva um pouco de Graciano).
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Artero Tempranillo – La Mancha/Espanha/Decanter – R$36,00.
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Códice – Castilla y Leon/Espanha/Peninsula – R$59,00 (sempre uma segurança)
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Marqués de Tomares Crianza – Rioja/Espanha/Casa Flora – R$58,00
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Sierra Cantabria Cosecha – Rioja/Espanha/Peninsula – R$59,00
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Ontañon Crianza – Rioja/Espanha/D’Olivino – R$69,00
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Viña Real Crianza – Rioja/Espanha/Vinci – R$72,00
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Luis Cañas Crianza – Rioja/Espanha/Decanter – R$75,00
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Viña Sastre Roble – Ribera Del Duero/Espanha/Peninsula – R$81.00
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Protos Joven – Rioja/Espanha/Peninsula – R$81,00
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Zuccardi Q Tempranillo – Mendoza/Argentina/Ravin – R$105,00
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Prado Rey Crianza – Ribera Del Duero/Espanha/Decanter – R$106,00
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Sierra Cantabria Crianza – Rioja/Espanha/Peninsula – R$109,00
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Condado de Haza – Ribera Del Duero/Espanha/Mistral – R$110,00
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Marques de Murrieta Reserva – Rioja/Espanha/Expand – R$130,00
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Dehesa La Granja Selección – Toro/Espanha/Mistral – R$145,00
- Mais algumas preciosidades acima deste preço como; Protos Reserva, Selección e Gran Reserva/Allende/Abadia Retuerta Selección (Península), Prado Rey Reserva e Elite (Decanter), Pesquera Reserva/Viña Bosconia Reserva/Viña Tondonia Gran Reserva (Mistral), Viña Arana e Viña Ardanza Reservas (Zahil)/ Castillo de Ygay (Expand) e Herencia Remondo La Montesa Reserva/Viña Real Gran Reserva (Vinci).
Algumas outras opções a serem conhecidas, mas que não posso comentar pois não os provei, são alguns varietais portugueses como João Portugal Ramos, Cortes de Cima e Esporão todos de Aragonês (Alentejo) / Quinta dos Carvalhais e Quinta dos Roques Roriz (Dão) / Quinta de la Rosa e Quinta do Vale da Raposa ambos Roriz (Douro). Pode-se também provar alguns outros argentinos como o Anubis de Suzana Balbo, Finca el Retiro e Salentein além dos vinhos de O J Fournier. Boa viagem de descobrimento por estes sabores da Tempranillo, espero que curtam e que a matéria produzida lhe possa ser útil e esclarecedora, essa foi nossa intenção.
Post elaborado a seis mãos! O texto sobre as uvas chega pelas mãos da amiga Mariana Morgado e minha, a harmonização pelas do experiente Álvaro Galvão e as sugestões de vinhos são minhas. Para ver como contatar os importadores e checar onde, mais próximo de você, o rótulo está disponível, dê uma olhada em Onde Comprar, post em que constam os dados dos importadores e lojistas assim como de produtores brasileiros.
Salute e kanimambo.
prezado João, seria possível harmonizar um tempranillo com um prato a base de frango caipira?
Oi Marco, gostei do som da banda cara. Meu gosto musical é bem eclético, mas sou fã de Deep Purple e Black Sabbath e o som me agradou muito, sucesso! Bem, mas falemos do tema vinho e harmonização que foi a razão de seu contato. Olha, creio que tudo depende do Tempranillo e do frango caipira. Depende do molho e modo de preparo do frango e dos taninos e tipo de concentração do tempranillo. Gosto de harmonizar pensando em peso. Se tivermos um prato pesado, um vinho tinto de taninos firmes será melhor parceiro e se um prato leve, devemos optar por vinhos menos tânicos e de pouca presença de madeira. De qalquer forma estamos falando de carne branca, então sim, a meu ver um tempranillo pode ir bem, mas de taninos suaves e macios.
obrigado por visitar a página da minha banda e que bom que compartilhamos não só o gosto pelos vinhos.
Vou tentar harmonizar um Montecillo 2001 com um prato chamado Kafuntrique, que leva repolho e carne de frango refogados, mais uma massa cozida no vapor do mesmo. Vou também usar este mesmo vinho para refogar os ingredientes. Vamos ver no que dá…
Oi Marco, me parece que o pratopossui um certo peso e o Montecillo 2001 deve estar já bem maneiro, então até deve dar samba! Depois compartilha com a gente essa experiência?
abs
João, o prato ficou sensacional!!! assim como sensacional estava o vinho!!! Eu estava com receio de combinar um tinto com carne branca mas depois que vc me encorajou eu fiquei destemido, não deu samba…deu uma polska, tocada com balalaica e uma guitarra espanhola, heheheheheheheh
Muito obrigado pela dica.
João,por acaso conheces o tempranillo e o crianza Beronia(Rioja/Espanha)??
Oi Vivi, não esses não conheço. Sei que quem importa é a Inovini, mas o que inicialmente pesquisei não me seduziu. Um dia provo e publico algo por aqui. Desculpe não ter como ajudar.
Abs e grato pela visita
obrigada João.abs.seu blog e muito interessante! parabens.
João se for possivel me indique um bom tempranillo…please.Eu comprei um malbec e um sauvignon da Lagarde, regiao de Mendoça,safra 2009, ja ouviste falar?? comprei no suto,nao provei ainda.
Vega Sauco Piedras Crianza – Toro / Dios Ares Crianza – Rioja / Vina Satre Roble / Ribera del Duero / Sierra Cantabria Seleccion, Luis Canas Crianza e Finca Nueva – Rioja e todos os outros acima mencionados no post. Esses vinhos da Lagarde costumam ser bons, mas bastante encorpados e aí é uma questão de gosto. São bons, tecnicamente falando, mas não me seduziram.
obrigada joao pelas dicas.
Olá João, pela informação do meu importador de vinhos, estamos em falta do Finca Resalso aqui no Brasil, este vinho é Espanhol, Tempranillo, creio que o sr deve conhecer este rótulo… Que outro vinho o sr me indica?
Desde já agrdeço a atenção…
Winnie, esse rótulo não conheço não. No post cito diversos rótulos e nos comentários acima também, mas pode adicionar mais um na lista do bons e baratos, o Ribereño da região de Ribera del Duero, 100% Tempranillo macio, redondo e fácil de gostar agradando os mais diversos paladares ou ainda o Legado Munoz um Garnacha 100% que só passa em inox.
Doravante irei acompanhar teu sitio.
Ana Carla Souza
Prezado João participarei de um encontro entre amigos de queijos e vinhos, aonde teremos queijos diversos; inclusive maturados, porém tem alguns engraçadinhos que vão descaracterizar a noite levando outras guloseimas como copa. Um Tempranillo espanhol se comporta bem nesta noite de degustação? E especialmente uma Tempranillo argentino se comportaria melhor? O que você sugeriria de tinto?
Ana carla, acho o Tempranillo uma boa opção por sua versatilidade, mas me restringeria aos espanhóis que são melhores e existem diversos rótulos de muita qualidade com preços bem acessíveis. Inclua um queijo Manchego (de ovelha) tipo o El Pastor que vai dar um samba legal!
Boa dica Ana, só ressaltaria que esse Chardonnay deva ser com pouca madeira, porque tem umas coisas por aí que matam qualquer alimento que se ponha junto!! Duas sugestões aí são de chilenos, o Rayun Reserva e o Espino Gran Cuvée Chardonnay ambos abaixo dos R$60.
Ola Joao, vou receber na proxima semana uma encomenda do Toro Loco e gostaria de provar com alguns amigos. O que sugere para o jantar?
Olá Tereza, crio que esse vinho é um Tempranillo espanhol que fizeram o maior auê na mídia. Não sei se é tudo isso, cá tenho minhas dúvidas, porém você pode depois nos deixar aqui suas impressões. É que já vi essa história antes, então não costumo me entusiasmar demais com todo esse marketing agressivo, mas de qualquer forma fica difícil me manifestar mais detalhadamente por falta de conhecimento do vinho. A Tempranillo é bastante versátil e depende muito de como esse vinho foi vinificado, do estilo, do corpo, etc. mas uma carne é sempre uma boa pedida, um ensopado, coelho, etc. e se o vinho for mais ligeiro sempre dar uma refrescada e servi-lo um pouco mais fresco entre 15 a 6ºC máximo. Como vai receber os amigos para jantar e não conhece o vinho, sempre recomendo que nessas horas sirvamos algo que conheçamos a não ser que a idéia seja mesmo desbravar novas fronteiras junto, minha sugestão é provar o vinho antes só para desencargo. Abs, bom jantar e depois nos diz algo.
pelo que li no blog do Luis Cola, parece que minhas desconfianças se concretizaram – Veja o link > http://www.vinhosemaisvinhos.com/2012/09/em-primeira-mao-direto-da-taca-degusta.html
Fantástica lá matéria. Técnica y muy didáctica. Felicitaciones!!!! És asi que que valê-la pena sumergirnos em ese maravilhoso mundo de los vinos, particular y especialmente em los espanoles de Rioja….
Juan, gracias por tu comentario. Venindo de alguien qie vive la tempranillo, tiene un valor aun mas importante. Saludos