Mais da SISAB 2010
É, já faz um pouco mais de dez dias que a feira acabou, mas só agora estou conseguindo terminar a reportagem do que vi e provei no último dia, sendo que alguma coisinha ainda fica para a semana que vem. Realmente foi uma feira em que os resultados foram, aparentemente pelas informações obtidas junto aos expositores, muito positivos e incrível como os países do leste europeu estão descobrindo os sabores de Portugal. Eram muitos os visitantes dessa região numa feira de negócios enogastronomica que teve seus objetivos alcançados, gerar novos negócios para os produtores portugueses.
Provam – esta é uma casa produtora composta de 10 vinicultores da sub-região de Monção no Minho, norte de Portugal e fundada em 1992 sendo importado e distribuido pela Casa Flora. Produtor que priva de minha intimidade pois é de constante presença em casa (será na loja também) com seu Varanda do Conde e, menos costureiramente, como o Portal do Fidalgo. Não conhecia ainda o Vinha Antiga que é um alvarinho delicioso, fresco e complexo, de bom corpo que passa por cerca de quatro a cinco meses em carvalho. Ótima prova e passei mais de um dia para dar uma bicada, eheh!
Adega Cooperativa do Cadaval – CVR Lisboa, é um produtor em ascensão. Sou fã de seus brancos e recém conheci seu espumante Confraria Bruto, um DOC Óbidos sobre o qual tecerei maiores comentários em post em separado quando falarei de alguns bons espumantes provados durante esta curta visita a Portugal, fora dos que participaram do Desafio. Dois vinhos para o dia-a-dia e que têm tudo a ver com nosso calor e nossos pratos costeiros, os Adega da Confraria branco leve e rosé, vinhos que de certo se dariam bem por terras brasilis com uma vantagem adicional, são baratos e gostosos, mesmo que sem qualquer objetivo de complexidade. Esta, podemos encontrar sim, no Espumante e no Confraria Tinto, um tinto bastante agradável e fácil de tomar mas já situado num patamar diferente e ainda possuem um reserva em fase de apuramento. Seu Confraria Branco Leve é outro parceiro do verão que regularmente visita minha casa e minha mesa. Gente para ficar de olho por aqui e em Maio na Vino & Sapore.
Domingos Alves de Sousa – produtor que dispensa apresentações e que há muitos anos faz parte do portfólio da importadora Decanter, um parceiro meu tanto no blog quanto na loja. Dificil encontrar um vinhos deste produtor que não se goste. Desde o mais simples, Estação Douro, um daqueles rótulos de ótima relação custo x beneficio no mercado até seu mais elaborado vinho, Abandonado, todos são vinhos que enobrecem sua região, o Douro. Sem contar que o Domingos, quarta geração e seu filho Tiago vem seguindo seus passos para compor a quinta, é uma pessoa muito especial, muito gentil, simpático e sabedor das coisas, difícil separar o homem dos vinhos. Último dias, já meio da tarde e eu e ele sentados batendo papo e conhecendo alguns de seus vinhos topo de gama aos quais, por aqui, são de acesso mais difícil do ponto de vista monetário.
“Brincamos” de fazer uma vertical com seus vinhos, porém com rótulos diferenciados. O interessante, é que as parcelas são colhidas e vinificadas separadamente, para depois serem feitos os blends que comporão os diversos rótulos baseado na caraceristica que se quer dar a cada rótulo. Não pergunte qual a composição de castas de cada vinho pois, a principio, todos são um blend das castas autóctones da região; Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Cão, Tinta Barroca e Tinta Roriz mais um montão de outras menos conhecidas, podendo o porcentual de cada uma variar ano a ano dependendo de como cada parcela colhida se desenvolve. Eis os principais vinhos provados em ordem de safra, não na que foram provados.
- Reserva Pessoal 2003 – composto de três vinhedos da mesma parcela com uma complexidade de aromas produzidos por cepas de idades diversas. Cor ainda rubi, muito vivo com uma presença tânica bem maior que os outros três vinhos anteriormente provados, taninos esses que se desenvolvem na boca de forma elegante terminando aveludado e muito harmônico mostrando ser um vinho de grande estrutura que ainda deve evoluir bem por mais alguns anos.
- Porto LBV 2004 – sou fã deste vinho. Já tinha provado anteriormente, mas não canso de me surpreender com sua elegância, riqueza de sabores, fruta compotada, doce mas equilibrado por uma acidez no ponto em perfeito equilíbrio. Não é produzido todos os anos e são poucas as garrafas, sendo que desta safra foram só 8.000! Um dos ótimos LBVs existentes no mercado e na minha adega (eheh).
- Quinta da Gaivosa 2005 – um dos ícones do Douro, um blend de 15 a 20 cepas de vinhedos com mais de sessenta anos. Um grande vinho, encorpado, denso, de taninos finos e grande elegância, notas tostadas, final longo com notas minerais, um vinho de grande personalidade e complexidade que encanta e dignifica a região. Elaborado a três cabeças e seis mãos; do próprio Domingos, seu filho Tiago e seu enólogo consultor Anselmo Mendes, outro nome que dispensa apresentações.
- Quinta Vale da Raposa Grande Escolha 2006 – Nariz de boa intensidade com algumas notas florais, fruta madura e algum chocolate que convidam à taça. Ótimo volume de boca, firme, um pouco austero no inicio, encorpado, fruta compotada com alguma presença de madeira e um final com toques algo vegetais. Um belo vinho.
- Quinta da Gaivosa Vinha de Lordelo 2007 – só vinho bala meus amigos, só vinhaço! Esse realmente mexeu com minhas estruturas. Para terem idéia do privilégio, é um vinho elaborado com uvas de um vinhedo com mais de 100 anos e dos quais se fazem, quanto muito, umas 4.000 garrafas ano! Estamos diante de um daqueles vinhos de autor muito especiais e longo, extremamente longo tanto na boca como na memória que é onde os grandes vinhos marcam presença. É daqueles vinhos para serem tomados daqui a 10 anos com grande satisfação, mas que já está magnífico e pronto a beber. Tenho provado alguns vinhos desta estirpe que, arrisco dizer, são o que os fazem grandes e me lembro muito claramente do Viñedos Chadwick 2005 (chileno) que possuía bem essa característica. No nariz ainda algo tímido, alguma fruta madura compotada, mas é na boca com uma entrada marcante e sedutora que ele diz ao que veio. Complexo, muito rico, denso, de taninos ainda bem presentes porém muito finos mostrando uma elegância ímpar, no final aparecem uns toques de especiarias entre os frutos negros e alguma mineralidade. Acho que não preciso dizer que gamei, né?!
Segredos do Paladar – no estande do lado, uma empresa que comercializa e distribui diversos produtos que nos enchem o palato de satisfação. Seja com a ginginha Amo-te com flocos de ouro 24k, passando por delicias como o queijo de cabra biológico (orgânico) Herdade do Escrivão, as Broas de Alfarim com passas e pinhão, a Farinha Torrada um quitute que não conhecia e é de lamber os beiços, até chegar nos vinhos do Dão das Terras de Sto. Antonio. Pequeno produtor com uma produção de cerca de somente 25.000 garrafas produz dois rótulos, o Colheita (20.000 gfas) e o Reserva, provei ambos, até porque não resisto aos vinhos do Dão, muito pouco trabalhados no mercado externo e mesmo no doméstico.
- Terras de Sto. Antonio Colheita 2005 – passa dez meses em barricas de carvalho francês e americano que passam despercebidos. Corte de Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz, é um vinho que já se apresenta mais pronto a beber, redondo, elegante com um final mineral muito agradável e sedutor, fácil de agradar e muito apetecível.
- Terras de Sto. Antonio Reserva 2006 – mesmo blend de castas porém com cerca de 3 meses mais de barrica, mostra-se ainda um pouco fechado, médio corpo, taninos finos, fruta escura muito bem casada com a madeira, uma acidez muito boa que pede comida, final longo, maior complexidade, mas que já se toma bem hoje devendo melhorar e evoluir com mais um a dois anos de garrafa.
Bem por hoje é só, mas ainda tem mais. Tem a reportagem sobre os vinhos da Enoport (Caves Velhas) e sua nova investida no Brasil em parceria com a Domno (furo, em primeira mão) e meu agradável jantar com a Raquel e o Carlos da Quinta Mendes Pereira onde tomei um delicioso lançamento Escolha da Produtora entre outros rótulos com o já tradicional carimbo de qualidade desta casa.
Falei que essa feira foi dez e tudo isto em somente três dias! Salute, kanimambo e amanhã tem o resultado do Desafio Luso-Brasileiro de Espumantes.