Assassinei meu Bife Ancho
Arma usada, um Cobos “calibre” (rs) 2002! Como o João Pedro, amigo e colega blogueiro português, alentejano de boa cepa e autor do Copo de 3, gosto de meus vinhos mais “cordatos no trato do que abruptos e sem modos.”
Bem, não posso deixar de reconhecer que cometi aqui um erro, devia ter me aprofundado ainda mais na escolha do vinho antes de o abrir. De forma simplista, pensei que um vinho Malbec de 2002, nove aninhos nas costas e que descansava em minha adega há cerca de sete anos, já deveria ter-se encontrado e apresentaria uma nuance mais equilibrada e fina até porque os vastos elogios, teve até um blog que se referiu a ele como uma “dama”, e alta pontuação o procediam e indicavam um vinho de excepcional qualidade. Ledo engano, o bicho veio soltando labaredas pelas ventas tendo como combustível seus enormes 15.8% de teor alcoólico e uma tremenda camada de borra solidificada nos ombros da garrafa.
Já tive oportunidade de participar juntos com os amigos “panas” de uma degustação de poderosos Malbecs de Mendoza e minha opinião só se confirmou com este Cobos, não dá! Tudo bem, tem gente que gosta e respeito, mas são excessivos em tudo especialmente no álcool que toma conta do todo, não há equilíbrio que agüente!!! Pior é que dava para sentir, especialmente no palato, que existia uma base de boa qualidade por baixo, mas que o álcool não permitia que aparecesse. Pode até ser que daqui a mais uns dez anos ele se encontre e se torne um pouco mais cordato, mas neste momento, mesmo que podendo até existirem alguns potenciais predicados qualitativos a serem descobertos, deixa muito a desejar no aspecto hedonístico da degustação e certamente prejudica qualquer harmonização. Num momento desses, essencialmente hedonístico e não técnico, é dificil tentar desvendar esses potenciais predicados. No popular, é como se alguém chegasse para te conhecer e emvez de um abraço te desse um tapa na cara. Você perde o rumo e fica, justificavelmente, dificil buscar eventuais aspectos positivos nesse encontro!
Sei que provavelmente levarei porrada de tudo que é canto e ignorante deverá ser o menor dos insultos , parte aceita em função da péssima escolha de harmonização, porém não poderia deixar de compartilhar com os amigos esta incrível experiência. De qualquer forma, ainda tentarei repetir a prova com outro prato ou solo, porque como já diz o amigo Álvaro Galvão “um dia podemos não estar bem, noutro o vinho então só há terceira podemos fazer uma avaliação mais justa”, mas o preço é bem puxado o que limita eventuais testes e “colheres de chá”. O de 2006 (RP 98/99) está por volta dos R$700 (não pago para ver!) e o 2002 (RP 92/94) é difícil de se achar e custava algo em torno dos R$300,00.
Bem, falar sobre meu bife ancho a esta altura dos acontecimentos é sacanagem, o Cobos atropelou, deu ré passou por cima de novo sem dó nem piedade, fugindo deixando um rastro de destruição! Só nos restou o triste ritual de ter que enterrar o bife ancho que não resistiu a tamanhos maus tratos! Tenho minhas sérias criticas a este estilo de vinho que, mais uma vez, comprova minha tese da “Terceira taça”, este nível de teor alcoólico num vinho não fortificado simplesmente não dá, meu genro que o diga, pois na segunda taça já estava assim……. digamos, em estado, quase, catatônico! Já eu, bem, eu não fiquei muito atrás e fui obrigado a dar um “time” para me recuperar.
Apesar de tudo isso tenho que reconhecer, lá no fundo da alma esse vinho apresenta alguns predicados porém, a meu ver e dentro de meus limitados conhecimentos, nada que o catapulte ao estrelato, pelo menos este que tomei. Sim, apesar de tudo e numa visão mais técnica, a fruta estava lá e os taninos nem estavam assim tão agresssivos mostrando bastante qualidade, acidez correta, difícil foi apreciar tudo isso sob aquele manto de álcool encobrindo todas essas potenciais qualidades. Servi a cerca de 17 graus, quem sabe se eu o tivesse resfriado um pouco mais?! Enfim, para quem gosta do estilo certamente é um prato, digo, taça cheia, já eu, bem, eu dispenso!
Salute e kanimambo
Caro João,
Recentemente tomei o Yacochuya 2002 e apesar dos mais de 15º de álcool que ele possui, estava perfeito.
Completamente equilibrado, gosto prolongadíssimo, me deixou saudade assim que a garrafa acabou.
Se tiver oportunidade, experimente-o.
Abraços,
Márcio
Oi Marcio, essa é a beleza de nossa vinosfera, a subjetividade que reina! Tomei esse Yacochuya só que o 2005 e foi um dos que coloquei na minha lista de “Not Again” pois padeceu do mesmos sintomas desse Cobos, o que não quer dizer que não haja gente que os aprecie. Agora, três anos e safras diferentes mudam muito um vinho então……..
O Cobos e o Yachochuya, citado na resposta acima, não me agradam em nada. Álcool em excesso, assim como doçura.
João,
Já tive a oportunidade de tomar o Cobos Malbec 2000, 2002 e 2004. Esse último parecia vinho do porto de tão doce e alcoólico. Não precisa ficar pensando se não estava em um dia bom, se tivesse resfriado mais o vinho… Esse vinho é mesmo um tiro de bazuca, tem tudo que não aprecio em um vinho. Jamais comprarei.
Caro João,
Belo e divertido artigo! E eu que tinha certa curiosidade pelo Cobos, vou repensar. Vamos deixá-lo para o Mr. Parker…
Abraços,
Flavio
Oi João,
Já tive a oportunidade de provar o Yachochuya e o Clos de Los Siete, e ambos me parecem que estão na mesma linha deste teu Cobos. Só não entendo esta de “Notas do RP”, pois para mim estes vinhos são quase para mastigar e não para beber…
Salve, João Filipe!! Essa sua experiência me lembrou uma parecida que tive ao degustar os famosos Cuvée Alexandre Carmenère, Pinot Noir e, principalmente, Syrah 2007 (Casa Lapostole) na última Tour Mistral aqui em BH (2009).
Achei esses vinhos, normalmente incensados, “estrelas”, “top” etc, HORRÍVEIS com seus 14,5 e 15% de álcool, respectivamente. Como muito bem comentou, verdadeiros tapas na cara (sem exagero, deixaram minhas pápilas gustativas em trapos!!).
Sempre haverá aqueles que curtem essas verdadeiras bombas alcoólicas, alguns até equilibrados, mas pra mim, não dá.
Passo.
At,
Ricardo.
João,
A foto esta sensacional !!! rsrsrs
Assassinados foram vocês com tanto teor alcoólico rsrsrs
abraço,