Portugueses e Argentinos Juntos Numa Casa Brasileira

                A Familia Valduga tem uma visão diferenciada do mercado e sabe que a soma é sempre muito mais saudável ao mundo do business do que a divisão. Em vez de lutar contra os importados decidiu integrá-los a seu portfolio através de uma empresa do grupo mais conhecida por seus bons espumantes, a Domno que produz e comercializa com sucesso a marca Ponto Nero. Na lista de produtores, o grupo Enoport (português) e Vistalba (argentino) assim como Yalis (chileno). Este último ainda não tive oportunidade de conhecer, porém os argentinos e portugueses andaram por minha taça então compartilho com os amigos minha opinião e os destaques que me mais me chamaram a atenção.

Bodega Vistalba – é um produtor familiar tendo Carlos Pulenta como seu comandante   produzindo vinhos de muita qualidade em Lujan de Cuyo, especialmente seus cortes A, B e C assim como seu Tomero Reserva Petit Verdot. Duas linhas, a Tomero e a Vistalba. Neste degustação provamos os Tomeros Malbec  e Cabernet Sauvignon, Reservas Pinot e Petit Verdot assim como os três cortes.

  • Na linha dos Tomero “básicos” varietais, os vinhos se mostram bastante honestos vis-a-vis os preços cobrados, em torno de R$48,00, ficando o destaque, na minha opinião, para o Cabernet Sauvignon, um vinho mais equilibrado do que o Malbec que é assim, digamos, mais padrão da cepa sem traços marcantes. O Cabernet não,  este já é mais marcante e sedutor capaz de mudar o curso de uma refeição com seus taninos sedosos e corpo médio mostrando-se  mais gastronômico.
  • Na linha dos Tomero Reservas que estão no mercado paulista por volta dos R$120,00, o Pinot Noir me surpreendeu bastante para esta casta nesta região mostrando um teor alcoólico bem equacionado e equilibrado, de taninos macios e muito saboroso. Já o Petit Verdot é para mim o melhor e mais marcante vinho desta família Tomero. Fruta madura de boa intensidade com sutis nuances de baunilha, mostrando-se com ótimo volume de boca e boa textura. Os taninos estão sedosos, muito boa acidez, rico, com um final muito saboroso e mineral onde aparece também um toque cítrico muito interessante e cativante. Muito consistente com minhas experiências anteriores, um belo vinho que mostra bem as caracteristicas desta nobre cepa que segue sendo uma grande desconhecida para a maioria!

 

 

A linha Vistalba é composta de três cortes (blends) em diversas faixas de preço e talvez seja a mais premiada e conhecida desta bodega. São três os cortes, todos com uma maior presença da Malbec, cepa ícone da região, com tempos diversos de estágio em barricas. Já os tomei em diversas oportunidades e a melhor relação PQP (não é o que estão pensando!!) – Preço x Qualidade x Prazer segue sendo o Corte B, porém fui surpreendido pelo C e A, sendo que este último confirma que as safras de 2006 e 2007 foram realmente safras superiores em Lujan de Cuyo. De destacar que tanto o B quanto o A são vinhos de longa guarda.

  • Corte C 2008 – 80% Malbec e 20% de merlot. Vinte porcento do lote passa por barricas de carvalho por um período de 12 meses e afinam em adega por seis meses após engarrafamento. N a minha opinião está no seu auge, um vinho muito apetecível por um preço idem, em torno dos R$58,00, com boa paleta olfativa onde se destacam as frutas vermelhas como ameixa. Na boca está cativante, taninos macios, boa acidez, redondo com um final de boca muito agradável e de boa persistência. Bom vinho que não tinha me encantado antes, mas que nesta safra se mostrou mais equilibrado tendo chamado minha atenção.
  • Corte B 2005 – Presença majoritária de duas cepas que são as grandes bandeiras deste país, Malbec e Bonarda. São exatos 60% Malbec, 30% Bonarda e o restante de Cabernet Sauvignon que juntos nos trazem um grande vinho. Com 100% de passagem por barricas de carvalho francês por um período de 12 meses mais 10 de afinamento após engarrafamento, estamos diante de um vinho de alto teor alcoólico (14.5%) e poderoso que consegue enorme equilíbrio e mescla muito bem a força com um final de boca bastante elegante. Uma conjunção de características que tende a me seduzir. Aqui  a cassis, especiarias e nuances de café compõem uma paleta olfativa bastante complexa que se confirma na boca. Taninos sedosos ainda bem presentes, de muita qualidade, pedem algum tempo de aeração que facilmente encontram seu equilíbrio com 30 a 45 minutos de decanter. Um vinho que vale muito a pena por R$115 a 120,00.
  • Corte A 2007 – O top da linha, pelo menos dos que temos por aqui, é este viril corte de 87% Malbec, o que tecnicamente lhe dá as condições legais de ser denominado um varietal da cepa, com 8% de Bonarda e 5% de Cabernet Sauvignon. Cem porcento envelhecido por 18 meses em barricas francesas e mais 12 de afinamento em garrafa. Tenho que confessar que sempre foi para mim o que menos me entusiasmou pois o álcool de praticamente 15% sempre me incomodou achando que ele não se integrava de forma harmoniosa ao todo pulando ao nariz e incomodando no palato. Desta feita tenho que dar o braço a torcer, este 2007 está soberbo e pela primeira vez reconheço nele o grande vinho que outros aclamavam. Chega a ser mais equilibrado e balanceado que o Corte B, muito rico, denso, untuoso e complexo, é um vinho viril porém muito elegante com taninos muito finos num final longo e sedutor que merece uma harmonização com carnes de sabores fortes e bem temperada, uma bela costela de ripa? Um baita vinho, o melhor que já provei desta bodega! Está na linha dos super vinhos argentinos na faixa dos R$200 (mais ou menos 10%) o que não é para qualquer  um e cabe a você fazer a prova e fazer juízo de valor!

        Bem, este já se estendeu demais, então os vinhos portugueses ficarão para outra ocasião, porém fica claro que não há que brigar com os importados.  Sabendo trabalhar, a união com os importados só vem otimizar os projetos nacionais.  Um brinde à Domno e Valduga pela visão inteligente de mercado que espero outros possam seguir. Ah, ia-me esquecendo! Para quem gosta de pontuações: Corte A 2007 – 95 pontos da Wine Enthusiast /Corte B 2005 – 92 pontos da Wine Spectator / Corte C (2004) – 88 pontos na Wine Spectator

Kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui ou na Vino & Sapore.