Salvaguardas – Com a Palavra os Produtores III e Resumo
Nesta semana voltarei a falar um pouco de vinho e na Quarta o concurso de VinoPiadas (mande a sua!) retorna, porém não vou descansar não porque ainda tem muito a ser dito e avaliado naquela circular da Secex e, certamente, os autores da solicitação dessa excrecência chamada Salvaguardas ainda nos darão um monte de razões para seguir fazendo barulho! Aliás tem muita gente boa tentando colocar panos quentes, buscando o diálogo na busca do entendimento para este imbroglio, atitude louvável mas que me faz pensar muito num bordão eternizado por Kate Lyra, que os mais antigos lembrarão, ” brasileiro é tão bonzinho!” .
Quem sempre procurou o embate, inclusive confessando que não procurou a Câmara Setorial para uma conversa prévia por questão de estratégia, foram os autores do pedido de salvaguardas! Após isso, tiveram inúmeras oportunidades de reformular posição, porém tudo o que fazem até agora é reiterar posição e querer explicar o inexplicável. Com esta estratégia adotada, como dialogar? Com a faca no gogó?! Não, não temos opção, temos que seguir botando a boca no trombone, tentar desestruturar tecnica e judicialmente o caso junto ao Secex e mostrar que o consumidor está alerta e não leva mais desaforo para casa, usando as armas que nos são de direito!
Este é meu terceiro post abrindo espaço para os produtores darem sua opinião, a favor ou contra, mas lamentavelmente não obtive tanto apoio como esperava. Contatei mais de 20 vinícolas, porém poucas voltaram com seu posicionamento, boa parte por preocupação com eventuais represália, penso eu. De qualquer forma, algumas mais acabaram chegando então, vejam o que pensam alguns de nossos produtores sobre essa excrecência das salvaguardas que, ainda por cima, atingem o alvo errado! Sim, porque Argentina e muito provavelmente Chile, que dominam 60% das importações de vinho, quiçá 80% dos vinhos baratos (abaixo de R$20), e são o verdadeiro calcanhar de Aquiles do setor produtivo nacional, esses não serão atingidos. Por outro lado, isso também não interessa, na verdade o que queremos é que ninguém seja afetado e que se monte uma agenda positiva do Setor como um todo, um projeto a ser construído por todas as entidades na Câmara Setorial do Ministério, a mesma que a Ibravim, Uvibra e Cia. quiseram evitar. Muitas destas opiniões você já deve ter visto na rede, mas não custa repetir.
1 – Dom Abel
Boa tarde caro João Filipe,
Como sócio-diretor da Vinícola Don Abel, minha posição é clara. A mim me interessa muito mais a redução de impostos ao consumidor do que qualquer outra medida, seja ela selo ou salvaguarda. Como por exemplo, o ICMS cobrado em muitos estados da federação onde a alíquota é de 25%, a ST (substituição tributária), o MVA (margem de valor agregado fora da realidade), apenas para citar alguns. A inclusão da indústria do vinho no SUPERSIMPLES ajudaria muito, em especial as pequenas e médias vinícolas brasileiras, o que aliás formam a maioria. Existe uma lei para reduzir impostos para as pequenas e médias empresas, onde somos excluídos juntos com outros segmentos como arma de fogo, cigarro, uísque. Classificar o vinho como bebida alcoólica é um erro e isso precisa ser corrigido urgentemente. Estamos lutando para ver acontecer.
Atenciosamente
Sergio de Bastiani – Vinicola Don Abel
2 – Courmayeur (esta respondido ao amigo Gustavo do Enoleigos)
Boa tarde Gustavo! Tudo bem com você?
Parabéns pela sua iniciativa! Nos sentimos muito felizes em saber que gostaria de ver nossa visão quanto à Salvaguarda. A Courmayeur sempre foi a favor do vinho brasileiro e de metas e incentivos ao mercado nacional, no entanto, não achamos que aumentar a carga tributária sobre os vinhos importados auxilie o mercado de vinhos Brasileiros.
Nosso Diretor, o Sr. Mário, ressalta que considera esta, uma ação que será “um tiro na cabeça” para a indústria vitivinícola. Não faz sentido aplicar esta salvaguarda, que terá efeito principalmente em vinhos Europeus, enquanto nosso maior problema é a importação de vinhos do Mercosul, e esta atitude pode (e irá) ocasionar o aumento do consumo de vinhos destes países.
O mais racional é diminuir a tributação sobre os vinhos nacionais, começando pelo Rio Grande do Sul. É uma discussão que valeria vários e-mails!
Agradecemos seu contato e ficamos à disposição!
Um grande abraço! Atenciosamente,
Natália Zandonai – Marketing
3 – Cave Geisse
“Prezados Amigos,
Somos absolutamente contrários a qualquer ferramenta que possa prejudicar o consumidor bem como a evolução do consumo de vinhos de qualidade no Brasil, que sem sombra de dúvida teve uma grande evolução nos últimos anos graças aos esforços realizados tanto pelos produtores brasileiros quanto pelos importadores que trabalham diariamente auxiliando na evolução dos consumidores de vinhos. Temos que agradecer que hoje no Brasil podemos encontrar uma diversidade enorme de estilos e regiões para apreciar e desenvolver nosso paladar, aprendendo a diferenciar o que cada região pode entregar de melhor com suas características e principalmente sua tipicidade.
Sempre nos posicionamos contrários a qualquer barreira protecionista, afinal, o vinho é um dos produtos mais globalizados que existe e o apreciador quer poder tomar a maior diversidade de rótulos possível e aos melhores preços possíveis, e essa deve ser a verdadeira luta de nós produtores brasileiros! Melhorar nossa posição, não procurando meios para dificultar a entrada ou de tornar os vinhos importados mais caros ao consumidor, e sim, através de uma justa redução na pesada carga tributária imposta aos produtores brasileiros, pois afinal estamos falando de alimento e cultura!
Somente conseguiremos aumentar o bolo do consumo de vinhos e espumantes de qualidade no Brasil através de um trabalho conjunto somando as forças dos importadores e dos produtores brasileiros de qualidade em prol do aumento do consumo de vinhos no Brasil. Esta evolução tanto do consumidor como dos produtores nos auxiliarão para um melhor direcionamento e amadurecimento do setor, através do investimento em produtos que tenham melhor aceitação, com características singulares que conquistem o consumidor pela sua inquestionável qualidade e estilo tanto no mercado brasileiro como mundial.
O vinho sempre foi sinônimo de união, acredito que é somente questão de tempo até todos se darem conta de que estamos absolutamente no mesmo lado, e unindo forças teremos um excelente caminho para o bom desenvolvimento da cultura do vinho no Brasil.”
Rodrigo Geisse
4 – Produtor Anônimo – Não gosto nem aprovo essa posição, porém tenho que entender que existem aqueles que preferem evitar a polêmica e eventuais represálias politicas e econômicas, respeitando sua posição. Normalmente não reproduziria a mensagem recebida, mas conversei com o autor que me liberou a reprodução desde que mantido o anonimato, porém existem informações que acho valiosas e que merecem nossa meditação, até para poder compor um quadro mais claro de todo este imbróglio e das dificuldades porque passam os produtores menos afortunados.
“Olá João Filipe!
Tudo bem? Espero que sim!!
Com relação a salvaguardas, este assunto é extremamente delicado e, infelizmente, acabou dividindo as opiniões dos produtores nacionais. Por isso, mesmo enquanto nos dispomos a compartilhar a nossa opinião com você, porém não gostaríamos de vê-la divulgada no blog. Apesar de não concordarmos com a salvaguardas, sabemos que tudo foi feito com ótima intenção e que, se houver um resultado positivo para a vitivinicultura nacional, também iremos nos beneficiar.
Acreditamos que este pedido da salvaguardas foi motivado pelo problema gerado com o selo fiscal. Nós, como a maioria das pequenas vinícolas brasileiras, sempre nos mantivemos contra a utilização do selo fiscal. Este selo gera uma burocracia tremenda, perda de tempo enorme, sem falar nos gastos desnecessários. Veja que, em xxxxxxxxxxxxxx, não há quem nos forneça selos. Tivemos que nomear um procurador específico para ir até xxxxxxxxxxxx retirar selos, gastar em tempo e transporte, etc. No entanto, na época fomos voto vencido. Na verdade, acreditamos que o tiro tenha saído pela culatra, porque os vinhos brasileiros ficaram com a obrigatoriedade de colocar selos, enquanto que os importados não precisam fazê-lo. Aí inventaram as salvaguardas. Também achamos que não resolve o problema porque não podemos restringir o livre arbítrio dos consumidores, bem como sabemos que esta não é uma solução definitiva. Pelo contrário, deve perdurar por algum tempo e depois cair. E, ao contrário do que alguns estão afirmando, este tempo não viabilizará os custos do vinho nacional (tenho ouvido dizer que seria o tempo necessário para a indústria vinícola nacional se estruturar…), exatamente porque estes custos dependem muito mais da atuação do governo do que do proprietário de vinícola.
Mas, com certeza há o que se fazer pelo vinho nacional. Li muitas reportagens de importadores, falando que o produto nacional deve procurar ser mais competitivo, melhorando os custos de produção, etc. O problema não reside aí. Acho que podemos afirmar que a indústria nacional do vinho já deixou de ser tupiniquim faz tempo. Hoje dispomos de tecnologia de ponta e programas de qualidade. Com certeza ainda há bastante por se fazer nesta área, mas não será isto que irá melhorar o nosso custo.
Nosso problema principal são os impostos, além do alto custo de frete, de alguns materiais de embalagem e do custo geral Brasil. Acredito que sobre os impostos, nem é preciso falar. Você já deve dispor da relação e alíquota de todos eles e também deve saber que nós pagamos os impostos muito antes de receber pelo pagamento relativo à venda do vinho. Com relação aos materiais de embalagem, veja, por exemplo, que a nossa garrafa é uma das mais caras do mundo. Uma vez que esta indústria está nas mãos de poucos, não há negociação. Se for vinícola pequena, então, muito pior, porque muitas vezes temos que pagar adiantado para poder retirar a garrafa. Com relação ao frete, as distâncias são longas e este custo fica altíssimo. Primeiro temos que levar todo o material de embalagem até a vinícola e depois voltar com ele para o centro consumidor. Não temos trens e o transporte rodoviário está cada dia mais caro. As transportadoras também estão nas mão de poucos e o pagamento do frete também é feito muito antes de recebermos o pagamento pelo vinho.
Continuando, os custos com funcionários, no que diz respeito às leis trabalhistas, é imenso. Além de ser uma mão-de-obra desqualificada porque o nosso governo não investe em educação, é cara devido aos altos encargos sociais. Para quem recebe é pouco, mas para quem paga, é muito, devido aos acréscimos. Além disso, ainda há as exigências relativas às áreas de saúde, segurança, social, etc, que, certamente, são necessárias, mas muitas vezes o fiscal não tem um mínimo de discernimento para exigir aquilo que realmente faz a diferença daquilo que é apenas maquiagem. E isto também custa caro! Só para ilustrar o que lhe coloquei, no jornal Valor Econômico de hoje (28/03) há um editorial de José Ricardo Rortz Coelho sob o título “Produzir no Brasil”. Ele coloca exatamente o que eu lhe falei sobre os nossos custos. Ele menciona, ainda, o alto custo de energia elétrica, que eu acabei esquecendo de citar. Portanto, não há salvaguarda que irá nos salvar se não tivermos uma reforma estrutural imediata, especialmente a tributária e trabalhista. E não é só o vinho brasileiro que necessita desta urgência!
Portanto, todas estas dificuldades elencadas acabam onerando o produto nacional. Como dependemos de toda uma cadeia, o que o governo teria que fazer é baixar os impostos do vinho nacional para contrabalançar todas as outras penalidades. Mas parece que ele não está disposto a isto! Então, acredito que, por causa disso, nosso setor e os nossos representantes (IBRAVIN, etc), que não têm representatividade para conseguir a redução dos impostos, acabaram pedindo a salvaguardas. A curto prazo talvez até dê algum resultado, mas não acreditamos que esta seja a solução para o nosso problema.
Bem, era isso. Espero tê-lo ajudado.
Abraço, xxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Resumo da Ópera: Contatei diretamente vinte e duas empresas e outros acompanhei pela rede e mídia impressa.
- Aurora e Pizzato preferiram não se manifestar por enquanto
- Salton, apoiou no inicio, mas voltou atrás em nota oficial à imprensa.
- Miolo alega que o imbróglio é das entidades autoras da solicitação e do governo federal
- Não obtive resposta, alguns podem não ter recebido meus mails, de – Valduga, Domno, Dom Guerino, Dom Giovanni, Perini, Lidio Carraro, Don Laurindo, Marco Luigi, Boscato, Acavitis, Garibaldi, Cave Marson e Dal Pizzol.
- São manifestadamente contrários à adoção de Salvaguardas – Cave Geisse, Vallontano, Valmarino, Dom Abel, Antonio Dias, Angheben, Adolfo Lona*, Courmayeur*, Maximo Boschi, Villaggio Grando e Villa Francioni*. Os marcados com asteriscos vieram de outros blogs/sites (Lalas, Enoleigos) e se os amigos tiverem conhecimento de outros me avisem que adiciono à lista.
Bem espero ter ajudado a esclarecer, um pouco, a posição de pelo menos alguns de nossos produtores nacionais. Com isso, penso que podemos concluir que o problema real de nossa vitivinicultura vai bem além do exposto pelas entidades em seu pleito por salvaguardas e passa sim pela necessidade de urgente reformulação tributária e um plano estratégico de inclusão dos pequenos produtores no cenário maior. Passa também pelo diálogo e por um ato de grandeza de quem se diz grande, a imediata solicitação da retirada do pleito de Salvaguardas por potencial agravamento do cenário que já não é nada positivo. Com o Maledetto Selo Fiscal fecharam mais de 100 pequenos produtores, com esta excrecência quantos mais?! Será esse o verdadeiro objetivo do oligopólio? Enfim, tire suas próprias conclusões e exerça seus direitos de consumidor não deixando de assinar a petição no link aqui do lado e quaisquer outras armas legais que a constituição lhe confere. Pessoalmente ignorarei a todos exceto os que se manifestaram terminantemente contrários, apoie você também estes produtores!
Salute, kanimambo e uma ótima semana para todos lembrando que a luta continua!
Grande iniciativa João.
A grande pergunta é: Se a maioria é contra as salvaguardas por qual razão pouquíssimas se manifestaram contra (apenas 10 segundo a sua postagem)???
Quem não se manifestou até agora é porque não quis e deve estar temendo represálias, o que demonstra o “coronelismo” do setor.
A nota da Salton à imprensa, após o processo estar encaminhado, soa muito falsa e na minha opinião mancha a imagem da empresa.
Abraço
Pelas respostas concluo que as grandes beneficiadas seriam as vinícolas argentinas (livres das salvaguardas), ocupando o espaço dos vinhos europeus.
Sei que não é o momento para piadinhas (ou seria – concurso Vinopiada?), mas me ficou uma pergunta: Será que as entidades representativas do vinho no Brasil, autoras da proposta, não são controladas por argentinos???
E ressalvo que não defendo xenofobia, eu tenho alguns bons amigos na Argentina.
Um abraço,
Albert.
Caro João,
O Albert tocou num ponto importante. O melhor dos mundos, nesta “coisa” que está aí, é ser coproprietário de uma bodega na Argentina. Fica a sugestão para os futuros ex-proprietários de vinícolas nacionais, que certamente irão à falência.
Você vai trabalhar com uma vitis vinifera no seu apogeu de clima/terroir, poderá fazer um Malbecão com um perfil bem brazuca e vender aqui toda a produção com imposto de importação ZERO e sem o custo BRASIL… Não é maravilhoso? E ainda vai poder posar bem na foto, contra (ma non troppo, capite?…torça a favor porque assim a $$$ é muito maior) as salvaguardas!
E não vou cobrar direitos pela idéia porque não tem nada de original nela. Já há gente fazendo isso de montão. “Brasileiro é tão bonzinho!”
A luta continua! Grande abraço e obrigado!
Caro João,
Creio que devemos exercer plenamente nossos direitos de consumidor, como você bem colocou neste seu último post. Para um exercício ético e consciente, indico esta referência muito interessante aos amigos do blog sobre a Ética da Liberdade, especificamente a figura do “boicote”. E que cada um tome a atitude que achar melhor:
http://mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=22
E nesse mesmo site, temos também:
http://mises.org.br/Article.aspx?id=1227
Se você trocar “cobertor chinês” por “vinho europeu”, terá a mesma leitura do momento econômico do Brasil… Sinto um frio na espinha quando me lembro da frase do José Maria da Fonseca, CEO da vinícola portuguesa : “O Brasil entrou numa guerra comercial. E vai perder”.
Pessoal, cuidado com o bolso! Há uma quadrilha à solta!
Obrigado e grande abraço!
Prezado João,
Estou lendo o texto http://www.mdic.gov.br//arquivos/dwnl_1331819867.pdf .
Argumentam que os produtores de vinho no mundo, por causa da crise financeira e estagnados mercados na Europa e EUA, continuam aumentando os volumes vendidos para o Brasil, diminuindo os preços e prejudicando a produção de vinho nacional com menor participação e em geral menor lucro. Na página 12, o parágrafo 6 quer demonstrar que o vinho importado impede o aumento do preço nacional
.
Com salvaguarda, é considerado que o negócio nacional seria melhorado, e o setor se compromete dentro de três anos adicionar 1500 hectares de novas plantações em novas regiões e aumentar a produtividade nessas áreas, de 8 para 11 000 kg. O custo de produzir vinho nessas regiões é previsto ser 35% inferior a áreas tradicionais, com investimentos de R$ 18 milhões nas compras de áreas novas e R$ 69 milhões no plantio e formações de novas áreas. Depois, em um outro período, do terceiro ao oitavo ano, foi declarado plano de aumentar mais 1500 hectares e promover investimentos de compras de áreas de R$ 18 milhões e R$114 milhões de plantio e formação. Com os investimentos, é esperado melhor competitividade com racionalização, aumento de escala de produção, mecanização e também fusão/incorporação de empresas. Essas novas regiões seriam mais adequadas para agricultura ambientalmente sustentável e com menor uso de fungicidas.O custo da uva seria reduzido em 15% no três primeiros anos e do terceiro ao oitavo ano 25%. O documento também explica que em três anos eles vão ajudar 100 pequenas vinícolas a fazer melhores vinhos com enólogos e técnicos. Com melhores margens, eles vão diminuir os custos fixos na produção e investir em campanhas para aumentar a venda de vinhos nacionais.
Em questão de preços, acredito que o pedido de salvaguarda foi preparado antes que a estatística do ano 2011 estivesse pronta, mas os preços de vinhos importados aumentaram de 2010 para 2011, e contradizem o mais agravante cenário que está projetado no texto.
Os preços de importações de vinhos aumentaram especialmente dos países que exportam os maiores volumes para o Brasil. O preço em média por garrafa aumentou da Itália em 22,4%, Argentina 14,7% Chile 15,5%, Portugal 11% e Uruguai 7,1% . O país que vendeu para o Brasil com preço mais baixo em 2011 foi o Uruguai, que vira um preço no varejo em torno de R$ 24,00, depois de calcular com uma normal margem. Os mais caros vinhos foram os da França, que ficam em torno de R$ 62,00 no varejo. Nada muito preocupante.
Só pode ser realmente grandes empresas e cooperativas que tem possibilidade de planejar investimentos em torno de R$ 219 milhões. O foco fica claramente em produzir vinho em grandes volumes e vinhos na faixa mais competitiva no mercado. São vinhos feitos dos vinhedos com alto rendimento em grande escala. O pequeno produtor depois vai precisar competir com esses vinhos das grandes cooperativas e empresas. O beneficio para os pequenos seria o apoio técnico. Tudo que está escrito na apresentação de salvaguarda é em torno de vinho de volume e ganhos com escala para ser mais competitivo. Os vinhos que competem nesse segmento são especialmente provenientes da Argentina, Chile, Uruguai e Itália (com Lambrusco). Esses são vinhos vendidos em um segmento que em outros paises é chamado ‘off trade’ supermercados, vinhos em volumes na luta de preços baixos. O que vai acontecer é que Argentina e Uruguai vão continuar sendo os grandes fornecedores (dentro do Mercosul e sem cotas) de vinhos baratos junto com as novas mega empresas nacionais. A salvaguarda não vai proteger o pequeno produtor contra isso.
Mas o resultado por ironia, provavelmente vai ser mais marcante em um outro segmento do mercado, chamado ‘on trade’, vinhos vendidos em lojas especializadas e restaurantes onde normalmente não tem tanto de garrafões e lambruscos. Nesse segmento são vendidos vinhos, por exemplo, de França, Espanha, Portugal, EUA, África do Sul e Austrália. São vinhos que normalmente não seriam um problema para uma vinícola nacional com bons produtos. No segmento ‘off trade’ supermercado existem os vinhos industriais muito baratos que provavelmente não importa tanto para o consumidor se for argentino ou chileno, mas no ‘on trade’ fica muito mais importante para o consumidor de ter uma escolha. A clientela normalmente se interessa mais e experimenta mais. Vinhos nas lojas especializadas normalmente são feitos de vinhedos onde o rendimento é limitado para obter mais sabores, e não são tão comuns vinhedos mecanizados com alto rendimento. Existe claro algumas exceções, especialmente na faixa de entrada talvez, mas não é a formula que cativa o consumidor. Nas lojas especializadas raramente são vendidos vinhos abaixo de R$ 30 reais, e existem vinhos importados muito mais caros que qualquer vinho nacional também. Vinhos importados nesse segmento podem ser considerados com bom custo beneficio às vezes, dependendo de qual vinho, mas não podem ser acusados de ser algo que está baixando os preços dos vinhos nacionais. A diversidade proporciona o prazer de beber e apreciar um vinho nacional sem limitar a possibilidade de experimentar um vinho importado.
Um abraço
Ulf
Quando, como declarado pela Ibravin e a Uvibra para justificar suas manobras, acumulam-se estoques equivalentes as vendas de 4 anos, no caso 80 milhões de litros, medidas urgentes devem ser tomadas :
procurar quem pode comprar estes estoques e lhes fazer propostas irrecusáveis.
destilar os excedentes
limitar os rendimentos e as futuras produções até equilibrar a oferta e a procura, arrancando as videiras menos qualitativas e proibindo novas plantações.
Adequar o produto a demanda do mercado; não basta ter alguns vinhos premiados, vendidos a preços inacessíveis para a maioria, para convencer o
consumidor a comprar 30,40,60,80 milhões de litros. É a qualidade e a imagem do produto em geral que devem ser melhoradas e adequadas ao gosto do consumidor.
É possível ? Temos condições de clima, de solo e de escala para competir com o Chile e a Argentina. É nas respostas objetivas a estas perguntas que residem o futuro da produção de vinho fino no Brasil .
As medidas preconizadas para o setor, pela Ibravin, Uvibra e agregados, na petição de salvaguardas : aumento dos rendimentos, plantações novas de clones mais produtivos, mecanização etc … podem ser adequadas para produzir soja ou batatas, mais quando se trato de vinho, é a receita ideal para encalhar com mais alguns milhões de litros de bebidas intragáveis. É também, no contexto de excedentes descrito por estas entidades a receita certeira para a falência das empresas envolvidas.
As entidades peticionarias o admitam indiretamente quando se queixam do endividamento provocado pela retração do mercado em 2009-2010 . No mundo real, a empresa que se endividou em aquisições exageradas sem ter avaliada corretamente o tamanho futuro de seu mercado procura um novo sócio, um comprador, tenta renegociar suas dividas ou quebra.
Dura Lex, sede Lex.
Quanto ao selo de controle de IPI , nada justifica sua imposição aos vinhos importados já que o imposto que ele simboliza é pago on-line, sendo este pagamento a condição necessária ao registro do despacho de importação.
O mesmo não acontecia com o vinho produzido no Brasil.
A quantidade de 15 milhões de litros de vinhos contrabandeados é fantasiosa, nenhum dado ou relatório oficial a confirma. Uma lista dos mais apreendidos na triplice fronteira, publicada no jornal O Globo, com mais de 20 produtos, nem menciona bebidas. Ao multiplicar o consumo per capita do Paraguai, 8 litros, pelo numero de habitantes, se verifica que o volume importado por este pais é equivalente a seu consumo interno.
At ,
François Sportiello
A MANOBRA:
Imaginem uma empresa/ industria brasileira de vinhos com ampla distribuição off trade,
com dívidas,
com mil hectares aqui,
com bnds,
com participação em empresas européias…
ela irá pegar o resídio de vinhos de baixa qualidade no velho mundo (estocada até o pescoço), irá pagar a tributação extra por estes vinhos inócuos e quimícoss, e encher os supermercados do país com o lixo do lixo..
Livra os parceiros europeus da porcaria, ganha no volume e fatura um monte com a baixa concorrencia aniquilando a qualidade…
Serão vinhos tipo pinga, pra bebum!!
O principal do comércio de vinhos no Brasil não foi atacado. É a invasão dos vinhos chilenos e argentinos que entram aqui sem cotas nem aliquotas e assim continuarão. O futuro da maioria da vinícolas brasileiras é sombrio ante esse quadro. Os argtentinos e chilenos não concorrem em qualidade e sim no preço.