Salvaguardas – Boicote, um mal Necessário e um Direito do Consumidor
Enquanto preparo uma matéria sobre mais algumas do arsenal de besteirol que a Ibravin vem destilando ao longo da última semana, num verdadeiro processo de tentativa de desvirtuar a verdade e, literalmente, enrolar o consumidor mais desligado ou menos antenado com o a excrecência que eles defendem em pról de um pequeno e rico oligopólio, quero falar um pouco desse tal de BOICOTE. Ação extrema provocada pela Ibravin e Cia que vieram não para dialogar, mas para semear a discórdia no setor e seu tour por Rio de Janeiro e São Paulo mostrou exatamente isso, um monólogo furado de cartilha pronta que não convenceu ninguém. Não vieram dialogar, vieram sentir a temperatura e, surpresa, está quente uma barbaridade tchê!
Boicote para mim é fazer com eles aquilo que eles querem fazer conosco, nos ignorar. Como acredito no dente por dente, olho por olho, vamos dar o troco na mesma moeda e ignorá-los? Sim, passemos por eles na Expovinis e Encontro de Vinhos Off e ignoremo-los. Já pensaram que bonito, eles gastarem aquele monte de grana para montar seus estandes e eles ficarem às moscas? Bem, ás moscas não ficarão, já que tem sempre alguém disposto a tomar vinho de graça e podem encher o espaço com funcionários para não fazer feio, porém se receberem somente 10% dos visitantes que esperam, seria um troco legal, não?
Outra, ao passar pelas prateleiras de lojas e supermercados, que tal mudar de lado? Nas cartas dos restaurantes que tenham esses vinhos, vamos virar a página? Dar-lhes o troco onde eles mais sintam me parece a esta altura dos acontecimentos, um ato de legitima defesa contra quem insiste no embate de cima de sua soberba e profunda arrogância achando que somos indefesos e um bando de idiotas.
A grosso modo sou absolutamente contrário ao ato de boicotar a todos de forma genérica. Por principio não comungo com a generalização e há que se separar o joio do trigo. Colocar todo mundo no mesmo saco é contrário à minha visão do mundo e é uma forma simplista de reação que pode gerar mais injustiças do que gerar benefícios á causa o que, aliás, é comum em terras brasilis. É como colocar no mesmo saco o cara que toma duas taças de vinho ao jantar, com o pinguço do boteco que coleciona garrafas vazias sobre a mesa e depois sai dirigindo no trânsito de forma irresponsável! Óbvio, que cada um é livre para se manifestar e agir como sua consciência ditar e devemos respeitar, porém eu sou a favor de ações claras. Sendo assim estarei ignorando vinhos da Miolo, da Aurora, da Don Giovanni, da Dal Pizzol e da Perini especificamente. Nesse bolo também colocarei empresas que optaram por não se manifestar, o que em meu entender, significa que estão coniventes com o processo. Casos de; Valduga, Domno, Pizatto, Lidio Carraro, Don Laurindo, Marco Luigi, Boscato e Cave Marson entre outros. Faça você sua própria lista, mas destes eu; não provo, não comento, não recomendo, não compro e não vendo.
Só para que fique claro o conceito legal de boicote por razões comerciais, é uma arma constitucional que o consumidor possui para se defender daquilo que acredita ser ação condenatória por parte de alguém ou empresa, especialmente quando esta é imposta de forma truculenta sem um debate prévio, no popular; contra aqueles que queiram nos forçar algo goela abaixo! Nesta caso específico, reitero, sou contra o boicote indiscriminado ao vinho nacional, porém sou um fervoroso adepto do boicote a empresas produtoras especificas que apoiam o pedido de Salvaguardas ou se escondem por trás da Ibravin que leva a fama e serve de escudo.
Tem gente que condena o ato de boicote, mas eu deixo aqui uma pergunta no ar, o que eles sugerem como opção, já que o diálogo inexiste e o embate foi claramente a estratégia escolhida? Não basta criticar, sugira algo com a mesma capacidade de efeito! Tem gente demais em cima do muro, de um lado e de outro, tem gente que até parece que está em outro planeta e que nada está acontecendo em nossa vinosfera tupiniquim, então está na hora de cada um mostrar sua cara! Boicote já, do jeito que cada um puder, essa é minha resposta à truculência do oligopólio e seus testas de ferro.
Por hoje é só, mas afora o boicote nas feiras, que tal circular com uma tarja preta no braço em sinal de luto pelo que estão querendo fazer com o setor? Como diziam; Cazuza, “Brasil mostra a sua cara” e Vandré “Quem sabe faz a hora não espera acontecer” e a hora é esta!
Salute, kanimambo e amanhã tem VinoPiadas porém na Quinta seguirei em minha cruzada pela retirada do pedido de Salvaguardas e um verdadeiro diálogo construtivo no setor.
Bom dia João Felipe,
Gostei da ideia! Devo ir a expovinis e vou com uma tarja preta no braço. Vamos divulgar esta idéia!!!
Abç,
Claudio
Oi Claudio, manda bala no face meu caro, quem sabe conseguimos mobilizar os amantes do vinho? Creio que a Expovinis vai ser um baita teste para ver a quantas andamos nesta nossa cruzada!
Muito bom, João. Uma outra dica para quem não quiser apenas ignorá-los nas feiras é ir aos estandes e perguntar um por um qual é a opinião sobre essas infames propostas. Seria bom conhecer suas versões oficiais, pois até agora os verdadeiros autores dessa medida infame ficam se escondendo atrás do Ibravin e dos outros institutos.
É Rodrigo problema é que ninguém te responderá oficialmente! Os funcionários vão repetir a cartilha > Não pedimos aumento de impostos, o ministério e a ibravin são os canais que cuidam disso, boicote não é justo e é impatriótico, bla, bla, bla, bla……….Mas tenta uai!
Grande João, essa sua série de posts está excelente! É reforçar, reforçar, reforçar.. combater, combater, combater. Não tem outro jeito.
Estava em Foz do Iguaçu neste feriado e a carta do hotel só tinha nacionais (Casa Valduga basicamente). A solução foi beber uma Heineken, fazer o que. Aproveitei pra abastecer a adega com os preços e oferta das duas fronteiras também (Argentina e Paraguai).
A luta continua. Vamos em frente.
Abs,
JF
Já estou boicotando faz tempo, além de fazer propaganda negativa para os amigos que nao acompanham os blogs.
olá João, bolei um “logotipozinho” ontem à noite, coisa simples, vou te enviar por e-mail para ver o que você acha (obviamente você conhece esse mundo bem melhor que eu).
Coisa do tipo “Não as salvaguardas”, ‘Vinho Nacional: Tô fora”.
Depois você me diz o que acha.
Caro João, boa tarde! Respeito o seu ponto de vista sobre a extensão do boicote, uma versão digamos “cirúrgica”…rsrs
Como já afirmei em comentário em um dos seus excelentes posts, já estou praticando o boicote, no estilo “geral e irrestrito” , até que esses ”pequenos produtores” encontrem uma maneira de se unir e defender ativamente o seu negócio, a vitivinicultura brasileira, o seu consumidor (nós!!!) contra esse pequeno grupo de picaretas da Serra.
Será que nem agora, com toda essa mídia e com esta janela fantástica que será a Expovinis, esses caras não conseguem se juntar e redigir um manifesto veemente de desagravo em relação à situação criada por essa “representação” que a IBRAVIN diz que faz por eles ?
Será que eles vão encarar essa tragédia anunciada desunidos? Vão “morrer” nem ao menos abraçados em torno de uma causa comum? Custo a acreditar…
De todo modo, considero isso, no momento, uma omissão grave e que fará muito mal ao meu bolso. Como você disse, “é hora de todos mostrarem a sua cara”… De verdade, se expor !
Grande abraço! A luta continua !
Vinho nacional: Tô fora!
Por acaso tem algum produtor nacional que V E R D. A D EIRAMENTE que que essa salvaguarda caia….????? Que tal ao inves do simples boicote….um movimento de compra em massa so desse produtor especifico….alem do boicote total….ate de suco de uva…..
Caro Antonio, não há santo nessa história… A única certeza nisso tudo é sobre quem foi chamado para “pagar o pato”: nós, consumidores de vinho de qualidade. Fico também com a impressão que os sapatos desses produtores estão até bem folgados para os “calos” que eles dizem que têm… Bem-vindo à luta! Abraços.
Vinho nacional: Tô fora!
O boicote vai ser eficiente quando o Pão de Açucar e outros, afiliados da Abras vão chamar os vendedores destas empresas e cancelar pedidos.
Concordo François, aí é que eles realmente sentirão o baque, mas por enquanto qualquer ação é válida e não podemos ficar esperando por eles.
Belo artigo João!!
Desculpem o leigo aqui… mas quais são as chances de o Pão de Açucar e afiliados fa ABRAS fazerem isso?
A reação esta forte, vamos ver até aonde eles aguentam….segue link de noticiario local de Salvador……..
http://www.bocaonews.com.br/noticias/principal/geral/33711,ana-import-e-restaurantes-famosos-boicotam-vinho-nacional.html
Acho interessanto voce pedir a todos do blog que enviem noticiario local a respeito do problema e va editando num “post” anexo ao blog com o título ……A REAÇÂO…..ou coisa parecida….
Albert, As chances são grandes. Hoje os Supermercados são fortes importadores, especialmente de vinhos chilenos, portanto são diretamente visados pela manobra dos potentados do Sul. O boicote dos consumidores ajuda muito, motiva o supermercadista provocando o encalha destes vinhos.
As respostas legais as pretensões das peticionarias estão sendo preparadas em conjunto pelas associações de supermercadistos e pelas associações de importadores.
François,
Grato pela informação. Esta é uma ótima notícia, eu estava preocupado em depender “apenas” das reações de consumidores e restaurantes que, se bem que nobres e importantes, não acredito que sózinhos tenham força.
Acredito que a mira da Ibravin foca uma base mais ampla de consumidores que talvez não se sensibilize com a iniciativa
Mas se os supermercadistas entratem na parada, isso pode dar uma boa equilibrada na balança. Continuo na torcida.
Caros amigos,
Recomendo a entrevista do Ciro Lilla ao Salomão Schvartzman na BandNews TV.
http://bandnewstv.band.com.br/colunistas/coluna.asp?idc=111&idn=584561&tt=salomao-schvartzman&tc=entrevista-com-ciro-lilla
Se as salvaguardas valerem mesmo, existem 2 certezas:
1 – Vamos retroceder algumas décadas e seremos chamados a pagar tributos aos gananciosos;
2 – Os pequenos produtores nacionais desaparecerão pela mudança do perfil de compras dos importadores: Vinhos de alto giro financeiro, de qualidade média para boa, tudo dentro da cota de cada um… E alguns desses produtores estão indo para o “abatedouro” achando que poderão se dá bem com a situação… rsrs Que santa inocência!
Os números e fatos estão todos lá na entrevista. Abraços e obrigado.
Vinho nacional: Tô fora!
Protecionismo sempre é complicado. Ainda mais no estágio atual da globalização.
Mas é preciso pensar seriamente sobre essas salvaguardas.
Eu queria é ver os importadores tornado público seus percentuais de lucro. Não restam dúvidas que são abusivos. Temos os impostos etc., mas o lucro das importadores é abusivo. Assim como o lucro das montadoras de veículos, das grandes construtoras etc.
Esse país tem servido aos grandes especuladores.
Ontem, fiquei sabendo de uma promoção de uma importadora, Ravin, com promoção de vinhos sem salvaguardas e sem impostos. Vejam os valores! Eu queria ver reduzir a margem de lucro….
Os vinhos seguem a linha dos preços praticados pelos restaurantes, serviços em geral etc., sobretudo nas grandes cidades. A ganância fala alto. E o povo (alienado, desinformado e iludido) paga, mesmo que a custo de endividamento sem precedentes.
Tempos bicudos.
Nesse contexto, para ser sincero, essas salvaguardas nem assustam tanto.
Caro João, bom dia !
Acordamos hoje sob o efeito da frase: “O governo repudia toda e qualquer forma de protecionismo, inclusive o cambial” (Dilma Rousseff – Presidenta do Brasil).
Fiz uma consulta ao meu velho Michaelis e descobri que “salvaguarda” é a mesma coisa que “protecionismo”:
“sm (lat protectione+ismo) Econ polít Sistema de proteção da indústria ou do comércio nacional, concedendo-lhes o monopólio do mercado interno e onerando de taxas mais ou menos elevadas os produtos da indústria estrangeira. Opõe-se-lhe o livre-cambismo.”
Para explicar essa dicotomia governamental só mesmo um estadista (esse foi realmente e não precisava sair do seu país para criar frases bombásticas e expô-lo em situações políticas ridículas), francês como convém ao tema vinho:
“Le Brésil n’est pas um pays sérieux.” (O Brasil não é um país sério) – Presidente Charles de Gaulle.
A OMC vem aí para chutar o traseiro dos picaretas da serra e cia.
Obrigado e grande abraço! A luta continua!
Vinho nacional: Tô fora!
O BOICOTE é FUNDAMENTAL!!
Essa polêmica está sendo boa para divulgar o imposto de importação de 27%, os demais impostos são mais comuns ao consumidor e facilita a conta para dar noção do repasse. Pelo preço cobrado por certas importadoras dá impressão que este imposto é de 100% !!!
Vinho baratissimo do Mercosul/ Chile importado por um supermercado :
R$ 3,05 + frete 0,46 + IPI 0,73 ( 24%) + despesas desembaraço 0,85: custo : R$ 5,088. (+ 67% ).
Margem 35% sobre o preço de venda : 5,088/0,2847= 17, 87 R$
Pis-Cofins : 17,87 x 9,25%= 1,653
ICMS : 17,87 x 25%= 4,4675
CSLL + IRPJ = 17,87 x 2,28% ( media)= 0,407436
Lucro brut do supermercado : 17,87 x 35%= 6,2545 ( tem que pagar sobre isto todos os custos operacionais da loja )
Impostos: Valor total recolhido : 0,73 + 1,653+ 4,4675+ 0,407436 = R$ 7,258
238% do valor do produto.
Vinho valor médio Europa: um bom Côtes do Rhône, Valpolicella , Chianti normal: digamos 4 Euros . Importado pelo mesmo supermercado .
FOB R$ 9,60 + frete 0,32+ Imp.Importação 2,6784 + IPI 1,08 + despesas de desembaraço 7% 0,9575= custo nacionalizado R$ 14,636 ( + 52,4%)
Supermercado, margem brut 35% sobre a venda : = 14,636/0,2847= R$ 51,41
Recolhido: 2,6784+1,08+4,755( Pis Cofins) + 12,8525 (ICMS) + 1,172 ( CSLL-IRPJ) = R$ 21,3659 . 222% do valor fob .
Lucro brut do supermercado: R$ 18,00
Notar que em ambos os casos o valor total de impostos é maior que a margem brut. São GARRAFAS PATRIOTAS . Multiplica um valor médio por
72 000 000 de litros. Que beleza! Recordes de arrecadação todos os meses.
Agenda positiva para nacionais e importados :
ICMS 7%
PIS COFINS 3,65 % ( 9,25 = herança maldita do Palocci ) .
nossa primeira garrafa = 5, 088 / 0,5207= R$ 9,77 com os mesmos 35% de margem .
a segunda: = 14,636 / 0,5207= R$ 28,11 com os mesmos 35% .
E esta sacanagem vale para quase todos os produtos , a vida no Brasil é carissima e o brasileiro conformado não reclama, não protesta.
Caro François, muito grato pelos números. Foi perfeitamente esclarecedor. E aí, pessoal ? Não é 100%… a ordem de grandeza é 200% sobre o preço FOB!!! Dá para pagar uma corja enorme de pelegos e coronéis com todos esses impostos! Seria interessante abrir agora uma planilha de custos de uma vinicola nacional… quem se habilita ? Tem algum produtor que lê este blog e tem coragem para abrir seus números?
Grande abraço François ! A luta continua!
Vinho nacional: Tô fora!
Caro Francois,
Fazendo conta de padaria, o mesmo vinho europeu de 4,00 euros, num supermercado na Italia ou Espanha vende-se por 7,00 euros, onde 1 euro e imposto e 2,00 euros a margem bruta, isto e 5,00 reais. O grande problema e que o supermercado no Brasil nao se contenta em ganhar 5,00 reais e sim quer ganhar proxomo que os governos ganham com os impostos. Portanto, a conclusao obvia e que tanto os impostos quanto as margens sao fatores que encarecem demais o vinho importado no Brasil. Obs: Nao adianta so culpar os impostos.
Caros,
Pergunta de leigo: Qual é o custo operacional de um supermercado no Brasil e outro na Itália/Espanha (custo mão-de-obra, impostos, contribuições sociais, etc.) ? Pode ser um percentual do preço de custo do vinho comercializado, por exemplo. Talvez o François ou o Lee possa me informar. Obrigado.
Grande abraço! A luta continua !
Vinho nacional: Tô fora!
Desculpem-me pelo excesso de comentários iguais… Eu e o WordPress estamos tendo alguns problemas de convivência que, obviamente, não está sendo pacífica…rsrs
Caro Raul,
Como o vinho é considerado um alimento na Italia/Espanha/França, a tributaçao basicamente é IVA, isto é, o equivalente a ICMs. Não existe PIS/Cofins, ISS, IPI, etc. Tanto no Brasil quanto lá fora, a tributação do lucro bruto é dado pelo tamanho do negocio, isto é, muito similar no conceito lucro presumido e lucro real.
Assim, o que pesa no custo operacional depende muito de dois fatores: o giro e o ponto comercial. Quanto maior giro, maior diluiçao dos custos fixos. Só pra te exemplificar este ponto, há uma lojinha que vc não dá nada em Montalcino chamado Enoteca di Piazza, que vende pra toda Europa. Bobear vende mais que as importadora Grand Cru e Ravin juntos. Quanto a questão do ponto comercial, aí é um pouco mais amplo e variável. Uma loja de vinhos num ponto comercial bom em Paris tem que vender mais e também mais caro que uma loja de vinho na periferia de Lyon. Assim, se vc for comprar vinhos em Paris, tem que evitar de comprar vinhos principalmente vintages (onde a margem é bem maior) perto da praça Madeleine (Nicolas/Lavinia) , Champs e Lafayette. Outros fatores exógenos que todo mundo sabe, é a renda per capita de um europeu ser 4 vezes em media mais alta que o brasileiro, consumir em media 15 vezes mais de vinho e pagar um terço do brasileiro. Imagine o tamanho do giro e do mercado.
Em suma, como toda a regra tem excessão, dependendo da necessidade de capital ou uma politica de desova de liquidacao, vc consegue achar inúmeras preciosidades mesmo em um mercadinho ao lado de Champs, onde um Chateau Haut Brion 2004 estava a bagatela de 212 euros.
François,
Alguns comentários sobre a sua conta:
– não foi considerado o ICMS importação, que é pago no momento do desembaraço aduaneiro, que pode variar de 25% aqui em São Paulo a 4% em Santa Catarina e Espírito Santo;
– este ICMS importação incide sobre o preço+frete+PIS e COFINS importação+ele mesmo;
– quando o supermercado for vender o vinho, ele paga novamente o ICMS, que é de 25% sobre ele mesmo, que dá por volta de 31%.
Tem também os encargos trabalhistas, numericamente em números escandinavos, superiores aos europeus, evidentemente sem qualquer contrapartida.
Há questões comerciais como giro, preço de manutenção do estoque, preço do ponto onde é realizado a venda, uma variável bem grande.
Em que pese tudo isso, não consigo compreender como um vinho que custa 15 euros na Europa, como o Grand Vin de Reignac, chegue aqui por volta de R$ 180/190.
Abs
Caro H Lee,
Pensa lo bien
Com tempos de desembaraços mais curtos, ( meia hora na Europa e nos USA ) menos burocracia, menos impostos em cascata, juros mais baixos, mais produtividade e giro, as margens praticadas poderiam ser mais baixas. Não é o caso, e no mundo real não há salvaguardas para importadores falidos.
Veja a mesma garrafa de 4 euros / R$ 9,60
Supermercado, margem brut 5% sobre a venda : = 14,636/0,5847= R$ 25,03
Recolhido: 2,6784+1,08+ 2,315( Pis Cofins) + 6,26 (ICMS) + 0,571 ( CSLL-IRPJ) = R$ 12,904 . 125% do valor fob .
Lucro brut do supermercado: R$ 1,2515 / um decimo dos impostos recolhidos.
É obvio que quem trabalha assim não vai longe ou então faz milagres.
O maior problema, no Brasil, da mercadoria em geral e dos vinhos em particulares, nacionais e importados, é a tributação extorsiva que incide sobre todas a etapas de comercialização . ( fica bem pior quando há mais intermediários) , sendo agravado pelo mau uso notório dos recursos arrecadados.
ICMS 7% já! Pis Cofins 3,65% já! Esta é a bandeira que deveria ser levantadas pelas entidades peticionarias, mas de fato o plano é outro e não interessa pleitear redução de impostos, diminuiria as margens em Reais e
ajudaria os pequenos produtores que se quer eliminar.
Caro François
Concordo plenamente que a burocracia (demora, insegurança juridica, papelada,etc) somada a cobrança alta de tributos, principalmente pelo fator de cascata/cumulativo e pagamento antecipado de tributos (na Europa, maioria dos impostos sao pagos após a comercializaçao) afeta demais o preço final. Mas nada justifica, a margem do importador, este tbm vendo que o governo cobra demais, quer colocar um lucro liquido acima disso.
Assim, um vinho popular europeu acaba virando uma mercadoria de luxo aqui no Brasil. Por mim, poderia diminuir um pouquinho o ICMs e PIS/cofins, mas permitir que um cidadao comum possa importar o vinho mesmo pagando todos os tributos.
Sonho um dia que o ICMS de 7% e PIS/Confins de 3,65% (no lucro presumido, já é 3,65% – mas só vale para pequeno/médio revendedor) seja factivel, como vc propoe, mas acho que é impossivel no curto e médio prazo.
Mesmo para você , caro H Lee, consumidor astuto, uma substancial baixa nos impostos pareça impossível, para políticos então é um palavrão, no entanto é a única solução duradoura para o crescimento.
A margem de 5 R$ do supermercado europeu lhe pareça justa então :
nossa mesma garrafa patriota :
FOB R$ 9,60 + frete 0,32+ Imp.Importação 2,6784 + IPI 1,08 + despesas de desembaraço 7% 0,9575= custo nacionalizado R$ 14,636 ( + 52,4%)
R$ 14,636 + R$ 5,00 ( margem brut) / 0,6347= R$ 30,93 ( Preço de venda) .
3,25 vezes o preço FOB.
Recolhido: 2,6784+1,08+ 2,861( Pis Cofins) + 7,7325 (ICMS) + 0,705 ( CSLL-IRPJ) = R$ 15,06 . 157% do valor fob . 3 vezes o lucro do importador.
* o ICMS e o Pis Cofins cobrados na nacionalização são recuperáveis, portanto não integram a conta, mas o custo financeiro deste adiantamento
integra os custos cobertos pela margem brut.
Caro João,
Boa noite ! Estive longe da internet esse final de semana…
Semanas decisivas à frente, com amplos espaços para fazer ecoar os nossos apelos e exercer nossos direitos! Pena não poder estar aí em SP, mas estarei de coração e alma com todos os colegas que levarem aos eventos programados uma tarja negra de luto, pelo descaso ao vinho nacional, conforme sua excelente sugestão.
Este comentário é para fazer um agradecimento tardio ao Lee, François e demais experts que nos brindaram com uma verdadeira aula de tributação que é imposta ao comércio de vinhos no Brasil. Em meio a impostos, taxas e tributos em cascata (em “cachoeira”, para ficarmos mais coerentes com o momento nacional), ainda fico com aquela dúvida que imagino ser de qualquer leigo apreciador de vinhos importados:
Qual é o percentual “suportável” (ou seja, no limiar de um assalto à mão desarmada) que se pode aceitar na compra de um vinho importado? 150% ou 200% do preço FOB ? Qual ?
Digamos 2 níveis de percentual: um para vinhos do Mercosul e outro para os demais importados. Alguém poderia estabelecer um valor ou uma faixa ?
Obrigado e abraços. E a luta continua!
Olha Raul, como consumidor e certo de que não vamos transformar nossa realidade num paraiso americano para vinhos onde se consegue comprar um Almaviva por cerca de USD75, versus USD120 no Chile e R$650,00 por aqui, tenho para mim que duas vezes o preço de prateleira de vinhos dos hermanos e quatro vezes dos vinhos Europeus é algo tolerável. Não é o que gostaria, não é o justo, mas é o que me parece viável esperar dos vinhos importados face nossa realidade de cachoeiras mil!
Atualmente, compro muito pouco vinhos importados aqui no Brasil, mas quando um vinho europeu custa “somente” 90% no limite a mais que lá fora no VAREJO, e o mercosul custa “somente” 50% a mais tbm, eu acabo comprando quando o produtor ou vinho realmente me agrada. Acho que pelo atual sistema tributário brasileiro estes percentuais sao justos e rentaveis para o importador que tenha uma certa escala de venda.
É muito dificil encontrar por estes preços tetos, mas as vezes aparecem nos bota foras/liquidaçoes, erros de etiqueta ou pouquissimas importadoras mais “honestas”.
Agora 4x que o JFC quis dizer deve ser sobre o preço de atacado na Europa, isto é, 2x sobre o varejo. Caso contrário, seria o vinho mais caro no mundo superando a Angola.
um exemplo: Soalheiro, vinho que custa, segundo João de Carvalho do blog copo de 3, 9 euros em Portugal, custa 100 reais na importadora no brasil. são aproximadamente 4 vezes mais, com uma cotação do euro a 2,5.
se a coisa piorar, o melhor é comprar uma passagem de avião!
e parabéns joão pela luta contra a salvaguarda: vinho nacional, tô fora!