Revisitando um Clássico, Don Curro
Cozinha minimalista não é minha praia. Não que não seja legal, uma experiência de sabores e texturas diferentes, mas gosto mesmo é de um prato farto em diversos sentidos. Existem em São Paulo alguns restaurantes que fizeram história e seguem sendo ícones de uma época, um deles eu frequentei há 30 anos e ultimamente revisitei por duas vezes com enorme felicidade pois vi que pouco mudou e, o que mudou foi para melhor!
Falo de um clássico da cozinha espanhola, o Don Curro! Com mais de meio século nas costas, é um restaurante que não deixa duvidas ao que veio; celebrar suas raízes espanholas e a família, tanto no que se refere aos seus consumidores quanto à sua administração que é feita pelos irmãos Rafael e Zé Maria. A cozinha, como tem que ser, toda envidraçada, viveiro de lagostas na entrada, tapas incríveis, pratos para dois (sim, ainda há gente que cultiva esse bom hábito) e um preço justo face a quantidade e qualidade servida.
No final do ano passado estive por lá numa degustação de Cavas e me deliciei com os diversos tapas servidos. Chorizo argentino e Presunto cru espanhóis de importação exclusiva, linguado á doré no azeite, croquete de jamon, polvo á la feria, manjubinha escabeche, camarãozinho alajillo, não precisa nem pedir prato principal! Um vinho branco, sangria ou um Cava de sua adega subterrânea, boa companhia e a felicidade enogastronomica será completa! Já que falamos de clássicos, no entanto, suas paellas (pronuncia-se Paêlha e não Paeja) são a marca registrada da casa e famosas, para muitos a melhor da cidade.
A primeira adega subterrânea e climatizada a ser construída nos restaurantes em Sampa, um viveiro de lagostas, uma peixaria de primeira com recebimento diário de produtos, tudo é pensado e executado com extremo detalhe e dedicação para dar, com excelência, sequencia ao projeto de Don Curro Dominguez (ex-toureiro) e Dona Carmen há 54 anos. Nesta última incursão, em que tive o privilégio de circular pelos bastidores do restaurante, um magnifico prato de lulas recheadas os quais foram acompanhados por um vinho branco diferenciado e também de importação exclusiva, o Ramon de Bilbao Viura fermentado em barrica. Comem três (!) e custa R$102,00 sacou?!
O vinho me encantou tanto quanto a comida e a “maridaje” com o prato foi perfeita. A Viura se dá bem com madeira e envelhece bem, os Vina Tondonia que o digam, e este da safra de 2009 só vem confirmar isso. Extremamente aromático, seduz rapidamente por uma paleta olfativa deliciosa e cítrica. Na boca mostra um corpo médio, bem estruturado e finamente equilibrado por uma acidez gulosa que pede comida como esta lula recheada. Ah, ia-me esquecendo dos “postres”! A Torta de Santiago é demais de boa, mas me encantei mesmo pela Torta Espanhola! Vá até ao fim, não se acanhe não, pois as sensações palativas despertadas valem a pena e cada centavo gasto.
História repleta de estórias, como a de quando foram parar na delegacia de Itanhaém há mais de 30 anos ao serem pegos retirando água do mar com um caminhão pipa para seu viveiro de lagostas! Ainda bem que a tecnologia solucionou esse problemas !! rs. Uma viagem ao passado com muita qualidade mostrando que, como os bons vinhos, a gastronomia também pode envelhecer com classe evoluindo com o tempo. Uma experiência enogastronomica em São Paulo que recomendo a quem aprecia as coisas boas da vida. Ficam em Pinheiros, Rua Alves Guimarães 230 e você pode conhecer mais clicando aqui e visitando seu site onde poderá fazer uma visita virtual à linda adega da casa.
Salute e kanimambo.