Pingus nos Is
Meu saudoso amigo blogueiro de fina estirpe que carrega o codinome Pingus Vinicius, é o menos matemático dos matemáticos que conheço e que, por sinal, são poucos. Homem culto, professor, profundo apreciador de vinhos e grande conhecedor do Dão, foi e sempre será um artista na arte de escrever. Tem uma veia poética, um verdadeiro mestre da pena, um texto franco que sempre me encantou e, como eu, volta e meia entra em suas crises de falta de inspiração que lhe atormenta a alma pois sabe bem que a esta altura do campeonato a criatura já tomou conta de seu ser.
Nesta minha momentânea crise de criatividade foi lá, em seu delicioso blog “Pingas no Copo”, que fui buscar alguns textos que têm tudo a ver com o momento de reflexão e definição de valores e prioridades pelo qual passo neste momento. Gostaria de compartilhar esses textos com vocês:
“Ler, ouvir música, ver uma obra de arte ou conhecer um vinho pressupõe que os nossos sentidos estejam despertos, acordados ou vivos. Não vale a pena, não consigo falar se não estiver focado, se faltar energia, se duvidar ou desconfiar de tudo. Fica-se desorientado e o discurso sai vazio, impessoal e forçado. Inócuo. Olharei para dentro, procurarei alguma chama, um laivo de calor. Tentarei descortinar um ponto de orientação. Procurarei, sei lá mais o quê. Estou literalmente em branco…”
“Ando confuso. Mesmo confuso. Será que ando cansado de vinho? De beber vinho? Provo este, aquele, mais aquele e mais outro, e não consigo debitar qualquer descritor, muito menos avançar para textos de índole mais técnica. Terei perdido o olfacto? Terei perdido pretensas habilidades, supostas capacidades, o jeito para a arte? Hum…que coisa malvada. Não se faz. Pego num vinho e penso que irei gostar, depois não gosto. Pego noutro e acho que não vou gostar, acabo por gostar. Doentio.
“Digam-me lá, aqueles que conseguem, como é que fazem, ainda, p´ra descrever aromas e sabores tão detalhados e precisos? Já o fiz, em tempos, de forma eloquente e até altiva, não esqueço, mas agora não sai nada p’ra além do trivial, do banal. Que coisa malvada. Não se faz.”
“Qual o sentido, qual o interesse, qual a vantagem em prosar inúmeras descrições olfactivas e gustativas? De que vale, eu, estar a dizer que determinado vinho sabe ou cheira a X e outro, mesmo ao lado, estar a dizer que sabe ou cheira a Y? O presumível leitor fica esclarecido? Tenho dúvidas. Por isso advogo que se abandonem todas, e mais algumas, descrições organolépticas. Não têm qualquer interesse e não esclarecem coisa alguma! Servem, apenas, para medir a capacidade eno-imaginativa de cada um de nós.”
“Perdoem-me o desplante. Perdoem-me, até, o atrevimento. Perdoem-me, ainda, a violação do status quo que determina a impossibilidade de contraditório público: pax eno-blogueira. Qual o interesse, para o leitor, para o consumidor, para o comprador (sem dinheiro), falar, partilhar ou divulgar vinhos de três mil euros? Serve quem? Servirá, apenas, o próprio ou os próprios que o beberam em regime de conta gotas e em regime de cota. Aos outros, é-lhes reservado, apenas, o estado de inveja.”
Enfim, enquanto penso e repenso na razão de ser do blog, de sua importância ou insignificância, leio um pouco o que os colegas têm a dizer e busco nos escritos deles um pouco de inspiração enquanto descubro se ainda tenho algo a dizer e se isso ainda me dá prazer. Sei que nem tudo tem a ver com o vinho, o momento é de reflexão e mudanças, alguma frustração, alguns desapontamentos, enfim muito mais além dos caldos de Baco então veremos onde isso me leva. O que sei, no entanto, é que ainda quero falar dos vinhos de Colomé e de outras experiências vividas na minha gostosa viagem à Argentina no já longínquo mês de Novembro de 2012! Quem tiver paciência aguarde, quem não tiver sugiro visitar a página do amigo Pingus, aquele que não tem papas na língua e conhece como poucos o universo de vinhos lusos.
Salute e kanimambo.
Não sei se respondo às suas inquietações, se darei alguma contribuição mas, para mim seu blog é importante.É com alegria que vejo em minha caixa de entrada que tem postagem nova. Adoro ler seus textos.Espero que o resultado de suas reflexões não levem a abandonar o blog. Um bom vinho de meditação talvez possa ajudar.Boa sorte. Lúcia
JFC,
É verdade, gosto de ler o seu blog porque você trata dos vinhos do nosso dia a dia, das dúvidas dos espumantes de festas e casamentos, de coisas próximas a maioria das pessoas. Você não impõe sua opinião, aconselha, norteia, mas não toma a decisão por ninguém. Claro que foi gostoso ler a experiência sobre vinhos do porto que não são acessíveis a quase ninguém, mas naquele momento você representava as pessoas comuns que também não tem acesso a eles. Você transmite honestidade em suas palavras; não quero ler blogs de pessoas que parecem receber para avaliar ou pior, para avaliar bem um vinho que não deve ser aquilo. Está ao nosso lado quando fala que um vinho dá água na boca, harmoniza com uma massa ou um churrasco, e não compara o aroma com aquele do feno da margem esquerda do rio x da Europa.
Também compartilha momentos simples, como o dia dos pais, a surpresa pelo fim do final de semana, a perda de um companheiro, todos passamos por isso e nós vemos, de uma forma ou outra, um pouco mais ou um pouco menos, representado pelas suas palavras.
Espero que isso lhe sirva de alento, se não servir ao menos serão palavras de agradecimento que estarão expressas e não guardadas indevidamente para sempre.
Abs.,
JFC, seu blog é uma pequena ilha de sinceridade em meio ao oceano de falsidade que temos por aí.
Não abandone seus devotos!
Espero que as turbulências passem, as coisas da vida ganhem uma nova perspectiva, e você possa continuar a escrever com prazer.
Abraço.
Meu grande amigo. Não mereço tanta consideração. Quem sou eu…Mas entendo-te perfeitamente, se te entendo…
Lucia, Rafel, Rui, Gulherme, a todos um enorme kanimambo. Palavras de alento que sim, ajudam na “recuperação’! rs Valeu pelo carinho.
Quando algo é importante apenas o é, não são palavras que medem.
Mas é sempre bom falar. O blog é extremamente instrutivo para mim, um eno-leigo que as vezes tem a sorte de experimentar bons vinhos.