Confraria Vino Paradiso Harmoniza Carne ao Molho Indiano
Participo de diversas confrarias e na Vino & Sapore hospedamos algumas, sempre um motivo de alegria cada uma a seu jeito e com seus objetivos. A “Vino Paradiso”, no entanto, é algo diferente porque é sempre um Desafio que nos é colocado pelo Ney Laux, confrade, amigo e experiente chef de cozinha que há décadas faz a alegria de boa parte dos amantes da boa comida na Granja Viana. Mensalmente ele determina um prato e nós, eu e o também confrade Carlos, corremos atrás dos vinhos que acreditamos possam harmonizar com o prato como no caso de Bacalhau e Vinho e Joelho de Porco com Riesling entre diversos outros incríveis momentos. Na foto, o Ney, sua criação e a Renata que não resistiu aguardar sua vez e já quis atacar o prato do mestre!
Desta feita o desafio foi grande pois, como os amigos já sabem, harmonizar comida indiana com toda a sua complexidade de sabores, aromas e presença forte de especiarias, não é tarefa fácil. O amigo Carlos perdeu, o coitado estava na Toscana (rs), mas de lá deu sua dica, um Syrah australiano deveria dar samba. Bem, certamente esse deveria ser um dos escolhidos, mas que mais já que tradicionalmente brincamos com três vinhos? Pensei num Gewurztraminer, mas não tinha um à altura na loja. Enveredei destemidamente pelos tintos e acabei escolhendo um Zinfandel americano e um Touriga Nacional alentejano. Até o último momento, no entanto, fiquei com o branco na cabeça, achei que ainda seria a melhor opção, até que decidi incluir um quarto vinho nessa experiência, um Paul Mas Viognier 2010 da região do Languedoc.
Antes de falar do resultado, deixa eu falar um pouco do prato que, por sinal e para não perder o costume, estava delicioso e ele, em si, já exigiu uma certa dose de harmonização da parte do Ney. Um prato composto de três partes
1 – Cubos de filé mignon no molho com tomate, cebola, champignon e especiarias (cravo, canela, gengibre, semente de coentro, semente de mostarda, cúrcuma e pimentas).
2 – Chutney – maçã, laranja, passas de uva, gengibre, semente de mostarda e curry
3 – Arroz branco
A carne estava perfeita, rica, porém com a integração das especiarias de forma muito sutil e agradável. O chutney, adoro chutney, estava divino e as especiarias aqui bem mais presente, já o arroz trazia uma certa neutralidade que ajudou muito servindo como liga na harmonização de sabores. Essa complexidade toda reagiu de formas diferentes aos vinhos, pelo menos na minha avaliação, conforme abaixo
Paul Mas Viognier 2010 – uma agradável surpresa que se moldou muito bem ao conjunto (carne/chutney/arroz) dando um frescor especial ao prato e mostrando ter corpo bastante para ‘aguentar” o prato. A meu ver, empatou com o australiano tinto como os melhores no quesito harmonização com o conjunto do prato. De forma diferente, mas ambos muito especiais!
Wente Bayer Ranch Zinfandel 2009 – vinho muito saboroso, frutado e com um final tipicamente adocicado com nuances de especiarias, estas últimas bem sutis. Acompanhou a carne mas morreu com o chutney. Não foi mal, mas não deixou saudades. Melhor só!
Tatachilla Keystone Syrah/Viognier 2004 – da Austrália, este vinho está em seu ápice e esse corte típico de Cote Rotie (Rhône) casou muito bem com o conjunto do prato. Complexo, especiarias mais marcantes e a Viognier lhe aporta um frescor a mais. Bela opção e aqui segui o conselho do Carlos, bela tacada!
Herdade de São Miguel Touriga Nacional 2010 – do Alentejo, um vinho delicioso, cremoso, bom volume de boca, taninos aveludados bem integrados e fruta no ponto em total equilíbrio. Para mim, olha o sangue falando mais alto, o melhor vinho da noite, porém perdeu na harmonização com o conjunto. Já só com a carne, para mim foi o melhor.
Mais uma vez o Ney conseguiu se superar e tivemos mais uma noite extremamente agradável. Boa comida, boa bebida e grande companhia, mesmo quando um não esteja nos seus melhores dias, impossível não curtir esses momentos, pois os outros seguram! O restaurante ele fechou, momentaneamente esperamos, mas nós, confrades privilegiados, seguimos tendo a oportunidade de nos deliciarmos com seus pratos deliciosos, gastronomia de autor de primeira e com comida no prato!
É isso gente, nunca deixem de experimentar coisas diferentes, as descobertas são invariavelmente muito interessantes. Salute, kanimambo e não esqueçam, a 2º edição do Saturday Night Wine Tasting na Vino & Sapore está chegando, dia 10 de Agosto. Aguardo você, mas garanta antes seu convite.
Quando voltar a morar no Brasil, quero tanto participar desses seus encontros como o de 10 de agosto!
Se o prato tinha a carga de pimenta de um autêntico prato indiano, o melhor é vinho verde semi-seco, ou Lambrusco. Os enochatos podem até torcer o nariz pra minhas escolhas, mas depois de colocar a primeira garfada de um prato na India, vai literalmente chorar por uma taça de Lambrusco, ou Casal Garcia!
Oi Rodrigo e grato pela contribuição. Obviamente que o prato não tem a pimenta usada na India ou em restaurantes mais típicos, não era esse o propósito já que é uma cozinha de autor, porém caso fosse o caso concordo com seus conceitos quanto ao vinho verde só que escolheria algo numa escala mais acima. Chorar, se comendo por lá, vamos mesmo porque é demais da conta de picante e melhor pedir mesmo é um extintor!!! rs
João com sempre nossos encontros sao a melhor data do mês ! Adoro suas escolhas bem como a gastronomia do Ney tudo renomado e profissional de bom gosto ! aprendo cada dia com você a saber escolher melhor um vinho e degusta lo . Obrigada por nossa amizade e sua sabedoria ! Bjs Renata Martir
Valeu Renata, bj e depois de tantos e gentis elogios, agora é que ninguém me aguenta!!