Pequenas Vinícolas Brasileiras Fecham as Portas
Enquanto no velho mundo apoiam-se e protegem-se os pequenos vitivinicultores que fizeram e fazem a história de nossa vinosfera, o novo mundo vive dos grandes conglomerados. Há luzes nesse túnel escuro como no Chile onde o MOVI (Movimento Vinheteiro Independente) faz um trabalho interessante e importante no resgate desses valores, assim como na Austrália e Estados Unidos onde os grandes convivem com os produtores mais artesanais, uma relação salutar e essencial. Por aqui, pelo menos por enquanto, o foco segue sendo o de tornar os grandes ainda maiores e os pequenos ……….bem, esses que se explodam e é bem isso o que está ocorrendo. Eu falar sobre esse tema, no entanto, não tem muito valor até porque meu conhecimento de causa é muito relativo, mas o que dizer quando a voz que se ouve é deles próprios? Um leitor, o Guilherme, me enviou este recorte em um comentário feito ontem e acho que ele merece um post por sua importância. Eis o texto de Noele Scur em reportagem especial para a Folha de Caxias:
“A União Brasileira de Vinícolas Familiares (Uvifam) estima que pelo menos 150 pequenas cantinas tenham deixado de produzir vinho na Serra Gaúcha nos últimos quatro anos. O número parece alto para quem considera o setor consolidado na região, mas se mostra baixo para quem vive o problema. “Imagino que seja muito mais que 150. São muitos que desistiram”, conta o agricultor Vilmar Slomp, 49 anos.
“A lucratividade caiu à zero. É uma questão de sobrevivência. É como perder o emprego, mas nos preparamos para a decisão. Tem que entender que não dá mais. Tomamos a decisão certa.”, explica Volnei. Nos anos anteriores, eles acreditavam que as coisas poderiam mudar. “Sempre tinha a crença de que ano que vem vai melhorar, mas nós não estamos sós”, lembra Vilmar. Ele conta, ainda, que muitos não fecharam as vinícolas ainda porque possuem grandes estoques de vinho e nem receberam pela produção da última safra. A carga pesada dos tributos e a Lei Seca são os principais fatores considerados por eles para explicar a diminuição do consumo da bebida e, consequentemente, a desistência dos vitivinicultores.
Cenário – O que a família Slomp conta, as entidades representativas confirmam. O vinho dos pequenos produtores pode ser extinto do mercado. A contagem da Uvifam, que trata de 150 fechamentos nos últimos anos, é considerada alarmante para a Serra Gaúcha. “É uma das regiões que mais possui cantinas familiares no Brasil, mas também a que mais fechou as portas. Está acabando não simplesmente um produto, mas uma cultura”, afirma o presidente da entidade, Luís Henrique Zanini.
Para ele, a situação remete a um futuro de fortalecimento das grandes companhias e o sumiço das pequenas, que foram exatamente o carro-chefe da economia da região serrana. Zanini considera que no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, há ainda a especulação imobiliária para colaborar com a decisão de abandonar a produção de vinho. Em Caxias e Flores da Cunha, os agricultores passam a desistir da produção da bebida para vender toda a colheita da uva, e enfrentar o sempre polêmico preço mínimo da fruta.
“A burocracia e a questão tributária são os principais entraves. E o consumo caiu, não houve um olhar mais atento do governo ao setor da vitivinicultura”, destaca. Zanini aponta, ainda, que as vinícolas de pequeno porte não podem ser enquadradas no imposto Simples, porque é bebida alcóolica. “A cantina que produz 10 mil litros ou 10 milhões encara exatamente a mesma tributação.”
Compra governamental – Ações de incentivo do governo aos agricultores familiares e até a compras de suco de uva não são consideradas o bastante para alavancar o setor. “São atitudes esporádicas e acontecem quando há imensa dificuldade. Gostaria de ver a discussão de uma matriz produtora, um projeto para o setor”, afirma.
Outro ponto negativo que a desestruturação das cantinas familiares causa é no turismo. Para Zanini, as pequenas propriedades são exatamente o charme e a diversidade que a Europa utilizou para promover algumas regiões, ao contrário do que vemos de perto.” Matéria completa pode ser lida aqui >http://www.folhadecaxias.com.br/noticia/Pequenas+vinicolas+fecham+as+portas/4267
Dá o que pensar, não? Como diz o mestre Adolfo Lona aqui “um número expressivo de famílias produzindo seus vinhos nas diferentes comunidades faria surgir a regionalidade, a tipicidade, os produtos originais e únicos e com certeza teria uma influencia fantástica no futuro do vinho na Brasil. Estas vinícolas são as que agregam valor ao vinho.Valor financeiro e principalmente valor cultural, em vez disso o mundo do vinho fica sem graça e perde a alma”. Salute, kanimambo e seguimos nos vendo por aqui ou na Vino & Sapore onde, neste próximo Sábado teremos nosso Saturday Night Wine Tasting.
João, uma pena todo este processo. Com o passar do tempo, comecei a ampliar os horizontes e, hoje em dia, o que curto é justamente a diversidade de sabores, as experiências sensoriais e o entendimento da “intenção” colocada em cada garrafa! Se não privilegiarmos esta diversidade, ficaremos engessados e escravos. É burrice. Os pequenos ajudam os grandes e vice-versa.
O governo nunca vai se incomodar com isso. Aqui em Curitiba, recentemente num badalado restaurante de um polaquinho uma comitiva de politicos e seus asseclas, jantava com uma caixa (C A I X A) de Alma Viva. Por que se incomodariam com tudo isso, se estavam bebendo com o NOSSO dinheiro:…..
Nós consumidores também podemos colaborar provando os vinhos destes pequenos produtores, que ainda enfrentam o problema da distribuição. Para provar o Hex Von Wein de Picada Café acabei pagando correio mesmo, já descobri o representante do Adolfo Lona aqui em São Paulo assim como o próprio Nathan Churchill. Dá trabalho achar estes pequenos produtores, evidentemente a recomendação seria tentarem criar uma canal de distribuição único como forma de redução/divisão de custos.
Uma pena mesmo. Acho que quanto mais velha fico, mais gosto de tudo o que é pequeno, feito com mais amor e onde de preferência a gente possa conversar com o dono ou com um vendedor que entenda muito do assunto. E com vinho é a mesma coisa. Aqui na França os vins de proprietaires, que muito resumidamente são os produtores menores, são tão valorizados!
Muito triste. Ficou claro que um dos maiores problemas, senão o maior, trata-se da forma como é feita a tributação aos pequenos produtores (sendo a distribuição outro grande problema). Acredito que exista espaço no mercado para todos (pequenos a grandes produtores), e seria interessante um projecto patrocinado não pelo Governo (que sabemos não tenha tanto interesse), mas pela iniciativa privada.
A Uvifam poderia gerar uma petição online e pedir assinaturas de nós, enófilos, solicitando incentivos governamentais para estas pequenas vinícolas. Estive recentemente no Vale dos Vinhedos e conheci cantinas históricas incríveis. Não se trata apenas de um espaço físico com fins econômicos. São lugares com histórias, tradições, costumes passados de geração a geração.
Nosso governo incentiva e financia tanta coisa… poderia ajudar tb. Sem falar que além da preservação da história, contribuiriam para geração de empregos e renda.