Syrahs – Uma Viagem Fora de Seus Habitats Mais Conhecidos, França e Austrália
Mais uma viagem de descobertas de novos sabores, algo inerente a qualquer confraria que se preze, onde a experimentação tem que conviver com os eventuais encontros com grandes vinhos e, obviamente, a confraternização entre amigos. A meu ver, esse Las Moras 3 Valleys é hoje um dos grandes Syrahs até R$200 disponível no mercado e páreo para muito nomes graduados e bem mais caros, vinhaço! Provamos, todavia, uma série de outros vinhos bem interessantes mostrando uma diversidade entre eles muito interessante. Uma dica, fiquem de olho nos Syrahs Sul Africanos e Chilenos, muita coisa boa vindo dessas regiões. Em nossos encontros, no entanto, quem conta nossas experiências é a Raquel, então vejamos o que ela achou dos vinhos de mais esse encontro da confraria Saca Rolha.
“ Syrah ou Shiraz? Eis a questão. Tudo depende da procedência dessa uva que sempre viveu à sombra das espécies mais famosas, como a Cabernet Sauvignon em Bordeaux ou a Pinot Noir na Bourgogne.
Sua origem tem várias versões e uma delas é que vem da antiga Pérsia, de uma cidade chamada Shiraz. A outra versão, é que foi trazida do oriente, e pelo caminho passou pelo sul da Itália, na cidade de Siracusa, na Sicília. De lá rumou para o vale do Rhône, onde se estabeleceu como a casta principal, com o nome de Syrah. Por ser uma uva resistente, com boa produtividade, não teve muitas dificuldades em se espalhar por outros territórios, onde foi se adaptando e cativando corações por sua personalidade peculiar. Produz vinhos densos, escuros, cheios de frutos negros, maduros, e ricos em especiarias que nos fazem imediatamente lembrar a sua possível procedência oriental.
Fora da França, destacou-se mais tarde na Austrália. Com características diferentes e apesar de ser considerado “o novo mundo”, produz a Shiraz, como lá é chamada, desde o século XIX. E por volta dos anos 80, quando o vinho australiano se projetou no mundo, a Shiraz tornou-se sua uva ícone, devido à qualidade e volume de produção de seus vinhos.
E foi justamente pensando nessa vocação, meio nômade, cigana, de se espalhar pelo mundo, se adaptando, interagindo sem impor rígidas exigências, mas ao mesmo tempo, deixando sua marca bem evidente por onde for criando raízes, que focamos nosso encontro do mês: os diferentes países (fora os óbvios), onde o plantio da Syrah/Shiraz tenha se desenvolvido e os vinhos recebido algum destaque. Foram escolhidos 5 vinhos:
1. Falesco – Tellus Syrah 2011
Esse vinho italiano, da região do Lazio (que tradicionalmente não é conhecida como uma região vinícola) já nos chamou a atenção pelo formato da garrafa, mais achatada que o usual, lembrando as antigas garrafas romanas. Na taça mostrava-se bem escuro e denso. Aromas de frutas maduras (cerejas, ameixas). Boa acidez, bom corpo, taninos presentes e bem incorporados. Sobressaíram ameixa preta seca, picância de pimenta e madeira. No final ficou bem caramelado.
2. Maset del Lleo – Syrah Reserva 2006
Catalunya, Espanha. Aromático, com especiarias, canela, baunilha, frutas e madeira. Muito aveludado na boca. Taninos finíssimos, com bom extrato de frutas negras maduras. Evolui bastante na taça, trazendo aromas defumados e florais (violeta). Os sabores também vão se amalgamando aparecendo café e chocolate. Final longo com persistência de ameixa preta seca.
3. Montes Alpha Syrah 2007
Valle de Colchagua, Chile. De início, causou alguma estranheza, com um certo aroma químico que sobressaía. Depois foram aparecendo alguns herbáceos (eucalipto, mentol, alecrim) e um fundo de côco. Na boca, bem pungente, com o álcool em evidencia. Boa acidez, bom corpo, taninos elegantes. Com tempo, evoluiu bem na taça. Apareceram o café, chocolate, defumados e frutas maduras. Fez lembrar um bom assado. Talvez o mais gastronômico de todos!
4. Quinta dos Termos – Reserva do Patrão 2009
Beiras Interior, Portugal. Bem escuro na taça. Frutado e denso (ameixa preta, jabuticaba, amora, cereja). A boa acidez traz um frescor e leveza contrastando com o peso do corpo e a potencia dos taninos. É um vinho que fala alto, mas fala bem! Mostra toda a tipicidade da Syrah, com suas especiarias perfumadas e picantes. Com tempo na taça evoluiu muito. Os taninos ficaram mais dóceis, e os aromas e sabores mais equilibrados. Um vinho que ganharia muito se fosse decantado por algum tempo.
5. Las Moras – 3 Valleys – Gran Shiraz 2009
San Juan, Argentina. Esse vinho já ganhou pontos (pelo menos nas nossas expectativas) quando foi servido em taças Riedel. Quando levei a taça ao nariz……..bem…..eu sei que a taça ajuda, mas não melhora nenhum vinho! Foi uma explosão de aromas que desencorajava qualquer impulso de dar o primeiro gole e perder aquele “playground” olfativo! Mas a curiosidade de conhecê-lo por completo, não me deixou demorar muito para apreciar também os seu sabores. Todo exotismo e nuances muito típicos dos vinhos feitos com as uvas Shiraz/Syrah estavam ali. Tudo muito equilibrado, sem cair na mesmice e mostrando claramente aquele “terroir” dos 3 vales (Tulum, Zonda, Pedernal) a oeste da Argentina. Muito expressivo e bem feito!
A uva Shiraz/Syrah está, juntamente com a Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir, entre as tintas chamadas de internacionais, ou seja, as cepas que se espalharam por vários locais do planeta por onde foram levadas e conseguiram se desenvolver bem. Além do Vale do Rhône na França e na Austrália, onde a produção dos vinhos com esta casta é muito significativa, existem fortes expressões na Itália, Espanha, Portugal, África do Sul, EUA, Argentina e Chile. Produz vinhos sedutores, e muito gastronômicos. Combina muito bem com aqueles pratos de carnes de sabores marcantes, com molhos adocicados feitos com frutas exóticas e picantes. nfim, eu diria que seus vinhos não tem nada de básico. Portanto escolha-o quando quiser sair do lugar comum. “
Salute, kanimambo e uma ótima semana para todos.