Medalhas de Ouro – Como Funciona Essa Premiação?
Falando de Vinhos e premiações com amigos confrades recentemente, achei que valia escrever um post sobre este tema. Quem não milita nesse setor pode ter a impressão errônea, fortemente fomentada pelo marketing tanto de produtores como das importadoras, de que um vinho que ganhou medalha de ouro em uma determinada feira, evento ou exposição, foi o melhor desse evento. Isso NÃO É VERDADE! Para que tenham uma idéia, no Decanter (conceituada revista Inglesa) World Wine Awards de 2013, participaram 10.400 vinhos e foram distribuídas quase que 10.000 medalhas, das quais 229 de ouro, 1.665 de prata, 4.165 de bronze e 3,658 Commended (recomendados). Na recente versão 2014 da Argentina Wine Awards foram provados cerca de 650 amostras e distribuídos 4 Trophies Regionais, 12 Trophies, 58 medalhas de ouro, 256 medalhas de prata e 276 de bronze.
Como já disse sobre as notas de experts ou pseudo experts, tem diversos por aí andando de salto Luis XV (!), estas medalhas e troféus dever ser absorvidas com a devida parcimônia. Dependendo do evento, não devemos fazer pouco caso da medalha, pois esta é atribuída a vinhos dentro de uma faixa de pontuação bastante alta. Já os troféus, esses são diferentes e premiam os melhores vinhos em cada categoria (região/cepa/país, etc.) determinada pela direção de cada evento. Posteriormente, os selos de premiação são comercializados aos produtores por parte do organizadores.
Me irrita profundamente quando os marqueteiros de plantão saem por aí anunciando um vinho que foi o número 1 dos top 100 da Wine Spectator, como o melhor vinho do mundo! A Miolo, por exemplo, anunciou aos 4 ventos que o Merlot Terroir 2005 (um bom vinho por sinal) ganhou numa degustação às cegas em Londres o título de Melhor Merlot do Mundo (foram 27 os vinhos provados)! Menos, vai gente, menos porque isso é falta de ética é querer eludir o consumidor seguidor de Baco!! Que um determinado vinho tenha ganho, por exemplo, um Troféu como Melhor Merlot do Evento num evento de prestigio consagrado é digno de celebração, mas vamos manter isso dentro da realidade, foi “só” o Melhor DAQUELE evento, não do mundo até porque para isso todos os melhores (?) deveriam estar presentes e invariavelmente não estão!
Vamos em função disso menosprezar premiações? Não, mas vamos digerir isso com a devida cautela e sem ufanismos. Várias premiações em diversos concursos dadas a um mesmo vinho em diversas safras faz dele, sim, um vinho de qualidade respeitada que deve ser festejada, porém que pode não ser do seu agrado, então provar é sempre essencial. Para mim, o melhor merlot nacional foi o Storia 2005, que depois não conseguiu repetir a performance (pelo menos das safras que provei) e hoje o Pizzato DNA , mas isso é tão somente a minha opinião em cima do que provei e tem um montão que não cheguei nem perto!
- No Royal Adelaide Wine Show da Austrália, as medalhas são dadas para vinhos com a seguinte pontuação: Ouro 18.5/20 pontos e acima – Prata de 17.0 a 18.4/20 pontos – Bronze de 15.5 a 16.9 pontos.
- No Concours Mondial Bruxelles – Ouro de 92,5 a 100 pontos – Prata de 87 a 92,4 pontos e Prata de 84 a 86,9 pontos.
- No Decanter World Wine Awards – Ouro, de 95 a 100 pontos – Prata de 90 a 94 pontos – Bronze de 85 a 89 pontos e Recomendado (Commended), que eu traduzo como Menção Honrosa, de 81 a 84 pontos.
Enfim gente, bebam vinho, não pontuação e não se deixem eludir pelo marketing extremo lembrando que, NÃO EXISTE VINHO MELHOR DO MUNDO! As premiações são tão somente uma fotografia de; um determinado evento, num determinado local, de determinados vinhos provados por determinados juízes/avaliadores num determinado dia. Mude um desses fatores e você poderá obter um resultado diferente. Tem um monte de rótulos com conteúdos maravilhosos que nunca entraram numa concurso ou feira de vinhos, que nunca foram enviados para avaliação da Wine Spectator ou da Wine Advocate (Robert Parker) e não por isso são inferiores em qualidade a muitos medalhados. Liberte-se, aventure-se, prove (essencial), saia da mesmice e curta a agradável viagem da busca por novos sabores e emoções!
Salute, Kanimambo e conto com vocês no Riedel Tasting de dia 16 de Abril. Dizem ser as melhores taças do mundo, será? Venha conferir, reserve já!
Ps. O WordPress segue com vontade própria diagramando o post do jeito que quer! Alguém aí está com o mesmo problema ou sou só yo!
existe o melhor vinho do mundo sim. é o TORO LOCO. Nunca ouviu falar? catso!
Se não fosse uma tragédia seria uma piada o tal do engodo TORO LOCO, bem lembrado aqui. O que me me causa o mais profundo desgosto é como importadores com seus discursos sobre: pequenos produtores, terroir, ética, honestidade, vendem para estes sites de picaretas da internet que inundam o consumidor com vinhos de baixa categoria descritos como “o suor dos deuses”
tem uma pessoa que num dos sites descreve coisas como: “mugo macerado envolto pro brisas primaveris sobre camadas de açúcar mascavo” para um vinho de 20 pilas….É de chorar!
“Loco” é o “Toro” que acredita nisto! Muito bom o post, João. Uma aula sobre como funciona o mercado e a realidade do vinho! Obrigado por seguir incentivando a experiementação e respeito aos gostos individuais! Abraço!
João Filipe, porque não institui o troféu Toro Loco e premia os “melhores” de cada ano? Seria divertido! Você poderia convidar o ex-MW Pancho Campo para a cerimônia de premiação.
É gente, o Toro Loco é um bom exemplo do que o marketing consegue fazer e como o pessoal embarca nessa. Uma vez provei esse vinho ás cegas e me surpreendi, até em função do restante dos vinhos em prova, pois é um vinho bem feitinho e acho que vale o que pedem por ele sendo, dentro da faixa, uma boa compra para o dia-a-dia e isso não nego. Daí, até torná-lo um ícone dos vinhos espanhóis como muitos fizeram, vai uma distância enorme e que carece de sustentação. A verdade é que papel ou computador aceita qualquer coisa e num mercado de baixa cultura vínica se digere tudo e mais um pouco! Acho que nesses casos isso acaba sendo um desserviço á nossa Vinosfera, uma pena!
Grande post João, escrito com sobriedade, sabedoria e independência razões pelo qual virei seu fã só lamentando não o ter descoberto antes. Como você costuma dizer, sai fora da mesmice de um monte de blogs que tem por aí. Este texto esclarece muita coisa e pelo que vi é uma bela forma desses concursos faturarem. Afinal se eles vendem os selos, quanto mais medalhas melhor, certo? Abraço e parabéns mais uma vez
Muito bom e esclarecedor o post! quer dizer então que para vinhos empates são sempre válidos! mas para nós leigos que estamos acostumados a ver no esporte 1 medalha para cada nos confundimos mesmo e o marketing sabe explorar bem isso! Parabéns pelo post e por nos alertar!
Olá Junior e grato pelo comentário. na verdade não são empates e sim qualquer vinho que tenha uma pontuação entre determinada gama de pontos. Como no Ouro em que a Decanter, por exemplo, trabalha com pontuações de 95 e acima. Desta forma, todos os vinhos que consigam essa pontuação dos jurados ganhará sua medalha. Por isso são tantos. De qualquer forma, o importante é saber que não existe um único ganhador com medalha de ouro. Já nos troféus, aí é diferente, pois todos os outros normalmente são degustados novamente para se determinar ganhadores por segmentação previamente definida pelos organizadores. Abraço
Ando nisto dos vinhos à pouco tempo. A culpa foi de um site, Passo a explicar, andava eu a navegar por entre concursos de vinhos para ter uma ideia sobre um projeto de publicidade. Foi aí que dei de caras esse site que nãonão tem nada sobre concurso mas tem vinhos que me agradam muito vai daí, que agora sou viciado nas noticias sobre vinhos.
Estou a aprender a apreciar os bons vinhos.
Espero voltar aqui mais vezes.
Um abraço.
J. Silva