Espumantes Rosé com Sushi e Sashimi
Final de ano tem tudo a ver com espumantes e achei que uma degustação unindo uma série de rosés (menos usual em nossas taças) e a culinária japonesa poderia ser algo interessante a explorar e deu muito certo, tanto que depois desta na Confraria Saca Rolha, repeti o roteiro (com algumas variações) mais duas vezes com a ajuda do restaurante Koizan e seus combinados, nosso vizinho da Vino & Sapore aqui na Granja Viana. Para nos relatar essa experiência a porta voz da confraria, Raquel Santos amiga e sommelier, me enviou este texto que agora compartilho com os amigos, porém desde já deixo claro, não perca a chance dessa harmonização, DÉZ!!
“Essa foi a nossa última degustação do ano. E eu que andei meio ausente daqui, não podia deixar de compartilhar estes nossos tão prazerosos encontros, que a cada dia mais transbordam de alegria fazendo do vinho, um companheiro a mais, que só nos dá motivo para que nossa confraria caminhe com muita sintonia e por que não, com muita farra também! E como todo grupo que se preze, tem que ter um “nerd”, aqui estou eu para deixar registrado tudo que havia atrás dos incontáveis brindes e desejos de que esses momentos nos impulsionem para dias felizes sempre que for possível!
Desta vez, aproveitamos a brilhante ideia do João de harmonizar sushis/sashimis com uma bela seleção de espumantes rosés. Optamos por uma degustação às cegas, para que a isenção fosse um fator levado em consideração, já que entre eles haviam espumantes de várias procedências, incluindo um Champagne Grand Cru.
Para entrarmos no clima e preparar as papilas pelo que tínhamos pela frente, começamos com um espumante italiano brut (branco) elaborado com a casta Chardonnay 100%. Um Franciacorta (DOCG), região com denominação de origem controlada e garantida, na Lombardia, norte da Itália. Dizem que os italianos dessa região quiseram produzir esse espumante para rivalizar com os franceses de Champagne. Usam o mesmo método(champenoise) e o resultado é um vinho (sim, espumante é um vinho) de muita categoria. Elegante, fresco, com aromas de brioche e pâtisserie. Potente e ao mesmo tempo delicado.
Estávamos prontos para o desafio às cegas! Vou descrevê-los todos primeiro (como chegaram à mesa) e depois, no final, revelarei quais foram os rótulos. Vem comigo?
O primeiro na taça já causou um certo impacto pela linda cor rosada. Todos os vinhos rosé não escapam desse apelo. E quando se tem a oportunidade de comparar vários tons ao mesmo tempo podemos perceber a enorme variedade entre eles. Em seguida podemos observar os aromas: aparecem frutas vermelhas como cerejas, morangos silvestres e um frescor parecido com uma brisa marinha. Ao provar, a tendência é tentar encontrar tudo que sentimos no nariz, agora na boca. Mas nem sempre isso acontece, pelo menos na mesma ordem. Aqui pude sentir uma mineralidade bem presente (talvez proveniente do tipo do solo). Um sabor calcário, quase de giz, que se mistura com frutados que aparecem em seguida. E uma acidez que fazia salivar, pedindo comida. Nessa hora fiquei muito curiosa para saber como casariam bebida e sushi, principalmente pelos acompanhamentos do shoyu, wasabi e gengibre. Seria uma luta inglória entre a potência e o delicado? Mas o que vimos foi um casamento perfeito, do tipo “felizes para sempre”,cada um mandando seu recado sem sobrepor ao outro!
O segundo se destacou pela cor bem diferente. Um ocre desbotado, bem clarinho, parecido com a cor da casca da cebola. Nariz potente, de fermento e creme de baunilha. Já tínhamos aí uma dica: essa característica é dos espumantes feitos pelo método tradicional. Bem encorpado e cheio de frutas vermelhas. Um espumante corretíssimo, harmônico e elegante.
O terceiro: Passou pelo nariz … muito sutil. Levei-o direto à boca. Explodiu em borbulhas incontáveis! Enche a boca e persiste com sabores de frutas cítricas e uma pincelada daquelas frutinhas do bosque selvagens. O tipo de vinho que que mantém um certo mistério. Ele deixa claro que tem muito a dizer, mas vai falando lentamente e principalmente não deixa que nenhuma característica se sobreponha a outra. Muito equilibrado, que desafia a degustação pois temos que correr contra o tempo em que fica na taça em função do aumento da temperatura.
O quarto: Linda cor de palha rosada. Nariz sutil de brioche e frutas vermelhas. Na boca tudo isso se confirma com bom corpo e acidez equilibrada. Um espumante muito bem feito que agrada tanto sozinho quanto acompanhando aperitivos ou mesmo uma refeição de verão. Foi bem com a comida, mas acho que este é daqueles que harmoniza muito bem com pessoas!
O quinto: Visual vibrante! Um rosado mais intenso que os anteriores. Aromas de brioches saindo do forno que depois dão lugar às frutas vermelhas, como morangos e cerejas. Apesar de remeterem à confeitaria, na boca mostra-se bem seco com borbulhas bem fininhas, e um frescor que contrapõe a doçura dos aromas. A cada gole fica um gosto de “quero mais”!
O sexto: Um rosado forte. Nariz clássico de fermentos e frutas vermelhas. Bom corpo com notas cítricas e boa acidez dando-lhe um frescor e característica gastronômica muito agradáveis.Apresentou-se melhor com um delicioso carpaccio de atum maçaricado!
Final de vinhos nas taças, assim como nos pequenos pratinhos de sushis e sashimis apenas restaram a evidência de que aquele diálogo entre comida e bebida caminharam de mão dadas como um namoro de sincronia perfeita provando que essa harmonização dá muito certo com todos os espumantes provados que, mesmo performando de forma diferente, deram um resultado final similar.
Depois de tantos goles e mordidas, chegou a aguardada hora da revelação, quem era quem?
1. Crémant de Bourgogne François Labet Brut Rosé – O Crémant é um espumante francês, feito fora da região demarcada de Champagne, porém sempre usando o método champenoise ou tradicional. Neste caso vem da Borgonha (A.O.C. Crémant de Bourgogne), onde as castas Chardonnay e Pinot Noir são as estrelas principais. Este é feito apenas com a Pinot Noir.
2. Espumante Adolfo Lona Órus Pas Dosé Rosé – Um brasileiro para se sentir orgulho. Feito artesanalmente, pouquíssimas garrafas e o resultado é um produto que pode ser equiparado com os grandes espumantes do mundo. Se você ainda não conhece, vale muito ir atrás e certamente será surpreendido. Aqui utilizam-se três variedades de uvas: Chardonnay, Pinot Noir e Merlot.
3. Champagne Barnaut Authentique Brut Rosé Grand Crú – Um Champagne é um Champagne. Está entre os vinhos mais aclamados do mundo. Apenas os espumantes proveniente da região demarcada “Champagne” podem receber essa denominação e os Grand Crú são apenas 17 comunas (menos de 9% da produção) das cerca de 320 hoje existentes. Todo Champagne é feito pelo método tradicional (champenoise) e as uvas autorizadas são Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Maunier. No caso deste rosé utiliza-se apenas a Pinot Noir.
4. Franciacorta Lo Sparviere Rosé Monique – Do mesmo produtor do espumante que abriu essa degustação. Este rosé mantém a mesma linha usual de Champagne, utilizando sua casta correspondente italiana: A Pinot Nero.
5. Cava Sumarroca Brut Rosé – O Cava é o espumante feito na Espanha. A principal região produtora ( Penedés) fica próximo a Barcelona na Catalunha. Mas existem outras regiões menores espalhadas pelo país. Sempre feita pelo método tradicional e as uvas autorizadas são: Xerel-lo, Macabeo e Parellada, mas a Chardonnay também pode entrar nessa composição. No caso dos rosés, usa-se a Monastrell, Garnacha e Pinot Noir. Aqui a classificação de qualidade segue a linha espanhola de “crianza”, ou seja como é criado o vinho. Os espumantes dividem-se em três categorias: Jóvenes ( 9 meses em contato com as leveduras), Reserva ( 15 meses) e Gran Reserva ( 30/36 meses).
6. Espumante Vicentin Rosé de Malbec – Um argentino que utiliza sua casta ícone para compor um espumante no estilo champenoise e se dá muito bem no processo.
Tivemos seis versões de espumantes rosé, cinco países produtores diferentes, todos feitos pelo método tradicional. Pode-se perceber por parte dos produtores uma forte intenção de se chegar o mais perto possível dos aclamados “Champagnes”, uma comparação inevitável! Até muito pouco tempo atrás, tudo que borbulhava era chamado de Champagne.
Com tempo e o crescimento mundial da produção de vinhos à partir do século XX, novas normas e qualificações que identificam a variedade que se tem disponível no mercado até hoje, foram criadas e organizadas.
O resultado de tudo isso foi um aumento na qualidade e a valorização da identidade de cada produto, independente de onde ele provem. Atualmente temos disponível no mercado uma gama imensa de espumantes de todo tipo, qualidade e preço.
Ganhamos muito com isso que nos dá a liberdade escolher o que mais gostamos ou mesmo aquela garrafa que vai combinar melhor com o momento, com o bolso e que certamente será lembrado tanto num dia comum, como nos momentos de celebração. Tenha sempre uma garrafa de espumante na sua geladeira. O momento de abri-la pode acontecer a qualquer momento,só depende da sua imaginação.”
Neste tipo de evento não existem melhores nem ganhadores. Ganhou a harmonização, ganhamos nós que pudemos desfrutar dessa experiência e descoberta de novos sabores, ganharão os amigos que aproveitarem as mesmas sensações tanto em casa quanto numa visita a um restaurante, disso tenho a certeza. Kanimambo e seguimos nos vendo por aqui, kampai!
Olá
Sei que não está na sua lista, mas uma ótima opção de Brut Rosé nacional é o Marco Luigi.
PS: Adorei teu blog, sincero e direto, muito legal.
Abraços
Grato Gabriela, sim existem diversos bons Rosés Brasil afora que poderão harmonizar bem com a culinária japonesa e esse pode ser um. Bom produtor.
Espumantes Roses, normalmente, são os grandes parceiros de sushis e sashimis , como vc falou: casamento perfeito, puro prazer!