Taças de Vinho, Redescobrindo Sabores e Aromas.
Mesmo não sendo um xiita sobre o assunto, já deixei claro por aqui que uma boa taça pode sim fazer uma diferença enorme sobre o vinho nela tomado. Lógico que há momentos para tudo, já me diverti à beça tomando vinho num copo de requeijão numa tasca em Portugal ou de plástico na praia em Floripa, so what, como disse numa gravação há época, tudo vale a pena quando a alma não é pequena ! Agora, um bom vinho na temperatura e taça certa fazem toda a diferença e não há como negar!
Semana passada realizei a terceira edição da Riedel Tasting Experience em parceria com ela mesma, a Mistral e minha amiga Nazaré, chef e proprietária do restaurante Vedhanta aqui no centrinho da Granja Viana, quando degustamos alguns bons vinhos em taças especificas para quatro varietais. É uma degustação de taças onde exercitamos nossa capacidade sensorial através de um exercício em que o vinho vai mudando de taça e, no processo, sabores e aromas, vão e vêm como mágica! Só que não é mágica não, é pura engenharia, que faz com que possamos tirar ao máximo tudo aquilo que um vinho varietal de qualidade pode nos oferecer e não só.
A Riedel estudou isso a fundo e como tal se tornaram ao longo dos anos especialistas em tirar o máximo de cada caldo em suas taças. Do vinho, ao café, passando pela Coca-Cola e Malt Whisky ou Cognac, para cada caldo uma taça para realçar todo o potencial que cada um tem. Tá, sei que pode ser exagero e preciosíssimo excessivo, mas que funciona, funciona. Tenho vários amigos que não acreditavam, inclusive alguns engenheiros professores que vieram conferir e comprovaram o fato. O mais legal é que agora, no caso de dúvida se pode usar um app que eles disponibilizam que possibilita que você possa tirar dúvidas na hora que precisar com relação à taça mais indicada para o vinho que vai servir, clique aqui e baixe.
Campeão nesse tipo de evento é sempre a taça de Chardonnay para vinhos com passagem por barrica, em que conforme você troca de taça o vinho vai literalmente sumindo, tanto no nariz quanto na boca, morre e ao voltar para sua taça ressuscita retomando todas as suas características, algo que normalmente deixa as pessoas boquiabertas! Desta feita, no entanto, me surpreendi muito positivamente com um vinho que há poucas semanas tinha usado numa confraria, um Syrah/Viognier Sul-africano, o Porcupine Ridge. Em taças comuns de degustação, o vinho estava bom, porém apresentou pouca fruta, aromas animais intensos e baixa percepção das características notas de especiarias. Na Riedel Tasting Experience usando a taça própria para Syrah, a Hermitage, o vinho estava exuberante com a fruta bem presente, nuances animais idem porém de forma bem mais integrada ao conjunto e o final claramente especiado com notas de pimenta. Era um vinho de outro patamar de qualidade e caso não soubesse, diria que se tratava de outro vinho, show!
Enfim, sem exageros, porém de nada adianta comprar um ótimo vinho de 200, 300, 500 ou 900,00 Reais e tomá-lo numa taça “comum”, certamente boa parte do que você pretensamente comprou não estará em sua taça e você não irá usufruir de tudo o que o vinho teria a lhe oferecer, grana jogada fora. Ah, mas eu não compro vinhos desse valor! Argumento aceite, porém o vinho de que falei, o Porcupine Ridge ou o Catena Chardonnay tomados são vinhos na casa dos 100 a 120 Reais! É, deixei você pensativo sobre o tema né? Pois bem, vá fazendo seus testes e comprove por conta própria pois sei bem o que é ser “São Tomé”, porém certamente os 35 participantes que estiveram lá nessa noite não me deixarão mentir! Grato aos amigos que lá estiveram, à Nazaré, à Cristina Geremias, brand manager da Riedel para o Brasil e uma maestra no assunto, à Mistral e à Riedel. Kanimambo, saúde e desculpem pela ausência semana passada, mas o trampo está bravo! rs Uma ótima semana para todos.
Muito interessante João, parabéns pela postagem e principalmente pelo ensaio. O serviço sai melhor quando executado com as ferramentas certas. Um grande abraço.
Olá João. Acompanho seu blog há algum tempo e já aprendi muito por aqui. Sou apenas um apreciador de vinho, em constante aprendizado, mas sei pouco. Adoro descobrir coisas novas, bebo o que gosto e pronto. Recentemente, fiz uma viagem ao Chile e obviamente aproveitei para trazer de lá alguns vinhos que aqui no Brasil são caros (para o meu padrão), que encontrei com excelentes preços.
Mas tenho muita dúvida sobre tempo de guarda, por exemplo. Pode me ajudar de alguma forma? São esses:
– Undurraga Founders Collection C.Sauvignon 2013
– Undurraga Founders Collection Carmenere 2013
– Concha Y Toro Serie Riberas C.Sauvignon 2014
– Concha y Toro Serie Riberas Carmener 2014
– Clos Apalta 2011
Perderei em qualidade se decidir consumi-los logo? Ou devo mesmo guardar por um tempo para que atinjam o seu melhor?
Em caso positivo, vale investir em uma pequena adega climatizada para essas aquisições esporádicas? Ressaltando que o meu perfil é de consumo de vinhos com certa regularidade (2 garrafas por semana, em média), mas quase sempre de rótulos acessíveis de consumo imediato.
Muito obrigado.
Olá Leandro e grato pelos gentis comentários. Especialmente o Clos Apalta pode guardar por mais alguns bons anos, devendo estar fantástico daqui a quatro ou cinco, mas vai longe. Se tomar hoje, decantar por uma horinha lhe fará muito bem. Já os outros, vinhos que poderá guardar por mais dois ou três anos, mas já se tomam bem. Para guardar vinhos deste porte por alguns anos, sempre melhor escolher uma adega pois desta forma garantirá a preservação da qualidade e o envelhecimento adequado. Abraço
JFC,
Tive a oportunidade de tomar recentemente o Viña Alicia Tiara, da longínqua safra de 2010. É um corte de riesling (que acredito que seja predominante), albariño e savagnin. Na taça ISO estava muito fechado, quase sem aromas, na taça para chardonnay abriu de uma forma bem diferente e aí sim demonstra ser um bom vinho. Como não dá para ter taça de todas as uvas (pelo menos como consumidor comum), se eu lhe pedisse para indicar uma ou duas para ter em casa e usar como coringa o que você recomendaria?
Abraço,
Guilherme
Oi Guilherme, depende dos vinhos que vc mais toma e, por sinal, esse Tiara é divino, um dos melhores brancos argentinos. Eu iria com uma Taça hermitage (syrah) ou Cabernet, mais versáteis para tintos e se vc toma bastantes Chardonnay uma para esses vinhos pois faz muita diferença. idem vale para Pinot. A grosso modo, Uma boa taça para tinto, uma para branco, uma para espumante e uma para Portos e similares, esse é o meu jogo de taças.