Quebrando Paradigmas Com Vinhos Brasileiros
Apesar de ter ficado para alguns uma falsa percepção de que tenho algo contra os vinhos brasileiros, há anos que sou um entusiasta. Esse “ranço”, na verdade ficou em função de meu forte posicionamento contra a tentativa de golpe contra o consumidor com a adoção das famigeradas salvaguardas (quem chegou mais recentemente à nossa vinosfera não conheceu e os mais velhos se esqueceram rapidamente) e de quem bancou essa irracionalidade que, graças a essa firme oposição de diversas pessoas, acabou não passando tendo prevalecido o bom senso. Há muito que falo que já fazemos bons vinhos, meu problema com grande parte dos produtores está mais na área comercial onde não compartilho de suas estratégias, então espero que isso fique claro de vez e vamos em frente porque chega dessas baboseiras.
Na semana passada tive a oportunidade de preparar para a Confraria das Enoladies uma degustação só de vinhos que reputo como de boa e muito boa qualidade que surpreendeu a todos. Compartilho com os amigos um pouco de minhas impressões sobre o que chegou na minha taça.
Villa Francioni Rosé (Serra Catarinense)- não tenho conhecimento de um vinho rosé fruto de um blend de 8 uvas – Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Sangiovese, Merlot, Petit Verdot, Malbec, Syrah e Pinot Noir. Apesar de caro, passa dos R$120 o que rivaliza com bons Provence, prima pelo frescor e equilíbrio sem contar que a garrafa é linda.
Villaggio Grando Innominabile lote V (Meio-Oeste Catarinense) – Um clássico muito fino, delicioso corte de sete uvas e seis safras! A cada safra, 20% do vinho é guardado para se fazer o corte de safras do ano seguinte. Neste lote V, são seis safras, de 2004 a 2009. As uvas, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Pinot Noir, Marselan, Malbec, Merlot e Petit Verdot. Um vinho que já comentei aqui por diversas vezes. São vinhos que sempre se apresentam prontos a beber, porém evoluem muito bem com o tempo. taninos sedosos, fruta abundante, corpo leve para médio, òtima textura, boa persistência de boca, um vinho que agrada fácil a gregos e troianos, a entendidos e outros nem tanto. melhor, preço bacana, na casa dos R$80,00.
Bueno Paralelo 31 2103 (Campanha Gaúcha) – Bom exemplar dos tintos da Campanha, região de onde ainda vamos ver muita coisa boa sendo criada. Este já tem a mão do respeitado enólogo italiano Roberto Cipresso na finalização do vinho, porém na próxima safra já se espera que ele acompanhe o processo na íntegra. Mudou o estilo, mais escuro e denso, um corte saboroso de Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot com maior volume de boca. Frutos negros, madeira um pouco mais aparente porém bastante equilibrado que se integra melhor com um tempo em taça ou num decanter para aerar por uma meia hora a quarenta e cinco minutos, pois o vinho ganha muito com isso. Preço hoje beira os 100 Reais, mas acho que está em linha com o que apresenta.
San Michele Tridentum Teroldego (Vale de Itajaí) – situada em Rodeio fortemente colonizada por italianos do norte da itália, especificamente do Alto-Ádige, região de Trento, de onde a uva é originária. Ver essa uva por aqui foi uma alegria, pois gosto muito tendo nos vinhos da Angheben, que também é originário da região italiana, minha referência local. Esta uva sempre produz vinhos retintos, escuros de boa “pegada” e esse não foge à regra, muito bom, um vinho que foge aos aromas e sabores mais comuns a que estamos acostumados, um vinho de personalidade própria e marcante. Notas mais terrosas, algo de defumado, boa acidez, médio corpo, denso, um vinho complexo que me agradou sobremaneira e a minhas confreiras idem. Com preço na casa dos R$80,00 vale muito a pena.
Miolo Lote 43 – 2011 (Vale dos Vinhedos) – Um clássico com a mão do Adriano Miolo e de meu amigo Miguel de Almeida, enólogos que cuidam da criança. rs Um lorde, a finesse em pessoa e um vinho que tomaria a dois de bom grado, pois uma tacinha é pouco! Falar deste vinho e chover no molhado, mas este 2011 está especialmente bom apesar de não ter degustado muitos. O provei pela primeira vez há três anos atrás num Challenge de Vinhos Brasil x América Latina (Wine In promovido há época pelo amigo Breno Raigorodski) e já me impressionou, tendo ganho na classe acima dos R$50,00. De lá para cá só cresceu e mostrou ainda muita estrutura para nos seguir presenteando com alegria por muitos e muitos anos. O preço está ficando algo salgado, por volta dos R$170 a 200 dependendo de região, mas é um vinho marcante que por R$150,00 seria uma ótima compra.
VF Villa Francioni Tinto 2009 (Serra Catarinense) – de volta a esta região com este delicioso corte bordalês de Cabernet Sauvignon, Merlot,Cabernet Franc e Malbec. Em 2009 coloquei o 2005 como intruso num Desafio de Bordeauxs, até R$100,00 e desbancou meio mundo. Desde aquela época o reputo como o melhor vinho tinto produzido por esta vinícola e recentemente tive a oportunidade de confirmar isso ao provar toda a linha deles.Com sete anos de vida, o vinho está tinindo! rs Boa e complexa paleta olfativa com frutos negros abundantes, tabaco, café, estrutura com elegância e taninos finos, rico meio de boca, longo, um belo vinho em que os aromas seguem nos encantando mesmo depois de terminado a taça. O preço, bem os vinhos desta casa sempre estiveram na parte mais alta da pirâmide, então prepare-se para pagar algo ao redor dos R$200 aqui em Sampa. Como no Lote 43, se achar por R$150 a 160,00 será uma ótima compra em linha com produtos similares importados.
Enfim, esta foi uma bela seleção de vinhos para quebrar preconceitos de qualquer um quanto à qualidade de nossos vinhos e tem um monte de outros rótulos que poderiam estar por aqui.Uma ótima e prazerosa noite passada junto à minha primeira e mais antiga confraria, as Enoladies que em Novembro estará completando SEIS anos de vida! Fiz as contas, neste período foram 65 reuniões e mais de 400 vinhos provados entre tintos, brancos, rosés, espumantes de todas as regiões e países do mundo, mas seguimos encontrando rótulos novos e experiências refrescantes para não deixar a paixão morrer, eta coisa boa esta nossa vinosfera!
Saúde, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui, na Vino & Sapore, ou em qualquer esquina deste maravilhoso mundo do vinho.
Prezado João
Estivemos juntos na maravilhosa visita a Mendoza em 2014.
Preciso lhe falar, mas não tenho seu e-mail.
Poderia me enviar seu e-mail pessoal?
Grato
Serafim Gomes