Mais dois Vinhos na Taça, um Duo Luso-Italiano!
Um duo Luso-Argentino de 2010; vigores diferentes, sabores diferentes, patamares de preço diferentes, mas similares no prazer que despertam.
Ruca Malen Petit Verdot Reserva 2010 – Venho ao longo dos tempos verificando os benefícios que um pouco desta cepa bordalesa nos cortes de diversos vinhos consegue fazer por eles. Sempre em pequenos porcentuais, a Petit Verdot aporta cor, sabor e corpo aos vinhos dando-lhes uma riqueza e complexidade que muito me satisfazem. É uma cepa difícil em sua terra natal, Bordeaux, de amadurecimento muito tardio o que muitas vezes faz com que boa parte da colheita se perca tornando seu uso escasso e caro devido à quebra de produtividade. Nos países mais quentes no entanto, esse tempo de amadurecimento se dá de forma mais administrada devido ás condições climáticas. Um exemplo no Velho Mundo são os vinhos espanhóis, região de verões mais quentes e longos, elaborados com ela. Já no Novo Mundo, de condições climáticas mais adequadas, a cepa vem sendo vinificada como varietal com a ocorrência de um fato que já verificamos na vinificação de vinhos Tannat, que é a “amansada” dos vinhos através de micro oxigenação e um período mais adequado de amadurecimento, produzindo rótulos mais harmônicos, menos tânicos enquanto preserva suas características de estrutura e riqueza de sabores.
No Desafio de Petit Verdot de 2010, a melhor relação Custo x Beneficio foi exatamente este vinho, na época o de safra 2007, que apresentou uma paleta olfativa com forte presença de frutas negras compotadas com um leve toque químico, mostrando-se bastante convidativa. Na boca possui a boa estrutura típica da casta, vigoroso, bom volume de boca, taninos finos ainda presentes, mas sem qualquer agressividade, frutado, equilibrado com uma acidez interessante e gastronômica, tabaco, final saboroso ainda que a madeira tenha aparecido um pouco, aerar por uma meia hora num decanter certamente fará aflorar todo seu potencial. Uvas de dois vinhedos, um de Agrelo e outro do Vale de Uco, com passagem de 12 meses por barrica francesa e americana, certamente um vinho para prazeres à mesa com uma boa carne.
Casa da Passarela Dão, a Descoberta 2010 tinto – A principio relutei, poderia um vinho de entrada de gama deste bom produtor ainda mostrar vigor após cinco anos de garrafa? Já o conhecia, mas como será que ele teria resistido ao tempo? Bem, bastou apenas um gole para que quaisquer dúvidas minhas se dissipassem ! Três uvas típicas da região; Alfrocheiro, Tinta Roriz, Jaen e Touriga Nacional perfazem o “quarteto fantástico” das uvas do Dão que aqui resultam num tinto bastante aromático com notas de fruta vermelha, terra seca, madeira e um toque floral. Na boca acidez correta e controlada, uma certa rusticidade nos taninos que não ferem porém ainda se mostram bastante presentes se abrindo na taça. Frutado com algumas notas vegetais suaves, especiarias e boa persistência. Mais um vinho que pede comida e nada tem de ligeiro, mostrando personalidade e bom corpo.
Faz tempo que digo que a maior parte dos vinhos portugueses, mesmo os de gama de entrada (quando o produtor é bom!) ganham muito com um tempinho de guarda e mesmo para os mais simples e corriqueiros, três anos é padrão. A estrutura das castas adicionadas à tradicional boa acidez é a razão por trás dessa característica. Quando o produtor tem qualidade e o terroir ajuda, esse tempo cresce um pouco mais e este vinho, na minha opinião, comprova isso.
Esses foram mais dois rótulos que estiveram presentes nos Frutos do Garimpo de 2016 e são vinhos que merecem ser conhecidos ainda dentro do conceito que tanto insisto, da diversidade! Diversidade de países, uvas, estilos, tem tanta coisa boa em nossa vinosfera, por quê se limitar à mesmice? Como já diz o ditado, quem não arrisca não petica, então vamos nos arriscar um pouco mais?
Saúde, kanimambo pela visita e seguimos nos enconrando por aqui ou pelos diversos caminhos de nossa vinosfera.
Dois vinhos muito bons!