Paul Hobbs, a Cara de um Enólogo e Seus Vinhos.
Tenho tido alguma dificuldade de participar de uma série de degustações que aguçaram minha curiosidade e sede de saber! rs O bom é que tenho amigos que na hora H me socorrem e a Raquel Santos, autora deste texto sobre Paul Hobbs, é uma delas, kanimambo amiga! A Raquel foi em meu lugar e se apaixonou pelo trabalho do Paul que se reflete de forma peculiar em seus vinhos, na verdade os grandes enólogos chegam a um ponto na vida que podem, com menos pressão, se dedicar a colocar sua personalidade em seus vinhos, foi isso que vi neste gostoso post que agora compartilho com os amigos. Os vinhos falam muito de seus lugares, mas os bons falam também de
seu criador!
“Em julho/2017 e recentemente, julho/2018, participei de uma apresentação dos vinhos elaborado pelo enólogo e produtor Paul Hobbs, promovido pela importadora Mistral.
Esses dois panoramas me fizeram refletir o quanto a linha de conduta, movida por um objetivo pessoal, pode ser importante no resultado final de um produto.
Paul Hobbs, um americano nascido ao norte de Nova York em uma família de fazendeiros produtores de maçã, sem nenhum histórico na produção ou contato com vinhos, foi levado por seu pai, produtor agrícola à iniciar uma plantação de uvas viníferas para posteriormente produzir vinhos. A mãe, uma dona de casa, que segundo ele teve muita influência na sua maneira de manter tudo limpo e organizado, não era afeita a bebidas alcoólicas. Seu pai então, para convencê-la de que o vinho tratava-se de um produto interessante levou para a família experimentar uma garrafa de Chateau d’Yquem , o que obviamente foi um argumento incontestável.
Porém, as intenções da família caíram por terra quando viram o tamanho do investimento necessário para iniciar uma produção de vinhos. Se por um lado eles se depararam com um impedimento real, por outro acho que que a decisão de trabalhar inicialmente em uma vinícola já estabelecida foi a coisa certa a ser feita. Depois de sua graduação em biologia na Univerdidade Notre Dame ele completou uma pós graduação na Davis de enologia. Em 1978 Hobbs foi trabalhar com Robert Mondavi no projeto do Opus One. J
À partir daí foi uma sequencia de acertos e aquisição de experiências que o levaram à América do Sul, mais precisamente ao Chile e Argentina. Nessa época o Chile vivia tempos difíceis com a ditadura de Pinochet, o que facilitou sua escolha pela Argentina. Convidado por Jorge e Nicolás Catena tornou-se consultor da Catena Zapata em 1989. Sua passagem foi transformadora para a produção dos vinhos na Argentina, principalmente em Mendoza, onde a elaboração de vinhos em terroir únicos, varietais, valorizando as características locais com o máximo de refinamento, reforçaram ainda mais o conceito de “vinhos do novo mundo”, corrente na Califórnia. Desenvolveu a casta Malbec que lá já existia, modernizando-a e aprimorando-a. Criou a Viña Cobos e sua 1ª colheita em 1999 colocou seus vinhos varietais de Malbec nos holofotes mundiais.
Foi com essa bagagem que ele voltou ao EUA , criando a Paul Hobbs Winery em Sebastopol, CA. Depois disso desenvolveu vinhedos em Sonoma, Russian River Valley, Napa Valley, mas sua busca incansável por novos terroir não pararam por aí. Usando da sua expertise, associou-se à Bertrand Gabriel Vigouroux em Cahors na França para trabalhar a casta Malbec na sua origem. Lá criou a Crocus, onde a modernidade e a tradição se encontraram.
Atualmente desenvolve um projeto na Armênia. A Yacoubian-Hobbs, localizada em uma região onde a cultura da produção de vinhos existe há 6000 anos. À partir de variedades ancestrais e solos ricos em minerais , na província de Vayots Dzor. Seu novo desafio será explorar a versatilidade desse terroir e dessas uvas nativas e internacionais.
Na 1ª apresentação que fui foram degustados os seguintes vinhos:
- Crocus Atelier 2012
- Crocus Prestige 2011
- Crocus Grand Vin 2011
Esses 3 primeiros, Malbec de Cahors, demonstram toda a tipicidade do terroir francês, cada um com suas próprias características, mas sempre dentro do conceito “potência com elegância”.
- Paul Hobbs Pinot Noir Russian River Valley 2012
- Crossbarn Cabernet Sauvignon Napa Valley 2012
- Paul Hobbs Cabernet Sauvignon Napa Valley 2011
Os 3 últimos, Californianos, mostram muito bem a vocação de cada solo para com as castas. A Pinot Noir se desenvolveu magnificamente em Russian River Valley assim como a Cabernet Sauvignon em Napa Valley. Aqui percebe-se a arte do enólogo. Extrair todos esses potenciais, cada um com suas diferenças, valorizando a casta, o solo e obtendo o máximo de expressividade do terroir.
A 2ª apresentação contamos com os seguintes vinhos:
- Crossbarn Chardonnay Sonoma Coast 2016
- Crossbarn Pinot Noir Sonoma Coast 2014
Essa região, Sonoma Coast recebe influência do Pacífico, sendo muito fria e úmida. Inicialmente se notabilizou pela boa adaptação da Chardonnay e pela semelhança com os solos pedregosos da Borgonha. Por conseguinte a casta Pinot Noir também demonstra toda a sua tipicidade nesse vinho proveniente de vinhedo único. Ambos são extremamente elegantes, sofisticados, com expressões de frutas maduras, mineralidade e textura persistente.
- Paul Hobbs Pinot Noir Russian River Valley 2014
- Crossbarn Cabernet Sauvignon Napa Valley 2012
- Crocos Atelier 2012
- Crocos Prestige 2011″
“A alma de um vinho é quando ele fala de algum lugar. Se você não tem isso, então perdeu tudo.”
Paul Hobbs
Penso que se Mr. Hobbs não tivesse ido para a Argentina a convite dos Catena, a casta Malbec não teria tido a oportunidade de ser um sucesso!