Merlot é Vinho de Mulherzinha.
Quem já não escutou isso?? Eu já e um monte de vezes, mas, cá entre nós, tremenda asneira e mostra que quem eventualmente tenha expressado tal ideia não entende nada, nem de mulher e muito menos de vinho!! rs Brincadeiras à parte, cansei de ouvir gente dizer que não gosta de Merlot e a estes sempre respondo de uma só forma, “que pena, ia te dar um Petrus”! Sim, para quem não sabe este ícone de Bordeaux e mundial é elaborado com 100% de merlot, salvo um ou outro ano em que até 5% de Cabernet Franc podem ser usados.
Mas porquê do titulo deste post, afora chamar sua atenção obviamente (rs)? Porque fui convidado pelo amigo Walter Tommasi (editor de vinhos da Go Where Gastronomia) a participar de um encontro de uma de suas confrarias da qual fazem parte alguns outros amigos. Tema, Merlots com mais de 10 anos, ás cegas obviamente. Afora o enorme prazer de rever os amigos, mais uma confirmação de que a Merlot pode e gera alguns vinhos de muita estrutura e bem longevos como em Bordeaux, margem direita onde ela está mais presente, que mostra isso faz décadas. Como com qualquer casta, o que ocorre com o vinho tem a ver com terroir e muito com o que o enólogo quer extrair dela. Sim, existe um traço, uma característica, uma linha mestra que pode estar presente na maioria dos vinhos de uma mesma casta, mas as variáveis são tão grandes que, pelo menos eu, evito generalizar e dizer, “olha os vinhos desta uva são assim” da mesma forma que não dá para fazer isso com gente de uma região, de um país, de uma religião ou de uma preferência política, não acredito nisso!
Nesta degustação, essa premissa esteve bem presente, vinhos bem diferentes entre si expressando a vontade do terroir e, certamente, do enólogo. Painel muito interessante, uma confirmação e um desejo que vai ficar na minha lista de a realizar. Eis um resumo do que provei na ordem de serviço:
SIMSIC Teodor Rdcec 2006 – da Slovenia, fechado nos aromas, boca bem frutada, equilibrado, final longo com um toque especiado, taninos bem integrados e macios. Leva 15% de Cabernet Sauvignon e para mim se mostrou o mais pronto de todos os vinhos provados. Meu quinto vinho, sendo que para o resto do pessoal ficou em quarto.
Cholqui Tres Palacios 2006 – do Chile, mostrou-se mais químico no nariz, na boca é gordo, toque vegetal mais presente, taninos rústicos, boa estrutura, mais pegada, parecia mais jovem do que é. Meu terceiro colocado com 90 pontos, mas para a maioria ficou em segundo.
Podalirio da Quercetto de Castellini 2005 – IGT da Toscana, um tremendo vinho (pensei que fosse Bordeaux), nariz intenso com notas florais, boca firme, terroso, bom volume de boca, taninos firmes mas muito finos, alguma especiaria, ótima persistência deixando um gostinho de quero mais na boca. Baita vinho e na minha avaliação o melhor vinho da noite, dei-lhe 92 pontos, o que acabou sendo vero também na contagem geral da turma. De longe o melhor Merlot italiano que já tomei e meu desejo, mas deverá ter que vir de fora, porque acho que ninguém o está trazendo.
Storia Merlot 2005 da Valduga – não o reconheci, mudou desde a última vez que o provei já lá vai um par de anos. Sua pontuação, no entanto, foi igual há que lhe dei nessa última avaliação 91 pontos e sempre que o provo fica por aí, entre 90 a 92 pontos. Na minha opinião um vinho especial de uma safra especial, mas que nunca mais conseguiu o mesmo êxito mesmo seguindo sendo um belo vinho. Denso, frutos negros suculentos, taninos ainda bem presentes e aveludados mostrando que há ainda potencial para evolução, nariz intenso, notas achocolatadas, primeira linha e meu segundo colocado no painel, terceiro para a maioria. A confirmação.
Antenata Bindella 2007 – mais um italiano da Toscana. Jovem, bem jovem ainda com muitos anos pela frente. Taninos bem presentes ainda por integrar, nariz tímido, na boca muito boa estrutura, algo rústico mostrando uma acidez acentuada, algo vegetal, muito bom vinho, mas vai melhorar mais com um bom par de anos pela frente. Foi meu quarto vinho e quinto do resto da turma.
Chateau Ampelia 2000, Cotes de Castillon, Bordeaux – algo químico, acetona me veio à mente, corpo médio, álcool mais presente, notas herbáceas, faltou personalidade e ficou entre os meus últimos colocados do painel acompanhando a maioria.
Nelson Neves 2009 – um representante luso da região da Bairrada. Boa tipicidade aromática, mas sutil, de baixa intensidade, algo tímidos. Na boca seus 14,5% de álcool estão bem aparentes afetando o conjunto, vegetal bem presente, especiarias, taninos mais rústicos e bem presentes, para mim o vinho de pior nota. Tem qualidades, porém a meu ver com muitas arestas, quem sabe precise de mais tempo para se encontrar ou, quiçá, para eu entendê-lo! rs
Chateau de Millery Saint Emilion Grand Cru 2004, Bordeaux – esta propriedade pertence ao Chateau Figeac (um dos grandes de Bordeaux) e é composto de Merlot com um toque de 10% de cabernet Franc. Para simplificar e ir direto ao ponto, um vinho difícil. Frutos negros com notas terrosas, duro na boca, fósforo, álcool aparente, taninos ainda bem presentes, madeira por integrar, um vinho que não me empolgou e e fiquei um pouco frustrado ao saber a quem pertence. Foi o último colocado da noite, para mim o penúltimo.
Por menos generalizações e preconceitos para com determinadas cepas, afinal as variáveis na vinificação e terroirs são tão grandes! Uma ótima semana para todos e kanimambo pela visita.
Saúde