Provando vinhos do Guia Descorchados 2020.
Gratas surpresas, mesmo que não necessariamente para meu bolso, mas encontrei rótulos fora da curva que me seduziram, então, me realizei! rs
Na ausência do evento anual físico ao qual tradicionalmente não vou por achar muito difícil produzir algum resultado numa aglomeração tremenda de gente e vinhos, desta feita a organização optou por um outro formato. Pequenos grupos provando in loco com distanciamento e participação virtual do Tapias e dos produtores. Formato que gostei bastante, pena que só pude participar da primeira parte que era pela manhã quando provamos 14 vinhos com foco no Chile e Uruguai.
Dos 14 vinhos, os quais comentarei de forma suscinta abaixo, com o preço sempre que possível, dois me encantaram e gostaria de eventualmente colocar no portfolio da Vino & Sapore caso haja condições comerciais para isso. Óbvio que muito depende de preços, mas esses dois me encantaram.
Bodega Océanica José Ignacio Albariño (uruguaio) – sou luso, meu parâmetro de Alvarinho é Minho e Galicia, então tenho uma certa dificuldade em encontrar tipicidade desta uva nos vinhos desta uva produzidos na América do Sul. É um bom vinho, mas falta tipicidade na minha opinião. GD 95 pontos e sem importador no Brasil, pelo menos que eu saiba.
Dagaz Itatino Cinsault (Chile) – gosto deste estilo de vinho e a Cinsault reina lá pelos lados de Itata. Passagem por ovos de cimento e ânforas de cerâmica preservam a fruta gulosa, taninos suaves, fresco, leve um vinho para tomar refrescado nesta primavera verão que está por chegar. Preço na casa dos 120 a 130 Reais. GD 92 pontos
Bisquertt La Joya Single Vineyard Merlot 2016 (Chile) – não fez minha cabeça. Às cegas diria que era um carmenére com toques verdes bem pronunciados, algo químico, me pareceu um pouco desiquilibrado com muitas arestas. Preço na casa dos 200 Reais e GD 91 pontos. Estou achando que não entendi o vinho.
Baron Philippe de Rothschild Escudo Rojo Reserva Carmenére 2018 (Chile) – muito boa safra no Chile e este vinho mostra isto me surpreendendo já que não é das uvas que mais me atraem. Poucas notas verdes, taninos finos, boa fruta, equilibrado e final aveludado. Preço na casa das 150 pratas, dólar não está ajudando! GD 90 pontos
Korta Barrel Selection Reserva Carmenére 2016 (Chile) – da região de Curicó, notas verdes bem presentes, final especiado, num estilo que não me seduz e um que, a meu ver, destoou, dos demais. GD 88 pontos
Montes Alpha Carmenére 2018 (Chile) – mais um vinho de 2018 com boa tipicidade, cor densa, bom volume de boca, 12 meses de barricas mix de novas e usadas, algo quente na boca, vinho que não nega nem a uva nem seu produtor. Preço no importador, 220 pratas. GD 92 pontos
Viu Manent Secreto Carmenére 2019 (Chile) – de Colchagua, 15% de outras uvas não divulgadas (secreto), cor rubi escura, nariz mais frutado, colheita parcialmente antecipada para obter maior acidez, barricas para somente 30% do lote, final herbáceo de taninos finos. Interessante, preço na casa das 140 pratas. GD 92 pontos
Esse foi o último do flight de carmenéres. Como disse, não é uma uva que me encanta, porém gosto e qualidade não são necessariamente a mesma coisa e a qualidade estava lá. Em minha humilde opinião, a maior surpresa inclusive com relação a custo foi o Escudo Rojo e o meu escolhido como melhor Carmenére entre os provados.
Los Boldos Vieilles Vignes Cabernet Sauvignon 2018 (Chile) – Mudamos de uva, mas ficamos na safra! De Cachapoal Alto (Andes), leva um tico de Syrah, que pode variar entre safras de 5 a 10%, que se mostra numa certa picancia de final de boca. Fruto maduro sem excesso, elegante, sem aquela presença por vezes irritante de piracina (pimentão), equilibrado, taninos aveludados, uma grata surpresa, mas na casa das 290 pratas tinha que performar e o fez. GD 92 pontos
Perez Cruz Pircas 2015 (Chile) – de Maipo Alto (Andes), mostrou uma cor rubi vibrante, é um clássico Cabernet Chileno com a piracina aparecendo de forma sutil sem “queimar” o conjunto. Notas mentoladas, frutos frescos, taninos finos e muito boa estrutura. A Perez Cruz é famosa por seus Cabernets, mesmo não sendo num estilo que me agrada, é um belo vinho na casa dos 220 Reais. GD 94 Pontos
Miguel Torres Manso de Velasco 2014 (Chile) – do gigante espanhol que produz na Espanha um dos melhores Cabernets Sauvignon que já tive a oportunidade de provar (Mas La Plana), possui um forte braço no Chile onde já atua há mais de 40 anos e também nos EUA. É um clássico Cabernet Sauvignon chileno muito cultuado e advindo de vinhedo centenário em Curicó, notas tostadas, especiarias, fruta abundante, ainda jovem, taninos ainda bem presente mostrando grande estrutura, herbáceo bem presente, é um vinho para guardar e tomar lá para 2024, mas não chega a seduzir apesar de ter uma legião de fãs dele e do estilo. Não é para muitos, produção pequena, ícone, preço acompanha, algo acima dos 400 Reais.
Errazuriz Max Reserva Cabernet Sauvignon 2018 (Chile) – Mais um clássico da uva e da região. De Aconcagua, um tremendo de um Cabernet Sauvignon que mesmo tão jovem já mostra toda sua grandeza. Muito rico meio de boca, nariz sedutor de boa intensidade, ótima textura, muito equilibrado com bom volume de boca e taninos muito finos com final de grande persistência. Tremenda elegância, estilo e vinho que me conquista o coração, então, para mim, melhor Cabernet Sauvignon entre os provados que está no mercado por algo como 200 pratas o que acho ser uma baita relação PQP (Preço x Qualidade x Prazer), a melhor entre os vinhos provados. GD 92 pontos
Familia Traversa Noble Alianza 2018 (Uruguai) – o primeiro dos blends provados (foram 3) é uruguaio e um curioso corte de Tannat com Cabernet franc e Marselan de uma safra que, também por lá, foi muito boa. A ideia por trás da escolha das uvas foi; Tannat pela cor e estrutura, Cabernet Franc pelo frescor e a Marselan pela fruta e capacidade de arredondar o corte. No nariz a Marselan se mostra mais presente, mas sinceramente não acho que funcionou pois mostrou-se algo desiquilibrado, um certo amargor de final de boca, não rolou, mas … Enfim, em torno das 50 pratas, vale testar, vai ver o Tuga aqui está sendo crica demais! rs GD 92 pontos, acho que este também não entendi! rs
El Capricho Winery Aguará Tannat Blend 2018 (Uruguai) – pequena e jovem bodega de meros 7 hectares de vinhedos situados a 250km ao norte de Montevideo. Capacidade instalada para apenas 80 mil garrafas mas ainda longe desse volume, a bodega nasce de um “capricho” de dois amigos querendo fazer vinhos de autor de alta qualidade, com baixa intervenção e práticas de sustentabilidade nos vinhedos e cantina. Se for pelo exemplo deste vinho, objetivo alcançado, gamei! rs Meras 1100 garrafas produzidas e o blend com Cabernet Sauvignon e passagem de 18 meses por barricas novas francesas. Power com tremenda elegância, entrada de boca marcante e muito rica, bom volume, frutos negros abundantes com notas abaunilhadas muito bem trabalhadas, vinho que costumo classificar como egoístico, não dá para dividir a garrafa com muitos não! O preço acompanha, não tem jeito, e não é para o meu bico, mas as 400 pratas que pedem por ele no mercado valem dentro do que é nossa realidade tupiniquim de preços. GD 93 pontos.
Bodega de Aguirre Pater Familiae Heredium 2015 (Chile) – este chileno foi mais um que mexeu com minhas emoções, tremendo vinho. Um corte de Cabernet Sauvignon de Colchagua com Carmenére de Peumo (melhor região para esta casta) que mais uma vez me fez cair o queixo. Aromas sedutores, muito boa e rica entrada de boca, ótima textura de meio de boca, fino, elegante, taninos aveludados e final longo mostrando-se um conjunto sem arestas e muito equilibrado. Um vinho sofisticado que me deixou curioso para explorar o restante de sua linha de produtos e mais um vinho egoístico nessa prova, os dois que mais me seduziram entre diversos bons exemplares apresentados. O preço é em linha com este nível de vinho e ainda por cima com o câmbio desfavorável o que não ajuda em nada, anda na casa das 400 pratas mais ou menos 20. GD 94 pontos.
Tenho que confessar que minhas pontuações (não divulgadas salvo quando participo de alguma bancada de degustação em que isso seja necessário) ficam tradicionalmente bem aquém das avaliações do GD, todavia no caso do Aguará e do Heredium, periga eu dar até um ponto extra! rs É isso, o que era para ser curtinho se estendeu bastante, me entusiasmei, faz tempo que não escrevo e ando represando artigos devido à falta de tempo. Kanimambo, saúde sempre!!
Muito bom ler seus textos novamente, ainda mais nestes tempos de pandemia onde procuramos informação e inspiração.
Abraço!
Valeu Guilherme, Sergio e Ricardo, forte abraço.
Interessante esses vinhos produzidos por pequenas vinícolas, fiquei curioso em conhecer o El Capricho Winery Aguará Tannat 2018 (Uruguai).
Oi meu amigo, na verdade errei, o vinho é o Blend, porém eles possuem também o 100% Tannat.
Acompanhando o Guilherme : Tambem estava saudoso !
Meu amigo .
Acompanho com aplausos as palavras do Guilherme e do Sérgio , seus textos são um bálsamo neste período atípico.
Abração e saudades