As Uvas Por Trás dos Vinhos
No novo mundo é comum você ver especificado no rótulo a uva com a qual determinado vinho é elaborado. Na maioria das vezes falamos sobre vinhos Varietais (ver legislação aqui , pois não quer dizer que o vinho seja 100% de uma única uva) mas também de blends que estão cada vez mais cativando o gosto dos seguidores de Baco. O consumidor do novo mundo tem essa necessidade, saber que uvas geraram o vinho sobre o qual ele tem interesse, o que já não ocorre na maioria dos consumidores do Velho Mundo que são consumidores mais regionais e onde a cultura do vinho é outra. Mesmo por lá, no entanto, há mudanças ocorrendo tanto pela demanda externa de quem exporta seus vinhos como por uma demanda interna criada em função da recente presença de inúmeros vinhos argentinos, chilenos e australianos dentre outras regiões produtoras do novo mundo.
Por lá, o consumidor tem mais conhecimento dos produtores á sua volta, sabe que um Beaujolais é elaborado com gamay e um Volnay é um Borgonha de Pinot. Sabe que Margaux é uma região da margem esquerda de Bordeaux e consequentemente deverá ter a Cabernet Sauvignon como protagonista ou que um Barolo é do Piemonte e a uva é a nebbiolo, há séculos que é assim. Apesar de muitas das regiões produtoras mais jovens no Velho Mundo já trazerem em seus contra rótulos a composição dos vinhos, isso ainda não é regra então, para a maioria dos enófilos brasileiros, com um dos mais diversos e complexos portfolios de vinhos disponíveis do mundo inteiro, essa carga de conhecimento é bastante recente e muito variada.
Pensando nisso, elaborei a tabela abaixo que creio possa ajudar os que tenham duvidas sobre o que pretendem comprar, afinal, quais as uvas por trás dos vinhos do Velho Mundo? A lista fornece as principais uvas predominantes (protagonistas) e algumas secundárias (coadjuvantes) podendo, no entanto, haver outras em função da legislação estabelecida pelo órgão regulamentador e fiscalizador de cada denominação.
Região Demarcada |
Principais Uvas Protagonistas e Coadjuvantes |
FRANÇA |
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Bordeaux – Sautern |
Semillon e Sauvignon Blanc |
Bordeaux – Margem Esquerda |
A Cabernet é protagonista tendo como coadjuvantes a Merlot e Cabernet Franc e eventualmente algo de Petit Verdot |
Bordeaux – Margem Direita |
A Merlot é protagonista tendo como coadjuvantes a Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc . |
Borgonha Branco incluindo Chablis e Puilly-Fuissé |
Chardonnay |
Borgonha Tinto – Cote d’or |
Pinot Noir |
Borgonha Tinto – Beaujolais |
Gamay |
Loire Sancerre Tinto |
Pinot Noir |
Loire Sancerre Branco e Pouilly-fumée |
Sauvignon Blanc |
Loire Savenniére e Vouvray |
Chenin Blanc |
Loire Chinon |
Cabernet Franc |
Cahors |
Malbec |
Madiran |
Tannat |
Côtes-du-Rhône – Cote Rotie |
Syrah com Viognier |
Côtes-du-Rhône – Condrieu |
Viognier |
Côtes-du-Rhône – Cornas, St. Joseph e Hermitage |
Syrah |
Côtes-du-Rhône – Chateuneuf-du-Pape |
Célebre por seus poderosos e longevos blends em que até 13 uvas são autorizadas sendo as principais a Grenache acompanhada de Syrah, Mouvédre e Cinsault e nas brancas Roussane, Bourboulenc e Grenache Blanc. |
Côtes-du Rhône – Básico e Village |
Grenache, Syrah e Mouvédre |
ITÁLIA |
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Piemonte – Barolo e Barbaresco |
Nebbiolo |
Piemonte – Barbera d’Alba e d’Asti |
Barbera |
Piemonte – Dolcetto d’Alba |
Dolcetto |
Toscana – Brunello, Nobile, Chianti |
Sangiovese 100% em Montalcino e Montepulciano, porém em Chianti pode ter até 25% de uvas coadjuvante – Canaiolo, C.S., Syrah e Merlot |
Abruzzo |
Montepulciano |
Taurasi |
Aglianico |
Soave (branco) |
Garganega |
Orvieto (branco) |
Grechetto com Procanico (Trebbiano) |
Valpolicella e Amarone |
Corvina, Rondinella e Molinara |
ESPANHA |
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Rioja – Tinto |
Tempranillo tendo como coadjuvantes Garnacha, Mazuelo e Graciano |
Rioja – Branco |
Viura e como coadjuvante a Malvasia |
Priorat |
Garnacha (principal), Carinena, Cabernet Sauvignon e Syrah |
Navarra |
Garnacha e Tempranillo |
Ribera del Duero e Toro |
Tempranilho |
Rias Baixas |
Albariño |
Rueda |
Verdejo |
Bierzo |
Mencia |
Yecla, Utiel-Requena, Jumilla |
Monastrel |
PORTUGAL |
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Douro |
Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Cão, Tinta Barroca, Tinta Amarela. |
Dão |
Alfrocheiro, Jaen, Tinta Roriz, Tourina Nacional |
Alentejo |
Trincadeira, Castelão, Alicante Bouschet e Aragonez |
Bairrada |
Baga |
Bem meus amigos, espero que a tabela ajude a elucidar eventuais dúvidas que possam ter e caso alguém queira agregar algo, os comentários estão aí para isso mesmo e me orgulho de ter um blog bastante democrático e muito interativo, então mandem bala. Salute, kanimambo e uma ótima semana para todos..
Joao,
Excelente artigo e tabela. A questão do “Varietal” no novo mundo com predominância de uma Uva, porem “corte” controlado com outras Uvas. Pelo meu entendimento, em Países produtores desenvolvidos (mas nao necessariamente do velho mundo), o Varietal apresenta consistência sempre da mesma Uva, porem sem cortes, mas com % de “Vintages” diferentes. Confere?
Abraços,
Fabio.
Oi Fabio, na verdade não. As regras nos países produtores desenvolvidos como os chamas, seguem a dos outros países e o que pode ocorrer é a exigência de um maior porcentual da uva declarada no rótulo e sempre da mesma safra. Eventuais cortes da mesma uva poderão sim ocorrer quando do uso de parcelas diferentes na mesma região doc. abraço e grato
Joao,
Grato pelo esclarecimento. Pelo seu artigo, um Margaux é considerado em rotulo um ‘Cabernet Sauvignon’, no entanto sabemos que tradicionalmente existe o corte com o ‘Merlot’. Eu nao acredito que o % seja publicado em rotulo de vinhos do velho mundo, e isso foi algo que ficou mais conhecido no novo mundo, principalmente os EUA, certo? No Brasil é interessante ver que algumas vinícolas publicam os dois varietais de corte no rotulo frontal, isso ocorre quando o % é ultrapassado?
Abraço.
Olá Fabio, um Margaux tem como protagonista a Cabernet, mas nem por isso pode ser considerado um varietal de tal uva. A uva pode ser protagonista com 60%, por exemplo e isso normalmente só se conhece, lendo a ficha técnica e mesmo assim……! Essa coisa de porcentual é demanda dos comsumidores do novo mundo influenciado pelos EUA sim. Quanto à rotulagem, tem gente como a Estampa do Chile, que faz questão de sempre mencionar o corte de uvas no rótulo mesmo quando este tem uma das uvas com porcentual superior a 85%. Tem muito mais a ver com marketing e estratégia de cada um do que uma regra em si. Presumir, no entanto, que quando duas uvas sejam mencionadas isso seja um bi-varietal sem que qualquer uma das uvas atinja o % é vero na maioria dos casos sim.
João, como sempre mais uma aula sobre vinhos! Esta tabela é fantástica e será utilizada como referência para minha expedição contínua por novos sabores e conhecimento. Forte abraço e obrigado! Leandro
Joao,
Obrigado mais uma vez pelas explicações.
Abraço.
Muito boa essa tabela!! Show!
Ótima tabela! Para imprimir, guardar e aos poucos ir completando! Eu já incluí na minha o “Pouilly-Fuissé” na Borgonha Branco (chardonnay), que sempre me confundo com o “Pouilly-Fumée” (sauvignon blanc) do Loire. Obrigada!
Boa, vou fazer a ressalva, como fiz com Chablis, de que Pouilly-Fuissé é Borgonha e consequentemente Chardonnay. Bj e nos vemos mais tarde
Parabéns pelo ótimo trabalho, João.
Excelente a tabela, mais uma vez o João com sua generosidade ímpar dividindo conosco tantos anos de conhecimento.