ABC do Vinho

Abrindo Espumantes

           Abrindo seu espumante, coisa fácil não? Tira a gaiola, chacoalha enquanto empurra a rolha e dá-lhe espumante por tudo o que é lugar e, invariavelmente, o resultado é; chão sujo e um eventual olho roxo ou lustre quebrado! Vai falar que nunca passou por isso?! Imagine fazer isso com um Champagne de duzentos reais, aí é crime de lesa pátria!!! A menos que tenha ganho uma corrida de formula 1, mesmo assim acho que o Kimi estava certo quando disse, “para que jogar fora o néctar que foi feito para beber”, não é uma boa idéia fazer isso. Existem momentos e MOMENTOS. Em festas até é legal e aceitável estourar a rolha, faz parte do momento e da cultura, mas pelo amor de Deus, nada de chacoalhar a garrafa antes e cuidado! Para quê desperdiçar o doce néctar e perder parte de seu encanto que é o gás carbônico aprisionado na garrafa e, consequentemente, perdendo perlage? Porquê correr os riscos físicos?

           Agora, em outros MOMENTOS e com líquidos de melhor qualidade, há outras e mais adequadas formas de o fazer lembrando que a rolha deve se soltar suavemente. Solte o arame (seis voltas) e retire a gaiola, sempre com o polegar sobre a rolha para evitar seu despreendimento precoce e eventuais acidentes, e apóie o gargalo na palma da mão. Feche a mão firmemente abraçando a rolha entre os dedos e a palma da mão, lembrando-se de manter o polegar sobe a rolha, gire a garrafa com a outra mão provocando uma leve pressão para baixo até que, gentilmente, a rolha se solte com um suave suspiro, voilá! Melhor do que explicar, no entanto, é ver sendo feito. Aqui em baixo, alguns vídeos que são verdadeiras aulas. Se você for bom de pontaria e quiser impressionar a galera, tente o primeiro, se não, vá praticando e usando as técnicas mostradas nos outros, o idioma é o menos importante. Salute!

 

Assista até ao final, impressionante!!

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 Tá, posso até estar sendo pedante, mas …….!

 

 

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            Só para quem sabe fazer e gosta de se mostrar, porque de resultado prático …..

 

 

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            Para não dizerem que este blog é machista, The Wine Ladies.

 

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             Maestria.

 

 

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Syrah / Shiraz – Cepa e Vinhos

Syrah ou Shiraz, dependendo em que parte do mundo é cultivada, é mais uma das grandes uvas Francesas que percorreram o mundo como a Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay entre outras. Estudos a apontam como a sétima cepa mais plantada no mundo (2005) com cerca de 150.000 hectares plantada pelo mundo afora. Hoje certamente deve ser bem mais!

Dizem que sua origem, e nome advêm da cidade de Shiraz na Pérsia antiga tendo sido disseminada pelos Fenícios, porém estudos de DNA realizados por um grupo de pesquisa da Universidade de Viticultura e Enologia da Califórnia em 1998, determinaram que a origem é mesmo do sul da França, proveniente da “cruza” das cepas Dureza e Mondeuse Blanche. Foi exatamente nessa região, norte do Rhône, que esta cepa ganhou fama e daí se espalhando pelo mundo ganhando popularidade na versão varietal e em diversos cortes. Está muito presente, também en toda a costa mediterrânea, em especial no Languedoc Francês onde aparece muito em assemblages.

         Do Rhône à África do Sul, passando pela Sicília, Portugal, Chile e Austrália, são inúmeros os estilos de vinhos elaborados devido aos mais diversos terroirs em que são plantados. Como em qualquer outra cepa, impossível generalizar! O que é fato é de que em algumas regiões, têm apresentado uma exuberância difícil de ser sobrepujada. É uma cepa bastante tânica gerando vinhos bastante encorpados de grande estrutura e capacidade de envelhecimento. Os bons exemplares de Syrah tendem a trazer consigo uma certa dose de mineralidade, fruta intensa e uma marca muito própria de especiarias com uma certa alusão a pimenta gerando um final de boca algo picante. Os Australianos tendem a ser mais potentes e intensos,com maior presença de fruta madura e algo de chocolate enquanto os Europeus puxam para um estilo mais elegante, porèm de grande estrutura, com taninos aveludados de boa textura e algo mais especiados. Eu, pessoalmente, tenho uma queda para um estilo de vinhos mais elegantes e tendo a optar por estes vinhos encontrados em toda e qualquer região, e cepa, então os exemplos abaixo têm muito essa cara.

         Os grandes vinhos como Penfolds Grange, vinho mítico Australiano, Incógnito e Quinta do Monte D’Oiro de Portugal, Planeta Syrah da Sicília e os grandes Cote-Rôtie e Hermitages, apesar de deliciosos, não são para o bolso de qualquer um. Porém, existe vida fora desses grandes vinhos e nós pobres mortais podemos nos deliciar com outros exemplares de bons vinhos Syrah que cabem em nosso bolso. Para quem quiser começar a curtir esta cepa e experimentar todos os seus sabores e estilos, eis aqui algumas dicas de bons vinhos a serem provados sem perder as calças.

  • Porcupine Ridge Syrah 07 – Na Mistral, é um belo exemplo de um vinho muito característico da cepa, módico e de muita qualidade vindo da África do Sul. É macio, sutil, vibrante, de boa intensidade, boa estrutura, bom para se tomar com uns dois anos de vida quando o vinho libera todo o seu potencial. Vinho franco, amável, fácil de se gostar e um ótimo “entry level” no mundo do Syrah. Vinho que consegue unir bem as caracteristicas do velho e novo mundo. De ressaltar que a maioria dos grandes vinhos Sul-Africanos são hoje elaborados com esta cepa. Preço médio por volta de R$50,00.
  • Bin 50 Shiraz 06 – Na Expand, um dos meus primeiros Shiraz Australianos e sempre um porto seguro ano após ano. Muito redondo, corpo médio, fácil de agradar, bem frutado com algo achocolatado, de boa intensidade, um vinho sempre apetecível e fácil de harmonizar ou tomar solo. Preço R$59,00.
  • Montes Alpha Syrah 06 – Na Mistral, um dos meus vinhos preferidos que, posteriormente, descobri ter 92 pontos na Wine Spectator tendo ficado em décimo quinto no top 100 do ano passado. O 2005 é um estupendo e encantador vinho, outras safras não provei, e vale muito o que se paga. Dependendo da taxa do USD, por volta de R$70 a 75,00.
  • Goat Roti 05 – Na Expand, é uma brincadeira séria com os vinhos de Cote-Rotie, elaborado na África do Sul pela Fairview. Brincadeira pelo nome, já que o conteúdo é de primeira obtendo grande reconhecimento da imprensa internacional especializada. Um blend de Syrah com Carignan, Grenache e Viognier. Preço R$78,00.
  • Perez Cruz Limited Edition Syrah 05 – Na Wine Company, é mais um exemplo de elegância e finesse que vem do Chile. Um pouco mais caro, mas um grande vinho R$99,00.
  • Ochotierras Gran Reserva Syrah 05 – Este vinho da Ochotierras recém chegada ao Brasil pelas mãos da Brasart, é mais uma confirmação de que esta é a grande cepa hoje sendo produzida no Chile. Este pode tomar já, mas estará melhor ainda em um ano ou dois. Primeira safra deles e só imagino o que poderá vir pela frente! Na Kylix o vinho está por R$ 85,70.
  • Wynns Shiraz/Cabernet/ Merlot 05 –Degustei no Evento Mistral deste ano e me apaixonei pelo vinho. É de grande intensidade e estrutura, porém alia tudo isso a uma incrível complexidade e elegância. Difícil encontrar no Brasil vinhos Australianos desta qualidade por este preço. Preço aproximado de R$ 62,00, na Mistral e uma das mais valiosas pepitas encontradas nos meus garimpos.
  • Y Series Shiraz (possuí um tempero de Viognier) – Na KMM, maior importador de vinhos Australianos. É uma linha média da importadora, porém já demonstra grande qualidade num corte bem característico desta cepa. Preço R$87,00
  • Two Up Shiraz 06 – Da Wine Company, é outro belo exemplar da capacidade Australiana de trabalhar esta cepa. Muito harmônico, redondo, taninos aveludados e muito saboroso. Um vinho muito agradável por R$72,00.
  • Philippe Bouchard Syrah VdP 06 – Francês da região do Languedoc, um vinho pronto, muito agradável, teor alcoólico comportado com 12.5º, boa concentração com uma paleta olfativa muito agradável. È fresco, equilibrado, leve com toques de especiarias, típicos da casta, e muito saboroso. Um vinho realmente fácil de agradar e fácil de harmonizar que está por módicos R$49,00 na Vinea Store.
  • Domaine du Ministre 04 – Saint Chinian no Languedoc Francês, é um corte com 50% de Syrah de bom frescor, algo mineral, taninos redondos, elegantes, textura sedosa, boa fruta e aquela pimentinha tradicional num saboroso final de boca de boa persistência. Deixa um gostinho de quero mais na boca e não causa danos maiores ao bolso. Na Zahil por R$59,00.

Adiciono, hoje 15/08, três rótulos muito interessantes, tanto por serem muito saborosos, como pelo fato de terem preços muito convidativos o que os torna perfeitos exemplares para você iniciar suas aventuras por vinhos elaborados por esta cepa.

  • Valbona Rosé de Syrah 07, fugindo um pouco dos tintos, masé muito interessante. Não tem um nariz muito intenso, mas cresce muito na boca sendo suave, fresco, saboroso e muito agradável de tomar. Produzido pela Bodega Augusto Pulenta, e importado pela Wine Premium, deve estar por chegar e, acredito, que tenha um preço ao redor de R$35,00.
  • Valbona Syrah 07, do mesmo produtor mas voltamos aos tintos. Boa paleta olfativa de boa tipicidade em que saltam aromas saborosos de fruta madura. Sem madeira, é vinho para ser tomado jovem, de bom equilibrio, taninos finos e bem equilibrados com uma acidez adequada, bom final de boca em que aparece um pouco de especiarias, suaves e de média persistência. Incrível pelo preço de R$28,00!
  • Ontem participei de uma degustação com o lançamento da Safra Histórica dos vinhos do Casillero del Diablo. A safra de 2007 no Chile, foi impressionante para eles e seus diversos varietais estão muito bons, mas disso falo em outro post. Provem o Casillero del Diablo Syrah 07 que está chegando às lojas, divino. Nariz gostoso de boa concentração de fruta e algo de especiarias. Na boca é rico, taninos presentes, firmes mas sedosos, elegante e perfeitamente integrados dando mostras de que evoluirá muito com mais um ano de garrafa, apesar de já estar muito saboroso e pronto a beber. Por preço que irá variar, de loja para loja, entre R$30 e 35,00, é imperdível. Se acompanhar com um belo pedaço de picanha então ….!

Estes são só alguns rótulos, os que já provei, e certamente existirão um monte de outros para garimpar, mas há que se começar com alguma segurança para não se assustar numa primeira experiência, certo? Por falar em assustar, não confunda com Petit Syrah, que não tem nada a ver. Os Americanos deram esse nome à uva Durif, pela semelhança dos cachos . Em minha opinião, fique de olho nos vinhos Syrah vindos do Chile e da África do Sul regiões que vêm evoluindo muito tanto em volume de vinhedos quanto em rótulos de qualidade.

Salute e Kanimambo.

 

Endereços e Telefones para contato, encontre na seção “ONDE COMPRAR”

 

Reféns das Notas.

postei matéria sobre o tema em Dezembro passado, mas volto a este assunto de Notas dos Vinhos, devido a uma conversa de há poucos dias, entre críticos, colunistas, importadores e produtores presentes a um almoço, sobre os senhores Robert Parker da vida e o valor de suas notas. È Wine Enthusiast,  Wine Spectator, Stephen Tanzer, Robert Parker, Decanter e Jancis Robinson entre muitos outros formadores de opinião e críticos do vinhos, formulando juizo de valor qualitativo. Certo ou errado, têm valor suas notas, ou não têm? Comprar baseado nisso? Na verdade quem lhes deu força e segue dando, são os próprios produtores, importadores e lojistas que viraram escravos, reféns e propagadores dessa cultura, ajudando a disseminar o fato que somente vinho bem pontuado é que é bom ou, eventualmente, para justificar preços. Depois reclamam que vinho sem pontuação não vende, ou de que seus vinhos foram mal pontuados! Lamentavelmente, uma grande parte dos consumidores acaba caindo nessa armadilha de forma ingênua, falta de conhecimento ou até, muitas vezes, por puro esnobismo. Daquele que serve o vinho já falando quanto o vinho custou, especialmente se for caro, e quantos ponto ele tem, saca?! Por outro lado, se criou um culto à nota difícil de se eliminar, pois isto requer mudanças culturais de valores já enraizados em nossa vinosfera do qual viramos efetivos reféns e, pensando bem, será que realmente queremos mudar esse “status quo”?

Já comentei que essas notas são meras indicações de qualidade e os vinhos sem pontuação não devem ser descartados somente porque não possuem uma nota. Por outro lado, um mesmo vinho avaliado por Robert Parker e Wine Spectator, de vertente americana, e Hugh Johnson, Decanter e Jancis Robinson, de vertente européia, terão resultados finais bem distintos devido a culturas, parâmetros e paladares diferenciados. Já cansei de provar vinhos super pontuados e me desapontar muitíssimo. Alguns efetivamente não gostei e, outros, apesar de bons, não consegui entender onde os conceituados críticos encontraram tanto fulgor para justificar suas notas!

A prova final, a verdadeira nota, a que interessa, esta está no paladar de quem toma o vinho e, especialmente, de quem paga por ele já que aí também poderá formular opinião de valor. Ou seja, se o vinho vale o que se pagou por ele, que será o que, em última instância, servirá de parâmetro para repetir a compra, ou não. O resto são meros subterfúgios mercadológicos que nem sempre condizem com a realidade encontrada na taça. Não que não lhes reconheça valor, a uns mais que outros, mas há que se considerar estas “avaliações” com uma certa parcimônia e até, talvez, um mal necessário em um mar de rótulos, nem sempre conhecidos, hoje disponíveis no mercado. Como diz o Didu, o crítico deu 98 pontos e você, quanto dá?

Salute e kanimambo.

O Que é o Que é?

         Eis algumas palavras e termos que recentemente usei em meus textos que podem ter, eventualmente, gerado duvidas por parte de alguns já que tive comentários (via mail) nesse sentido. Espero ter esclarecido, mas no caso de quaisquer outras duvidas não hesite em perguntar. Se souber explicarei e, se não, buscarei a resposta junto aos universitários.

 

Botrytis2Botrytis

Este é um termo bastante usado quando falamos de vinhos de sobremesa, mas o que é isso? O que é uva  botritizada, ou Botrytis nobre. Na verdade Botrytis é um fungo que ataca as uvas. Quando isto acontece devido ao excesso de água e humidade, as uvas podem apodrecer e a colheita se perder. Quando ocorre, todavia, por condições climáticas mais secas após um bom período de chuva, o que ocorre é que a uva seca e enruga, perdendo grande parte de seu suco e concentrando sabores, açúcar e acidez. A maioria dos grandes vinhos de sobremesa brancos são, total ou parcialmente, elaborados com uvas botritizadas. A colheita é manual, em diversas fases, porque a botrytis não ataca de forma linear e o mosto tirado dessa uvas é muito limitado fazendo com que vinhos elaborados desta forma sejam, normalmente, bastante caros. Exemplos de algumas destas preciosidades são os vinhos doces Alemães Auslese ( em especial os Beerenauslese e os Trokkenbeerenauslese, este ultimo quase que em estágio de uva passa), os vinhos Sauterne de Bordeaux e os Tokaji Húngaros.

 

Late Harvest ou Colheita Tardia

Exatamente o que o termo indica. As uvas são mantidas nas vinhas pelo máximo tempo possível após o tempo de colheita. A tendência dessas uvas, tradicionalmente associadas a vinhos de sobremesa, é de irem se desidratando e acumulando açucares. Quando atacadas por botrytis, somente viáveis em alguns terroirs, geram vinhos bastante doces.

 

Off-Dry

Um termo mais recente, usado por enófilos e enólogos Ingleses para exemplificar um vinho que não é seco porém também não é nem um demi-sec nem um vinho doce. Algo como, um vinho seco com nuances adocicadas.

 

 

 

Trasfega

Trata-se da transferência do mosto ou vinho, de uma barrica ou tanque para outro, preferencialmente por via natural através de gravidade, ou por acionamento mecânico de bombas, separando o sedimento, ou borra, decantada no fundo. Esta etapa, que ocorre normalmente entre o sétimo e décimo dia da fermentação alcoólica e se repete por mais três ou quatro vezes nos diversos estágios da viníficação, facilita a clarificação do vinho e previne a aquisição de odores não recomendados provenientes das células velhas das leveduras.

 

Terroir

De acordo com seu conceito Francês, é um conjunto de terras, solo, cultura e clima sob a ação de uma coletividade social congregada por relações familiares e por tradições de defesa comum e de solidariedade da exploração de seus produtos, gerando características típicas e únicas daquele local. Isto vale tanto para vinho como para café, chá ou qualquer outro produto agrícola.

 

Salute e kanimambo!

 

 

 

Dicas do Mundo do Vinho

            Este post advém de algumas perguntas que recebi de amigos e que, imaginei, podiam ser duvidas que outros também tivessem. Vamos lá:

 

O que fazer com o vinho caso sobre na garrafa? Neste caso há que lembrar que existe uma oxidação natural do vinho depois de aberto o que o tornará, em um determinado e variado espaço de tempo, em um liquido avinagrado. Existem duas formas básicas para se manter um vinho. Primeiro, usando-se um vacu-vin que é um aparato, bem em conta e um importante acessório para se ter em casa, que retira da garrafa o excesso de oxigênio. Mantido na geladeira, dá para agüentar uns dois ou três dias sem grandes alterações. A segunda opção é passar o vinho restante para uma meia garrafa e tampar com a rolha mesmo. Com menos oxigênio na garrafa, o vinho pouca alteração sofrerá no período de 24 a 48 horas.

 

Cálculo de vinhos por pessoa? Esta é bem freqüente, especialmente para eventos, festas e reuniões com os amigos. O tradicional é se calcular meia garrafa por pessoa. Em casamentos onde haja somente espumantes sendo servidos, eu sugiro um pouco mais, algo como duas garrafas para cada três pessoas. Se o espumante for servido somente no brinde, acho que uma garrafa para cada seis pessoas está de bom tamanho. De qualquer forma, penso aconselhável que, feito o cálculo, compre-se uns 10% a mais só para garantir. Comprando de pessoal especializado em festas (contate alguns dos parceiros do blog em Onde Comprar) existe a possibilidade de consignação o que facilita a compra. Se não der e sobrar, acho que você achará uma solução para a sobra, não?

 

Tampa de rosca no vinho, é sinal de vinho barato? Não. Com a falta de cortiça e o alto custo decorrente, esta é uma técnica nova em pleno desenvolvimento e com muita gente de qualidade buscando esta alternativa especialmente para os vinhos brancos e para vinhos de consumo mais rápido, vinhos para serem tomados jovens com quatro a cinco anos de vida. Os vinhos do Novo Mundo; especialmente Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e África do Sul tomaram a dianteira nesta mudança, mas na Europa, Argentina e Chile também já se começa a usar a rosca. Para mim, o que realmente é sinal de vinho barato, é o uso de rolhas artificiais em especial aquelas pretas, roxas ou vermelhas! Considero isso uma verdadeira aberração e me arrepio todo quando me deparo com uma dessas. É, eu sei, puro preconceito e conservadorismo. Pode até ser, mas é o que sinto. Por outro lado, uma longa rolha de cortiça nos sugere estar frente a frente a um vinho de grande qualidade.

 

Um vinho elaborado com duas uvas diferentes é um bi-varietal ou um corte? Bem, na verdade é um corte bi-varietal! O corte, não é necessariamente uma “mistura” de diversas uvas podendo haver cortes com barricas de idades diferentes, de locais diferentes, etc. Comumente, no entanto, entendemos como corte o uso de duas ou mais cepas diferentes. Cada país, todavia, tem sua própria denominação e cultura e, no caso da Argentina, por exemplo, o corte de duas cepas é muitas vezes chamado de bi-varietal. Aproveitando o ensejo, esta palavra corte é só uma das usadas internacionalmente para denominar esta “mistura” de cepas. Outras são; blend, assemblage e encépagement. Os varietais, por outro lado, são vinhos elaborados com uma só cepa, ou variedade de uva.

Salute e Kanimambo!

Sur Lie, que bicho é esse?

O que é Sur Lie? São diversas as avaliações e provas de vinhos, em que vinhos “Sur lie” são analisados e comentados,  ficando por isso mesmo, como se o termo fosse de domínio publico. Pois bem, de 15 pessoas apreciadoras e “tomadoras” de vinhos pesquisadas, 12 não tinham idéia do que o termo significa, uma quase acertou e duas sabiam. Dentro esse grupo tinha gente de todas as áreas, mas todos tomam vinho regularmente há bastante tempo. Como acabei de publicar um post de um vinho “Sur Lie”, achei por bem falar um pouco sobre o tema. Afinal,  que bicho é esse?

Bem, de forma simplista e resumida, este não é um blog de enologia, durante e após a fermentação é formado um residual de células de leveduras (formado por bitartarato de potássio, tartrato de cálcio, proteínas coaguladas con tanino, substâncias pécticas e celulas de leveduras e bactérias) o que, em Português, chamamos de Borras.  Normalmente os vinhos ficam com pouco contato com esses resíduos, sendo logo filtrados ou não, depende da proposta do vinho. Nos casos dos vinhos Sur Lie, eles são deixados em contato com estas borras (lie em Francês e lees em Inglês) durante um tempo maior, sendo regularmente “mexido” o que os técnicos chamam de bâtonnage. Com este período de tempo Sur Lie (sobre as borras), que pode ser de vários meses dependendo do que o enólogo tem de objetivo, se pretende que o vinho ganhe complexidade, sabor e corpo. Tradicionalmente este processo Sur Lie é aplicado somente em vinhos brancos e um bom exemplo desse “ganho” obtido com o processo é provar um Muscadet e um Muscadet Sur Lie do Loire, a diferença é absurda! Acho que é isso, se houver quem queira acrescentar algo, por favor fique á vontade. Este espaço é para isso mesmo, compartilhar conhecimento. Salute e kanimambo.

Fonte: https://www.winemakermag.com/stories/issue/article/issues/116-aprmay-2010/924-sur-lie-wine-kits

Post revisado devido a um toque recebido da Cris Vilas Boas através de seu comentário abaixo.

Armazenando seus vinhos, o que fazer

               Qual é a melhor condição para a guarda de Vinhos. Em principio, o ideal seria que os vinhos, para que evoluam melhor garantindo um envelhecimento com qualidade atinjindo sua maturidade com saúde, sejam mantidos a uma temperatura estável e constante ao redor de uns 15º , a uma umidade relativa entre 60 a 75%, longe de luz direta, local mediamente ventilado, sem trepidações e deitado para manter a rolha úmida. Ou seja, nas condições das caves dos produtores, o que é praticamente inviável a não ser que se tenha o bolso extremamente recheado o que, convenhamos, não é a situação da maioria. O que podemos fazer é tentar reproduzir estas condições da melhor forma possível, considerando-se a disponibilidade financeira e de espaço, de cada um, em sua casa assim como do nível de qualidade dos produtos. Quanto mais evoluídos sejam os vinhos, mais delicados eles são e, consequentemente, maiores os cuidados com seu manuseio e armazenamento. Consideremos três cenários:

  • Um grande colecionador e expert em vinhos, certamente terá uma grande adega construída em uma sala separada, com tudo aquilo que o figurino manda. Preservar vinhos de excelência, de exceção e de reflexão requer cuidados extremos e os custos são altos. Numa situação destas, fácil, fácil se gastam R$20 a 30.000. Caro? Sim bastante, mas dependendo do seu conteúdo, perfeitamente entendível e justificável. Se forem do porte de vinhos como; Romanée Conti, Mouton Roschild, Veja Sicilia Único, Barca Velha,Gaja Costa Russi, Ornellaia Toscana,Opus One, Penfolds Grange, Chateau Margaux e Chateau Petrus, e outras preciosidades do tipo, o custo é até baixo!
  • Numa outra situação temos o apreciador de vinhos já com uma certa experiência, que viaja, trás coisas boas de fora, que toma bons vinhos e já possui algumas boas garrafas de vinhos de grande qualidade e de média guarda. Estes rótulos já pedem alguns cuidados especiais e um nível de armazenamento condizente. Nestes casos, um canto mais escuro da sala, é um bom local para se colocar uma adega climatizada de, por exemplo, 36, 48 ou 72 garrafas. Uma adega destas, dependendo da sofisticação e local de compra, terá um custo variando entre R$600 e 3.500,00, um pouco mais se você quiser sofisticar o acabamento ou aumentar o tamanho.
  • Na hipótese de que seus vinhos sejam mais para o dia-a-dia, mais simples, você não compra grandes volumes e, eventualmente compra alguns vinhos melhores, não creio que haja necessidade de grandes investimentos. Óbvio que, se uma pequena adega climatizada estiver ao seu alcance, melhor será. Tanto pelo cuidado com o vinho como para o ter sempre à temperatura adequada de serviço. De qualquer forma, neste caso, basta buscar um lugar escuro, fresco, limpo, longe de produtos de limpeza e de odores fortes assim como de vibrações. Existem no mercado, diversos racks baratos para adegas, de alumínio ou madeira, que você poderá montar dentro de um armário ou até embaixo do bar, com uma cortininha preta, ou coisa semelhante, para evitar a luminosidade. Uma boa opção, também, é o uso daqueles tijolos sextavados com furo no meio, deve existir um nome para isso só que não me vem à cabeça agora, que são perfeitos para esse uso e facilmente empilhados. São opções que podem até ser cafonas, mas funcionam bem. Se forem para consumo rápido, podem até ficar em pé. Veja dica pra manter humidade e temperatura nesta condições, aqui.

              Tudo isto pode, mais uma vez, parecer frescura, mas não é. A revista Prazeres da Mesa de Agosto de 2007 tem uma reportagem super didática que exemplifica bem a influência da forma de armazenamento sobre o vinho. Onze garrafas do mesmo tipo, um vinho jovem, pronto que não precisa evoluir na garrafa. Foram distribuídas 11 garrafas para onze pessoas com a missão de o armazenar em locais pré-definidos. Debaixo da escada, no armário da cozinha junto com alimentos, na área de serviço junto com material de limpeza, closet, armário da sala, armário no quarto debaixo de cobertores, geladeira (sem luz), e adega entre outros. Onze meses depois os vinhos foram recolhidos e passaram por uma prova formado por sommeliers e especialistas. Os melhores foram o da geladeira e da adega climatizada ficando a “intragabilidade” para os armazenados junto a alimentos e, em especial, aos materiais de limpeza. Teste empírico, mas “vero”! A  reportagem completa, leia na revista.

Filoxera – o que é isto?

             O Antonio Santos, amigo leitor, me perguntou o que era filoxera. Como já tinha recebido a mesma indagação por parte de um amigo que me ligou, achei que seria melhor fazer um post sobre o assunto. Este bichinho, devastador e temido pelos vinicultores, é um inseto hemíptero que responde pelo nome de Phylloxera Daktulosphaira Vitifoliae. Sacanagem né? Vamos no popular; este é um inseto pequeno com cerca de 3 milímetros, do tipo que pica e suga (hemíptero) com apetite as vitis viníferas ou seja, as videiras que produzem uvas usadas na produção de vinho fino. Filoxera é o nome, em Português, usado para designar tanto o inseto quanto a doença em si.

           De origem Norte-americana, a filoxera está hoje presente em todos os continentes, sendo um dos exemplos mais marcantes do efeito humano sobre a dispersão das espécies, já que, em poucas décadas, esta espécie evoluiu de um habitat localizado para uma distribuição global, com uma rapidez que, ainda hoje, não deixa de surpreender. Este tipo de pulgão é totalmente dependente da vinha, única planta em que pode desenvolver-se, e ataca, essencialmente, as raízes da planta. A distribuição geográfica desta espécie está hoje expandida a quase todas as zonas produtoras de vinho. A exceção mais significativa é o Chile onde a praga ainda não se instalou em função de suas características geográficas e barreiras naturais.

         As vinhas infestadas perdem rapidamente capacidade produtiva, com a morte de muitas videiras, e em geral não podem ser recuperadas sem o arranque e replantio com plantas resistentes, operação dispendiosa e que implica perda de rendimento durante vários anos. Na França, em 1863, a filoxera destruiu grande parte dos vinhedos, tendo dizimado cerca de 40% deles, ao longo de 15 anos, e se espalhado rapidamente pelo restante da Europa. Foram mais de 40 anos de trabalho árduo, para recuperar a produção e os vinhedos em toda a Europa.

            A origem desta praga se deu com a importação Francesa de videiras Americanas (Vitis Labrusca) que eram portadoras da doença. Uma característica da variedade de vinhas Americanas, não Vinis Viníferas, é que elas são portadoras, mas menos susceptíveis a desenvolver a doença. A solução do problema, desta forma, encontrava-se em sua própria origem. Para evitar o surgimento da filoxera, se usa a raiz e caule da videira Americana e se enxerta a Vitis Vinífera. O que surgirá é uma videira resistente à filoxera produzindo uvas saudáveis. Isto em nada altera a qualidade da uva, ou do vinho, já que as características do vinho são geradas pela uva, o fruto, servindo as raízes de mero canal alimentador e de sustentação da planta nova. Existem ainda alguns pequenos lotes de produção com uvas não enxertadas na Europa, mas o volume é cada vez menor devido aos altos riscos envolvidos. Nestes casos, as videiras são produzidas em “pé franco” que é a designação da Vitis Vinífera sendo produzida sem enxerto. Um dos mais famosos vinhos produzidos desta forma é o Quinta do Ribeirinho Pé Franco, um vinho meio cult e caro, produzido na região das Beiras, em Portugal, pelo excelente produtor e mago da Bairrada, Luis Pato.

            O interessante deste assunto, nos trazendo de volta ao Chile, é que os Chilenos importaram suas mudas da Europa antes do ataque da filoxera, lá pelos idos de 1850. Quando os vinhedos Europeus iniciaram seu processo de recuperação, foi no Chile aonde boa parte dos produtores vieram buscar suas mudas. Com isto, o Chile iniciou suas atividades exportadoras tanto de mudas como de vinhos, já em 1877!

A Influência das Safras

                Até que ponto as safras são importantes? Difícil responder, pois depende muito das regiões e dos tipo de vinhos de que estamos falando. Todavia, pesquisei bem este assunto antes de escrever o post e, a conclusão a que cheguei é que, já foi mais importante, genericamente falando, do que hoje em dia. Mas vamos à matéria.

              Os anos das safras citados nos rótulos têm basicamente duas funções. Primeiramente a de indicar o ano da colheita, para análises futuras, e a segunda para determinar idade. Com relação a este tema de idade, já comentei o assunto em meu post sobre o “Quanto mais Velho Melhor”, ledo engano. Com relação ao ano da colheita, o que se busca obter é um indicativo da qualidade dos vinhos, em função da conjuntura climática e como ela impôs sua influência sobre o vinhedo. A tecnologia e novos métodos de manejo do vinhedo permitem que as influências de um mau ano sejam menos sentidas hoje do que à quinze ou vinte anos. Existem, no entanto, algumas regiões em que estas influências ainda são fortemente sentidas devido às características das plantações e, em especial, do tipo da uva cultivada. É o caso da Borgonha, já que a Pinot Noir é uma uva delicada e muito difícil de ser trabalhada e, consequentemente, a qualidade da safra é mais importante. Por outro lado, nem todas as zonas produtoras na mesma região se comportam igual e, uma nota genérica por país, nem sempre contempla as peculiaridades de cada região produtora. O importante é usar as tabelas com bom senso.

              As safras realmente fracas são cada vez mais raras e muito localizadas. De qualquer forma, o uso das safras na compra de seus vinhos deve ser feita de forma criteriosa já que, como nas notas de provas, devem ser interpretadas como meros indicativos de qualidade e não verdades absolutas e generalizadas. Um bom produtor pode produzir ótimos vinhos numa safra ruim, assim como o mau produtor poderá produzir péssimos vinhos numa safra ótima e é importante considerar este viés em sua análise.

               Consideremos o ano de 2002 que teve uma colheita considerada muito fraca em diversas regiões produtoras como  Itália (especialmente Toscana e Veneto) e Portugal (especialmente Bairrada), entre outros. Quer dizer que todos os vinhos produzidos nessas regiões nesse ano são ruins? Não, longe disso, mas que a produção geral gerou vinhos menos equilibrados, mais fracos e instáveis resultando em vinhos com menor potencial de guarda, lá isso é verdade.  Por outro lado, os Vinhos da Espanha em 2004 certamente apresentarão uma qualidade geral, bem superior aos produzidos na safra de 2002, o mesmo ocorrendo com os vinhos do Chile. Safras fracas, ou mais fracas, como a de 2002 foi nessas regiões, ocorrem cada vez mais espaçadamente, mas deve-se tomar cuidado, o indicativo não é bom e deve-se acender uma luz amarela. Se não conhecer o vinho e houver outras opções, jogue no seguro. Alguns bons produtores, todavia, por razões das mais diversas, logram colocar no mercado alguns muito bem elaborados e excelentes vinhos. Desta forma, não adianta ser xiita neste processo, há que se ter bom senso no uso da tabela de safras. Eis algumas dicas sobre este tema:

  • Em Safras mais fracas procure vinhos de bons produtores que, certamente, terão melhores condições de elaborar produtos melhores. Por outro lado, será uma boa oportunidade para tomar um ótimo vinho por preços melhores.
  • Em Safras boas, busque vinhos de produtores medianos já que a matéria prima certamente gerará muito bons produtos e o preço ficará bem abaixo dos grandes produtores que produzirão grandes vinhos com preços nas alturas.
  • Vinhos baratos, descompromissados, corriqueiros para o dia-a-dia, sofrem menos com as variações das safras que têm maior influência sobre vinhos mais evoluídos, de média e longa guarda. Não se preocupe muito com as safras quando comprar estes vinhos que foram elaborados para serem tomados jovens.

              De qualquer forma, a avaliação da safra, que pode sofrer variações ao longo do tempo, nos sugere que, ao encontrar na loja um mesmo vinho de safras diferentes, procuremos comprar a de safra melhor desde que a diferença de preço não o inviabilize.  Isto vale para todas as gamas de vinho, pois, as chances de que você estará comprando um produto de melhor qualidade, aumentam consideravelmente. Agora se estiver frente a frente com um vinho caro, mas desconhecido para você, de uma safra realmente fraca, a minha sugestão é de se certificar das qualidades do vinho antes da compra já que você pode estar entrando numa roubada, experiência pessoal! Para ajudar nesse processo de escolha,  clique com lado direto do mouse sobre a tabela abaixo, gentilmente cedida pela Mistral, e selecione “imprimir imagem”. Imprima, recorte e guarde na carteira, será sempre uma boa fonte de informação para dirimir eventuais dúvidas na hora da compra. Caso prefira, eis mais dois links para outras tabelas. A do Robert Parker  e a da Wine Magazine. Salute, que Bacco ilumine suas escolhas.

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