Degustações

Sacando a Rolha de Vinhos da Crise

A Confraria Saca Rolha se reuniu para sua 47º reunião tendo como objetivo degustar vinhos da crise! A inspiração do tema veio de uma matéria lida num site de loja nos Estados Unidos quando há alguns anos montaram uma degustação de “Recession Wines” (abaixo de USD10). Nas confrarias é natural que os patamares de preço e qualidade subam com o tempo, afinal essa é sua essência, então quando propus este tema o Uncorking-Old-Sherry-Gillrayprimeiro impacto foi surpresa, porém todos rapidamente toparam o desafio de um choque de realidade e na hora toparam, afinal há vida nos rótulos mais em conta?! Há tempos que falo disso aqui e afirmo, sem hesitação, que sim, só que o garimpo é maior. Cada um teve seus preferidos, eu também, que podem ser diferentes um dos outros, porém nossa porta voz é a amiga Raquel Santos cabendo-lhe a missão de colocar na tela e compartilhar com você o resultado de nossas aventuras pelos caminhos de Baco, então fala aí Raquel, o que você achou?

Estamos vivendo tempos difíceis e até o governo já admitiu que este ano será marcado pela crise econômica, onde a adaptação é a palavra de ordem. Saber se preparar é o primeiro passo para garantir a sobrevivência. Não importa que sacrifícios isso possa envolver, mas uma coisa é certa, se você quer se preparar para a crise de 2015/16, a primeira providência é reduzir a todo custo seu grau de endividamento.

Ninguém deixa de tomar banho porque a água está escassa nem pára de comer porque os preços dos alimentos estão pela hora da morte. Nós, amantes dos vinhos, acreditamos que esse consumo regular e cotidiano, não é uma prática supérflua e desnecessária. É um hábito que adquirimos inicialmente por puro deleite e prazer, mas com o passar do tempo e ganho de conhecimento, descobrimos que além disso, trata-se de uma bebida que complementa a boa alimentação trazendo muitos benefícios à saúde.

Em tempos de vacas magras seria prudente revisar nossos padrões de consumo de vinho sem que seja necessário eliminá-lo. Pensando nisso, a ideia de juntarmos vinhos a preços razoáveis e com qualidade, pareceu-nos uma reflexão bem proveitosa tanto para nós como para outras pessoas que evitam o seu consumo apenas pela questão do preço.

A escolha dos vinhos foi baseada na relação qualidade x preço x prazer selecionada pelo João, devendo ficar numa faixa de preços entre 50 e 70 Reais. Foram eles:

Gouguenheim Bubbles Rosé– Um espumante argentino da região de Mendoza.
Elaborado com a casta Malbec, tem uma bela tonalidade rosada. O rótulo indica a categoria Extra Brut (3 a 7g/l ), porém percebe-se um leve residual de açúcar que não chega a incomodar pois tem acidez equilibrada o que, por outro lado, evidencia uma agradável presença de frutas silvestres frescas. Preço: R$67,00.

William Fèvre Espino Pinot Noir 2012 (Chile) – A vinícola, que leva o nome do enólogo da Borgonha, já indica um estilo de vinificação tradicional francesa, porém com sotaque chileno. O Espino-Pinot Noir, é um típico Pinot do velho mundo (de menor extração), com muita mineralidade, frutas e bom equilíbrio entre a acidez, taninos e corpo. Leve e agradável. Preço: R$63,00.

Domaine Perrin La Vieille Ferme (França) – Um vinho simples mas muito bem feito. Da região do Rhône, pode-se dizer que é aquele vinho “pau pra toda obra”. Fácil de beber, sozinho ou acompanhado por aperitivos ou uma refeição. Destaque para sabores de frutas vermelhas (morangos e cerejas) e especiarias doces (canela, funcho). Preço: R$65,00.

Bodegas Staphyle Gea Malbec 2010 – Argentino, da região de Lujan de Cuyo. Aromas discretos que crescem com tempo na taça ( frescor de mentol, eucalipto). Na boca mostrou-se denso, cheio de frutas, chocolate e notas animais (couro). Um típico Malbec dessa região. Preço: R$59,00.

Vinhos da crise

Canforrales Tempranillo Clássico 2013 – Espanhol, da região de La Mancha. Mostra bem a tipicidade da uva e da região: Nariz seco e amadeirado com final terroso e ervas aromáticas. Na boca mostra corpo médio, sabores bem integrados e equilibrados. Preço: R$ 51,00.

Hécula 2011 – Espanhol, da região de Yecla. Feito com a uva Monastrell que é típica do mediterrâneo, e na França é conhecida como Mouvèdre. Tem um caráter bem mineral que lembra carvão e brisa marinha. Com taninos fortes, foi o mais equilibrado de todos. Corpo frutoso e erva verde bem aromática. Preço: R$65,00.

Pérez Cruz Cabernet Sauvignon Reserva 2012 – Valle do Maipo, Chile. Bom corpo, frutado, correto. Apesar de ser elaborado por um bom produtor no Chile, foi o que menos agradou. Talvez pelo álcool evidente e a falta de tipicidade que lhe daria mais personalidade. Preço: R$66,00.

Uma questão que devemos sempre levar em consideração quando escolhemos um vinho, é saber quem o produz. Fazendo uma analogia à indústria automobilística, quando queremos comprar um carro e temos várias opções de fabricante, escolhemos um que por alguma razão nos dá a segurança de qualidade e entre seus produtos escolhemos um que esteja de acordo com a nossa necessidade e que podemos pagar, certo? Por exemplo: Se acredito que um “Volkswagen” é uma boa marca de carros posso escolher desde um Gol 1.0 até um Touareg 4×4 turbo. Ou se prefiro um “Ford” tenho a opção de um Fiesta 1.0 até um Ford Ranger Automático. Com vinhos não é muito diferente. Um bom produtor tem uma gama de vinhos que vai desde os mais simples, para o dia a dia até os tops de linha para ocasiões especiais ou mesmo para aqueles que podem comprá-los.

Uma das boas lições que se pode extrair de uma crise é que com criatividade e conhecimento de causa podemos adaptar as necessidades individuais ao respectivo bolso. Estar aberto a novas sugestões e mudanças é um sinal positivo que impulsiona o desenvolver da vida cotidiana. De resto, como já dizia o Superman: “Up, up & away!

Pelo andar da carroça já, já vamos montar uma de até R$50,00 e certamente vamos descobrir bons rótulos aí também, aliás já os tenho, o que só vem demonstrar que há bons vinhos nas mais diversas faixas de preço, só precisa garimpar com mais cuidado e são mais raros. Por outro lado, o tradicional é que aos confrades tomem no seu dia a dia, fim de semana ou momento de celebração, vinhos num patamar de preço algo mais baixo, então o exercício foi muito proveitoso. Aproveito para dar uma dica, prove e conheça os rótulos de entrada de um produtor. Se os vinhos forem bons, suba a escala numa boa pois o porto é seguro e nesse produtor fica certamente mais garantido o investimento em rótulos algo mais caros. Saúde e kanimambo!

Conhece a Uva Lacrima?

Eu também não, mas já comecei a pesquisar e no dia 23 de Julho pretendo prová-la junto com quem estiver presente em mais uma degustação que armei! Em parceria com a logoMARCA_almeria-OK importadora Almería de meu amigo Juan e seu filho Alexandre, montei uma degustação que tem como tema a exploração de novos sabores provando vinhos elaborados com essa uva rara e outras pouco conhecidas, vai dar mole? São só 12 vagas e nem lancei e só sobraram 8! Ainda não consegui um local em Sampa, então esta também será realizada na Vino & Sapore na Granja Viana a partir das 20 horas.

Recepção: Espumante Gouguenheim Bubbles Brut, um Rosé de Malbec. Argentina

  • Degustação:
    Lolo Albariño – uva branca da região da Galicia, Rías Baixas, Espanha (R$87,00)
    Paco Vintage Garnacha/Tempranillo – a Garnacha é a uva de Navarra, mas junto com a Tempranillo são as mais importantes uvas tintas do país. Espanha (R$98,00)
    Hecula Monastrel – Monastrel é nascida e criada nas regiões próximo a Valencia; Yecla, Alicante e Jumilla na Espanha (R$65,00)
    Orgiolo Lacrima di Morro d’Alba – olha ela aqui! Lacrima é uma uva rara que só se encontra em vinhedos na cidade de Morro d’Alba na Puglia, Itália (R$98,00)
    Perez Cruz Cabernet Franc Edición Limitada – esta uva ganha espaço nas taças dos enófilos porém ainda não é de conhecimento geral. Esta versão vem do Chile (R$105,00)
    Chaski Petit Verdot – A Petit Verdot segue sendo uma incógnita para a maioria e é tradicionalmente usada em blends, no entanto tem despontado como varietal em algumas regiões com grande sucesso. (R$148,00)

Almeria Uvas Pouco Comuns

Pequeno resumo sobre as características das uvas e suas origens será fornecido no dia com espaço para anotações. Para acompanhar, as tradicionais travessas com queijos e frios, água, pão e café ao final. Tudo isso por apenas R$90,00 , pagos no ato da reserva, dos quais R$20 ficam disponíveis como crédito na compra de qualquer um desses vinhos nessa noite. Diversidade sempre, vem desbravar nossa vinosfera você também! Kanimambo pela visita e espero te ver dia 23. Telefone para contato na Vino & Sapore de Terça a Sábado das 14 às 20 horas (11) 4612-6343.

Degustação de Espanha com Luiz Otávio

Dica das boas amigo, só vinho bala espanhol! Grandes vinhos de Rueda, Valdeorras, Toro e Ribera del Duero no dia 11 de Julho . O luiz Otávio do Enopira se juntou com a Peninsula aqui em Sampa para apresentar esta degustação de grandes vinhos, veja só:

1- Ossian 2011- R$ 234,00

2- Pezas da Portela 2008- R$ 197,00

3- Maria 2006- R$ 513,00Flag Button Espanha

4- Aalto PS 2011- R$ 795,00

5- Sastre Regina Vides 2010- R$ 990,00

6- Pago de Capellanes El Picon 2009- R$ 1.369,00

7- Finca Villacreces Nebro 2006- R$ 1.452,00

8- Pago de Carraovejas Cuesta de las Liebres 2005- R$ 1.199,00

9- Teso La Monja Alabaster 2007- R$ 1.353,00

Será servido: Pão, Azeite, Queso e Jamon

Limitado a somente 15 participantes, restavam seis há dois dias, uma bela degustação para quem tem bala na agulha. Local- Importadora Península, Rua Itápolis nº 589- Pacaembu- SP Tel: (011) 3822 3986, horário 10:30 de la matina. Preço R$550,00. Ligue e garanta seu lugar!

Cheers e kanimambo pela visita.

 

Winebar Salton, Um Ano Depois!

Salton Lucia 1 - cápsulaSalvo engano, faz quase um ano que participei do encontro que a vinícola também promoveu neste Winebar e agora cá estamos de novo. Por filosofia de vida, sou extremamente coerente e há muito deixei de falar aqui de diversos produtores nacionais em função das tentativas de golpe contra o consumidor ao sugerir implantar salvaguardas contra os importados. A Salton, entre os grandes, foi o único que teve uma atitude à altura declarando-se, publicamente, contrário á aberração que alguns tentaram nos enfiar goela abaixo e, por isso, sigo falando deles. Me chamen de xiita, mas é assim que penso e pago o preço, mas deixa pra lá!

Enfim, o papo é outro, hoje venho compartilhar com os amigos minha opinião sobre os vinhos que degustei desse último Winebar de que participei, por alguns poucos minutos, tendo posteriormente e com mais calma degustado os dois espumantes e vinho tinto recebido. Acho que já comentei isso aqui, mas nunca é demais frisar, a Salton possui uma das melhores relações custo beneficio entre os produtores nacionais e é um porto bastante seguro pois desde seus vinhos de entrada de gama a qualidade costuma estar sempre presente.

Desta feita a vinícola nos enviou, a mim e diversos outros escribas do vinho, três vinhos para provar e comentar, vejam o que achei:

Salton proseccoProsecco – não entendo porquê ainda seguem usando essa marca nos espumantes produzidos no Brasil com a uva Glera (ex-prosecco) e acho que precisamos nos adequar ás normas mesmo que estas sejam somente inerentes à produção na união europeia (não sei se a OIV chancelou essa mudança de 2009), mas enfim esse é um outro papo para um outro momento, porém achei que cabia o toque. O espumante é saboroso, boa perlage (apesar de a foto não mostrar!), que é uma característica da casa, algo magro e leve que me pareceu ser feito pensando claramente no mercado de festas e eventos descompromissados. Fácil de tomar, fresco, cítrico, brut não muito seco porém menos doce que os Extra-dry italianos, certamente deverá ser um hit no verão (inclusive pelo preço na casa dos 35/40 Reais) quando o consumo aumenta e muiiito! Ótima opção para quem busca algo no estilo e melhor que a maioria dos vero proseccos italianos nesta faixa de preço.

Salton Desejo Merlot – Como o Talento, que prefiro já que sou fissurado em blends,Salton Desejo um vinho muito bem feito e sempre cumpridor! Este Merlot mostra bem porquê desta uva ser tão marcante no Sul especialmente no Vale dos Vinhedos, para mim a melhor uva “brasileira” produzindo ótimos vinhos e não deixa nada a desejar para a maioria dos chilenos e argentinos que por aqui andam! Um vinho muito prazeroso, sutil e equilibrado, boa paleta olfativa que convida à taça, madeira (tem um ano de barricas) bem integrada dando suporte e não se sobrepondo á fruta,( talvez em função do ano de maturação em adega antes de ser lançado ao mercado), corpo médio, frutos negros, com algumas notas terrosas mostrou ser uma grande companheiro para o strogonoff (bastante cogumelo) de Domingo e não sobrou gota. Foto horrível, mas por um preço na casa dos 65 a 75 Reais me parece uma barbada!

Salton Lucia 2Lucia Canei Brut – Um grande espumante em minha modesta opinião e uma enorme surpresa! Com pouco mais de cinco mil garrafas produzidas, é um assemblage de uvas Pinot Noir de vinhedos próprios, homenagem à Nonna, a matriarca da família Salton, produzido pelo método tradicional com 18 meses de autólise. No visual (Garrafa/Rótulo/Cápsula) primeiro impacto positivo que já indica estarmos diante de algo diferente e traz, para a taça, uma responsa e tanto! Ao abrir, a primeira impressão visual se confirma, um rosé salmonado de cor sedutora e um buquê sutil de notas florais e frutos vermelhos que convida a levar á boca. Perlage abundante e persistente, boa espuma que forma um bonito colar e na boca não deixa duvida de que estamos tomando um dos espumantes top do Brasil, pelo menos para meu gosto e na minha modesta avaliação hedonística, tendo me seduzido por completo, uau! Frutado, fresco, toques sutis de brioche, de pedir bis e bis e bis! O preço de R$150,00, todavia, achei que ficou algo salgado, mas está em linha com seus pares no mercado.

É isso meus amigos, uma ótima semana para todos e namorem muiiiito, afinal dia 12 está aí e esse Lucia Canei pode ser uma ótima escolha de brinde! Não deixem para o dia, aproveitem e façam festa a semana inteira. Saúde, kanimambo e se precisarem de algo especial para dia 12, estarei de plantão na Vino & Sapore a partir de amanhã (Terça) das 14 até as 20 horas, vem!

Os Shiraz Australianos e Seus Terroirs

A Shiraz virou símbolo dos vinhos da Austrália assim como a Malbec da Argentina, Zinfandel nos EUA, Tannat no Uruguai e, menos bem sucedidas, a Carmenére no Chile e Pinotage na África do Sul. Em qualquer desses países existe uma diversidade bem além dessas uvas, na austrália não é diferente, porém nesta degustação minha intenção é explorar a diversidade de terroirs, no lugar de uvas ,provando alguns belos exemplares do Oeste Australiano, Sul da Austrália e Nova Gales do Sul. Será que as características dos vinhos das diversas regiões são diferentes e se mostram claramente na taça? E de vinhos da mesma região? Serão tão somente 12 lugares disponíveis e antes de publicar este post já tenho quatro reservas então só restaram 8 lugares!

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Dia 16 de Junho (Terça-feira) a partir das 20 horas na Vino & Sapore, promoverei a degustação temática de Shiraz da Austrália com os vinhos abaixo. Importante notar as safras, pois afora avaliar os vinhos poderemos avaliar como estes evoluem em garrafa com fechamento com screw cap x rolha, pois escolhi vinhos na maioria com mais de dez anos com ambos fechamentos ou seja, hora de quebrarmos paradigmas!

West AustraliaMargaret River > The Ripper Shiraz 2004 (R$149) e Sandalford Premium 2004 (R$210)Clipboard
South AustraliaClare Valley > Jim Barry Lodge Hill 2011 (R$199,00)
Barossa Valley > St. Hallett Faith 2004 (R$169,00)
McLaren Vale > Tatachilla 2004 (R$185,00)
Nova Gales do SulRiverina > Calabria 3 Bridges Shiraz 2005 (R$169,00)

Como o papo é sobre a Austrália, os amigos que vierem serão recebidos pelo gostoso Eternity Cuvée Brut elaborado com semillon, preparando o palato para o que está por vir. Custo, já incluso água, queijo, chorizo espanhol, pão e café, R$125 por pessoa (pagos no ato da reserva) lembrando que o estacionamento é na faixa! Estes e outros vinhos (24 rótulos) de Down Under, como os ingleses chamam a Austrália, estão disponíveis na Vino & Sapore em função na nova parceria que fiz com a KMM, a primeira e a principal importadora de vinhos australianos no Brasil

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Não deixe para depois, garanta já seu lugar, as vagas costumam se esgotar rapidamente. Abraço, uma ótima semana e kanimambo e espero vos encontrar nos sabores de Down Under?

Sacando a Rolha de Vinhos Exóticos

Juntos numa mesma noite colocamos; Tahiti, Peru, Venezuela, Mexico, Georgia, Marrocos, Israel e China! Já fazia um bom tempinho que andava juntando com os amigos Uncorking-Old-Sherry-Gillrayda Confraria Saca Rolha alguns vinhos de regiões produtoras pouco ou nada conhecidas, regiões de onde pouco ou nada se espera. Finalmente chegou o dia e surpresas para os dois extremos ocorreram; positivo de onde nada se esperava e negativo de onde algo se esperava, com alguns performando o que esperava deles, um exercício muito interessante este, mas deixo a Raquel contar sua percepção de mais esta agradável noite. Eu apenas tecerei alguns curtos comentários em seu texto, dá-lhe Raquel.
Acho que quase todo mundo tem uma atração pelo exotismo. Seja aquela comida cheia de aromas, aquele país longínquo, com paisagens coloridas que sempre vemos em fotos da Nacional Geographic, ou mesmo aquela pessoa com hábitos diferentes dos que estamos acostumados e que parecem tão naturais à elas. O diferente nos incita a curiosidade pela possibilidade de oferecer uma nova opção de viver sensações de prazer. Por outro lado, também nos causam um certo temor, pois sendo algo desconhecido, exige que sejamos corajosos para o novo experimento.

Por muito tempo, ficaram guardadas algumas garrafas provenientes de lugares diversos, não conhecidos pela produção de vinho. Amigos que viajaram por lugares fora do conhecido eixo “velho e novo mundo” e que se depararam com a bebida, não resistiram e pagaram pra ver o que teriam ali dentro! Ou mesmo aquele presente que um amigo trouxe para surpreender, enfim, a lista foi ficando grande. Eu sempre ouvia da existência dessas preciosidades e que um dia elas seriam abertas todas juntas. E esse dia chegou, virou tema do encontro da confraria!

Estávamos todos munidos de coragem, a mente aberta para novidades, mas sempre com aquele pezinho atrás. Ficamos sabendo que haviam outras garrafas sobressalentes caso tivéssemos uma experiência ruim. Afinal, não poderíamos ficar sem vinho na taça!
Para começar, que tal um espumante da Venezuela?

Venezuela > POMAR – BLANC DE BLANC – DEMI SEC – MÉTODO TRADICIONAL
Brindamos ao grande momento e aos poucos os olhares foram se cruzando como quem busca cumplicidade nas sensações. De coloração amarela intensa e pérlage maior que o comum, os aromas de maçãs foram se desprendendo à medida que as bolhinhas sumiam. E só nessa hora percebemos que tratava-se de um Demi Sec. Muito frutado, pouca acidez, deixando na boca um rastro amargo. Alguns torceram o nariz rapidinho, outros resistiram um pouco mais, enquanto já estava sendo providenciada a garrafa que esperava no banco de reserva.

Chile > SANTA DIGNA –ESTELADO ROSÉ – BRUT – MÉTODO TRADICIONAL
O escolhido não poderia ser algo comum, já que o nome do jogo era exotismo. Era um espumante chileno, feito pelo enólogo espanhol Miguel Torres, e elaborado com 100% das uvas País. O resultado foi bem interessante. Um rosé bem seco, com um nariz floral muito agradável.

Tahiti – DOMAINE DOMINIQUE AUROY – VIN DE TAHITI – BLAN DE CORAIL
Hora de partirmos para os vinhos tranquilos. Um branco do Tahiti. Muito bem feito por uma enóloga que também faz vinhos na Borgonha : Dominique Auroy. As castas Itália e Muscat of Hamburg , juntaram-se com o sotaque francês da polinésia, as frutas tropicais do local e a brisa marinha. O resultado além de exótico foi surpreendente! Um vinho muito fresco, com uma mineralidade forte, além de aromas e sabores frutados como manga, abacaxi e maracujá. Já me imaginei naquela paisagem de águas azuis e límpidas, areia branca e sol brilhando no céu. Com aquelas comidas a base de peixes e frutos do mar então, deve ficar perfeito!(talvez a maior e melhor surpresa da noite, pelo menos para mim!)

Georgia > TELIANI VALLEY – SAPERAVI – 2011
A Geórgia é um país que poucos saberiam dizer onde se localiza no mapa. E muito menos diriam que lá se produz vinhos! Pois saibam que foi exatamente ali o berço da vinificação. Existem evidências arqueológicas de 7000 anos A.C. onde foram encontradas as vinhas mais antigas cultivadas no mundo. Cientistas acreditam que esses são os primeiros indícios de viticultura (plantio de uvas organizadas pelo homem).
Está localizado entre o Mar Negro, Rússia, Turquia, Armênia e Azerbaijão.
O vinho que provamos foi feito com a uva local, Saperavi, cuja característica principal é a cor muito escura da pele e o suco rosado. O vinho tinha aromas intensos de frutas maduras, algo mineral (ferroso), muito encorpado e denso. Uma leve doçura, gordo e pesado. Faltou acidez para levantá-lo um pouco mais. Produzido pela Teliani Valley desde 1997.(pode ter história, mas é fraquinho, fraquinho e não agradou)

Venezuela > RESERVA POMAR – 2006
Resolvemos dar outra chance à Venezuela. Do mesmo produtor do espumante, esse vinho já era conhecido por alguns ali presentes e havia surpreendido muita gente em outra ocasião em que foi colocado à prova. Feito à partir de 60% Petit Verdot, 20% Syrah e 20% Tempranillo. Mostrou uma personalidade própria, com muita fruta, especiarias, madeira molhada e um adocicado ao fundo revelando o álcool residual. Os que já o conheciam disseram que estava muito menos vibrante que o provado anos antes. Talvez já estava em sua fase de decadência.(Em 2009, dois dos presentes confrades e eu, participamos de um Desafio de Vinhos Ìcones em que coloquei esse vinho às cegas. Para surpresa de muitos, este se deu muito bem e você pode ler o que ocorreu naquela época clicando aqui. O vinho já passou o cabo da boa esperança e está cansado com fortes notas evolutivas, porém ainda dava pistas do bom caldo que um dia esteve por lá!)

Exóticos

Peru > INTIPALKA – RESERVA CABERNET SAUVIGNON/SYRAH – 2009
Da Venezuela fomos para o Perú. Esses dois países tiveram as primeiras mudas de vitis viníferas trazidas pelos jesuítas que chegaram junto com os colonizadores espanhóis. O clima tropical, quente e úmido, o solo muito rico em material orgânico, não favoreceu o desenvolvimento das vinhas. Mas as poucos, a busca por locais mais adequados a esta cultura, investimento em tecnologia e know-how importados fizeram com que se desenvolvessem. O Perú tem se destacado no mundo pela sua alta gastronomia. Porque então sua produção de vinhos ficaria para trás? Da bodega Santiago Queirolo, o vinho provado mostrou qualidade. Aromas florais delicados, taninos presentes, porém bem integrados ao corpo e balanceados com a acidez. Gastronômico que seca a boca e pede comida.(gosto e conheço há um tempinho. Seu Sauvignon Blanc também é bastante interessante e num dia que abri às cegas bateu um monte de chilenos!)

CHINA > GREAT WALL Cabernet Sauvignon
Os grandes imperadores chineses já consumiam vinhos e hoje quando se junta na mesma frase “vinhos e China” os números estatísticos são de assustar!
Nos últimos 10 anos a China mais que duplicou o número de hectares plantados no pais (de 300 mil para 800mil) tornando-se o 2º maior produtor de uvas do mundo, ficando atrás da Espanha e à frente da França. Além do seu próprio território, tem comprado terras pelo mundo para a produção de vinhos, como na França, Chile e estão na mira da Austrália e EUA. Esse vinho que provamos é de um grande produtor cuja marca está em 2º lugar em quantidade de vendas no mundo, ficando atrás apenas da americana Gallo, responsável por 1 bilhão de litros comercializados por ano.
Apesar desses números enormes e o grande investimento que estão fazendo o vinho chinês foi o mais decepcionante para todos…(já são os segundos maiores “plantadores” de uvas vitivinífera do mundo, porém a qualidade, pelo menos por este vinho, ainda tem muito chão pela frente antes de chegar a ser razóavel!)

Israel > GOLAN HEIGHTS – YARDEN MOUNT HERMON – 2011
A história de Israel é conhecida desde os tempos bíblicos. O cultivo das vinhas e o consumo do vinho acompanha sua civilização desde então. Passou por várias destruições e guerras, e por volta de 1882 os judeus da Europa do leste voltaram para Israel, empenhados na sua reconstrução. Os altos investimentos feito pelo Barão Edmond de Rothschild foram fundamentais para o desenvolvimento da produção vitivinícola no país. O clima mediterrâneo, seco e frio, com altitudes até 800m e verões quentes com muito sol, favoreceram esse desenvolvimento com qualidade na região da Galileia. O vinho que experimentamos foi elaborado com o clássico corte bordalês (Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec e Petit Verdot). Muito leve, fresco e fácil de beber. (Muito agradável)

México > L. A. CETTO – RESERVA PRIVADA NEBBIOLO 2008
O México foi o primeiro país na América Latina a produzir vinho, com uvas trazidas pelos espanhóis para consumo da Igreja. As principais regiões vinícolas estão na divisa com os EUA, ao sul da Califórnia. O consumo da população é baixo, sendo que a maior parte da produção das uvas vão para Brandy. O restante da produção de vinhos é exportada principalmente para os EUA.
Esse vinho apesar de ser feito apenas com uma uva de origem italiana, a Nebbiolo, tinha um estilo bem espanhol. Austero, com madeira bem integrada, taninos presentes, porém refinados. Bom corpo com muita fruta madura e especiarias. Equilibrado.(já tinha lido sobre este vinho e o vinho esteve à altura dos comentários apurados. Bem feito e quem for ao México já pode pedir, sem medo de errar, um vinho nacional no restaurante. Gostei!)

Marrocos – OULED THALEB – TANDEM – SYRAH DU MAROC 2010
O rótulo diz muito da história deste vinho. Quando um viticultor do vale do Rhône ( Alain Graillot ) viajava de férias pelo Marrocos, durante um passeio de bicicleta conheceu o produtor da Domaine Ouled Taleb. Decidiram fazer um vinho juntos à partir de vinhas localizadas nas imediações de Casablanca, usando os princípios biodinâmicos. O resultado disso foi um vinho elegante, fácil de beber, muito equilibrado que reflete bem os aromas e sabores exóticos daquele lugar. Chamaram-no de Tanden, palavra de origem latina que significa uma bicicleta conduzida por dois ciclista, ou mais genericamente, qualquer veículo conduzido por duas forças, mostrando a ideia de colaboração.(gostei, uma grata surpresa já sendo importada por aqui pela World Wine)

Foi uma viagem e tanto. Muitas histórias para contar e de grande diversidade para os sentidos. O exótico, que parece tão distante à primeira vista, quando se tem uma experiência mais estreita, ajuda-nos a compreender a nossa própria história.
No caso da história do vinho, serviu para ampliar um pouco os nossos conceitos do que significa “velho mundo e novo mundo”. Quando voltamos no tempo e percebemos que existiu um mundo ancestral ao chamado “velho mundo”, como a Geórgia, China, Israel, Marrocos, entre outros, fica mais fácil entender a importância que essa cultura tem na evolução da nossa própria história. E que ela continua caminhando a passos largos como mostra esse “novíssimo mundo” no Tahiti, Venezuela, Perú e México. E através dos seus vinhos podemos ver refletido essa longa trajetória que ainda tem muito chão a ser percorrido.

Para muitos o líbano também é uma região produtora exótica, porém já estão no mercado há anos e não achei que caberiam aqui, pois já possuem produtores consagrados internacionalmente. O que vimos é que não podemos fechar os olhos, nariz e boca a essas regiões. Com os avanços da tecnologia e as mudanças climáticas, muito ainda está por acontecer e somente quem tiver a mente aberta poderá se surpreender.

Saúde e kanimambo.

Um Domingo em Mendoza!

Dia complicado de visitas a bodegas em Mendoza, pois tem gente por lá que também precisa de descansar! Afora isso era dia de eleições locais, mas mesmo assim, dois grandes momentos; a visita á Decero e à O. Fournier onde também almoçamos. No dia anterior tínhamos iniciado nossas atividades com uma visita para lá de especial, à Michelini Bros então estávamos ávidos por mais neste lindo dia de Domingo e as surpesas que ele nos traria.

finca-decero-logo-rgbA Decero é uma Bodega muito jovem começada do zero em 1999 por um casal de Suiços que tinham em mente um projeto especifico a executar e por isso mesmo queriam algo que eles mesmos pudessem moldar ao seu jeito e forma. É linda, perfeitamente integrada a uma paisagem encantadora. Uma voltinha rápida para uma visita às instalações da bodega, prova de barricas com o enólogo residente Tomás Hughes e chegamos numa linda sala de degustações com uma vista que faz com que qualquer vinho tenha um gosto para lá de especial, imagina quando os vinhos possuem esta qualidade!

Os vinhedos chamados de Remolinos, em função dos redemoinhos (foto no slide show abaixo) que se formam no campo, começaram a ser plantados em 2000 e as primeiras colheitas experimentais realizadas em 2004 e 05. Finalmente em 2006 as primeiras colheitas comerciais foram realizadas, lançadas ao mercado dois anos depois e o sucesso veio rapidamente. Hoje se produzem cerca de 420 mil garrafas anuais e os troféus e medalhas começam a se amontoar. Para quem não conhece, recomendo a visita, o lugar e os vinhos merecem atenção sem desmerecer o atendimento muito simpático e eficiente, porque isso é essencial!

Já esteve presente no Brasil, porém em função do fechamento da importadora, busca outro representante para nossas terras e eu espero que achem logo, pois seus vinhos valem muito a pena, dois deles em especial são grandes destaques e vinhos inesquecíveis. Localizada em Lujan de Cuyo em uma de suas principais sub-regiões; Agrelo, só produz vinhos tintos. Você pode ver mais da bodega clicando aqui, mas agora deixa eu compartilhar com vocês os vinhos que lá provamos e nos foram apresentados pela simpática Daiana.

Decero Malbec 2012 – Boa tipicidade, floral, taninos finos bem presentes, boa persistência e harmônico, acidez bastante equilibrada. Bom vinho

Decero Cabernet Sauvignon 2013 – Frutos negros bem presentes, especiarias, jovem, taninos firmes e elegantes, gostei muito e, a meu ver, entre os três desta gama o vinho mais vibrante que mais me entusiasmou mostrando que estas terras de Agrelo realmente dão ótimos Cabernets!

Decero Syrah 2012 – Taninos doces, especiarias, boa intensidade e textura, amável na boca, um vinho bastante agradável, bem feito e fácil de tomar.

Decero Mini Ediciones Petit Verdot 2011 – somente cerca de 12.000 garrafas produzidas e um vinho surpreendente para a maioria que o prova pela primeira vez. Não é a toa que na safra 2012 levou o Troféu de melhor Vinho de Mendoza na Wines of Argentina Awards e Melhor Vinho Argentino entre USD30 a 50! Absolutamente sedutor, na contramão de tudo o que, a principio, se espera de um varietal 100% desta uva. Sem excessos, fino, nariz intenso e boca extremamente elegante com taninos de grande finesse. Uma garrafa é pouco!!

Decero Amano 2011 – baita vinho, encantador, conheci pela primeira vez na degustação Premium da Wines of Argentina em Setembro/14 (veja aqui meus destaques) e depois voltei a prová-lo em Novembro quando em Mendoza e agora novamente. Em todas as vezes senti enorme prazer ao tomá-lo, um grande vinho, um assemblage de primeira linha em que o viés velho mundista mais tradicional de perfeito equilíbrio, elegância, daqueles vinhos que já nos seduz na primeira fungada! Blend de Malbec, Cabernet Sauvignon, Tannat e Petit Verdot é um grande vinho, complexo e sedoso na boca, fruta exuberante um vinho que me encanta e não é à toa que foi o único vinho argentino a ganhar por três vezes o troféu de Melhor Red Blend acima USD50 na Wines of Argentina Awards!!

Clique na imagem abaixo para ver o slide show da visita à Decero. Dia lindo e a imagem é a vista que tínhamos da mesa de degustações, não é deslumbrante?!

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O. Fournier – saímos da Decero e rodamos pouco mais de uma hora até chegarmos à incrível O. Fournier com seu O Fournier logoprojeto arquitetônico ímpar, moderno e marcante. Conheci a O. Fournier e o José Manuel Ortega Fournier, em uma degustação aqui em Sampa no ano passado (relatado aqui) e me encantei por seus vinhos e diversidade de uvas trazendo um pouco da cultura ibérica para este longínquo recanto de Mendoza no extremo sul do Vale do Uco. Em função do atraso, a visita á bodega e suas instalações foi algo corrido, porém sua estrutura e design, das torres de concreto que são tanques, á enorme e incrível sala de barricas e coleção de arte, um momento realmente marcante que nos deu sede e abriu o apetite para o que estava por vir, um delicioso almoço harmonizado no restaurante Urban capitaneado pela Chef Nadia, esposa do José Manuel.

Deles, no entanto, falo em um post em separado porque este já tá longo demais. Inté, saúde, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui ou em qualquer outro lugar de nossa vinosfera. Uma ótima semana para todos.

Mais Que Vinho, Um Conceito de Vida – Família Michelini

Em Mendoza existe gente fazendo coisas diferentes de forma diferente, só precisa ter a mente aberta e a indicação certa para descobrir essas coisas. Mais do que vinho, este projeto é um conceito de vida então permitam-me lhes apresentar, para quem ainda não conhece, o Matías Michelini e sua família. São quatro irmãos, três enólogos (Matías, Gerardo e Juan Pablo) e o Gabriel, que têm a pureza da terra como preceito maior, seja no vinhedo, na bodega, mesa e na vida como um todo. Mas vão além disso, são revolucionários na busca de suas quimeras e liberdade de criação.

Na primeira parada de nossa visita de Abril a Mendoza, tivemos o privilégio de sermos recebidos pelo Matías Michelini em suas novas instalações em Tupungato, no condomínio The Vines, onde ele mantém a sede da Michelini Bros em que produz com seus irmãos algumas preciosidades em seus tanques de cimento (ovos) e ânforas que ele próprio desenhou. Este novo projeto é todo biodinâmico, buscando a essência e pureza da natureza em volumes limitados. É um local para deixar fluir a inspiração e criatividade num processo de plena liberdade possuindo uma energia especial. Aqui ele pacientemente esperou por nossa chegada com quase uma hora e meia de atraso devido a problemas de voo, nos recebendo com o fogo aceso e uma taça de espumante na mão, incrível simpatia, homem de poucas palavras e muito carismático, cativou a todos os presentes. Por aqui tudo é pequeno; instalações, numero e tamanho de tanques, sala de barricas e produção, as exceções são a grandeza dos personagens e a qualidade de seus produtos.

A comida, tudo orgânico, estava maravilhosa, os vinhos divinos e os convivas radiantes, não poderíamos ter começado melhor e em pouco tempo as agruras da viagem tinham ficado para trás! Hoje, compartilho virtualmente com vocês alguns desses  momentos e os vinhos provados aproveitando para dar uma dica, quando comprarem um vinho, tentem conhecer o enólogo por trás dele. Se estiverem frente a frente com um vinho do Matías, Gerardo ou Juan Pablo podem mergulhar de cabeça pois a experiência certamente será diferente do que estão acostumados a provar de caldos mendocinos! Ainda farei uma matéria sobre eles, mas por enquanto fiquem com seus vinhos e o vídeo abaixo com imagens de nossa visita.

A Passionate Wines é um projeto do Matías tão somente e melhor nome não poderia ter escolhido, pois é fruto de sua paixão e inquietude refletida em cada garrafa. Provamos vinhos dos diversos projetos dos irmãos, porém foi através de minha introdução à Passionate Wines que aqui viemos parar.

Espumante Zorzal Extra-Brut – devido ao atendimento a um de nossos companheiros de viagem que não estava bem, perdi esta prova, porém os comentários de quem o tomou foram altamente elogiosos. Elaborado com Semillon (cerca de  2/3) com Chardonnay. Da El Zorzal e um vinho a rever!

Montesco Água de Roca Sauvignon Blanc – pura mineralidade e sutilezas num vinho único fermentado em tanques de plástico de 1000 litros! É a natureza em sua forma mais pura em Gualtallary, uma das partes mais altas de Mendoza no Vale do Uco na base dos Andes, onde a acidez também aflora. A uva é colhida em 5 diferentes momentos durante o mês de colheita, de forma a poder-se retirar delas diversas características que comporão esta obra de arte engarrafada. Limitado a 5000 garrafas ano, é um vinho único e diferenciado até no teor alcoólico, meros 9,5%!! Vibrante, sutil e elegante, adoraria ter sempre em casa! Projeto Passionate Wines

Matias Clipboard Bodega

Calcáreo Bonarda – fermentado em ânforas desenhadas pelo próprio Matías, únicas no pedaço, uvas advindas de um vinhedo orgânico de Gualtallary plantado em 2005, amadurece em barricas de 1º e 2º uso francesas passando posteriormente por um estágio de 6 meses de garrafa antes de finalmente chegar a nossas taças. A Bonarda em sua quintessência, uva de pouco valor até cerca de 15 anos atrás, mostra aqui todo o seu valor de forma apaixonante e marcante. Mineral mostrando bem seu terroir, fruta abundante, ótima estrutura tânica e textura agradável que enche a boca, alguma especiaria, concentrado longo, um belo vinho que surpreendeu a maioria dos presentes e precisa de tempo para mostrar todo seu esplendor. Projeto Michelini Bros e produção limitada a apenas 6.000 garrafas por safra.

Demente – um projeto demente de unir uvas provenientes de quatro vinhedos distintos de Cabernet Franc e Malbec, de Diferentes alturas e solos. Depois, colhidas em tempos diferentes e adicionadas ao mosto já em fermentação. Um vinho decorrente da liberdade de criação e veia revolucionária de um enólogo em constante busca do diferente, do inusitado. O vinho arrebatou os presentes, eu já conhecia, confirmando toda a exuberância que eu já relatei; uma paleta olfativa intensa, um verdadeiro bosque de frutos silvestres com nuances florais. Entrada de boca marcante, ótima textura, acidez gostosa se fazendo presente e pedindo um teco de bife de chorizo (rs), taninos finos, final longo algo mineral e muito apetitoso. Doze meses de barrica francesa e limitado a apenas 3.000 garrafas e difícil de achar até por lá!

Já quase meia-noite e nós lá! Dó do anfitrião e sua equipe que tão bem nos recebeu, mas ele ainda tinha mais asas na manga. Como costume de alguns na Argentina, terminou a degustação com um branco seco que acompanharia a sobremesa, pouco doce, e daria uma refrescada na boca após dois vinhos tão intensos. Acho interessante esse conceito que vale usar em degustações.

Via Revolucionaria Semillon Hulk – não pela força, mas pelo verde! Sim, aqui a acidez é bem acentuada, vido de um vinhedo com pouco mais de 40 anos, sem passagem por madeira e com uma produção ínfima, não passa de 500 garrafas. Com apenas 11% de teor alcoólico, colhido cedo, preservou a fruta em sua essência. Nuances florais, cítrico, fresco e muito bem balanceado, só lamento que tão tarde e no final de uma incrível refeição e grandes vinhos tintos, muita emoção à flor da pele, não tivemos tempo de apreciá-lo com o devido cuidado. Na próxima passagem por lá vou querer comprar algumas par melhor curtir o vinho.

Matias Clipboard jantar

Bem, primeiro dia finalizado e de cara mostrando toda a diversidade de uma região produtora. Sem nenhum Malbec, viriam às taças em outros dias, mas descobrindo novos sabores pelas mãos de alguém muito especial e de uma família, tanto quanto ele, sonhadora e sem medo de ousar, nos presenteando generosamente com os frutos dessa picardia, da liberdade bem manejada e com conhecimento. Verdadeiros vinhos de autor, vinhos com alma que me fazem finalizar este texto de hoje, citando Gerado Michelini no livro do Matías (Los Otros):

Los padres son la tierra, el suelo, la raiz.
Los hermanos las ramas, los cargadores, la fuerza.
Nuestras mujeres, grandes compañeras, la brisa fresca de la mañana.
Nuestros hijos, la flor, la fruta dulce, el racimo que crece
El vino es el encuentro

Por hoje chega, já fiquei com uma saudade danada deste momento! Um ótimo fim de semana e kanimambo pela visita.

Fotos minhas e do amigo e companheiro de viagem, Godinho. Para ampliar clique nelas.

Argentina sem Malbec e Cabernet Sauvignon.

A cada viagem que faço gosto de trazer na mala algumas garrafas de vinhos provados que se destacaram na minha taça e que gosto de compartilhar com 12 de meus amigos apreciadores de vinhos, clientes e leitores do blog, são as degustações Vinhos da Mala. Desta feita o tema que escolhi é Argentina sem Malbecs e Cabernet Sauvignon e se realizará na Vino & Sapore no próximo dia 19 de Maio (Terça-feira) a partir das 20 horas. Ainda não encontrei o lugar para montar estes eventos em Sampa, então por enquanto só por aqui na Granja Viana mesmo, porém espero já em Junho ter solucionado isso, aguardem! Os vinhos provados não estão disponíveis no Brasil, salvo uma ou outra exceção e o foco, como sempre, é no inusitado e na diversidade, principal objetivo de todo o meu trabalho em nossa Vinosfera. Eis a seleção que fiz para este evento.

Ramanegra Espumante Extra-brut – os hermanos adoram espumantes extra-brut e este elaborado pela Casarena com Chardonnay, Viognier e Sauvignon Blanc , um blend inusitado, me chamou a atenção. Espero que também vos surpreendam.

Montesco Água de Roca Sauvignon Blanc– como a água que nasce entre rochas, a mineralidade é seu principal chamariz, mas tem muito mais neste vinho que mostra uma Sauvignon Blanc argentina diferente e tratada com esmero pelo Matías Michelini um enólogo revolucionário que anda na contramão das modas na busca pela pureza.

Cara Sur Criolla – poucos conhecem a uva Criolla e muito menos haverão de ter tomado um vinho elaborado com ela. Este descobri jantando no delicioso Siete Cocinas do amigo Pablo del Rio que também gosta de “viajar”! Com apenas 900 garrafas produzidas, este é um projeto dos enólogos Sebastian Zuccardi e Francisco Bugallo no vale de Calingasta em San Juan com uvas de vinhedo com mais de 80 anos de idade. Um pinot autóctone?! Só provando para tirar conclusões.

Decero Petit Verdot – Um clássico vinho que recentemente ganhou em sua safra mais nova o Troféu de Melhor Vinho Tinto de Mendoza escolhido na Wines of Argentina Awards. Divino é pouco para falar deste que mostra uma Petit Verdot mais cordata e extremamente elegante, porém sem perder sua tipicidade. Soy un incha deste vino!

Zaha Cabernet Franc – a uva da vez na Argentina e este exemplar nos vem pelas mãos de mais um enólogo importante da nova geração, Alejandro Sejanovich com uvas da sub-região de Altamira no Vale do Uco, Mendoza. Um vinho em que as uvas são colhidas em três diferentes momentos de maturação para compor uma sinfonia engarrafada. Provei e gostei, muiiito.

*Calcáreo Bonarda – mais um vinho marcante do amigo e enólogo Matías Michelini em sua nova empreitada com seus irmãos na Michelini Bros. Somente 6.000 garrafas produzidas num vinhedo de apenas 2 hectares todo cultivado de forma biodinâmica. Uma obra de arte que desperta emoções especiais com uma uva não tão nobre, mas que gera alguns grandes vinhos quando bem trabalhada. Para você conferir.

Decero Tannat – Para finalizar, deste vinho a Decero produz apenas 700 garrafas e neste caso vamos provar juntos, pois ainda não o conheço, porém não resisti e tive que trazer uma garrafa para compartilhar com os amigos presentes. Este só se compra na bodega ou na Suíça para onde os proprietários (suíços) levam o restante. Conheço ótimos Tannats argentinos de Salta, porém por Mendoza não abundam, então vamos curtir juntos esta experiência?

Sorry sold OutEsses serão os protagonistas da noite e se você, como eu, gosta de provar coisas diferentes sentir novas emoções e se deixar levar pelo desconhecido, então não deixe de participar. As vagas estarão limitadas aos primeiros 12 amigos que efetivarem suas reservas, seis ja tomadas, então não dê mole! O valor a ser pago no ato da reserva é de R$120,00 por pessoa e inclui os vinhos, água, pãozinho, queijo e chorizo espanhol, café e na Vino & Sapore o estacionamento é gratuito. O *Cálcareo virá direto da Argentina e ficamos sujeitos a que ele chegue a tempo, caso não aconteça, este será substituído por um outro grande Bonarda, o El Enemigo de Alejando Vigil, só que este já tem por aqui.

Fico no aguardo de sua confirmação, Kanimambo e amanhã tem mais. Cheers!

Saca Rolhas Degustando Tops de 2014

Desta feita a confraria Saca Rolhas escolheu como tema a minha lista de TOPS de 2014, uma tremenda honra e uma responsa danada! Mais uma razão para eu não abrir a boca e deixar a amiga Raquel falar por todos nós confrades.

Uncorking-Old-Sherry-GillrayAlém das confrarias, nosso amigo João Clemente proporciona outros encontros na sua Vino&Sapore como por exemplo, uma degustação prá lá de especial, dos melhores vinhos desarrolhados do ano. Ficamos com água na boca e taças vazias quando nos contou que o número de participantes já estava fechado. Antes que nossa tristeza tomasse corpo, alguém teve a brilhante ideia de “roubar” esse tema para o nosso próximo encontro! A lista, feita com rótulos degustados em diversas situações, tinham em comum aqueles vinhos que se destacaram, seja pela qualidade, pela novidade ou mesmo pela boa harmonização com algum prato. A noite prometia!

Um espumante australiano deu-nos as boas vindas. Elaborado com a casta Sémillon, já para nos prepararmos com a diversidade que tínhamos pela frente.
Eternity Cuvée Brut, produzido pela Westend Estate, Austrália: Bem clarinho, com borbulhas delicadas, chamou nossa atenção pela sua nacionalidade incomum a esse tipo de vinho. Seus aromas cítricos e herbáceos, conferiam ótimo frescor que compartilhavam com um bom corpo frutado, resultando num vinho muito sedutor e amigável.

Começamos a degustação propriamente dita com um mito já conhecido por nós, em outra ocasião (02/12/2013), porém de outra safra:

Viña Tondônia Blanco 1991 – Esse vinho pertence aquela categoria de brancos que sabem envelhecer. Essa garrafa de 25 anos, guardou tudo aquilo que esperávamos dele e mais alguma coisa. Desta vez, foi escoltado com jamóm serrano e queijo brie, que serviu de trampolim para suas peripécias. Um caleidoscópio de aromas e sabores intermináveis, onde a sua personalidade inusitada consegue juntar o doce, o salgado, o oxidado, o frescor, frutas e defumados, etc….. a lista é grande e muito já se falou dele aqui. E quem só o conhece de ouvir falar tem que experimentar, pelo menos uma vez na vida!

Partimos para um tinto, da conhecida bodega chilena Concha e Toro. A uva Carmenére é considerada sua maior representante, pois foi no Chile que ela foi redescoberta depois de quase se extinguir na Europa. Proveniente do Vale do Rapel, os vinhedos de Peumo produzem as melhores uvas desta casta.
Terrunyo Carmenére 2007 – Vinho muito bem feito, bem estruturado, que foge um pouco à regra do que se espera dos Carmenére chilenos. Sem perder as características da casta neste terroir, que via de regra remetem aos sabores herbáceos de pimentão, frutas maduras, entre outros, pode-se sentir tudo isso dentro de um corpo potente, porém com sutileza e elegância. Taninos e acidez presentes e bem equilibrados. Apresentou um álcool saliente de início que se dissipou com tempo na taça. Merecia uma decantação pelo potencial de evolução que apresentou.

Do Chile fomos diretamente para o norte da Espanha, mais precisamente na região de Navarra. Os produtores ( La Calandria ) recuperaram um último reduto de vinhas antigas de Garnacha com mais de 60 anos. De lá provem 4 vinhos diferentes, feitos exclusivamente desta casta: um rosé, um feito com maceração carbônica, um tinto leve e um mais potente, que representa o seu top de linha: Tierga 2010 – Esse vinho é o que se pode esperar de um retrato mais fiel de terroir e casta. Mostra toda a potencia da Garnacha, na cor muito escura, frutas maduras (geleia de cereja, ameixas pretas), especiarias (anis), notas balsâmicas e tostadas, evidenciando passagem por madeira. Tudo isso muito bem encaixado num corpo equilibrado com a acidez e taninos evidentes, bem lapidados. A produção muito baixa garante sua alta qualidade. Um vinho feito para surpreender.

De volta à América do sul, na Argentina, região de Mendoza: A Bodega Benegas produz vinhos nessa região desde 1883. E até hoje o negócio familiar se perpetua sob o comando do bisneto do seu fundador, o enólogo Federico Benegas. Seus vinhos refletem muito a personalidade do proprietário que a todo ano cria um vinho para um membro da família. Suas alquimias refletem características e vivências humanas, quase que contando histórias de vida. O resultado disso reforça e evidencia com muita diversidade e qualidade a estrutura da família. O vinho provado à primeira vista parecia um Bordeaux:
Benegas-Lynch Meritage 2006. Elaborado com Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot, mostrou-se muito fresco no nariz e uma complexidade que pedia tempo para ser destrinchada. Aos poucos aparecem frutinhas vermelhas silvestres, mostrando uma acidez que faz salivar. O corpo vai aparecendo conforme sua estrutura se abre. Madeira bem colocada, o tanino com pegada marcante e notas de alcaçuz , alcatrão e cinza. Com tempo torna-se mais opulento e consistente com muito equilíbrio e elegância. Boa persistência.

Tops 2014

Na sequencia, fomos para Portugal. A Casa Ferreirinha tem uma trajetória que quase conta a história da vitivinificação deste pais. Conhecida pelos vinhos produzidos no Douro, se destacou primeiramente pelos vinhos do Porto e após a segunda metade do sec. XX tem como ícone o Barca Velha. Esse vinho não é vinificado todos os anos e quando isso acontece recebe o rótulo do Reserva Especial. O vinho que degustamos aqui é o 3º dessa “linhagem”:
Quinta da Leda 2011 – Pela cor na taça já se pode supor a intensidade que teremos à frente. Aromas complexos que não se mostram de pronto. No primeiro gole podemos sentir a elegância e o equilíbrio entre os taninos aveludados, a acidez vibrante e o corpo potente que enche a boca de frutas, especiarias, algo de mineral e uma persistência bem longa. Puro deleite que torcemos para não acabar nunca!

Por fim, apesar de achar que se acabasse por aqui eu já estaria feliz e satisfeita, restava-nos a difícil tarefa de apreciar a melhor harmonização do ano!
Um vinho da ilha da Madeira e uma torta de maçãs com figos secos e nozes, criada pelo Ney Laux, que quem é da região da Granja Viana sabe bem do que estou falando! Madeira H&H – Boal -15 anos. Esqueça aquele vinho Madeira que a sua avó ou mãe usava para umedecer o pavê de natal! Conhecemos muito pouco destes vinhos aqui no Brasil e mesmo em Portugal é um pouco difícil de achá-los. A produção é muito pequena, além do tempo que se leva para ficar pronto. Neste caso, 15 anos. O preço é consequência de tudo isso. Mas como nessa vida tudo tem seu preço, nesse caso fica justificado quando se põe o primeiro gole na boca! Apesar da doçura, é nada enjoativo, pois a acidez faz o contraponto. É uma explosão de sabores de frutas que ficam muito evidenciadas quando comemos junto com a torta. Casamento perfeito! Um levanta o outro às alturas e o ambiente fica completamente envolto pelos aromas que sobram por não caberem neles mesmos. Felicidade é isso!