Mendel Malbec e Expand Revival

Foi através do amigo e colega enoblogueiro Cristiano do Vivendo Vinhos, gente fina e blog de prima, com o apoio do novo importador, a Expand, que tive a oportunidade de conhecer os vinhos da Mendel. Muito já se escreveu, afinal estávamos numa degustação com nada menos nada mais que dez blogueiros, mas também quero dar meus pitacos mesmo que tardios.

         A Mendel é um produtor boutique com vinhedos velhos, parte em pé-franco, sob a tutela do conceituado enólogo Roberto de la Mota. São vinhos bem pontuados tanto pela Wine Spectator quanto por Robert Parker, leia-se Dr. Jay Miller, o que aguça ainda mais minha curiosidade. O Cristiano possuía em casa uma vertical destes vinhos e decidiu convidar os amigos para prová-los. Ao saber disso, a Expand que recém tinha conquistado essa representação e distribuição exclusiva, sugeriu que essa degustação fosse realizada em suas bonitas instalações no Bar des Arts em São Paulo.

               Numa noite agradável, chegamos e fomos recebidos pela simpática e competente Ana Rita  e a Eliane Alves, que tive o prazer de conhecer, que nos serviram um gostoso e fresco Prosecco Fontini, que mesmo não chegando a empolgar, deu conta do recado e preparou nosso palato para o que estava por vir. Por sugestão do Álvaro Galvão, mais um amigo do peito e pessoa boníssima , a degustação ocorreu às cegas com todo mundo “chutando” as safras provadas – 2004/2005/2006/2007 e 2008.

    • O vinho 4, foi mais facilmente identificado pois já mostrava de forma mais clara traços de sua idade tanto na cor quanto na boca. Paixão da maioria, especialmente do amigo Álvaro,  este 2004 foi o vinho que ganhou a escolha de melhor vinho da prova, mesmo não tendo meu voto.
    • Meu preferido, o vinho 1 se mostrou muito vibrante e elegante. Jurava que era o 2006 por uma característica da safra, porém parece-me que a safra de 2007 apresentou muitos dos traços da anterior. Neste caso, de paleta olfativa mais tímida precisando de tempo na taça para abrir, boca consistente com o nariz mostrando uma harmonia muito interessante e sedutora. Taninos macios, boa fruta, cremoso e longo mostrando-se muito elegante e fino com um final de boca que pede sempre mais um gole. Definitivamente, o meu vinho da noite!
    • O Vinho 5, esse sim da safra de 2006 se apresentou bem e foi meu terceiro escolhido, depois do 2004, mostrando-se também muito elegante sem excessos ou arestas. Um caldo muito agradável de tomar.
    • O Vinho 3, da safra 2008 foi o que menos me cativou mostrando um perfil herbáceo que fugia ao padrão do resto que provamos. Taninos ainda muito jovens pedindo tempo.

              A surpresa maior ainda estava por vir, pois fomos convidados a jantar acompanhados do vinho top da bodega, o Mendel Unus. Um vinho com toda a tipicidade dos grandes Malbecs da região ao qual foi adicionado cerca de 30% de Cabernet Sauvignon que lhe aporta uma complexidade adicional. Mostrou enorme estrutura, taninos muito firmes, alto teor alcoólico num estilo potente que tanto faz a cabeça de boa parte dos consumidores brasileiros. Um bom vinho que precisa de tempo de garrafa e um pouco de paciência por parte de quem o compre, pois este é mais um caso típico em que o apressado perderá muito ao toma-lo agora pois ainda está muito fechado e o tempo que pedimos de aeração foi muito curto.

             Expand revival porque foi gostoso ver a Expand de volta á ação interagindo com formadores de opinião mostrando sua nova cara, mas sem perder a fidalguia de seus áureos tempos, ficando a presença dos dois Otávios, pai e filho, como evidencia disso. Quem gosta de vinho e do mundo do vinho, sabe que muito devemos ao pioneirismo e visão de futuro que o Otávio sempre teve seja com a famosa (importante na expansão e divulgação do vinho no país) e hoje execrada garrafa azul com vinhos alemães seja com o projeto Rio Sol no nordeste, especificamente no Vale do  Rio São Francisco. Meus agradecimentos ao Cristiano por ter-nos permitido compartilhar destes caldos e aos “Otávios” e  Expand pela cortesia e hospitalidade, foi uma noite sem retoques.

             Antes de ir embora ainda fomos mui gentilmente, como de praxe na Expand, presenteados com um Prosecco Fontini Superiore, um degrau acima do que tínhamos provado antes, e este sim um belo espumante de Valdobbiadene que seduz e dá muito prazer de tomar.

          Para finalizar, minha recomendação é procurar o Mendel Malbec 2007 no mercado, pois o vinho é muito bom e está, a meu ver, um degrau acima de seus irmãos. Como sempre faço, dou o preço que a Expand pratica em suas lojas, R$78,00 e minha percepção de valor, algo entre R$65 a 70,00.

Salute e kanimambo pela visita

Alto Uruguai, uma Nova Fronteira!

Vivendo e aprendendo, se há uma coisa que me é clara é que nossa vinosfera não pára de nos surpreender e, pelo menos eu, descobri uma nova fronteira do vinho brasileiro. Pelo que pude ver ao falar destes vinhos e região para alguns amigos blogueiros, parece-me que não sou o único o que me levou a compartilhar com vocês um pouco mais desta região vitivinícola e seu pioneiro Antonio Dias.

             O conheci nesta Expovinis  tendo seu Tannat me surpreendido muito positivamente e ainda volto para falar do vinho, mas agora  gostaria de compartilhar com vocês a história por trás do vinho e mostrar um pouco essa região denominada Alto Uruguai. Assim pelo nome poderíamos pensar que estivesse próximo ao Uruguai, mas não, está bem distante no norte do Rio Grande do Sul quase fronteira com Santa Catarina tendo como epicentro a cidade de Três Palmeiras a apenas 75 kms de Chapecó (clique no mapa abaixo para ampliar). Na verdade, o nome da região advém de sua relação geográfica com o rio do mesmo nome e não com a país vizinho.

           Altitude ao redor dos 650 metros, solo pedregoso e bem drenado, estações bem definidas, boa amplitude térmica, aparentemente estamos diante de uma região que pode gerar vinhos bastante interessantes e que tem como pioneira a Vinícola Antonio Dias que produz espumantes, e vinhos tranquilos á base de Cabernet Sauvignon, Tannat, Chardonnay, Ancelota, Pinot Noir, Merlot e Touriga Nacional sendo que alguns rótulos já estão no mercado e outros estão a caminho. São apenas cinco hectares de vinhas num projeto iniciado em 2004 e que agora começa a dar seus frutos, porém é também o inicio de uma região já que outros produtores começam a aparecer nem todos, no entanto, ainda pensando em vinhos finos.

 

           Agora volto a falar do Antonio Dias Tannat que provei porque foi um vinho que me chamou a atenção na hora que o levei à boca, mesmo sendo ao final de minha visita à Expovinis ou seja, após ter provado uma boa leva de outros rótulos de diversas nacionalidades e cepas. É um vinho marcante de taninos firmes mas muito sedosos e bem trabalhados, madeira bem colocada dando suporte e não prevalecendo sobre a fruta, boa acidez, boa estrutura, denso, rico, enche a boca de prazer e deixa um retrogosto muito agradável e de boa persistência dando-me a impressão de que, ás cegas, faria bonito em uma prova contra os mais famosos vinhos uruguaios.

          Enfim, uma nova região e um novo produtor no nosso mapa vitivinícola brasileiro a ficar de olho para acompanhar sua evolução. Eu gostei do que provei e vou querer conhecer mais e depois compartilho com vocês. Enquanto isso, se tiver a chance prove esse vinho e me diga o que achou, quem sabe você também não se surpreende.

Salute, kanimambo pela visita e nos vemos por aqui.

Vidal Fleury, Aqui e no Viva a Granja

               Fui convidado pelo Marcio, editor do portal Viva a Granja, a escrever uma coluna de vinhos no site que fala das coisas de minha querida Granja Viana onde vivo já faz 28 anos e encontrei meu shangrilá neste mundo louco que é a São Paulo metropolitana. Toda a segunda-feira publicarei matéria quase sempre inédita e que, posteriormente, virá parar aqui no blog. Alternando dicas e comentários de vinhos com wine education, iniciei minhas atividades como colunista nesta última Segunda (28), falando de uma saborosa degustação que tive a honra de participar, em que traçamos 11 rótulos da Vidal Fleury que agora nos chega pelas mãos dos competentes amigos da Vinea.

              Dentro de minha filosofia de garimpar o mercado por aqueles vinhos que nos oferecem mais do que o valor pago, ou pelo menos geram essa percepção, minha primeira matéria para o Viva a Granja, tratou de dois rótulos realmente imperdíveis em função da ótima relação Qualidade x Preço x Prazer. Desses, você vai ter que clicar aqui para ler mais, mas hoje quero falar de outros dois rótulos marcantes e que, a meu ver, talvez sejam os grandes vinhos da degustação.

             Provamos vinhos de R$56,00 a 560,00, todos muito bons. Um Condrieu muito bom, mas puxado no preço, um Côtes du Rhône básico muito saboroso por apenas R$56,00 (verdadeiro achado!), um Chateauneuff-du-Pape de muita qualidade, um estupendo Hermitage e dois Côte-Rotie (assemblage de Syrah com Viognier) que é um vinho que me encanta; o La Chatillonne 2004 que custa R$554,00 e o Brune et Blonde da mesma safra por R$328,00, ambos magníficos exemplares de Côte-Rotie mas tenho que confessar que o que me deu maior prazer foi o mais barato que me seduziu pela incrível e complexa paleta olfativa que convida a levar a taça à boca onde o vinho nos traz um enorme prazer com seu bom equilíbrio, textura gostosa completada por taninos finos que compõem um conjunto de grande elegância com um final carnudo e mineral, um grande vinho que deixa, desde já, saudades. Para mim, o melhor vinho de todos eles, mas que matou o delicioso Entrecôte de Paris que foi servido. Do ponto de vista de harmonização, o Côtes-du-Rhône Village de apenas R$65,00 matou a pau!

           Dois vinhos, no entanto, me marcaram pois são vinhos de grande qualidade por um preço que, dentro do que nos entregam de prazer e satisfação, muito em conta. O Vacqueyras, aquele que meu bolso elegeria como o vinho do encontro, e o Crozes-Hermitage, dois belos vinhos numa faixa de preços bem competitiva se olharmos o que mais existe no mercado dessas AOCs.

Vacqueyras Rouge 2007, por R$109,00 um vinho realmente sedutor e, parafraseando aquele velho anuncio,  muito “bom de boca”. Assemblage de Grenache (50%) com Syrah e Mourvédre que mostra boa estrutura e harmonia montado sobre um tripé de acidez x álcool x taninos muito bem balanceados e sem arestas. Paleta olfativa sedutora com muita fruta, toque floral, alguma especiaria e nuances terrosas. Na boca é muito rico, bom volume de boca, taninos delicados de muito boa qualidade, harmônico, boa textura, médio corpo para encorpado, boa concentração e pasmem, somente 13.5% de teor alcoólico, com um final de boca muito apetecível e longo que deixa aquela vontade de quero mais na taça. Fico pensando nele acompanhando uma perna de cabrito assada e minha boca se enche d’água!  Show de bola e a maioria dos convidados o colocou como destaque da degustação e realmente merece todos os elogios.

Crozes-Hermitage 2007, 100% Syrah de muita elegância. Os Hermitage, uma pequena colina, são vinhos bastante másculos, encorpados e de longa guarda. Os Croze-Hermitage são os vinhos que vem da colina atrás de Hermitage e estão um degrau abaixo, mas o patamar é tão alto……! Este vinho é mais manso, mais amistoso ao palato e deve ser tomado agora, quando já nos dá muito prazer, e nos próximos dois a três anos imagino eu. Teor alcoólico muito educado, para os dias de hoje, com 13%, equilibrado, frutas negras e couro no olfato, algo defumado na boca, salumeria, taninos aveludados e um final saboroso de boa persistência e elegante. Um vinho que surpreende e custa R$112,00, um boa compra.

              Por hoje é só. Amanhã é dia de post com a degustação virtual da Confraria em que diversos amigos blogueiros e eu, estaremos comentando e compartilhando com os amigos nossas impressões sobre vinhos Sauvignon Blanc sul-africanos. Até lá. Salute e kanimambo pela visita.

Viña Sastre na Ville du Vin

                       Faz já mais de uma semana que vinha ensaiando este post com minhas impressões sobre esse saboroso encontro que tive a convite dos amigos Juan e Javier da Peninsula, importador exclusivo desta conceituado produtor da Ribera Del Duero. Sim, este é mais um post sobre vinhos de Espanha, vinhos que quem não conhece deve colocar em seu wish list.

Falemos no entanto da Ville du Vin, uma das mais importantes redes multimarcas especializadas na venda de vinhos finos com diversas lojas em São Paulo e em Vitória. Recentemente estive em sua bonita loja do novo shopping Vila Olimpia, no bairro do mesmo nome na zona Oeste de Sampa, mas foi na sede da Vila Nova Conceição, onde também existe um bistrô, que a degustação foi realizada. O lugar é muito aconchegante e repleto de bons vinhos e muita diversidade, alguns deles verdadeiras preciosidades. Preços bons, ótimas promoções, um lugar que vale a pena visitar. Fica na Diogo Jácome 361, tel. 3045.8137.

                       Bem, mas vamos ao que realmente nos interessa, la bodega y  los vinos!  Considerando-se de onde vem, uma bodega infante nascida em 1992 em La Horra, vilarejo próximo a Burgos no centro da Ribera a cerca de 840 mts de altitude, zona muito fria. Projeto novo, porém de família vinheteira de ligações com a terra desde os anos 50. Com 57 hectares dos quais somente 47 ativos onde se plantam a Tempranillo conjuntamente com Cabernet-sauvignon e Merlot (três das seis cepas autorizadas pela denominação), produção orgânica (ainda não certificada) e uso de leveduras naturais, produz cerca de, apenas 300.000 garrafas ano com um total de 8 pessoas que acompanham as fases da lua no processo produtivo, seguindo importantes parâmetros da biodinâmica também. Operação enxuta que visa qualidade acima de tudo. Quem provar estes vinhos sentirá isso no palato! Provamos quatro de seus seis rótulos, um melhor que o outro, mas desde o “mais simples”, vinhos de grande qualidade e personalidade e claramente diferentes entre si. Digo isto, porque não é tão incomum assim provar diversos vinhos de um mesmo produtor e não conseguir sentir a diferença entre os produtos, numa forma meio padronizada de ser!

Viña Sastre Roble 2008, passa 10 meses em barricas de segundo uso e é elaborado com 100% Tempranillo colhido de vinhedos com idade entre 17 e 30 anos. Surpreendentemente macio e de taninos finos já equacionados, muito saboroso, equilibrado, boa persistência, um vinho difícil de não agradar que tem sido muito elogiado em um dos restaurantes em que o coloquei na carta. Ótima opção de gama de entrada com boa relação custo x prazer, estando no mercado por volta dos R$80,00.

Viña Sastre Crianza 2004, de uma grande safra na região, em podendo é vinho para se comprar de caixa e uma das melhores opções de crianza no mercado, passando 14 meses em barricas novas de carvalho francês . É de lamber os beiços, mas falemos dele. Não é um degrau acima do roble, é uma escadaria e olha que o roble já é muito bom! Produzido com uvas de vinhedos entre 20 e 60 anos de idade, mostra-se muito complexo tanto no nariz como na boca numa harmonia digna de elogios.  No palato uma riqueza de sabores ímpar, boa textura e volume de boca, fruta madura, terroso, taninos aveludados de grande qualidade ainda presentes dando-lhe estrutura, boa acidez e um final longo com toques minerais que pede bis. Outros melhores estariam por vir, mas este fez a minha cabeça e me seduziu. Para quem gosta de pontuação, este está no Guia Penin com 91 pontos e custa ao redor de R$130 no mercado, valendo cada tostão! Difícil encontrar outro crianza por esse preço que gere este nível de prazer, pelo menos dos que eu já provei.

Pago de Santa Cruz 2004, entre os quatro, talvez o vinho mais “másculo” dos quais são produzidos tão somente 15.000 garrafas anualmente. Elaborado com tempranillo de videiras com mais de 70 anos advindos de uma só parcela localizada numa colina da propriedade, é envelhecido em barricas novas de carvalho americano onde permanece por 18 meses e mais um período em garrafa antes de sair para o mercado. Já comentei este vinho anteriormente e só veio confirmar todas as minhas primeiras impressões, um grande vinho que consegue mesclar bem potência com elegância, encorpado, musculoso, com grande volume de boca, untuoso e carnudo, taninos aveludados, terroso e um final em que aparecem especiarias e frutos negros com enorme persistência. Um vinho de primeiríssimo nível com preço na mesma linha, cerca de R$420,00.

Regina Vides 2001, se o pago é o vinho “másculo”, este é seu oposto, o mais feminino dos vinhos provados, e que vinho! Somente são produzidas cerca de 6.000 garrafas ano com uvas de mais de 90 anos cultivadas em três parcelas. Fermenta em inox e depois faz a malolática em barricas novas de carvalho francês de primeiro nível. Paleta olfativa complexa, porém com maior destaque para suaves especiarias, fruta madura e algo de baunilha. Daqueles vinhos para sentar e curtir nas calmas, vinho de reflexão, profundamente elegante e fino, frutado ( no nariz é mais compotado do que na boca) grande equilíbrio entre taninos sedosos e boa acidez, rico e um final mineral que seduz. Para quem pode, preço ronda os R$990,00, um grande vinho de uma das melhores safras espanhola de muitas décadas e tendo a acompanhar Parker e Penin que lhe deram mais de 92 pontos.

                  Tenho um cliente que diz não gostar dos vinhos da região do Douro/Duero. Creio que ainda terei que lhe oferecer um Viña Sastre Crianza às cegas! Grandes vinhos que merecem um espaço em sua adega e na sua taça, na minha já estão. Ah, você pergunta, mas se são todos tempranillo porque produzem Cabernet e Merlot? Boa pergunta que não fica sem resposta. Para elaborar o vinho top da bodega, o Pesus, um dos principais vinhos espanhóis da atualidade o qual ainda não tive a oportunidade de provar, sendo rótulo para um publico muito limitado. Pouquíssima produção, qualidade excepcional e um preçinho que é de doer, inclusive lá!

Salute e kanimambo

Vinhos de Espanha I – Señorio de Sarría

Já disse e repito, se pudesse ter uma loja só com produtos enogastronomicos Ibéricos, viveria nas estrelas. No entanto, isso é um pouco mais complicado do que parece e requer uma especialização e caixa que estão longes de minhas posses. Fico então, como “mero” consumidor me deliciando com a rica e diversa gastronomia assim como sorvendo os bons caldos hoje disponíveis no mercado.

                De Portugal, há muito que nos deparamos com bons rótulos de preços bem acessíveis e algumas verdadeiras estrelas de nossa vinosfera, inclusive alguns grandes vinhos brancos que poucos ainda conhecem.  Da Espanha era um pouco diferente. Primeiramente, os produtores espanhóis sempre eram muito bem vendidos especialmente nos mercados de maior consumo como Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, entre outros, ficando o Brasil como um mercado de menor interesse e de menor investimento. Segundo, as importadoras não davam muita bola e eram poucos os rótulos que aqui chegavam, na maioria de vinhos mais caros o que deu a estes vinhos, uma áurea de vinhos de elite e, por último, creio que o mercado por falta de conhecimento e disponibilidade, também não se interessava muito.

                  Tudo isto vem mudando rapidamente depois que a crise tomou conta dos mercados internacionais, havendo a necessidade de os produtores buscarem novos nichos no mercado mundial e o importadores viram nisso uma oportunidade tendo aumentado em muito o número de rótulos espanhóis em seu portfólio. Antigamente restrito a Rioja e Ribera Del Duero com os eventuais brancos de Rueda e Rias baixas na Galícia e rosados de Navarra, agora se encontram vinhos de boa qualidade e bom preço de todas as regiões. Toro, Bierzo, Cigales, Penédes, Priorato, Navarra, Jumilla enfim, uma imensidão de rótulos e origens para tudo o que é preço e gosto. Estive em uma degustação divina da Viña Sastre (Ribera Del Duero) realizada nas bonitas instalações da Ville du Vin em Moema com o apoio do Juan e Javier da Peninsula, a qual comentarei na semana que vem, mas hoje quero falar de algo absolutamente novo no mercado; a Import Gourmet e os Vinos da Señorio de Sarria.

              Esta empresa recentemente instalada por aqui, nos traz vinhos e produtos gastronômicos espanhóis, tendo sido uma grata descoberta em meus garimpos para compor portfólio da Vino & Sapore. Possui diversos vinhos, outros estão por chegar, em diversas gamas de qualidade. Eu tive oportunidade de degustar diversos, entre eles três rótulos de que gostei bastante com um, em especial, que me encantou. Da linha mais básica, com preço em lojas que deve chegar ao redor de R$50, o Señorio de Sarria Rosado e o Crianza, assim como da linha mais alta, o Viñedo 7 que é um varietal de Graciano.

Señorio de Sarría Rosado 2008 – eles possuem um premiadíssimo rosado (Viñedo 5) que é considerado como um dos melhores de Espanha na atualidade, mas eu gostei bastante deste chamado básico. Foge um pouco daqueles aromas mais comuns de morango e cereja frescos, leves e meio adocicados, mostrando alguma evolução tanto no nariz como na boca, mostrando-se mais complexo e interessante, cremoso, saboroso e muito agradável. Sua ótima acidez o faz uma boa companhia para pratos mais ligeiros, saladas, frutos do mar grelhados, paella, salmão e até um peru á califórnia acho que casaria legal. Por vinhos como este é que a região ganhou fama de produtor de belos rosés.

Señorio de Sarría Crianza 2006 – incrível que já se encontrem crianzas no mercado nesta faixa de preços, lembrando que um vinho crianza passa por 18 a 24 meses de envelhecimento entre barricas e garrafa. Neste caso, um vinho bastante interessante fruto de um corte de Tempranillo e Cabernet Sauvignon que passa por doze de barrica e seis em garrafa com um resultado muito agradável mostrando uma paleta olfativa de frutos do bosque negros (mirtillo/framboesa) com toques balsâmicos e algo herbáceo de fundo. Na boca a fruta aparece mais, de forma muita fresca apoiada numa acidez gastronômica que deixa um final de boca muito apetitoso e chamativo à próxima garfada. Bom volume de boca, taninos aveludados, um vinho que, se não é nenhum  blockbuster, certamente faz bonito á mesa e é fácil de se gostar.

Viñedo Nº 7 2005 – pulamos alguns degraus e provamos um vinho que, tenho que confessar, jamais tinha provado em varietal. A Graciano é comumente usada nos cortes das diversas regiões espanholas assim como a Garnacha, mas um 100% Graciano, foi minha primeira vez e adorei! Tem o estilo de vinho que me seduz; riqueza de aromas e sabores, taninos finos, equilíbrio e uma tremenda elegância, um vinho que deveria vir vestido de fraque e cartola.  Nariz de boa intensidade em que sobressai uma fruta vermelha fresca, algum alcaçuz e nuances de terra molhada que convidam a levar a taça à boca. De boa estrutura e volume de boca, possui taninos suaves e sedosos, rico, frutado, harmonioso, longo e muito delicado com um final mineral com toques de baunilha muito sutis, um vinho absolutamente sedutor que deverá estar nas lojas por volta dos R$100.

                Eles possuem diversos outros rótulos, alguns dos quais fiquei curioso de provar, sendo um produtor para se ficar de olho. Vinhos de Espanha, certamente vinhos a serem provados e apreciados, tenho gostado muito do que tenho visto e degustado, então este será o primeiro de uma série de posts com vinhos deste importante país produtor quando comentarei alguns dos frutos do garimpo. Por hoje é só, salute, kanimambo e tenham um ótimo fim de semana.

Gam Affari e gli vini d’Italia

            É, no ano passado bem que me faltou uma maior litragem de vinhos italianos, mas gradativamente começo a compensar essa falha. Tenho provado muito para definir os vinhos italianos que colocarei em meu portfólio e entre eles, os vinhos trazidos pela simpática Antonella da Gam Affari. Os vinhos dela não estão em loja, ainda, mas podem ser apreciados nos bons restaurantes de Sampa como o Bassi, La Tambouille e la Vechia Cucina entre outros.

           O portfólio da importadora ainda é pequeno, mas tive o prazer de tomar três de seus rótulos, um de uma cantina em Montalcino e outra da região de Chianti porém ambas do mesmo proprietário o Sr. Giannelli. No Inicio dos anos setenta, a família decidiu se concentrar nas atividades de desenvolvimento da pequena fazenda que possuíam próximo a Florença. De lá para cá, reformularam vinhedos, investiram em tecnologia e numa nova cantina, compraram terras em Montalcino (azienda Canneta) e por ultimo em Maremma.

               Comecei provando um I Mori Chianti DOCG 2007, boa safra na região, em uma prova com mais cerca de 20 vinhos. Corte típico da região com uma maior participação de Sangiovese e 10% cada de Canaiolo e Colorino duas cepas coadjuvantes, mas essenciais aos bons chiantis.  De bom corpo, taninos já domados, boa fruta vermelha no nariz, algo terroso, saboroso e bem feito, todavia não chega a arrancar suspiros. Certamente uma boa companhia para uma pasta com molho de tomate.

Dias depois, num jantar em casa de amigos, levei o Canneta Rosso de Montalcino DOCG, também 2007 que se mostrou muito bem. Aguardava um vinho com uma certa austeridade e muito encorpado, mas o que chegou na boca foi algo muito diferente. Ficamos agradavelmente surpresos por sua maciez e elegância, taninos muito finos e sedosos, delicado, harmônico e sutil, mostrando caracteristicas quase femininas. A paleta olfativa não possui grande intensidade, mas mostrou-se igualmente delicada e sedutora. Um belo vinho que merece um bom prato e um jantar á luz de velas tendo se dado bem com as massas recheadas.

               Para finalizar, um Chianti Riserva DOCG 2005 que, a meu ver, foi o melhor dos três vinhos provados mostrando-se com toda a garra e exuberância que espera de um vinho deste porte, bastante complexo, ótima estrutura, bom volume de boca e riquissímo. A Sangiovese é maestra, mas neste corte vai um tico de merlot que parece deixar sua marca dando-lhe uma complexidade diferente que me encantou. Daqueles vinhos que enche a boca de prazer combinando ótima estrutura e bom corpo com finesse, coisa que me pareceu uma característica deste produtor, frutado e muito bem equilibrado por uma acidez presente que clama por um bom prato. Um vinho que certamente teria espaço em minha adega e que recomendo tranquilamente.

           Pelo que a Antonella me disse, o vinho deles que vem arrebatando corações, é mesmo o Moresco IGT 2003 que o amigo Paulo Queiroz teve oportunidade de provar e comentar aqui. Enfim, mais um a conferir e a Gam Affari está de parabéns pela escolha, só falta estar mais disponível nas lojas especializadas.  Salute e caso deseje comprar estes vinhos ou saber mais sobre eles, contate a Gam através do e-mail: gam@gamimports.com.br ou ligue para (11) 5080-3816.

           Ainda nesta semana o resultado do incrível Desafio de Petit Verdot quando tivemos a oportunidade de provar dez ótimos exemplares num belo encontro realizado lá no restaurante Ávila.

Fui Rever um Barolo e Descobri um Barbaresco

A convite dos novos importadores da Batasiolo no Brasil, a Ferace Distribuidora (ex-franquia da Expand) do Rio de Janeiro e seu distribuidor em São Paulo a Ravin, estive presente num agradável jantar no La Vechia Cucina de Sergio Arno. A primeira surpresa da noite estava á porta do salão, quando me deparei com o amigo e mentor de meus primeiros passos no mundo do vinho, o Ângelo Fornara que já algum tempo trabalha para os irmãos Dogliani, proprietários deste importante grupo produtor, que possuem um dos poucos sites de produtores internacionais com a opção do idioma português. Sempre bom rever os amigos e brindamos com um espumante delicioso que me encantou e seduziu por seu refinamento;  Batasiolo Método Classico Dosage Zero – Chardonnay (75%) com Pinot Noir vinificados em separado quando após cerca de 8 meses em tanques de aço, os enólogos decidem o cuvée mediante a assemblage dos dois vinhos com a segunda fermentação sendo efetuada em garrafa  como manda o figurino. A perlage é abundante, fina e persistente, ótima mousse, complexo, longo, muito frescor e seco na medida certa, um belo exemplar de espumante que, se o preço estiver bom já que ainda não chegou para comercialização, deverá estar nas prateleiras da Vino & Sapore.

Essas, no entanto, foram só as primeiras surpresas da noite, pois tinha mais por vir:

Chardonnay 2007, uma ótima companhia para um Tartar de Vitelo muito saboroso que demonstrou claramente o que ocorre quando a harmonização é perfeita, o ganho de sabor e êxtase é geométrico! Uma maravilha esta combinação, não só pela maestria do Chef, mas também pelas ótimas qualidades de um vinho muito bem feito onde os 6 meses de carvalho serve de aporte a uma paleta olfativa muito frutada e um palato muito balanceado, de bom volume de boca e boa acidez. Após os seis meses de barrica, passa ainda mais seis em garrafa. Muito agradável, um vinho elaborado com uvas da região do Langhe crescendo entre os vinhedos de Nebbiolo.

Babaresco 2006, me seduziu pelo nariz e me encantou no palato onde se mesclou maravilhosamente ao Risoto de Funghi com Fonduta de queijo Brie. Doze meses de carvalho em barricas de 750 ltrs, mais doze meses de guarda e afinamento na garrafa dão luz e brilho  a este vinho que encanta pelo nariz complexo onde aparecem nuances animais, tabaco, com notas terrosas e florais, até algo tostado. Na boca é vibrante, taninos suaves e sedosos, rico, estrutura e secura no ponto, sem exageros nem excessos, tudo no ponto tendo como resultado uma perfeita harmonia. Na minha modesta opinião, o vinho da noite e mais um que terá que fazer o caminho até a Granja Viana para se aninhar nas prateleiras da Vino & Sapore.

Barolo Corda della Briccolina 2003, derivado de um “vigneto” de apenas 1,63 hectares situado no território de Serralunga d’Alba no coração da região de Barolo. É um de meus Barolos preferidos da Batasiolo, o outro sendo o Cerequio, uma outra belezura. Já tinha feito uma degustação com os Barolos deste produtor há dois anos, tendo escrito uma matéria sobre o assunto. O mesmo 2003 que tomei na degustação anterior evoluiu de forma diferente e, não sei se para melhor. Está mais pronto, mas me pareceu que perdeu um pouco daquele vigor, mineralidade e frescor que me seduziu na primeira degustação, ou será que fiquei mais exigente e chato? Segue sendo um grande vinho, mas eu o tomaria agora até no máximo 2012, depois não sei.  De vinhedos com mais de 45 anos, passa por no mínimo 24 meses de carvalho francês resultando num vinho de muito bom corpo, mas fino e elegante que cresce muito com o tempo em taça mostrando um final aveludado e mineral, mesmo que sem o “vibe” de dois anos atrás.

Moscatel Tardio e Moscato d’Asti , dois vinhos brancos de sobremesa para acompanhar uma Panacota com Calda de Frutas Vermelhas e Gengibre. O Moscatel, mesmo que muito bom, ficou um pouco abaixo da panacota devido á ausência de uma maior acidez. Já o Moscato d’Asti Bosc Dla Rei, meu velho conhecido de cara nova, com uma acidez estupenda, algo frisante na entrada de boca, casou maravilhosamente com a sobremesa mostrando-se muito harmônico e vibrante. òtima companhia como sobremesa assim como aperitivo num encontro informal, chá da tarde (rs). Vai faltar prateleira!!!

Ótima companhia, ótimos pratos, belíssimos vinhos, como diz o amigo Didu, deve ser uma pé ser vendedor de parafusos! Como os ingleses dizem, “cant get much better than this”, mas ainda bem que em nossa vinosfera sempre existirá uma nova surpresa ao virar a esquina, mesmo que a mesma de sempre.

Salute e kanimambo.

Perez Cruz na Wine Company

                   Uma vinícola chilena de primeiro nível, moderna, sem o tamanho das outras, mas ancorada em estreitos parâmetros de qualidade. Trazendo o vinho com exclusividade para o Brasil, a Wine Company, uma empresa que há muito prima por comercializar bons vinhos por bons preços. Tive a oportunidade de degustar a linha completa de seus produtos e verificar que realmente, minhas experiências anteriores estavam corretas, estamos diante de belos vinhos e alguns se destacaram.

                  Em um evento realizado pela amiga e competente Denise Cavalcante no Sofitel, em que nos deliciamos com um belo Buffet de entradas e sobremesas, enquanto para acompanhar os saborosos vinhos servidos nos foi servido um Carré de Cordeiro divino.  A vinícola fica situada na região de Maipo Alto a apenas 45 kms de Santiago o que, por si só, já invoca a uma visita. Empresa ainda recente, engarrafou sua primeira safra em 2002, possui uma bodega moderna e de altíssimo nível. São 140 hectares de vinhedos em que a Cabernet Sauvignon é maestra com 85% das vinhas, porém lá se encontram também Carmenére, Merlot, Syrah, malbec (que eles chamam de Cot) e Petit Verdot. Todas as parcelas são trabalhadas com baixos rendimentos (de 3.5 a 8 tons/ha) e a colheita feita à mão o que resulta em vinhos de muito boa concentração e profunda elegância. Como quem dorme em berço esplêndido pode acordar no chão, eles já se movimentam no intuito de buscar novas cepas que se adaptem a seu terroir e já se encontram experimentando com Mouvédre e Grenache na busca do inusitado, do diferente.

           Para que tenhamos uma idéia de tamanho, pensemos que sua produção anual é hoje de cerca de 60.000 cxs de 12 garrafas com planos de chegar a 100 mil dentro de um par de anos mais, o que significa um dia da produção da Concha y Toro! Agora falemos dos vinhos:

           O rótulo de entrada na pequena família de produtos da Perez Cruz é o Reserva Cabernet Sauvignon que é responsável por 75% da produção da vinícola. É um vinho de muito boa tipicidade, frutado, taninos redondos, macio, muito equilibrado com um final muito agradável, porém um pouco curto. Um belo Cabernet chileno por um preço bem acessível, por volta dos R$65,00

          Depois entramos na família Limited Edition composta pelo Cot (Malbec), Carmenére e o Syrah.  O Cot, com uma produção pequena de cerca de 18.000 garrafas, segue o padrão desta cepa no Chile em que, cada vez mais, geram vinhos em que a elegância supera a potência. Este se mostrou algo resinoso ao nariz, mostrando aromas sutis de fruta madura. Na boca é fino e mineral. O Carmenére com uma produção de cerca de 40.000 garrafas anuais de vinhedos de baixo rendimento, é um bom vinho, porém não chega a encantar. Agora, o grande vinho deles desta gama de rótulos é, em minha opinião, o Syrah. Não é de hoje que falo deste vinho e este encontro só veio confirmar tudo o que penso dele. Com uma produção anual de cerca de 24.000 garrafas, mostra todo aquele pacote típico dos bons Syrahs – fruta fresca/especiarias e ervas aromáticas formando uma paleta olfativa sedutora. Taninos muito finos, harmonioso, elegante, encorpado no ponto, sem excessos nem arestas, ótima textura, um vinho que dá grande satisfação tomar, com um final muito apetecível e longo. Um dos melhores Syrahs chilenos que mereceu 92 pontos da Wine Spectator e, se tivesse que pontuar, certamente seria em torno disso. Preço desta linha está em torno dos R$125,00.

            Na linha de vinhos top de gama, dois rótulos muito especiais e, como todos os vinhos nesta faixa, de alto valor o que os tornam em vinhos para poucos. O Liguai, potentoso corte de Syrah, Cabernet Sauvignon e Carmenére , é um grande vinho elaborado com uvas de baixíssimo rendimento, em torno de 3,5 tons/ha, que passa 16 meses em barricas. Após cerca de 6 meses se faz o corte, ficando o vinho a evoluir já pronto em barricas pelo restante do tempo. Muito aromático, taninos finos e sedosos, grande estrutura, é vinho para muitos anos de guarda com um preço em torno dos R$200,00.

            O topo da pirâmide é ocupado pelo excelente Quelen que me seduziu faz dois anos e segue me encantando a cada esporádico gole que tomo. Uma pena que o preço em torno de R$300,00 não seja mais acessível, mas é resultado da pouca disponibilidade mundial versus grande demanda. O corte é exótico com uma maior participação de Petit Verdot acompanhada de Carmenére e Cot (malbec). Muito boa intensidade aromática, algo herbáceo, boa concentração e ótima estrutura, harmônico, entra potente e com grande impacto, amaciando na boca com um delicioso e muito longo final de boca. Um vinho de boutique, raro, um grande prazer e um grande privilégio ter oportunidade de voltar a tê-lo na minha taça.

            A Wine Company passa por uma reformulação de seu portfólio, mas fez questão de manter esse produtor de grande nível, sábia decisão.  Vinhos de qualidade, desde a gama de entrada até o topo de linha. Meus preferidos são o Cabernet Sauvignon Reserva, uma bela relação Custo x Beneficio e o Syrah que a meu ver é um dos melhores do Chile. Os outros dois são para quem pode!

Salute e kanimambo.

Roda, Roda, Roda …..

               Nada a ver com Chacrinha nem mudança de ano, até porque o encontro com a Bodegas Roda e seu diretor comercial de exportação, o simpático Gonzalo Lainez Gutierrez, realmente se deu no ano passado! Uma deliciosa degustação vertical do Roda  II, que desde 2002 simplesmente mudou para Roda Reserva. A Bodegas Roda (nome originado das primeiras duas letras do sobrenome de seus proprietários – ROtland e DAurella) da região de Rioja na Espanha, é uma vinícola com cerca de 160 hectares de vinhedos entre próprios (60%)  e controlados por eles, distribuídos entre 28 ecossistemas que variam entre 380 a 650 metros de altitude onde se encontram plantadas as cepas Tempranillo, Garnacha e Graziano, sendo três na Rioja Baja e os restantes vinte e cinco na Rioja Alta.

             Exportam 50% de sua produção (Suiça, Reino Unido, Russia, Alemanha, Estados Unidos e Brazil entre outros) e a filosofia é de elaborar vinhos mais modernos sem perder a essência e elegância dos vinhos da Rioja. A produção iniciada em 1992, gera três rótulos o Roda Reserva, Roda I e Cirsion , este último o seu mais importante vinho. A degustação vertical contemplou as safras de 1999, 2000, 2001 e 2002 , degustação esta que o Gonzalo batizou de Luzes & Sombras em função das características de cada safra:

  • 1999 – ano muito difícil com frio excessivo ao norte.
  • 2000 – ano médio com calor mediterrâneo.
  • 2001 – ano fantástico em que tudo deu certo.
  • 2002 – ano terrível em que quase tudo o que podia dar errado, deu.

A madeira, essencial aos vinhos da Rioja, está lá dando suporte aos taninos e acidez para produzir vinhos equilibrados e de boa guarda. A cada ano, escolhem os 17 melhores vinhedos, entre os 28 existentes, com os quais elaboram seus três rótulos. Porquês dos melhores 17, porque este é também o número de balseiros disponíveis na vinícola. Os vinhos são ótimos e cada  um deles apresentou características diferentes mostrando bem o impacto do clima de cada safra:

Roda Reserva  1999, na minha opinião já passando de seu apogeu mas ainda com mais um ou dois anos para ser apreciado, foi o vinho mais encantador de todos neste momento. Um vinho mais complexo, algo mineral, corpo médio com taninos de grande finesse e aquela personalidade muito característica presentes nos grandes vinhos da região, apesar de um pouco curto na sua persistência,  mostrando nuances tostadas e algo terroso. Meu amigo Emilio que adora vinhos de idade, iria se lambuzar todo com ele! Eu gamei e possui somente 13% de teor alcoólico totalmente integrado e equilibrado. Um estilo de Rioja que faz mais a minha cabeça.

Roda Reserva 2000, um vinho mais fechado tanto na nariz quanto em boca, mais denso com fruta mais presente e com maior intensidade. Um vinho que se mostrou bem equilibrado, sedoso, madeira e fruta bem integrados, concentrado, mineral mais presente com um final em que apareceram notas de chocolate, mostrando um estilo mais moderno do que o 99. Deve evoluir bem nos próximos dois anos.

Roda Reserva 2001, talvez o melhor vinho mostrando uma paleta olfativa de boa intensidade e bem frutada, muita complexidade, uma boca de ótimo volume, muito rico, longo, boa acidez  mostrando-se ainda algo viril porém com um toque de elegância que creio ser um exemplo claro do que a vinícola busca na elaboração de seus vinhos. Um ótimo vinho hoje, mas que com mais uns dois ou três anos de garrafa certamente mostrará melhor todo o seu glamour. Certamente o melhor exemplo da filosofia da Bodega conseguindo unir a modernidade e o clássico da região.

Roda Reserva 2002, muito bom, mas perde nesta comparação direta com seus irmãos mais velhos. Mesmo com a competência dos enólogos em ano tão difícil na Espanha, o vinho se apresentou menos intenso, mais ligeiro, taninos sedosos, saboroso, franco de menor complexidade e mais fácil de agradar desde já.

              Os vinhos são elaborados com um corte de Tempranillo, Garnacha e Graziano, de vinhedos com mais de trinta anos de idade, passando um mínimo de dezesseis  meses em barrica e vinte em garrafa antes de serem colocados no mercado. Ao todo, vinhos muito saborosos que nos deixam pensando como serão seus irmãos mais graduados, especialmente o Cirsion , um 100% Tempranillo elaborado com uvas de plantas especiais, mais antigas e escolhidas à mão. O Kit degustação (para você fazer seu próprio vertical), assim como toda a linha da Bodega, está disponível nas 40 lojas da Expand, seu exclusivo importador e distribuidor para o mercado Brasileiro.

Salute e kanimambo

Altorfer, um Suiço em Mendoza.

         Ou será em São Paulo? Na verdade, um pouco aqui um pouco lá! É a história de muitos hoje em dia num mundo cada vez menor e mais cosmopolista. Estes seres cosmopolistas descobrem Mendoza trezentos anos depois dos jesuítas que viram nestas terras uma série de vantagens para a produção de vinhos, e transformam a região numa grande babilônia. Felix Martin Altorfer é um desses seres que após longa carreira como executivo de multinacionais com grande atividade na América do Sul e vivendo em São Paulo, reúne um grupo de investidores e opta por produzir vinhos de qualidade em Mendoza tendo como um de seus principais mercados sua terra natal, Suiça.

         De um bate-papo num encontro de amigos, nasce o contato de Don Martin com a Cátia Betta e Giselda Badelucci da Wine Lover´s (os mesmos que venceram meu Desafio de Uvas Ícones com seu Pezzy King 05, um saboroso Zinfandel) que iniciam as importações destes vinhos da Viñas Don Martin. Foi num português fluente, para minha surpresa inicial, que Don Martin nos recebeu junto com as anfitriãs no aconchegante Bela Sintra para um almoço informal com meia dúzia de pessoas do setor, entre eles os colegas Jeriel e Álvaro Galvão assim como o amigo Walter Tommasi da Revista Freetime (link aqui do lado).

        É em Alto Agrelo, região privilegiada de Mendoza de onde vêm alguns dos melhores caldos argentinos, que Don Martin comprou 60 hectares de terra e iniciou sua plantação de vinhedos a partir de 2004 tendo concentrado investimento em Malbec, que representa cerca de 50% das vinhas, mais Cabernet Sauvignon, Syrah, Petit Verdot e Chardonnay. Em 2008 foram  produzidos algo ao redor de 80 mil litros (120 toneladas de uva) com um pouco mais disso sido vendido a terceiros. Para assessorá-lo neste empreendimento, o enólogo Roberto de La Motta com uma muito bem sucedida na Chandon da argentina com o vinho Terrazas e que hoje possui sua própria bodega (Mendel). Resultado? Surpreendente! Não só pelos vinhos, mas essencialmente por uma política comercial sã que nos apresenta bons vinhos com preços justos e muito convidativos.

          Neste gostoso almoço, não só pelo local e comida mas especialmente pelas pessoas presentes, tivemos oportunidade de provar dois rótulos dos cinco produzidos pela Vinas Don Martin sob a marca Fincas Altorfer, o Malbec 2007 e o corte Malbec/Cabernet Sauvignon 2007 que são os que a Wine Lover´s presentemente está trazendo. Afora estes dois, os produtore elaboram um roé de Malbec, um Syrah e um Cabernet Sauvignon que me deixou bastante curioso já que tenho gostado muito dos cabernets desta região que acho, inclusive, superiores aos Malbecs. Outros rótuloscomo o Chardonnay e uma linha reserva,  virão, mas há que aguardar. De qualquer forma falemos destes vinhos provados que me agradaram muito e recomendo aos amigos como duas ótimas opções numa faixa de preços que requer muito garimpo. Muito boa relação Qualidade x Preço x Prazer.

Finca Altorfer Malbec 2008 – com imperceptíveis 14,9% de teor alcoólico, um vinho que prima pelo equilíbrio. Normalmente não costumo comprar vinhos, que não conheça, com tal teor de álcool, já que é difícil produzir vinhos tão potentes sem perder a elegância que é um dos predicados que busco nos vinhos que compro e recomendo. Pois bem, de la Motta acertou a mão, o vinho mostra a concentração de fruta vermelha tipica que se busca no Malbec, porém sem exageros , taninos ainda presentes, pois o vinho ainda está bastante jovem, porém finos, aveludados, sem qualquer agressividade com uma acidez apetitosa no palato e diria, até algo delicado.

Finca Altorfer Malbec/Cabernet 2007 – um teor de álcool mais “civilizado”, apesar de ainda algo alto com 14,1% porém mais uma vez o equilíbrio adequado que faz com que não se note quando na temperatura adequada. Muito fruto negro, aromas tostados e algo especiarias presentes num vinho que se apresentou mais pronto nos taninos, redondo e elegante porém denso mostrando boa estrutura e uma riqueza de sabores atrativos que convidam à próxima taça. Harmônico, mais um belo trabalho do enólogo que aplica somente três meses de madeira a estes vinhos para que se agregue alguma complexidade sem que se encubra a fruta que é o principal foco.

            Por seu corpo, achei que o corte daria a melhor harmonização com o arroz de pato, porém dei com os burros n’água  (como dizem na minha terra) já que o Malbec se mostrou mais parelho para o prato, assim como o fez com o bacalhau, apesar dos taninos um pouco mais jovens. Só para mostrar que em harmonização não existem regras e que a teoria na prática acaba, invariavelmente, sendo outra. Agora vem a cereja no creme, o preço de R$48,00 que a Wine Lover´s pratica e, se for um cliente VIP (basta se associar ao clube e seguir algumas regras de compra – clique lá e confira), este valor cai para abaixo de R$40,00. Ainda bem, para nós consumidores, que ainda encontramos bom senso no mercado e tiro chapéu para o duo, produtor e importador, que entendem o consumidor mesmo tendo um negócio a tocar e miram longe.

            Para finalizar um almoço muito bem harmonizado entre vinhos, pessoas e pratos, uma bandeja de doces que é uma coisa de sonhos.  Não vou falar nada, até porque dizem que uma imagem vale mais que mil palavras e esta creio que vale por bem mais!

Salute e kanimambo.