Casa Silva visita a Assemblage Vinhos

        Tenho que confessar que nunca senti muita atração pelos vinhos da Casa Silva, produtor chileno, que tem como seu enólogo principal o Mario Geisse, maestro de alguns dos melhores espumantes brasileiros. Quando isso acontece gosto de conferir porque muitas vezes tendemos a generalizar situações baseado em alguma má experiência e já fazia tempo que não tomava estes vinhos. Tenho que confessar que me surpreendi e revi posição.

Chilean Vineyards

       A Casa Silva é uma empresa familiar com raízes na produção de vinhos datando do século XIX com três vinhedos; Em Los Lingues de onde vem a Carmenére, a Cabernet Sauvignon e Petit Verdot; Em Angostura de onde vem a Chardonnay e Sauvignon Gris e Loloi de onde vem a Sauvignon Blanc, Syrah e Viognier. Provamos alguns vinhos de sua linha Collecíon (20% do lote passa por madeira), Reserva ( 50% do lote passa por madeira) e Gran Reserva (de 80 a 100% passam por madeira).

Chardonnay 2009 em que somente uns 10% passam por madeira – Claro, translucido, nariz tímido de boa tipicidade com abacaxi, maçã verde e nuances algo florais. Suave, fresco, acidez rasgante ainda por equilibrar já que fazia pouco tempo do engarrafamento, persistência muito boa, mas algo quente em função do alto teor de álcool para um vinho branco. Bom e saboroso, para tomar em 2010 quando deverá estar mais balanceado, acompanhando comida. Seus 14% de teor alcoólico me incomodaram um pouco.

Collecíon Carmenére 2008 – Rubi intenso, resinoso com notas herbáceas e algo de pimentão que gritam, soy chileno! Taninos sedosos, macio, leve para médio corpo, mesmo não sendo uma cepa pela qual morra de amores, este é bastante agradável, mesmo que não seja um blockbuster, mas também não é esse seu intuito.

Cabernet Sauvignon Reserva 2007 – 50% do lote passa por 8 meses em barrica, mas a madeira está bem integrada, ressaltado as virtudes da uva, não encobrindo-a. Frutado, algo terroso, textura sedosa, taninos aveludados, boa acidez, saboroso com um final de boa persistência com notas suaves de mentol.

Casa Silva - Assemblage 001

Los Lingues Carmenére Gran Reserva 06 – Fruta madura e toques herbáceos sutis ao olfato, convidam a levar a taça à boca. Com onze meses de barrica, o vinho possui uma complexidade vibrante no palato, taninos finos, macio, redondo, boa acidez em equilíbrio total com os taninos, um carmenére para até os críticos desta cepa se dobrarem. Eu me dobrei, é um belo vinho, digno de ter na adega, tendo subido alguns degraus nesta degustação.

Los Lingues Gran Reserva Petit Verdot 2006 – Não subimos degraus com este vinho, pulamos! Estupendo é a palavra que me vem à mente quando penso nele e, especialmente, enquanto ele dançava em minha boca. Olfato algo tímido com alguma fruta, nuances terrosas e toques florais que não chegam a encantar, sendo no palato que ele mostra todo o seu valor, um tremendo vinho de muita personalidade que seduz e encanta facilmente os amantes do vinho conseguindo aliar potência com grande elegância, compondo um conjunto harmônico, muito rico e delicioso. Interessante ver como alguns produtores do novo mundo estão conseguindo domar esta cepa que costuma ser bastante tânica. Este Los Lingues mostra muito estrutura, encorpado, equilibrado, denso, porém de tanino finos e redondo podendo ser tomado agora com muito gosto, mas que certamente melhorará muito com um bom par de anos de garrafa. Um grande vinho que me surpreendeu muito positivamente.                                                                                      

Assemblage 003Muito grato ao Marcel e Bete pelo gentil convite e a casa cheia mostrou bem o interesse da clientela por estes vinhos tão bem apresentados pelo Lucas  Cordeiro representando o importador, Vinhos do Mundo. Uma noite muito agradável que mais uma vez me fez ver que em nossa vinosfera, nada como um dia depois do outro. Mudam os vinhos, mudamos nós, uma verdadeira “metamorfose ambulante”, que bom!

Salute e kanimambo.

Zuccardi na Ravin

           Creio que, quase em primeira mão em Junho deste ano, tinha divulgado aqui que a Zuccardi tinha mudado de mala e cuia para a Ravin. Agora tive a felicidade de poder rever o Jose Alberto Zuccardi num agradável almoço no Varanda Grill acompanhado do Rogério D’avila e equipe, com quem trocamos diversas idéias. A Ravin está com um projeto bastante interessante, montando um portfólio bastante diversificado em vários níveis de preços e de origens variadas que deverá alcançar cerca de 200 rótulos que é o que acreditam poder comercializar de forma qualitativa.

Sta Julia 001           Este almoço, no entanto, serviu para conhecermos os projetos da Zuccardi, provar novos rótulos e botar o papo em dia. A família Zuccardi terá três fontes de negócios com a Bodega Sta. Julia, a Série A e a Zuccardi. Provamos rótulos de duas das três bodegas a começar pelo mui agradável Santa Julia Brut um espumante muito bem elaborado e surpreendente, que já comentei aqui no blog pois foi abertura para o nosso último Desafio de Vinhos; o derby Alentejo x Douro, sendo este um projeto especifico do Sebastian, filho de José Alberto.  Para acompanhar a salada e um pedaço de picanha suína servidos como entrada, o Santa Julia Chardonnay Reserva que passa somente seis meses em barricas novas e de segundo uso.  Vinho fácil de se gostar, madeira sutil, saboroso ficando um pouco aquém da carne que provei com o resto do espumante na taça e aí sim, foi uma explosão de sabores. Uma harmonização perfeita que vale você experimentar. Por sinal, este Santa Julia Brut entrará no meu próximo painel especial de espumantes, aguarde. Um vinho que acabou não vindo, mas que certamente também seria uma boa companhia ao lombo, foi o delicioso Serie A Chardonnay/Viognier que tive a oportunidade de provar na Wines of Argentina e gostei muito.

            Um rótulo que não vinha para o Brasil, mas nesta nova fase começa a chegar é o Q Cabernet Sauvignon. Varanda - Bife anchoTomamos o 2006 que ainda se mostra poderoso, nuances tostadas e fruta negra abundante no nariz. Com apenas 5.000kgs por hectare de vinhedos em La Consulta e Tupungato, apresenta bastante extração, taninos ainda firmes, fruta madura, apresentando um frescor bastante interessante que chama a próxima taça. Para acompanhar o vinho, um incrível bife ancho  suculento de textura e ponto impares, digno de acompanhar um vinho deste quilate e mais ainda do que estava por vir, nada mais, nada menos que o Zuccardi Zeta um dos grandes vinhos argentinos na minha opinião. Um vinho que consegue aliar potência com elegância, enorme complexidade e riqueza de sabores que pede tempo para se mostrar em toda sua exuberância. Esta garrafa que  tomamos era da safra de 2005 e, certamente, uma hora a hora e meia de decantação não lhe farão mal algum, vinho de guarda que deve evoluir muito ainda nos próximos quatro a cinco anos. Um corte de Malbec com Tempranillo que, dentro do bom portfolio desta bodega, o que mais me seduz. Talvez esse Serie A Chard/Viognier rivalize, preciso tomá-lo com mais vagar e em condições mais propícias, em minha preferência mas esse Zeta é  efetivamente um vinho muito especial que me encanta e não é de hoje. Quem puder, compre de caixa e vá tomando um por ano só para curtir e descobrir os detalhes de sua evolução.

Malamado 001 Para finalizar, um delicoso Malamado ,que escoltava um saboroso Spumone de Chocolate, e que também nos foi gentilmente presenteado pelos anfitriões, vinho que ainda comentarei em separado, mas que é um vinho de sobremesa muito agradável, elaborado á moda dos Vinhos do Porto.  Nesta linha do Malamado a Zuccardi inovou um pouco mais e desenvolveu o branco extra dry um blend de uvas supermaduras brancas e um Viognier de colheita tardia que me deixaram muito curioso. Afora a chuva torrencial da hora de almoço que atrapalhou um pouco o programa, certamente um almoço bem agradável regado a bons vinhos, boa companhia e bom papo, uma harmonização difícil de bater!

Salute e kanimambo

Ps. Não é á toa que o Varanda Grill foi eleito o melhor restaurante de carne de São Paulo, imperdível esse Bife Ancho.

Caliterra Tributo Edición Limitada – Belos Vinhos!

           No final do ano passado, quando a Caliterra ainda era trazida pela hoje extinta Wine Premium, tive o prazer de conhecer toda a linha, inclusive o topo de gama Cenit, e o privilégio de sentar por um tempo com o enólogo Gabriel Cancino trocando idéias e conhecendo este vinho Premium que estavam por lançar. Naquela época publiquei post sobre a degustação, mas não pude mencionar estes lançamentos pois ainda estavam por chegar. Como não chegavam, a matéria foi para a gaveta de onde ressurgiu agora. Ressurgiu da gaveta, mas não da memória, tanto que foi uma de minhas encomendas a meu filho quando esteve em Santiago de onde me trouxe umas garrafas, o que teria sido impossível sem a ajuda do Gabriel porque até lá não é fácil de encontrar. Pois bem, nove meses se passaram, a Caliterra está de casa nova no Brasil – Decanter – e eu liberado para postar minhas impressões sobre esta linha top de gama. .  Uma informação interessante e para ficar de olho, é que eles já pesquisam a Touriga Nacional em um projeto de desenvolvimento de novidades e variações enológicas, então não me surpreenderia caso pintasse algo bem arrojado num futuro não muito longínquo, inclusive com alguma potencial presença de Carignan, uma outra aposta da vinícola.

           A linha Tributo Edición Limitada é composta de dois vinhos elaborados com uvas tintas especialmente selecionadas no vinhedo da Caliterra no Valle de Colchagua e um de Chardonnay, porém este de Casablanca. Esta propriedade em Colchagua,  possui 1.085 hectares e está situado a 150 metros de altitude, sendo que somente 25% das terras está cultivada. Ambos os vinhos passaram por 14 meses de barrica com a semelhança entre os dois, terminando neste ponto. 

  • Tributo Edición Limitada Carmenére/Malbec 2006 – fermentado por vinte e cinco dias em tanques de inox para posterior assemblage, com a fermentação malolática e envelhecimento sido realizada em barricas de carvalho, 75% americanas e 25% francesas,, passando por leve filtragem antes do engarrafamento em Outubro de 2007. Muita fruta vermelha e algo especiado com nuances terrosas ao nariz. Na boca as especiarias estão bem presentes, macio e sedoso com taninos finos mostrando bastante elegância, harmônico com uma certa “crocância” e um teor de álcool alto, 14.5%, porém absolutamente integrado.

 

  • Tributo Edición Limitada Shiraz/Cabernet Caliterra Tributo Edicción 003Sauvignon/Viognier 2006 – o meu vinho desta degustação e aquele que meu filho e o Gabriel correram atrás para me trazer. Um vinho apaixonante que me seduziu por completo. Maceração longa (30 a 35 dias) em tanques de inox com a fermentação sendo terminada nas barricas (81% em barricas americanas e 19% em francesas) onde o vinho permanece por 14 meses antes de ser levemente filtrado e engarrafado. Possui uma complexa paleta olfativa de boa intensidade em que se destaca a fruta madura com toques florais provavelmente advindas da Viognier. Òtimo ataque de boca com bom volume mostrando-se muito complexo, ótima estrutura, textura diferenciada, aveludado, fino, sóbrio, toque de frescor que encanta, rico em sabores e muito gostoso num final longo, muito longo! Um vinho delicioso e sedutor que nos deixa querendo mais e mais, …….Incrível o que 6% de uma cepa (Viognier) pode fazer por um vinho. Por essas e por outras é que acho que vinhos declarados como varietais deveriam possuir um minímo de 95% da cepa mencionada!

          A Decanter os está vendendo ao redor de R$120, o que, em se considerando a qualidade dos vinhos, sua complexidade e sua origem, arriscaria dizer que é um achado que o amigo deve conferir, especialmente o Shiraz/Cabernet Sauvignon/Viognier. Também existe um Edición Limitada Chardonnay, mas este não conheço. Todos disponíveis na bonita Enoteca Decanter.

Salute, kanimambo e bom proveito.

Filipa Pato – Vinhos de Autora

Filipa Pato IIINunca tinha estado frente a frente com Filipa Pato, mas muito já tinha ouvido falar. Sou consumidor de seus vinhos, especialmente do Ensaios tinto e do agradabilíssimo 3b, um espumante rosado delicioso. Todos falam de sua beleza e jovialidade, já eu me impressionei mesmo foi com sua presença, pequenina em tamanho, mas grande em paixão pelo que faz, por aquilo que elabora. Fica com dois metros de altura quando começa a falar empolgadamente sobre seus vinhos, seus projetos e sua família.  Se o pai, Luis Pato, é o mestre da Bairrada e domador da Baga, ela deveria ser conhecida com a “pequena notável” com seus projetos arrojados e desafiantes como, agora com seu marido, William, em uma nova empresa, os “Vinhos Doidos”. Aqui dará vazão a toda sua irreverência e criatividade na elaboração de vinhos diferenciados, mas isso é outra história. Por enquanto vamos de vinhos “menos doidos” produzidos de uvas e vinhedos controlados por ela com uma produção atual em torno de 68.000 garrafas e com capacidade de chegar a umas 100.000. Volume pequeno e alta qualidade, uma equação que nos tem dado vinhos muito agradáveis, para dizer o mínimo. Já mencionei neste blog, que Filipa é uma estrela com luz própria, agora confirmo e complemento a frase, em plena ascenção. 

            Desta feita fui convidado para um jantar com apresentação de seus vinhos, com maior foco no FLP, um branco doce bastante interessante, sobre o qual falarei mais adiante. Saí do restaurante, no entanto, encantado com sua obra como um todo. Que belos vinhos, a começar pelo delicioso 3b um espumante que é assíduo visitante aqui em casa e que já recomendei por diversas vezes. Este, no entanto, é de 2008 e está ainda mais fresco e vibrante, bem do jeito que é a autora. Tenho que comprar mais umas garrafas, até porque as minhas já acabaram.

            Ensaios brancos 2008, corte de Bical e Arinto que passa um mês fermentando com leveduras indígenas, pareFilipa Pato 001 em tanques de inox e parte em madeira. Aromas delicados, de boa intensidade, muito fresco, saboroso, cítrico e mineral, tem um final de boa persistência que convida á próxima taça. Uma ótima opção como aperitivo e boa companhia, certamente, para umas pataniscas de bacalhau ou sardinhas na brasa.

            Lokal Silex 2004, um vinho divino que não conhecia. Dizia Filipa, que o vinho ficou muito duro quando elaborado e que ela buscava algo mais elegante. Pois bem, não sei como ele era, mas sei que está delicioso e elegante Filipa Pato 005ao atingir a maturidade após cinco anos de vida, devendo crescer mais ainda com mais uns dois ou três anos de garrafa, quem sabe mais. Fermenta em inox e depois passa um ano em balseiros de 2.000 litros. É um corte de Touriga Nacional (85%) e Alfrocheiro produzido no Dão em uma pequena localidade de onde se avista a Serra da Estrela. O vinho me seduziu tendo, a meu ver, sido o vinho da noite. Nos aroma é bem frutado com leve floral (violeta) bem típico dos vinhos do Dão com forte presença da Touriga Nacional e nuances achocolatadas depois de um tempo em taça. Aos cinco anos, mostra-se ainda jovem com taninos finos ainda bem presentes, mas já sem qualquer agressividade, tomando-se muito bem sendo que este passou um tempinho em decanter, essencial para o poder apreciar em toda sua plenitude.  È retinto na cor, escuro, muito equilibrado, denso com bom volume de boca, rico, aveludado com um final algo especiado e bastante longo. Encanta a forte presença mineral em boca sendo um vinho que, apesar de ter se dado bastante bem com o bom rosbife servido, deverá se apresentar melhor acompanhando pratos mais robustos. Um vinho que acaba rápido em taça e deixa saudade.

            FLP 2008, um vinho doce de sobremesa com apenas 12% de teor alcoólico num estilo algo alemão, produzido com seu pai Luis Pato. Elaborado com Sercealinho (cruzamento de uvas Serceal com alvarinho com mais de 20 anos de idade só disponíveis nas terras de Luis Pato), Serceal e Bical pelo processo de crio-extração que consiste em congelar o mosto das uvas obtendo-se maior concentração. Com baixo teor alcoólico, cerca de 100grs de açúcar Filipa Pato 007residual e uma acidez em torno de 7 a 8grs, é gostoso, saboroso e com bom frescor, aromas sutis e delicados, boa persistência e, de acordo com Filipa, um vinho que deve crescer com tempo em garrafa. Tenho que confessar que não chegou a me encantar como vinho de sobremesa. Brinquei com a Filipa, de que seria um vinho para o chá da tarde, e é assim que o vejo. Um vinho leve, saboroso, fácil de agradar para juntar amigos e amigas num bate-papo descontraído ao entardecer. Para o final de uma refeição, o recomendaria com uma salada de frutas e uma bola de sorvete de baunilha. Foi servido com uma tradicional sobremesa de Romeu e Julieta (estávamos no Dalva & Dito, novo restaurante de Alex Atala com cozinha brasileira) em que o mestre adicionou uma bola de um sorvete de goiaba bem leve, salvando a harmonização com essa incrível liga com o vinho. A Filipa também o recomenda com cozinha oriental, sendo o Japão um dos principais importadores deste saboroso vinho. Eu fiquei pensando aqui com meus botões, será que não harmonizaria legal com Pato c/Laranja?! Acho que terei que fazer o sacrifício (rsrs) e fazer esse teste.

            Antes de finalizar, queria tecer meus comentários sobre algo além do vinho, mas que me chamou a atenção. A relação entre pai e filha. O amor, o respeito e a admiração um pelo outro são algo digno de salientar e não muito comum nos dias de hoje. Talvez isso tenha sido o que mais me marcou ao ouvir Filipa falar sobre seu pai nessa noite e ao Luis Pato falar de sua filha em outros momentos. Brindo à longevidade dessa admiração mútua com uma taça de 3b da Filipa e outra do novo espumante de Touriga Nacional do Luis Pato. Afinal, porquê se contentar com uma quando podemos aproveitar da maestria dos dois?! Os vinhos da Filipa Pato são de exclusiva distribuição da Casa Flora.

Salute e kanimambo.

Alfredo Roca – Vinhos com Alma

            Tive o grato prazer de conhecer Don Alfredo Roca, um senhor super simpático dono da vinícola que leva seu nome. Sou um consumidor de seus vinhos básicos, talvez uma das melhores opções de vinhos para o dia-a-dia disponíveis no mercado, especialmente o Malbec e o Pinot Noir, habitués na minha mesa e constante recomendação minha neste blog, uma prova inconteste de que vinhos baratos podem sim ser bons. A Bodegas Alfredo Roca, com 114 hectares destribuidos por quatro propriedades, produz cerca de um milhão de garrafas das quais cerca de 80% são exportadas. A produção está hoje nas mãos de seu filho Alejandro que junto com seus irmãos tocam a vinícola, ficando Don Alfredo com uma atividade mais de supervisão atuando como conselheiro. Desta feita fui conhecer seus vinhos de gama média e alta que só vieram confirmar minha opinião sobre esta vinícola.

 Alfredo Roca garrafas

             Para começar fomos recebidos na sempre simpática Praça São Lourenço, por uma taça de espumante Alfredo Roca Nature muitíssimo agradável de boa perlage, complexo no nariz com sutis nuances florais, ótima acidez, balanceado, saboroso, elaborado por um corte de Chardonnay e Chenin Blanc, cepa não muito comum por estas bandas. Estas vêm de um vinhedo antigo com mais de 60 anos na região de San Rafael. Por um preço ao redor dos 28 a 30 reais, é um verdadeiro achado.

            Da linha Dedicación Especial, um Sauvignon Blanc muito agradável de aromas sedutores e delicados e um muito bom Bonarda elaborado com uvas de vinhedos antigos com cerca de 60 anos e uma produção média controlada entre 7 a 9 toneladas por hectare. Muita fruta escura escorada numa madeira tímida e bem posicionada. Taninos doces, equilibrado e muito saboroso. Com um preço ao redor de R$40,00, possui uma ótima relação custo x benefício.

           Family Reserve Malbec 2005, o vinho que me encantou. Fazia tempo que não tomava um Malbec tão saboroso, equilibrado e amistoso como este. Me lembro que sentados comendo um saboroso risoto de funghi, Alfredo Roca mesaconversávamos sobre a excelência do vinho e quão sedutor ele era, quando nos demos conta de uma razão especial porque dessa sedução, o teor de álcool 12.7%!! Uma prova inequívoca de que a Argentina pode sim produzir bons vinhos sem exageros de potência e álcool, devendo caldos como este serem uma constante e não uma exceção à regra. Taninos maduros, elegantes, perfeita harmonia, corpo médio para encorpado, equilibrado e muito saboroso, rico, bom volume de boca e um final de muito boa persistência. Um vinho de muita finesse, para se curtir e alongar qualquer refeição numa charla gostosa. Prepare as garrafas, porque uma vai ser pouco! Com um preço ao consumidor estimado em cerca de 55 Reais, é uma das boas opções de Malbec no mercado e um potencial parceiro de minhas taças. Esta linha ainda possui um Pinot Noir, um Tempranillo, Chardonnay e um Sauvignonasse (uva branca pouco conhecida que pelo que pude pesquisar é prima-irmã da Tocai Friulano muito comum na região de Friulli na Itália e conhecida no Chile como Sauvignon Vert)

             Ainda tem um vinho muito especial dedicado a Don Alfredo e sua esposa, um segredo guardado a sete chaves pelos filhos até que a surpresa fosse consumada, é o Preciado o qual somente foi elaborado em uma única safra (creio de 2004) e em quantidade limitadíssima de 1.900 garrafas. Um corte de 50% Malbec, 30% Syrah e 20% cabernet Sauvignon. Desse não provamos, mas ficou uma curiosidade danada!

           Vinhos bem feitos, saborosos e sedutores com preços idem. Eis aqui uma harmonização perfeita (qualidade/preço) que certamente ajuda a fazer da Bodega Alfredo Roca o que ela é, um caso de sucesso, e nos alegra como consumidores. Gostei e recomendo, como já fazia com seus vinhos mais baratos de gama de entrada. Estes bons vinhos são de exclusiva distribuição nacional da Casa Flora.

Salute e kanimambo.

Cave de Amadeu e Enoblogs

logo_amadeu               É, foi lá, no primeiro encontro do Enoblogs que tive a oportunidade de sanar uma das minhas falhas como enófilo, conhecer e provar os espumantes da Cave de Amadeu e seus mais célebres produtos que ostentam a marca Cave Geisse. Para muitos pode pairar a dúvida, mas é a mesma casa que elabora as duas linhas de produtos. Cave de Amadeu é a Vinícola de Mario Geisse, competente enólogo e engenheiro agrônomo chileno, que por aqui aportou pelas mãos da Moet & Chandon nos idos de 1976.

             Rapidamente, Mario Geisse percebeu a enorme vocação e potencial da região para a produção de espumantes de qualidade tendo fundado a Cave Amadeu em 1979 com o intuito de produzir, ele próprio, seus espumantes de alto nível. Esta degustação, já amplamente comentada nos blogs dos amigos presentes foi sublime, tanto pelo local, pela simpatia do anfitrião Alexandre  e esposa (valeu Vanessa), pela refeição ao final, como, em especial, dos espumantes de Mário Geisse, exemplar e criativamente apresentados pelo Adilson Pilot representante da vinícola, que foram mui justamente, os protagonistas deste delicioso encontro. Os espumantes da cave Amadeus seriam, digamos assim, o caminho de entrada deste saboroso e divertido mundo das borbulhas, e os da Cave Geisse a verdadeira tropa de elite somente elaborados pelo método tradicional (champenoise) e todos safrados. Legal, também, o fato de que desde 2008, todo o vinhedo está livre de qualquer agrotóxicos. Nossa saúde e o planeta agradecem, kanimambo!

            No Diario de Baco, blog do Alexandre com link aqui do lado, a reportagem é bem completa, mas não posso deixar de dar meu testemunho e comentários sobre o que vi e provei lá. Os espumantes da Cave Amadeus são bons e primam pela qualidade, sendo o Brut o que mais me agradou. Já a linha Cave Geisse é, efetivamente, de tirar o chapéu. O muito bom Cave Geisse Brut sofreu, porque foi servido depois do Nature que é, na minha humilde opinião, o grandeEnoblogs - Cave Geisse 003 espumante da casa, inclusive pela relação custo x benefício, que me encantou e seduziu.  Mas falemos das maiores estrelas que eu tive a oportunidade de tomar nesta degustação:

  • Cave Geisse Nature safra 2005, aquele que varreu o chão debaixo dos meus pés e me levou ao nirvana tornando difícil degustar os que se seguiram. Estupendo, um grande espumante que encanta e seduz com sua perlage muito fina e abundante, como que acariciando seu céu de boca. Aromas muito agradáveis, com um leve brioche intermediado por algo cítrico e floral. Na boca é cremoso, acidez maravilhosa que aporta um incrível frescor, balanceado, final muito saboroso, delicado com notas minerais  e muito longo, certamente um dos melhores espumantes que já tive a oportunidade de tomar e que nos faz entender o que  o monge “Don Perignon” quis dizer ao comentar que estava “degustando estrelas”! A que eu comprarei e, certamente, se tornará assídua visitante em minha taça, pois tem um preço entre R$40 a 50 conforme pesquisei na rede, pena que a foto é fraquinha!

 

  •  Outro grande espumante deles e, técnicamente, realmente o mais evoluído de todos, é o Cave Geisse Nature Terroir da safra de 2003, complexo e sofisticado dotado de uma elegância ímpar, perlage abundante, fina e persistente com um colar de espuma bonito e chamativo, uma verdadeira dama! De maior intensidade aromática que o Nature, convida-nos a levar a taça á boca onde, como no anterior, mostra todas as suas sutilezas e nuances num final super fresco e muito agradável. Desta preciosidade que passa por 180 dias de fermentação e 3 anos de amadurecimento, foram produzidas somente cerca de 4800 garrafas então, se for um felizardo proprietário de uma, salute! Para fazer inveja a muito champagne por aí!

Para finalizar, eu que sou um apreciador dos espumantes moscatel de qualidade em que  a acidez esteja bem presente para se contrabalancear à tradicional doçura da cepa, descobri no Cave de Amadeu Moscatel, um digno representante destes bons espumantes que, como este, acompanham maravilhosamente uma sobremesa.

 Enoblogs - Cave Geisse 008

Um kanimambo especial ao amigo Alexandre pela oportunidade, ao Armazem Gourmet e à Cave Amadeus (Geisse) que apoiou o evento. Bom rever os amigos como o Cristiano (Vivendo Vinhos), conhecer pessoalmente o Paulo (Nosso Vinho), o Beto (Papo de Vinho), o Daniel (Vinhos de Corte) e estar com o companheiro de sempre Álvaro (Divino Guia). Termino com uma frase que o Alexandre me enviou e deu como de autoria de Sergio Valente:

“Baco não gostava de uva, gostava de gente e  inventou um jeito legal de gente boa ficar junto”
 
Brindo a isso, salute!

PROTOS, uma Família de Respeito.

Protos na Quick 010Tenho que tirar o chapéu, os espanhóis sabem fazer vinho! Brincadeiras à parte, apesar de minha declarada preferência pelos vinhos Ibéricos ser bastante conhecida dos amigos, a Bodegas Protos apresenta uma família de vinhos a começar pelo branco, passando pelo rosé, chegando na sequência de bons tintos até alcançar o topo com um belíssimo Gran Reserva, que são realmente de grande nível. Em uma agradável, como sempre, reunião com os amigos da banca de degustadores que tradicionalmente participam dos Desafio de Vinhos, na Quick Pizza e com o auxilio do Emilio (Portal dos Vinhos) que gentilmente nos emprestou suas taças, nos deliciamos com esta família Protos!

               A Bodegas Protos, palavra grega que significa primeiro, tem esse nome porque foi a primeira bodega a se instalar na região de Ribera, em Penafiel, bem no coração do rio Duero em 1927 tendo já em 2009, na Exposição Universal de Barcelona, sido agraciada com suas primeiras medalhas de ouro por seus saborosos vinhos. Foi esta região que posteriormente veio a ser conhecida como a D.O. Ribera Del Duero, umas principais zonas produtoras na Espanha e de grande prestigio internacional.

            São 100 hectares de vinhedos próprios, 500 hectares de associados e cerca de 300 hectares de viticultores da região com quem a empresa mantém acordos de fornecimento regular. A nova cantina, um projeto moderno com mais de 19.000m² de área construida e investimento de de 36 milhões de Euros, é um caso à parte que merece ser conhecido, especialmente pelos amantes da arquitetura e design, e sugiro clicar neste link para conhecer um pouco mais de seu projeto arquitetônico. Com uma imponente e arrojada arquitetura, túneis subterrâneos onde se dá o envelhecimento em barricas e garrafas, é uma bodega com o que de mais moderno o mercado dispões e que só vem a agregar excelência ao que eles já fazem há mais de meio século.

Bodega protos aos pés do castelo

             Em 2006, pela primeira vez produziram um vinho fora da Ribera Del Duero. Em um projeto novo em Rueda, invistiram numa bodega e cantina novas com tanques de inox para vinificação de vinhos branco á base da uva Verdejo. Este novo projeto com capacidade de vinifcar até um milhão de quilos por safra, é responsável pelo delicioso Protos Verdejo 2007 com o qual começamos nossa degustação. Já o comentei anteriormente, sendo um dos meus brancos favoritos e uma perfeita harmonia com um prato de lulas recheadas ou em caldeirada. Amarelo palha com laivos esverdeados, brilhante em todos os sentidos. Aromas de frutas tropicais de muito boa intensidade com algo de grama molhada e nuances florais. Na boca é vibrante, muito saboroso, fresco com uma acidez cortante porém balanceado, sem arestas com um final de boca longo em que mostra uma certa mineralidade e algo cítrico. Um vinho verdadeiramente sedutor e que, quando nos damos conta a garrafa já era!

Protos Rosado 2007, mais um vinho com o qual já tinha me encontrado em março durante o painel de Brancos & Rosés. Um dos muito bons vinhos rosados que tive oportunidade de provar elaborado com 100% “tinta del pais” (tempranillo) cor vibrante, aromas de boa tipicidade mostrando morangos e cereja, muito fresco, algo cremoso, concentrado e muito equilibrado com leve toque especiado e saboroso final de boca de boa persistência que chama a próxima taça, e a próxima, e a……., bem como aperitivo e melhor ainda se acompanhando uma paella à Valenciana.

Protos Roble 2006, o primeiro vinho da linha dos tintos. Um nariz bastante agradável (fruta, baunilha,madeira) que convida a tomar, mas na boca mostrou-se ainda algo duro e fechado. Tânico, madeira ainda por ser equacionada, encorpado, final algo especiado e média persistência. Um vinho jovem com apenas 5 meses de barrica, que não encantou mas que mostra qualidades que devem desabrochar melhor com mais um ano de evolução em garrafa.

Protos Crianza 2005, um belo vinho que encanta tanto ao nariz como na boca. Aromas de frutas escuras, toques de madeira muito bem integrados, algo de especiarias mostrando ser um vinho de maior complexidade.  No palato taninos ainda presentes firmes, porém sem qualquer agressividade, e aveludados, bom corpo, muito rico, final fresco , frutado e de muito boa persistência convidando à próxima taça. Vinho muito premiado em conceituados concursos internacionais, fazendo jus a sua fama.

Protos Reserva 2003, um vinho potente com muita tipicidade mostrando a firmeza dos vinhos da Ribera Del Duero, porém como já dizia Che, sem perder a ternura. Possui uma paleta olfativa sedutora e de boa intensidade, mostrando-se na boca com taninos aveludados, muito equilibrado, saboroso com boa profundidade, um vinho de grande gabarito que demonstra ainda ter muito anos pela frente.

Protos Selección 2005, talvez o vinho mais moderno e elegante da noite. Boa concentração e estrutura, taninos finos e sedosos ainda bem presentes, cremoso, muito rico com um final sedoso e encantador mostrando uma enorme harmonia, fazendo com que seus 14.5% de teor alcoólico passem desapercebidos tanto ao nariz quanto à boca. Talvez um tico de madeiro demais que, houvesse sido decantado, certamente teria sumido. Estilo novo mundista feito com a finesse do velho mundo,  resultando num vinho muito agradável, difícil de não gostar e dos quais, tivesse eu a disponibilidade, teria de caixa em casa.

Protos Gran Reserva 2001, estupendo, um daqueles com lugar reservado no meu altar dos Deuses do Olimpo de 2009, um verdadeiro clássico. Quem puder comprar, compre pelo menos duas, uma para se deliciar agora e a outra para um encontro do terceiro grau em algum momento no futuro, quem sabe daqui a uns 5 anos quando este verdadeiro néctar deve estar magnífico.  Passa 30 meses em barricas francesas e americanas e depois descansa em garrafa por mais cerca de 40 meses quando finalmente é colocado à disposição de nós consumidores. Falamos de quase seis anos o que quer dizer que este 2001 está no mercado há somente um par de anos! Eu me apaixonei pelo vinho, por sua complexidade de aromas onde os frutos silvestres se mostram muito presentes, mas de forma muito sutil e sedutora, com nuances de café tostado e especiarias. Na boca a madeira está muito bem integrada realçando a fruta e adicionando alguma baunilha e caramelo ao final de boca. De resto, mostra-se untuoso, gordo, muito saboroso, taninos muito finos e elegantes perfeitamente equilibrados com uma acidez adequada e muito persistente. Um grande vinho, sem dúvida alguma, que não só me encantou como me conquistou.

Protos na Quick 007

            Ao amigo Juan (Peninsula) que importa e distribui os vinhos da Protos no Brasil, os meus mais sinceros agradecimentos por esta grande experiência e oportunidade. Aos amigos fica a recomendação, após compartilhar minhas impressões e sensações, e convite para que tentem conhecer esses grandes vinhos, valem a pena. Se não quiserem gastar muito, uma boa oportunidade é seguir a Dica da Semana e participar da degustação com jantar HOJE! Não sei nem se ainda existem vagas, mas eu tentaria ir se fosse você, tanto pelo jantar no Rosmarino, como pela palestra e especialmente pelos vinhos.

Salute e kanimambo.

Santa Helena, o Braço de um Gigante

Santa Helena0002Com vida própria, mas esta vinícola chilena, mais conhecida entre nós por seus preços competitivos e vinhos básicos, é coligada ao segundo maior grupo chileno de vinhos, a Viña San Pedro que possui, entre marcas próprias e coligadas, um vasto portfolio entre eles; Cabo de Hornos, Gato Negro, Castillo de Molina, 1865, 35 Sur, Vina Tabali e Altair entre outros.  A Santa Helena fundada em 1942, possui cerca de 500 hectares de vinhedos plantados no Valle de Colchagua a cerca de 150kms ao sul de Santiago e já consta entre os 10 maiores exportadores chilenos, sendo o Brasil seu principal destino onde coloca 22% de suas vendas. Recentemente passou por uma reformulação de imagem de suas diversas linhas. O nome Helena,  tem origem na expressão grega “ Helane” que significa “radiante como o sol” e esta nova cara vem mostrar os primeiros resultados do enólogo Matias Rivera à frente da bodega.

              Estive no lançamento das linhas Varietal, com preços sugeridos entre R$20 a 25,00 e do Reserva, com preço ao consumidor por volta de R$30 a 35,00 tendo aproveitado para degustar também, alguns topo de gama como Vernus Blend, Notas de Guarda Carmenére, DON e o Late Harvest 06. Começando pelo inicio, na base da pirâmide, os vinhos Varietais tintos são básicos, honestos, com nariz muito típico deixando claras suas origens não havendo, no entanto, nenhum destaque em especial. Já o Chardonnay Varietal, sem passagem por madeira, é um achado por apenas R$20,00. Santa Helena 003Aromas ricos em fruta convidando a taça à boca onde se mostra muito fresco e comprova os aromas no palato de forma muito agradável e fácil de tomar. Ao perder temperatura mostrou um leve amargor que não chega a incomodar. O Late Harvest 2006, corte de 85% de Riesling com 15% de Gewurztraminer com um preço ao redor de R$39,00, foi outro grande achado da noite, pois estava delicioso e cresceu muito com um tempo em taça. Nariz intenso, frutado e algo floral, muito balanceado na boca sem excessos de açúcar e uma acidez no ponto, muito saboroso e o preço idem.

               A Santa Helena, no entanto, não é só vinhos básicos. Possui uma boa gama média de vinhos (como o Selección del Directório) e  rótulos de vinhos topo de gama que, confesso,  não conhecia. Gostei do Vernus 2006, um blend de Cabermet com Syrah e Petit Verdot muito agradável , de boa estrutura e taninos finos com um preço justo, por volta dos R$52,00; o Notas de Guarda Carmenére um vinho mais encorpado e complexo, de boa persistência com preço ao redor de R$126,00 e para finalizar o grande vinho da noite, DON 2005, um baita vinho de guarda com muita personalidade, complexo tanto no nariz Santa Helena Pinot - Directoriocomo na boca mostrando muita fruta madura, taninos firmes e aveludados com ótimo volume de boca e muito longo tendo harmonizado muito bem com o pernil de cordeiro assado servido no ótimo Parigi. Um belo vinho que só não me animou mais devido ao preço, R$239,00 que achei um pouco puxado.

                Uma linha que não foi apresentada nessa noite, mas que acho muito boa e também está de cara nova, é a Selección del Directório, em especial o Pinot Noir que volta e meia anda pela minha mesa e na minha taça. Já faz um tempinho que não o tomo, mas o preço andava por volta dos R$45,00 aqui em São Paulo.  A importação e distribuição dos vinhos da Santa Helena no Brasil está a cargo da Interfood, o anfitrião deste jantar muito agradável, como são todos os organizados pela Fernanda Fonseca. Valeu Bruno.

Domno Traz Vistalba

                Domno, o novo projeto da Famiglia Valduga tem como objetivo produzir bons espumantes em sua sede em Garibaldi, no Vale dos Vinhedos, e importar e distribuir vinhos em geral. Uma de suas primeiras aquisições como importador foi a Vistalba, como já informado, e fui convidado a conhecer a linha de produtos trazidas por eles degustando alguns dos rótulos já disponíveis no mercado. Duas linhas principais de duas regiões diferentes, a Tomero e a Vistalba com os cortes A, B e C.

Foto  Tomero Petit VerdotA Linha Tomero é bastante ampla com oito varietais elaboradas com uvas do Valle do Uco advindas de 400 hectares de vinhedos plantados a cerca 1.100 metros de altitude. Destes oito, provamos o Sauvignon Blanc, Semmillon,  Malbec, Malbec Gran Reserva, Pinot e Petit Verdot Reserva. Todos bons vinhos; o Sauvignon Blanc por sua sutileza, frescor e equilíbrio resultando num vinho muito agradável de tomar. O Malbec Gran Reserva é um vinho de grande potência, robusto, firme e, em se tratando de um 2006, ainda muito novo para se apreciar todo o seu potencial. Pinot agradável, de maior potência e volume de boca do que estamos acostumados mostrando uma cara bem “novo mundista”, mas foi o Petit Verdot que me encantou. Já tinha provado alguns varietais desta cepa, comumente usada em cortes, e não me tinham agradado por sua rusticidade e agressividade. Este mostra força, mas sob controle, nariz de boa intensidade, boa concentração, taninos finos e aveludados com um final algo quente, mas de boa persistência e muito saboroso, um vinho que surpreende e é isso que mais me agradou.

         A gama de vinhos Vistalba é diferente a começar pelo conceito, já que são todos cortes. Vêm de Vistalba, LujanVistalba Corte B 2004 de Cuyo, de um vinhedo de 53 hectares plantado a cerca de 980 metros de altitude onde se plantam Malbec, Cabernet Sauvignon, Merlot e Bonarda. A linha é composta de de três cortes. O Corte “C” que é um blend  majoritário de Malbec com Merlot, o Corte “B” um pouco mais complexo em que se juntam quatro cepas; Malbec, Cabernet Sauvignon, Bonarda e Merlot e, finalmente, o topo da linha o Corte “A” em que se usa a Malbec e Cabernet Sauvignon em partes iguais e complementa-se com 20% de Bonarda. Já tinha provado anteriormente e mais uma vez confirmei a minha impressão, os Cortes B e C me parecem mais equilibrados e harmônicos do que o A que, ainda por cima é bem mais caro e com algo de excesso de álcool que já se sente no nariz e confirma na boca. Já os outros dois me agradam muito, em especial o Corte B que se apresenta muito bem equilibrado, rico e denso na boca com boa concentração, mas sem excessos mostrando taninos sedosos e uma acidez equilibrada num final de boca aveludado e longo, um belo vinho.

         O único senão desta equação é o preço já que estes rótulos estão chegando mais caros do que na importadora anterior que já não tinha fama de econômica. Talvez fosse interessante rever a estratégia, mas essa não é seara minha e sim de quem está envolvido com o negócio. De minha parte ficam aqui duas ótimas dicas de vinhos muito bons que valem a pena ter na adega, o Tomero Petit Verdot Reserva e o Vistalba Corte B. Esses eu teria na minha.

Salute e kanimambo.

Trapiche Malbec com Filhote. Onde já se Viu?!

              Como no vinho, em que as pessoas tendem  a colocar sob suspeita as pseudo “frescuras”, a necessidade de decantar vinhos, das taças adequadas, temperatura, os altos preços, enochatisses, etc. , a gastronomia também tem lá seu séquito de suditos de pouca fé. Na gastronomia as indagações passam por pelas também pseudo “frescuras” dos restaurantes, composições estrambólicas, show bizz, pequenos pratos altos custos, marketing desacerbado de determinados chefs, etc.. As sinergias são tantas que não é à toa que caminham juntos e possuem um nome próprio, Enogastronomia, com tudo o que isso tráz de bom e de preconceito. Na vida, no entanto, valores e conceitos são constantemente colocados em cheque, passando por revisão quando nos deparamos com fatos e experiências concretas. Em Moçambique, uma propaganda de cerveja dizia que “contra fatos não há argumentos e um fato num copo era, ….” pois bem, neste caso foi um fato no prato e outro na taça formando uma harmonia “inargumentável”!

  • Momento – uma degustação de vinhos Argentinos da Trapiche.
  • Local – restaurante Skye do hotel Unique.
  • Chef – Emmanuel Bassoleil
  • Vinho – Trapiche Malbec Finca las Palmas 2006
  • Prato – Filhote (peixe do Amazonas) “roti” com molho denso de lentilhas com bacon.

EmmanuelAo primeiro olhar (uma pena que não tenha conseguido uma foto), a previsão de uma verdadeira catástrofe, peixe harmonizado com vinho tinto denso e tânico. Quem teria sido a “mente iluminada” a inventar tamanha aberração?! Após todas as exclamações possíveis misturando incredibilidade e entusiasmo pelo incrível resultado obtido nesta imprevisível, para os mais leigos que nem eu, harmonização de um prato com um vinho. Creio que a primeira harmonização, absolutamente divina, se iniciou pelo peixe com a lentilha e bacon, algo por si só já inusitado e uma composição absolutamente deliciosa. Segundo, a harmonização desse peixe, lembrando que é de rio e conseqüentemente não salgado, com um tinto, Trapiche Malbec Las Daniel Pi 2Palmas, de bom calibre levantando a ambos e levando ao nirvana o degustador que ficou em êxtase perante tanta ousadia e magnífico resultado obtido com uma longa, muito longa persistência. Todo o resto depois desta harmonização ficou em segundo plano, sendo extremamente difícil retomar o senso critico para uma avaliação do que ainda haveria por vir.

Dois maestros em ação; Emmanuel Basoleil, chef premiado e de renome com Daniel Pi, Chief Winemaker da Bodega Trapiche e responsável por alguns néctares produzidos pela casa. A criatividade e genialidade de cada um enaltecida à quinta potência, um almoço inesquecível, uma lição a mais e um enorme privilégio para um pobre marquês, um “gafanhoto”, (quem tiver mais que 30 e algo, certamente lembrará da série Kung Fu) da mesa e do copo perante tão grandes mestres, mas tinha mais.

Entrada Bodega Trapiche

               Sim porque na verdade o tema deste blog, é a degustação dos vinhos principais da Trapiche trazidos pela divisão Classics da Interfoods. Para nos receber, um gostoso espumante Trapiche Extra Brut elaborado com 70% Chardonnay, 20% Semillon e 10% de Malbec pelo processo Charmat. Nariz intenso, muito perfumado (Semillon?), fresco, perlage abundante e fácil de tomar – R$44,00. Para dar inicio aos “trabalhos” um Chardonnay Finca Las Palmas 2007 que passa 9 meses sur lie e apresenta um teor de álcool bastante alto para um vinho branco, 14.5%. Baunilha, coco, manteiga, frutas tropicais, está tudo lá com um final algo doce e de pouca persistência. Um estilo bem marcado pela madeira, possui um preço em torno de R$65,00.  O Las Palmas Malbec 2006 que passa 18 meses em barricas de carvalho francês, é um vinho de boa tipicidade com uma bonita cor violeta, muito frutado, mas a madeira sobressai um pouco o que talvez possa ser equacionado com uma decantação maior. Cresceu muito na combinação com o prato (Filhote) fazendo um conjunto muito saboroso, tendo mostrado boa persistência, tendo um preço de mercado sugerido, por volta dos R$65,00.

  Viña Federico Villafañe Malbec Single Vineyard 2006, o vinho que mais me entusiasmou neste agradável almoço, tanto por sua riqueza de sabores, como pela relação com seu preço em torno de R$192,00. É um Trapiche - VIÑA FEDERICO VILLAFAÑE 2006vinho muito harmônico que consegue equilibrar muito bem a potência com a elegância, o que não é muito comum. Vinho muito rico, de boa acidez, grande estrutura, com bom volume, macio com taninos maduros ainda firmes porém aveludados, tendo se sobreposto ao prato (risoto de malbec com rúcula e gorgonzola) que se mostrou demasiado delicado para um vinho de tão forte presença e caráter. Ótima persistência, um vinho de guarda que está bom agora e deverá estar maravilhoso dentro de mais dois, três ou quatro anos. O vinho ícone da Bodega veio a seguir, devidamente acompanhado por um lindo e saborosissímo Medalhão de Filé Migon a Rossini, era o Trapiche Manos 2004, nome alusivo á sua elaboração quase que artesanal. Um baita vinho, mas ainda extremamente novo, potente, álcool sobressaindo um pouco, caldo que precisa de mais alguns anos de garrafa para ser aproveitado em todo o seu esplendor. Com uma produção pequena de apenas 6.000 garrafas, elaborado todo ele manualmente com desengaço das uvas uma a uma em 1/3 do lote num processo em que elimina semente e polpa, deixando somente a casca para aportar maior concentração de cor e tanicidade. Passa 18 meses em barrica de carvalho nova e 24 am garrafa antes de ser colocado no mercado. Possui 15% de álcool e necessita de ao menos uma hora de decanter antes de servir. Se o Viña Federico Villafañe já não é um vinho para qualquer um no quesito preço, este se torna ainda mais seletivo com um preço de R$408,00.

                Para finalizar, o Trapiche Chardonnay Tardio 2005, nariz de muita intensidade,abacaxi em calda, mel mostrando-se bem denso na boca e terminando com um açúcar residual algo alto faltando-lhe um pouco de acidez para atingir um maior equilíbrio. Necessita de ser acompanhado com sobremesas de maior acidez. Preço ao redor de R$54.00.

               Salute e kanimambo.