Gastronomia & Harmonização

Assassinei meu Bife Ancho

Arma usada, um Cobos “calibre” (rs) 2002! Como o João Pedro, amigo e colega blogueiro português, alentejano de boa cepa e autor do Copo de 3, gosto de meus vinhos mais “cordatos no trato do que abruptos e sem modos.”

         Bem, não posso deixar de reconhecer que cometi aqui um erro, devia ter me aprofundado ainda mais na escolha do vinho antes de o abrir. De forma simplista, pensei que um vinho Malbec de 2002, nove aninhos nas costas e que descansava em minha adega há cerca de sete anos, já deveria ter-se encontrado e apresentaria uma nuance mais equilibrada e fina até porque os vastos elogios, teve até um blog que se referiu a ele como uma “dama”, e alta pontuação o procediam e indicavam um vinho de excepcional qualidade. Ledo engano, o bicho veio soltando labaredas pelas ventas tendo como combustível seus enormes 15.8% de teor alcoólico e uma tremenda camada de borra solidificada nos ombros da garrafa.

            Já tive oportunidade de participar juntos com os amigos “panas” de uma degustação de poderosos Malbecs de Mendoza e minha opinião só se confirmou com este Cobos, não dá! Tudo bem, tem gente que gosta e respeito, mas são excessivos em tudo especialmente no álcool que toma conta do todo, não há equilíbrio que agüente!!! Pior é que dava para sentir, especialmente no palato, que existia uma base de boa qualidade por baixo, mas que o álcool não permitia que aparecesse. Pode até ser que daqui a mais uns dez anos ele se encontre e se torne um pouco mais cordato, mas neste momento, mesmo que podendo até existirem alguns potenciais predicados qualitativos a serem descobertos, deixa muito a desejar no aspecto hedonístico da degustação e certamente prejudica qualquer harmonização. Num momento desses, essencialmente hedonístico e não técnico, é dificil tentar desvendar esses potenciais predicados. No popular, é como se alguém chegasse para te conhecer e emvez de um abraço te desse um tapa na cara. Você perde o rumo e fica, justificavelmente, dificil buscar eventuais aspectos positivos nesse encontro!

          Sei que provavelmente levarei porrada de tudo que é canto e ignorante deverá ser o menor dos insultos , parte aceita em função da péssima escolha de harmonização, porém não poderia deixar de compartilhar com os amigos esta incrível experiência. De qualquer forma, ainda tentarei repetir a prova com outro prato ou solo, porque como já diz o amigo Álvaro Galvão “um dia podemos não estar bem, noutro o vinho então só há terceira podemos fazer uma avaliação mais justa”, mas o preço é bem puxado o que limita eventuais testes e “colheres de chá”. O de 2006 (RP 98/99) está por volta dos R$700 (não pago para ver!) e o 2002 (RP 92/94) é difícil de se achar e custava algo em torno dos R$300,00.

Bem, falar sobre meu bife ancho a esta altura dos acontecimentos é sacanagem,  o Cobos atropelou, deu ré passou por cima de novo sem dó nem piedade, fugindo deixando um rastro de destruição! Só nos restou o triste ritual de ter que enterrar o bife ancho que não resistiu a tamanhos maus tratos! Tenho minhas sérias criticas a este estilo de vinho  que, mais uma vez, comprova minha tese da “Terceira taça”, este nível de teor alcoólico num vinho não fortificado simplesmente não dá, meu genro que o diga, pois na segunda taça já estava assim……. digamos, em estado, quase, catatônico! Já eu, bem, eu não fiquei muito atrás e fui obrigado a dar um “time” para me recuperar.

          Apesar de tudo isso tenho que reconhecer, lá no fundo da alma esse vinho apresenta alguns predicados porém, a meu ver e dentro de meus limitados conhecimentos, nada que o catapulte ao estrelato, pelo menos este que tomei. Sim, apesar de tudo e numa visão mais técnica, a fruta estava lá e os taninos nem estavam assim tão agresssivos mostrando bastante qualidade, acidez correta, difícil foi apreciar tudo isso sob aquele manto de álcool encobrindo todas essas potenciais qualidades. Servi a cerca de 17 graus, quem sabe se eu o tivesse resfriado um pouco mais?! Enfim, para quem gosta do estilo certamente é um prato, digo, taça cheia, já eu, bem, eu dispenso!

         Salute e kanimambo

Rito de Passagem – Paella, Rosé de Navarra e Anna de Codorniu!

Gosto da passagem de ano. Me atrai esse sentimento de ter alcançado mais uma etapa da vida, de conseguir alcançar mais uma e de renovar esperanças. De rever erros e acertos aprendendo com eles, de reformular o que tem que ser, de traçar novas rotas e definir objetivos. É, tradicionalmente para mim, um momento de reflexão importante mas que antes tem que ser festejado com mesa farta e saborosa bem temperada por um vinho à altura e um bom espumante.

Desta feita minha festa foi algo prejudicada por uma visita ao hospital no dia 30 que acusou a presença, graças a Deus ainda leve, de uma diverticulite tratada á base de antibióticos por uma semana! Desnecessário dizer que a gula, companheira destes momentos, teve que ser controlada, porém não deixei de dar alguns poucos goles.

Na ceia, uma incrível Paella da Dona Sagrário, célebre aqui na região da Granja Viana, que estava absolutamente divina! Conheço a Dona Sagrário e sua paella há mais de 20 anos e incrível como a qualidade se mantém, sem um único deslize ao longo de todos estes anos. Só a chegada dela à mesa já é um motivo de festa e deleite para os olhos, esse você pode ver na foto, e olfato com seus aromas envolventes  anunciando o prazer que certamente sentiremos no palato à primeira garfada. Para acompanhar, certamente o melhor ainda é uma sangria (faço uma da hora e ainda publicarei minha receita) mas com todo o trabalho deste final de ano, abri a loja no dia 31 até as 16 horas, esqueci!Não seria por isso, no entanto, que passaríamos a seco, então escolhi três vinhos; um branco Verdejo, um Rioja tinto básico e um Rosé de Navarra. Aclamado por todos, foi com o Señorio de Sarría Rosé que a paella mostrou melhor harmonia. Uma bela pedida, mesmo que em doses homeopáticas no meu caso, tendo o vinho demonstrado ter corpo e perfil adequado para acompanhar muito bem este magnífico prato. Obviamente, rs, que repeti a dose no almoço de dia 1, mesmo que comedidamente!!

Para celebrar a entrada em mais um ano de nossas vidas, abrimos um cava que está entre meus favoritos desde há muito tempo e que, quando se encontra no Free Shop de chegada a cerca de USD17, é uma barganha irresistível, para comprar de caixa! Elaborada com Chardonnay, o Anna de Codorniu é um cava diferenciado que deixa marcas na memória.  Às cegas, certamente passaria por champagne e foi uma bela maneira de celebrar o Novo Ano, muito bom! Enfim, um rito de passagem hispânico  muito saboroso que espero seja um sinal de boa colheita neste novo ano.

Agora restam-me mais cinco dias de tratamento e no próximo Domingo um belo churrasco com Tannat ou Malbec, estou na dúvida se abro um Abraxas ou Cobos 2002,  me espera e aí tiro a barriga da miséria!

Amanhã, meus Deuses do Olimpo. A primeira de uma coletânea de listas com o que de melhor passou por minha taça em 2010. Salute e kanimambo!

Salvar

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Loison Pasticceri na Vino & Sapore

         Para quem não conhece, eu não conhecia, eis a Loison Pasticceri , conceituado produtor que produz algo como 5.000 panetones dia na pequena cidade de Costabissara.  Conhecido como a Ferrari dos panetones, seus incríveis produtos chegam ao Brasil este ano e não poderia deixar escapar a oportunidade de ter alguns desses pequenos tesouros disponíveis aqui na Vino & Sapore a partir do próximo dia 16 de Novembro, ou por aí! Eu falar destes panetones pode ser duvidoso, então vejam o que diz Elisa

Por Elisa Corrêa, da Itália – Publicado na Revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios em Jan/2009

OS PANETONES DE 72 HORAS

Manteiga fresca, ovos de galinha caipira, farinha especial, mel e açúcar de beterraba. Mais 72 horas de trabalho e descanso. Para aromatizar, amêndoas de Avola, cascas de laranjas sicilianas, avelãs da região de Langhe. É assim, respeitando os limites do tempo e da fermentação natural que são produzidos, um a um, os panetones da Loison Pasticceri, sediada em Costabissara, no nordeste da Itália. Enquanto a empresa de Dario Loison produz cerca de 5.000 panetones por dia, uma indústria convencional fabrica até 180.000 unidades. “Como somos pequenos, jamais poderíamos competir em quantidade e preço com os grandes fabricantes, apenas com o produto e o serviço”, diz Loison. “Então apostamos na criação de um panetone único, envolto em embalagens especiais, feitas à mão.”

O empresário, que assumiu a empresa familiar em 1993, resolveu focar na produção de alta qualidade e na exportação. Hoje seus produtos são vendidos em mais de 30 países, entre eles, o Brasil. Além dos panetones, a pasticceri produz colombas de Páscoa e biscoitos finos. Os produtos são embalados em latas decorativas ou em caixas que combinam fitas e cores. Embrulhos preciosos desenvolvidos por Sonia, mulher de Loison. O conceito de produção, que privilegia a qualidade e não a quantidade, é comunicado aos consumidores em um libreto que acompanha cada embalagem e conta a história do produto – da origem dos ingredientes às diferentes etapas de fabricação. Mas o empresário admite que comunicar o ‘valor slow’ e a qualidade superior dos ingredientes que utiliza não é tarefa fácil. “Só experimentando um dos nossos perfumados panetones para sentir a diferença. No nosso caso é preciso provar”, afirma.

A empresa fatura cerca de 5 milhões de euros por ano, 50% com vendas ao exterior. E anualmente seus panetones artesanais ganham mais e mais prêmios de excelência. Mas Loison não está sozinho nesse mercado. No país do panetone, são muitas as empresas que apostam na alta qualidade artesanal. Para conseguir destaque, a pasticceri se concentrou na escolha das matérias-primas. Além dos ingredientes de base, utiliza produtos de origem controlada e tutelados pelo Slow Food, como pistaches do Bronte, favas de baunilha mananara, de Madagascar, e tangerinas tardias de Ciaculli. Todo esse cuidado, porém, tem um preço: enquanto um panetone industrial de 1 quilo custa, em média, entre 2 e 5 euros nos supermercados, o mais simples panetone Loison é vendido, na Itália, entre 15 e 18 euros. Preços que, para o empresário, estão de acordo com a qualidade do produto. De preferência, a ser degustado bem devagar.

Como diz meu cunhado, o problema não é o que você come entre o Natal e Ano Novo, mas sim entre o Ano Novo e o Natal, rs, então provar um desses deliciosos panetones com um Passito, Vin Santo, Porto Tawny ou Moscatel de Setúbal é daquelas experiências gastronômicas imperdíveis que, após um ano de árduo e dedicado trabalho, fazemos por merecer sem culpa nem medo de ser feliz! Sendo assim, não deixe de passar pela Vino & Sapore para fazer de seu Natal deste ano um momento ainda melhor e inesquecível!

Salute e kanimambo

Bom Vinho Rima com Boa Comida

              É, dá para tomar bons vinhos solo, mas a grande maioria foi feita para acompanhar comida, preferencialmente bem acompanhado(a).  A minha dica de hoje, na verdade duas, tem a ver com essa constatação e não deixem de brindar. Não interessa ao quê, pegue uma garrafa de espumante e faça deste dia um dia especial!

Restaurant Week – no Dicas da Semana da semana passada, tinha dado destaque e sugerido a visita ao Hitan, um local diferente a ser conferido. Hoje tenho o prazer de de destacar um restaurante pertinho de casa, o Açafrão da Terra. Local muito agradável que possui a Chef Cacilda (conhecida na região) comandando a cozinha, é um restaurante jovem com menos de seis meses de vida, mas que já começa a mostrar ao que veio com muito dinamismo e competência. Melhor ainda, é aqui na Granja Viana, um local especial com ampla carta de vinhos e uma ótima opção á zorra que se tornou Sampa. Vejam abaixo e não deixem de prestigiar, especialmente os moradores da região da Raposo Tavares.

Chef Márcia é Ideia Gourmet – estamos em plena Restaurant Week,  mas tem gente que gosta mesmo é de receber e se aventurar pelos segredos da boa culinária, em casa! Nesse caso, tanto você pode encomendar os serviços da simpática e sempre alegre Chef Márcia de Paula como aproveitar de seu conhecimento tomando umas aulas e visitando seu site da Ideia Gourmet. Eu tenho isso no meu wish list! Agora com a abertura da loja, não pude nem pensar nisso, mas deixa a coisa acalmar que estarei batendo na sua porta para marcar minhas aulas.

               Para acompanhar as dicas acima, um bom vinho sempre vai bem. Desta forma fica aqui a minha sugestão para um espumante. Falo muito destes vinhos borbulhantes, mas já faz um tempinho que não publicava nenhum comentário aqui. Desta feita venho recomendar um de uma casa produtora nacional, mais precisamente de Garibaldi, relativamente nova porém com um respaldo enorme de conhecimento já que pertence ao grupo Valduga, é a já muito premiada Domno. Sua marca, Ponto Nero, da qual sou gamado no Extra-brut que já comentei aqui por diversas vezes,  vem crescendo em diversidade e incorporando marcas importadas usando sua rede de ditribuição. Hoje gostaria de comentar o Ponto Nero Brut, seu espumante “básico” desta gama (tem outros) produzido pelo método charmat e mui recentemente premiado na avaliação do Guia 4 Rodas, em que ficou no segundo lugar na classificação geral de melhores espumantes do Brasil, sendo o mais bem colocado na categoria charmat.

Corte de Chardonnay com Pinot Noir e um tico de Riesling, mostra-se muito fresco e especialmente vivaz, talvez por esse tempero do riesling que lhe dá um toque mais mineral. Cremoso e de perlage fina, creio que advindo do uso do método charmat longo em que passa seis meses sobre lies, é cítrico com nuances de tostado e levedura, possui interessante volume de boca e é  muito bem balanceado dando-nos enorme prazer ao tomar. Pode ser tomado solo, como eu fiz no Domingo, ou acompanhando saladas, peixes grelhados sem grandes temperos, frutos do mar fritos (lula, camarãozinho), etc.. Um espumante que se vende no mercado por volta dos R$35,00 preço justo para o que entrega e, mesmo não sendo exuberante, não é esse seu papel e se buscar isso vá de extra-brut, é um espumante muito agradável e fácil de se gostar. Tomei e recomendo.

Salute e kanimambo

Garimpando para a Vino & Sapore

           Se pensar bem, faz um tempão que faço isso, mesmo antes de pensar em ter uma loja especializada em vinhos, cafés e produtos gourmet, garimpo sempre esteve presente em minhas viagens pelos caminhos de Baco. Inconscientemente, mas hoje fica claro que a litragem obtida neste período em que venho escrevendo para jornais e revistas afora meu blog, resultam no portfólio da Vino & Sapore. Certamente nem tudo o que gostaria de lá ter estará presente, mas a grande maioria dos rótulos provados que mostraram uma boa relação Qualidade x Preço x Prazer lá estarão. Na linha de produtos gourmet, no entanto, a busca foi mais recente e focada na excelência assim como, se possível, na disponibilidade restrita ou seja, produtos que não se encontram em toda e qualquer esquina sem que com isso se tornem produtos elitizados. Tenho provado muitas coisas, algumas como esta linha de produtos, gostaria de colocar no portfólio, porém ainda não cheguei num acordo comercial com eles. Mesmo que isto não venha a ocorrer, nada impede que eu faça aqui a minha indicação aos amigos já que os produtos são de prima!

              A empresa chama-se Bazzar e originou-se de um projeto gastronômico no Rio de Janeiro. Com a assídua solicitação de seus cliente para eventualmente levar para casa potes dos saborosos molhos elaborados pelo restaurante, nasceu esta linha de produtos que tive o privilégio de provar. São diversos molhos e uma linha de coberturas para doces e sorvetes, absolutamente divinos. Quem é visita assídua aqui no blog já sabe, quando algo me empolga eu solto meu arsenal de adjetivos, e não é diferente com estes produtos. Não são baratos, mas o preço faz jus à qualidade dos produtos que são deliciosos e muito bem elaborados com matérias primas de grande qualidade. Seu molho de curry é excepcional, suas mostardas elaboradas com as melhores matérias primas importadas são plenas de sabor porém possuem uma sutileza que surpreende. Gamei no delicado molho de damasco elaborado com fruta importada da Turquia, delicioso sobre pedaços de queijo brie em bolachas crackers da Carr’s inglesa (chique no úrtimo!) enfim, uma linha de molhos (para Carpaccio, Barbeque, etc..)  para ninguém botar defeito.

 

          Suas coberturas são um caso á parte. A de chocolate é densa, a de framboesa no ponto certo com aquele toque azedinho característico da fruta que demonstra que ali não existe mistura de amoras, o de café com chocolate é “exquisite” como diriam os ingleses e a calda de chocolate que você esquenta no micro se transformando num incrível fondue de chocolate é tudo de bom. Mas existem outros tipos também muito gostosos e aqui vai a dica gastronômica do dia, deu de frente com estas delicias não hesite, pode comprar pois os produtos são realmente especiais e um dos meus achados nessa viagem gastronômica por mares nunca dantes navegados. Quem sabe eu consigo finalizar algo com eles?!

Salute e kanimambo

Atração Fatal.

               Na semana passada dei uma passada na importadora  Grand Cru dos Jardins em São Paulo no final da manhã para tratar de assuntos inerentes à loja. Como tinha uma degustação ás 15 horas ali perto, optei por forrar o estômago por ali mesmo. Duvida cruel; D’Olivino, Le Vin Bistrot ou Paris 6? Ao passar na frente do Paris 6, duas moças recebiam a sobremesa nas agradáveis mesas da varanda e me deparei com este prato, digo taça!

 

              Hummmm, pensei já aguando, dessa taça eu preciso provar! Dei uma olhada no cardápio e dei de cara com uma opção de prato principal que me atrai muitíssimo, truta grelhada com amêndoas, irresistível!! Serviço simpático, sentei e perguntei se tinham garrafa pequena de vinho branco. Não tinham, mas poderiam servir taça de um Muscadet da região do Loire por um preço que, mesmo não sendo exatamente barato, caro também não era, então mandei vir. Delicioso, bem refrescado, era um Muscadet que conheço bem, o Sur Lie do produtor Le Haute Févrie trazido pelos amigos da Zahil e que certamente seria um companheiro perfeito para a truta que estava por vir pois é um vinho leve, delicado e muito harmonioso, daqueles que nos deixa pedindo mais, e mais, e mais, ….. Ciente que o preço não tinha me agradado muito, o maitre Silvano caprichou na taça com direito a “chorão”, legal. A salada estava ótima e daí chegou o peixe que não era truta e sim um bacalhau grelhado coberto de bom azeite. Não fosse o fato de que ninguém me tivesse avisado da troca, certamente uma boa pedida também. Chamei o Maitre que me disse que a truta não estava boa então o chef optou por substituir o prato. Legal, só que nesse caso, melhor ter em casa estoque de postas dessalgadas, pois esta quase não dava para comer. Enfim, levei até ao final, até porque o maitre para compensar seguiu enchendo a taça, rsrs, e a simpatia do pessoal assim o pedia.

              Erros acontecem, mas como sempre digo o que importa é como você os corrige. Neste caso, a simpatia do serviço e o bom Muscadet conseguiram me fazer querer voltar para conferir dando-lhes uma chance de se recuperar em minha avaliação gastronomica. O local também é muito agradável, então eis aqui uma interessante dica a ser conferida pelos amigos. Dei azar no dia, mas certamente o restaurante merece uma segunda chance, inclusive pelas boas criticas que li na net. Ainda saí e passei pela Pátisserie do Le Vin que é um capítulo á parte! Aqueles macarrons são um negócio e os doces de uma leveza e delicadeza impares. Ainda bem que não ando muito por aqueles lados pois as tentações são inúmeras!

Salute, kanimambo e não esqueçam do vinho, lembrando que bons brancos adequadamente harmonizados, vão bem em qualquer época do ano, não é vero Cristiano?

Ps. Ia-me esquecendo, a sobremesa estava divina!

Fotos meia-boca tiradas com celular, mas é o que tinha à mão!

Mais uma Dupla Ibérica na Taça.

                Vou fazer o quê? Parte escolha e parte obra do acaso, ou do destino, em dois fins de semana diferentes mais uma dupla Ibérica de peso. Cá entre nós, se pudesse e fizesse sentido comercialmente, mais da metade dos vinhos em minha loja seriam desta região. Tanto Portugal como Espanha possuem enorme diversidade e uvas autóctones de grande prestigio, ótimos produtores e, na maioria das vezes, vinhos de boa relação preço x qualidade quando comparado a outras regiões de história e tradição similares com rótulos do mesmo porte. Estes tomados não são dos mais baratos, pois se tratam de vinhos já conceituados, mas fazem jus ao que se cobra por aqui, considerando-se da realidade Brasileira. Quando comparado aos preços que pagamos lá fora, aí é outra conversa!

Domingo de Páscoa – tenho que reconhecer que sou um apaixonado pela Touriga Nacional, cepa que faz parte do blend de grande parte dos vinhos portugueses e é vinificado em varietal resultando em alguns dos melhores vinhos lusos. Para acompanhar o bacalhau escolhi este Só Touriga Nacional, velho conhecido, um rótulo produzido pela Quinta da Bacalhoa na região do Sado (Setúbal), uma visita obrigatória para quem vai a Lisboa, pois fica a apenas 40 minutos do outro lado do Tejo. Menos na mídia do que os grandes vinhos, este é um rótulo que me agrada muitíssimo e um de meus preferidos que sempre compro em minhas viagens a Portugal. Aliás, vai aqui uma curta dica de vinhos obrigatórios para quem lá vai que valem muito o que lá se paga já que não passam dos 12 Euros; Só Touriga Nacional /  Cortes de Cima Alentejo / Vila Santa Tinto / Quinta do Camarate / Post Scriptum / Quinta do Ameal Escolha Branco / Alvarinho Soalheiro / Grainha Branco, vinhos que costumam compor minha bagagem de retorno. Falemos, no entanto, do que bebi, do Só Touriga Nacional 2005. È um vinho que está no ponto certo de ser tomado e tenho visto que os varietais de Touriga Nacional crescem bem com tempo em garrafa, desabrochando e mostrando todo o seu potencial entre os 4 e os 6 anos, obviamente havendo vinhos que amadurecem bem mais tarde como, por exemplo, um Vallado ou Quinta do Crasto.

            Como disse, abri esta garrafa no momento certo. Um floral muito típico sobe da taça ao nariz trazendo-nos aquele aroma de violetas de boa intensidade porém delicado, mostrando também algumas notas de fruta vermelha compotada compondo uma complexa e agradável paleta olfativa que nos incita a levar a taça á boca. No palato mostra-se um vinho muito equilibrado, rico, ótimo volume de boca sem ser pesado, taninos finos e aveludados, rico, um final saboroso, longo e especiado que encanta e pede bis. Pouca garrafa para tanta gula e um perfeito acompanhamento para o Bacalhau à Braz que preparamos. Fosse de uma safra mais nova e seus taninos firmes se sobressairiam, mas este encaixou á perfeição e mostrou ser um lobo em pele de cordeiro já que, no meu conceito, é um vinho que surpreende e ás cegas certamente bateria um monte de rótulos mais afamados e caros. Após aquele maravilhoso champagne Mailly Grand Cru Blanc de Noir, um magnífico complemento para a primeira Páscoa com meu neto e uma digna celebração por sua chegada. Grandes vinhos, ótima comida e a companhia certa, receita para grandes momentos! O rótulo é trazido pela Portuscale anda na casa dos R$130 nas lojas especializadas.

Domingo Seguinte – mais uma celebração, a primeira visita de meu neto em casa. Lá fui eu para a cozinha preparar meu já tradicional Fetuccine com Salmão e Espinafre tendo como aperitivo polvo de caldeirada (esta em conserva) com um pãozinho italiano. O que acompanhar? Bem, certamente um vinho branco e pensei no delicioso Alvarinho Soalheiro que me aguardava na adega, mas aí caiu a ficha, porquê não algo diferente já que era um dia especial em que recebíamos um “convidado” para lá de especial? Busquei assim o presente que ganhei do Juan (Peninsula) quando do nascimento do Bruno, uma deliciosa cava, Juve y Camps Vintage Reserva 2006, estupenda! Mais uma vez faltou garrafa para tanta gula e a harmonização com ambos os pratos foi perfeita. Já tomei o Reserva da Familia Grand Reserva Nature 2004 deste mesmo produtor, por sinal também muito boa, mas tenho que reconhecer que para o meu gosto e para esta harmonização o Vintage 2006 se mostrou superior e desde já declaro que estará entre minha seleção de espumantes na Vino & Sapore.  Frutado (frutos brancos) no nariz com toques florais e nuances de brioche e leveduras sutilmente presentes. A perlage mostrou-se muito persistente, fina e abundante teimando em produzir estrelas no céu da boca. Bom corpo, cítrico, boa acidez, muito balanceado e agradável, crescendo muito com a comida e mostrando-se um ótimo companheiro de garfo afora se comportar maravilhosamente bem como aperitivo acompanhando umas tapas. É importado pela Peninsula e anda pela casa dos R$95 a 105 pelas lojas pesquisadas.

            Mais uma vez o Bruno iluminou o ambiente e me levou a tirar algumas preciosidades da adega que vieram alegrar o dia e dar enorme satisfação à família reunida em volta da mesa. Pena que ele ainda só tenha boca para leite, mas aguardo ansioso o dia em que tomaremos juntos a primeira taça.

Salute e kanimambo

25 Vinhos Inesquecíveis

         Diz-me com quem andas e te direi quem és! Ditado antigo, mas cada vez mais real tanto em nossas vidas como na política, mas não  é “deles” que quero falar não. Quero falar dos amigos Bebel e Sebastian, autores de um dos mais suculentos blogs sobre enogastronomia o Espaço Gourmet com link aqui do lado, além de outras artes, certamente o casal mais chique e “in” de toda a nossa vinosfera tupiniquim. Formam um lindo e jovem casal que, afora as virtudes visuais são gente boa para caramba. Tendo dito isso, veio-me á cabeça aquele papo de leis que pegam e leis que não pegam, não sei porque, mas “eles” insistem em me querer assombrar hoje! Na verdade, assim como existem leis que não pegam, existem idéias que também não colam. Ainda há pouco tempo abri um espaço para os amigos leitores se expressarem aqui no blog, mas não deu em nada. No ano passado tinha solicitado a amigos que me listassem seus 25 vinhos inesquecíveis e suas três melhores harmonizações, também não teve um retorno dos mais brilhantes, mas a Bebel e o Sebastian fizeram a parte deles então guardei a mensagem deles para um momento oportuno, que aqui está. Uma lista muito, mas muito especial que tem tudo a ver com o jovem e charmoso casal!

Foi com enorme satisfação que recebemos o convite do querido amigo João Filipe Clemente para listarmos os nossos 25 vinhos inesquecíveis e os três grandes momentos de harmonização. Optamos por apresentar exclusivamente Champagnes que degustamos nos últimos dois anos (tempo de existência do site Espaço Gourmet), três deles também presentes na nossa classificação de harmonizações, por tratar-se de uma celebração!

Um grande abraço e Santé!”

 

25 Champagnes

 

1 – Champagne Dom Pérignon Vintage 1992 (Celebração do Aniversário de 2 anos do site Espaço Gourmet)

2 – Champagne Dom Pérignon Vintage 1990 (Bodas de Pérolas, 30 anos, do Querido Casal Saba)

3 – Champagne Taittinger Brut Réserve (Bodas de Pérolas, 30 anos, do Querido Casal Saba)

4 – Champagne Veuve Clicquot Brut Yellow Label – base na vindimia de 2004 (Celebração da Posse do Novo Chefe de Cave da Maison francesa Veuve Clicquot Ponsardin – Dominique Demarville)

5 – Champagne Veuve Clicquot Vintage 2002 (Celebração da Posse do Novo Chefe de Cave da Maison francesa Veuve Clicquot Ponsardin – Dominique Demarville)

6 – Champagne Veuve Clicquot Vintage 1979 Magnum (Celebração da Posse do Novo Chefe de Cave da Maison francesa Veuve Clicquot Ponsardin – Dominique Demarville)

7 – Champagne Veuve Clicquot Vintage 1982 Magnum (Celebração da Posse do Novo Chefe de Cave da Maison francesa Veuve Clicquot Ponsardin – Dominique Demarville)

8 – Champagne Veuve Clicquot La Grande Dame Rosé 1988 Magnum (Celebração da Posse do Novo Chefe de Cave da Maison francesa Veuve Clicquot Ponsardin – Dominique Demarville)

9 – Champagne Pommery Brut Royal (Cruzeiro Marítimo a bordo do navio Silver Wind, da Companhia Marítima de Luxo Silversea, em 2008 entre Rio de Janeiro e Barbados, Caribe)

10 – Champagne Henriot Cuvée des Enchanteleurs 1995 (Vini Vinci 2009 no Hotel Grand Hyatt São Paulo)

11 – Champagne Henriot Brut Millésimé 1998 (Vini Vinci 2009 no Hotel Grand Hyatt São Paulo)

12 – Champagne Henriot Blanc Souverain pur Chardonnay (Vini Vinci 2009 no Hotel Grand Hyatt São Paulo)

13 – Champagne Henriot Rosé Brut 2002 (Vini Vinci 2009 no Hotel Grand Hyatt São Paulo)

14 – Champagne Henriot Brut Souverain (Vini Vinci 2009 no Hotel Grand Hyatt São Paulo)

15 – Champagne Moët & Chandon Nectar Impérial (Tour Moët & Chandon 2009 no restaurante Chef Rouge)

16 – Champagne Moët & Chandon Brut Impérial (Tour Moët & Chandon 2009 no restaurante Chef Rouge)

17 – Champagne Moët & Chandon Rosé Impérial (Tour Moët & Chandon 2009 no restaurante Chef Rouge)

18 – Champagne Moët & Chandon Grand Vintage 2000 (Tour Moët & Chandon 2009 no restaurante Chef Rouge)

19 – Champagne Mumm Cordon Rouge Brut (Jantar Harmonizado no restaurante Kinoshita do premiado chef Tsuyoshi Murakami)

20 – Champagne Drappier Cuvée Charles de Gaulle (Super Bowl 2007 com os queridos amigos Saul Galvão e José Oswaldo Albano do Amarante)

21 – Champagne Drappier Carte d’Or Brut (Nosso Aniversário de 3 Anos de Namoro)

22 – Champagne Legras & Haas Tradition Brut (Jantar de Gala “Paladar do Brasil 2009” Promovido pela Grand Cru no Hotel Grand Hyatt São Paulo)

23 – Champagne Piper-Heidsieck Brut (Degustação Especial “Reveillon 2008” para o Caderno Paladar (OESP) com os queridos amigos Saul Galvão e José Oswaldo Albano do Amarante)

24 – Champagne Gosset Brut Excellence (Degustação Especial “Reveillon 2008” para o Caderno Paladar (OESP) com os queridos amigos Saul Galvão e José Oswaldo Albano do Amarante)

25 – Champagne Veuve Clicquot Brut Rosé (Lançamento do Acessório Ice Dress para o Champagne Veuve Clicquot Brut Rosé no restaurante Braverie)

 

Três Grandes Momentos de Harmonização

 

Todos na Celebração da Posse do Novo Chefe de Cave da Maison francesa Veuve Clicquot Ponsardin, Dominique Demarville, com Menu Harmonizado pelo emblemático chef Laurent Suaudeau

  • Tartare de coquille (vieiras) St. Jacques em emulsão de coentro (Champagne Veuve Clicquot Brut Yellow Label)
  • Canneloni de crabe (caranguejo) com aipo ao molho de laranja acompanhado de um levíssimo gnochetti (Champagne Veuve Clicquot Vintage 2002)
  • Classique blanquette de veau Albuféra – Ensopado de vitela ao molho branco com cebola e cogumelos. (Champagne Veuve Clicquot Vintage 1979 Magnum

Quer arriscar a sua lista? Se quiser o espaço é seu, fique à vontade para se expressar e compartilhar com os amigos essa sua coleção de rótulos muito especiais que você já traçou ou provou!

Salute e kanimambo

Gurijuba e Chateauneuf-du-pape

            O vinho certamente você conhece, mesmo que ainda não o tenha tomado, mas Gurijuba conhece? Eu, debaixo de meus cinqüenta e cinco anos de experiência, confesso que não conhecia não nem nunca tinha ouvido falar! Gurijuba, também conhecido como guarijuba, é um peixe de corpo robusto encontrado principalmente no litoral Norte do Brasil, no Amapá entre a foz do rio Araguari até a foz do Cunani, podendo pesar até 30 kgs. Comi pela primeira e única vez na casa dos amigos Cris e Val, aliás num dia que foi a primeira vez de muitas outras coisas! Foi a primeira vez que fui a Valinhos, que fui á casa do Cris e da Val e que tomei um Chateauneuf-du-pape branco, um dia para não esquecer.

            O Cris leva jeito e me fez lembrar de algumas situações gastronômicas que me marcaram no ano passado (Malbec com Filhote e Filipa Pato no Dalva & Dito) em que um toque diferenciado do Chef fez a diferença e, neste caso, o Cris preparou um molho reduzido de laranja, mel  e um leve toque de pimenta que sobre o saboroso Gurujiba, preparado ao forno com batatas, deu uma liga fenomenal com esse potente Clos Des Papes 2006 que possui um final algo adocicado provavelmente devido a seus equilibrados 15% de teor alcoólico. Sei não, mas a continuar assim acho que o futuro irá desvendar um grande chef e dono de bistrot, aguardemos! O vinho, bem o vinho é grande e certamente melhorará mais ainda nos próximos dois anos, mas para falar dele eu deixo ao anfitrião fazer as honras da casa. O que posso comentar é que se trata de um vinho marcante, robusto e complexo que só foi sobrepujado pelo todo que se mostrou bem superior às partes. É essa sinergia entre pessoas, comida e vinho que faz com que determinados momentos sejam especiais determinando a perfeita harmonização, tudo o que os amantes da enogastronomia buscam incessantemente.

        De entrada um camarãozinho muito bem temperado acompanhado de um delicioso Sauvignon Blanc da Chilena Casa Del Bosque, muito fresco, balanceado e harmônico que também se mostrou uma parceria de prima que deixou saudades. Para finalizar, um mousse de damasco, elaborado pela Val, muito delicado e saboroso tendo o meu Coteaux du Layon Carte d´Or 2005 de Baumard (Loire) se sobreposto em demasia ao mousse. Esta gostosa sobremesa pedia um vinho mais leve e de maior frescor, mais acidez, para o acompanhar, porém o vinho era muito bom, a sobremesa idem e a companhia mais ainda, então não houve grandes danos.

        Ótima prosa, três ótimos vinhos, comida idem, boa companhia, que mais se pode pedir de um dia de Domingo?! Um Salute especial aos bons momentos da vida como esse e kanimambo amigos.

Ps: Restante do feriado estou de folga, retorno na Quinta com o resultado do Desafio de Vinhos Brancos Australianos (Aussie Whites) realizado na enoteca da Wine Society em Moema!

Sublime Simplicidade

        Muitas vezes ficamos quebrando a cabeça, criando os mais complexos pratos e buscando as mais incríveis harmonizações com um vinho à altura. Na maioria das vezes, no entanto, o menos é mais e aqui está um belo exemplo disso, um simples arroz de bacalhau com brócoli e um saboroso e macio merlot da Villaggio Grando de companhia.

         Os vinhos da Villaggio Grando me são muito apetecíveis e não é de hoje tendo já provado toda a sua linha de produtos que agora, com uma política mais adequada de preços, valem quanto pesam. Este Merlot 2007  é de cor rubi, média  concentração e leve halo. Delicado aroma frutado, ameixas,  chocolate, toques químicos e defumado  agradável.  Alta acidez, corpo médio e persistência longa, final de boca elegante, taninos finos e muito agradável. Já o bacalhau; desfiado e refogado com o brócoli juntando-se no final o arroz que cozinhou com parte da água advinda da última dessalgada  (24 horas na geladeira com 4 trocas) do bacalhau, é um prato fácil e rápido de ser elaborado, muito saboroso e leve mesmo que regado com bastante azeite do bom. O equílibrio foi perfeito e recomendo aos amigos tentarem esse encontro para confirmar como este mundo da enogastronomia, graças a Deus, não é nada binário. Aqui matemática não explica, mas dois mais dois não somam quatro e sim muito mais.

         Com 600grs de bacalhau desfiado, comida para cinco e eu, obviamente, comi  mais do que devia, porém ainda restou esse pratinho que matei solito no dia seguinte. Ainda sinto o gostinho e olha que já faz mais de uma semana!!!

Salute e kanimambo