Não é de hoje que bato na tecla de que o grande empecilho para um crescimento sustentável e duradouro para o consumo de vinhos finos no Brasil passas obrigatoriamente por preços mais justos e baixos, não confundindo aqui baixo por barato! Faz tempo que nosso consumo per capita de vinho não passa dos cerca de 1,8 litros anuais e de vinhos finos deve andar por aí na faixa dos 0,5 dos quais aproximadamente metade em São Paulo. Estes números são estimados já que não existem no Brasil estatísticas mais precisas, porém o que fica claro disso é que; se este numero saltar para 3 ou 3,5 litros, não haverá produção que chegue e nunca mais se falará de salvaguardas! Todas as outras ações, que não sejam realizadas concomitantemente são, a meu ver, meros paliativos sem muita eficácia concreta e um desperdício financeiro. Pela falta de trabalho, talvez até interesse, nessa redução de custos e preços num país onde tradicionalmente sempre se buscou ganhar mais com menos do que menos com mais, como nos grandes centros de consumo do mundo, vivemos hoje num país com um dos custos de vida mais altos do mundo e o preço dos vinhos acompanha esse status quo.
Pois bem, no Vinoticias 06/2013, o Marcio publicou um artigo de Christovão de Oliveira Jr. (Confraria Belo Vinho) sob o título – Preço Elevado, Caro ou Absurdo? Apreciei muito o conteúdo pois nos dá o que pensar e, paralelamente, deixa claro a diferença, para muitos pouco perceptível, entre o preço elevado e o caro. No texto fiz algums comentários que estão em preto. Curtam esse artigo que vale a pena.
“ PREÇO ELEVADO, CARO OU ABUSIVO ? ” – No ultimo sábado um amigo pediu que dirigisse um almoço-degustação para os componentes de sua confraria. Seria algo bem descontraído e o foco principal seria a reunião de um grupo de grandes amigos. Minha tarefa seria comentar os vinhos que seriam degustados e um pouco de cada produtor e das regiões de origem, sendo que todos os vinhos seriam de Portugal. Ele me disse que não precisava de nenhuma pesquisa específica uma vez que os vinhos seriam da gama média sendo quase todos vinhos do dia a dia.
Ao pesquisar sobre os vinhos vi que todos, sem exceção, eram rótulos altamente reconhecidos e todos eles premiados pelos mais diversos órgãos como Revistas, Guias e sites sobre vinhos. Mas a característica principal é que todos eles estavam, em Portugal, na faixa de preço entre 3,5 e 6 euros. Como eu sei que em toda a degustação a pergunta sobre o preço dos vinhos degustados é um fato garantido fui procurar o preço de venda deles na importadora. Foi difícil acreditar nos preços que encontrei: o valor deles variava ente 57 e 127 reais. Isto me obrigou a fazer nova pesquisa, desta vez em lojas de vinhos de Lisboa para conferir o preço que havia achado. Mais uma surpresa: encontrei preços um pouco inferiores aos que haviam encontrado antes: entre 2,90 e 4,30 euros para os vinhos da mesma safra que os que seriam servidos.
Até muito pouco tempo atrás a formula, quase infalível, para saber o preço de um vinho no Brasil era pegar seu preço em euros em lojas e supermercados da Europa e multiplicar por dez para achar o preço em reais também em lojas especializadas. (minha conta era de 4 a 5 vezes o preço de prateleira lá multiplicado por 2 se a origem fosse Dólar ou 3 se fosse Euro) Ou seja, um vinho europeu custava aqui cerca de 3,5 vezes o seu preço na Europa. Esta conta, com uma margem de não mais que 10% funcionava em praticamente todos os vinhos com algumas poucas exceções. Só que no caso desta degustação eu estava encontrando vinhos cuja multiplicação tinha que ser por valores de até 30 vezes.
Há muito tempo em conversas com importadores eu já vinha ouvindo as “explicações” sobre o motivo que a conta correta não mais podia ser a multiplicação por dez, e sim que agora deveria ser por 14 e até por 16. Claro que as explicações eram sempre os impostos e o famoso “custo Brasil”. Não quero me deter nestas explicações uma vez que se entrasse neste tema ia precisar de muitas paginas para explorar com alguma adequação o tema. Só vou dizer que não engulo estas explicações. Elas contem parte, mas não toda a verdade.
Voltando à degustação, o que pude confirmar foi o fato de que muitas importadoras têm colocado uma margem muito maior nos vinhos mais baratos para conseguir vender seus rótulos mais caros em faixas mais baixas de preço. Explico melhor: um vinho de 20 euros na Europa deveria custar aqui entre 200 e 280 (dependendo do multiplicador que fossemos aplicar e já considerando a nova realidade do número 14 como multiplicador válido). Já um de 40 euros sairia por 400 a 560 reais. É claro que em um país pobre como o nosso e, mais ainda, no qual os preços vem subindo deforma constante em vários itens, vender vinhos de 300, 400 ou 500 reais não é algo muito fácil. Então as importadoras resolvem “baixar o multiplicador” para vinhos desta faixa para 7 a 9 e para compensar o menor lucro neles, decidem “punir” a grande maioria dos enófilos que bebem, na maior parte das vezes, vinhos na faixa de 60/80 reais. Para isso aumentam o multiplicador para esta gama de vinhos.
Acho engraçado este procedimento no momento que produtores, importadores e lojas especializadas são unânimes em proclamar que o brasileiro bebe pouco vinho e que “precisamos aumentar a base da pirâmide”. E ai eu pergunto: como e quando vamos conseguir isto se os vinhos do dia a dia, que deveriam ser altamente acessíveis se tornam cada dia mais inacessíveis?
De minha parte, há muito não passo sequer na porta de algumas importadoras por considerar que seus vinhos têm preços totalmente abusivos. Nem com muita boa vontade eu poderia dizer que os preços são elevados ou os vinhos caros (o que seria muito diferente). A verdade nua e crua é que os valores cobrados são verdadeiros absurdos. É uma postura que, ao que parece, vai mudar de uma visão filosófica para uma visão muito mais fácil que é a econômica. Não vou comprar vinhos delas não por não concordar com os preços, mas simplesmente porque não poderei pagar os valores pedidos por elas.
Vou mudar um pouco uma das mais importantes frases do mundo do vinho, que foi escrita por uma de suas maiores personalidades, Emile Peynaud; ele disse: “Só existem maus vinhos porque existem maus bebedores”. Pois eu digo: “Só existem vinhos de preços abusivos porque existem aqueles que pagam o valor pedido”.
Preços como os que citei no inicio deste artigo são um desrespeito aos enófilos e um fator de desestímulo ao consumo de vinhos. E o pior é que a prática vem se tornando lugar comum, deixando de ser restrita a poucas importadoras. Cabe a nós, amantes do vinho, adotar uma postura de repúdio e combate a tal prática. Vinho encalhado nas prateleiras é vinho candidato a “promoções” que na verdade significam apenas a venda daquele produto por um preço muito mais perto da realidade. Reclamar dos preços atuais dos vinhos não basta, precisamos agir!
Bem, dá o que pensar não? Me recordo que ma vez perguntei a um importador porquê de tamanha diferença. A resposta, entre alguns outros pontos bastante pertinentes, foi de que o custo Brasil assim o pedia. As dificuldades colocadas na chegada da mercadoria ao Brasil, a instabilidade tributária, as barreiras tarifárias, etc. eram tantas que se não fosse calculada uma certa dose de gordura, uma importação só já poderia significar o fechamento de uma empresa! Pois é, essa é nossa vinosfera tupiniquim! Salute, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui.
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