Mais um muito saboroso e agradável encontro da Confraria Saca Rolha reunida na Vino & Sapore. Não falei no post anterior que participo de diversas! Nossa porta-voz é a confreira e sommelier Raquel Santos que reproduz aqui sua visão dessas experiências que vivemos com bastante intensidade e alegria em nossos encontros mensais. Pois bem, embarquemos nos relatos dela, que já tem seus seguidores aqui no blog, e ao final dou meu pitaco.
Quando se fala em vinhos de corte (blends ou assemblage), há que se comparar com os varietais. Durante séculos, na produção de vinhos, poucas pessoas sabiam quais variedades de uvas existiam na bebida que consumida. Os principais produtores do velho mundo utilizavam as uvas que melhor se adaptavam à terra, misturando-as, como numa fórmula mágica e secreta, com a intenção de extrair o melhor resultado final possível. A melhor expressão da terra, clima e certamente a mão do homem, na produção de um vinho, chamou-se de “terroir”.
Nessa época, ao se referir a algum vinho, falava-se em Bordeaux, Bourgogne, Barolo, Barbaresco, Rioja, Douro, etc. Era mais importante constar no rótulo a D.O.C. – denominação de origem controlada, junto com o nome do produtor, do que as castas utilizadas. Isso já estava implícito pela procedência e podiam variar de acordo com o clima daquele ano. Quando começou a produção de vinhos, no que chamamos hoje de “novo mundo”, optou-se por identificá-los pela variedade da uva como um fator de qualidade, já que eram mudas importadas das tradicionais e nobres castas europeias. Nós, consumidores, passamos a nos identificar com os estilos de cada uva, que por sua vez, definiria o estilo do vinho.
No encontro da confraria de Julho, pensamos em confrontar duas regiões produtoras, muito bem conhecidos por nós : A Argentina, que se destacou principalmente pela Malbec, e o Chile, pela Carmenére. Só que, nesse desafio, optamos por vinhos de corte (blends), onde essas uvas aparecem associadas a outras. A ideia aí foi que mesmo com presença de outras castas, o resultado final não deixasse de evidenciar as características e o estilo dos vinhos dessas regiões.
Uma degustação às cegas, é sempre divertida, e fazia parte da brincadeira descobrir, dos vinhos degustados, quais eram argentinos e quais eram chilenos. Para facilitar, foram servidos em pares (1 argentino e 1 chileno) por faixas de preços: (clique na imagem para aumentar)
1A. Estampa Gold 2009.
Muita fruta, madeira e especiarias(alcaçuz/cânfora…).Toque mineral, meio salgado que fazia contraponto com uma doçura alcoólica. Bem encorpado, boa acidez, com notas de tomate e pimentão.
Chile – Carmenére/Cabernet Sauvignon/Cabernet Franc/Petit Verdot.
1B. Finca Agostino Família Gran Reserva 2008.
Suave no nariz, frutas maduras, ervas, eucalipto. Taninos suaves, mas presentes. Toque de menta, mate e amêndoas.
Argentina – Malbec/Petit Verdot/Cabernet Sauvignon/Syrah.
2A. Aluvion Gran Reserva 2008.
Ataque floral no nariz(lavanda/violeta…), cânfora, noz moscada. Bem equilibrado, complexo e bom corpo.
Chile – Syrah/Cabernet Sauvignon.
2B. Norton Privado 2007.
Herbáceo com um leve mentolado. Muito potente em boca (acidez/taninos/álcool). Persistência longa, sobrando doçura. Pede comida.
Argentina – Malbec/Merlot/Cabernet Sauvignon.
3A. Bressia Profundo 2007.
Muito suave no nariz. Com o tempo foi-se abrindo, demonstrando uma enorme gama de aromas: florais, vegetais, defumados, etc… Muito equilibrado na boca. Macio, encorpado e longo. Boa acidez o que denota um bom acompanhante gastronômico. Esse vinho levantou muitas ideias de harmonização!
Argentina – Malbec/Cabernet Sauvignon/Merlot/Syrah.
3B. Caballo Loco Gran Crú Apalta 2010.
Esse é um vinho diferente. Produzido pela vinícola Valdivieso desde 1994. Muito potente e robusto, como o nome já diz, pode-se ver um cavalo selvagem de muita raça ali dentro da taça! Para domá-lo, dê o tempo que ele merece. É um desafio que sempre deixa um gostinho de “quero mais”, pela enorme gama de aromas, sabores e sensações que vão se revelando pouco a pouco.
Chile – Cabernet Sauvignon/Carmenére.
No final da degustação, foi chegada a hora de revelar os rótulos provados e para surpresa do nosso anfitrião, tivemos quatro acertadores! Isso mostra que vinho argentino não é só Malbec e o chileno tampouco será só Carmenére. O estilo deles sempre estarão ali, marcando presença. O prêmio, mais uma garrafa de vinho (é claro, rs..rs…), foi dividida entre todos! E não sei se foi proposital ou não……..querem saber qual foi o vinho?
Um VARIETAL de uva Merlot, italiano.
Poggio del Sasso 2011 – Cantina di Montalcino – Toscana.
Um vinho proveniente de onde as leis foram adaptadas ao gosto moderno. Os produtores da costa Toscana introduziram a uva Merlot e Cabernet Sauvignon na região dominada pela Sangiovese, ignorando a rígida classificação de DOC, e criando os chamados “Super Toscanos”.
Os defensores dos vinhos varietais argumentam que estes são os que melhor expressam a verdadeira essência do terroir, através dos sabores da terra, o comportamento do clima e a ação do homem que traduz tudo isso de uma maneira mais verdadeira. Já os que preferem os blends, além de valorizarem o modo ancestral da vinificação, acham que a mistura de castas diferentes proporcionam vinhos de melhor qualidade, ou seja, favorecendo seu equilíbrio, corrigindo defeitos, e onde não só a matéria prima que a natureza nos oferece é utilizada para criar um vinho. A interferência do homem que o faz torna-se de grande importância se a ele é dada essa liberdade.
Atualmente , a produção de vinhos no mundo, tem evoluído sempre no que diz respeito a tecnologia, do plantio até a distribuição. Temos desde vinhos artesanais, de pequenos produtores, naturais, orgânicos, biodinâmicos, com mais ou menos interferências no seu feitio. E dentre eles temos os blends e os varietais.
Qual é o melhor? Temos que provar para saber…….essa é uma busca incessante que sempre existirá, graças a Deus!
Cada um dos flights de vinhos, foi escolhido tendo como parâmetro uma determinada faixa de preço (80 a 90 / 100 a 120 e 190 a 210) para ver como a complexidade dos vinhos cresce conforme os preços o fazem. Caro não quer dizer bom e muito menos que seja do seu gosto, porém na maioria das vezes é fato consumado, quanto mais caro vinho melhor e mais complexo. Bons vinhos de cabo a rabo, mas a meu ver a Argentina ganhou (há controvérsias no grupo – rs) e esse Bressia Profundo, um grande vinho, foi para mim o melhor da noite!
Salute e kanimambo