Se tem coisa difícil de vender são os vinhos de Valpolicella, aliás como muitos chiantis, porque a história não nos traz boas lembranças. Durante muito tempo mandaram zurrapa para cá, vinhos raquíticos, precinho baixo, ficou a fama, uma pena porque há muita coisa boa por lá a explorar.
Pouca gente sabe que o Amarone vem de lá, apesar de idolatrarem o vinho, demonstrando que há muito ainda a fazer para elevar o nível de conhecimento dos seguidores de Baco, mas muita da culpa é também de importadores que não estão nem aí, qualquer coisa em troca do vil metal! As histórias desses atentados ao consumidor são muitas e até hoje o vinho alemão paga o preço do desgaste das famosas garrafas azuis e, nesta caso, um agravante que é o preço dos vinhos que vêm de lá hoje em dia. Enfim, coisas do mercado que deixam marcas que ficam, mesmo que não demonstrem efetivamente a realidade, porém a região tem muito bons vinhos, que ao provar as pessoas elogiam e compram só há que trabalhar mais e mostrar esses bons rótulos, mostrar a região e seus vinhos.
Nesta sub região do Veneto, nas colinas ao redor de Verona, os vinhos são elaborados com uvas autóctones regionais; a Corvina (protagonista), a Rondinella e Molinara assim como a Corvinone e algumas de menor uso como a Barbera, Sangiovese e Rossignola assim como algumas uvas internacionais mais recentemente introduzidas como a Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc .
Valpolicella e Valpolicella Classico Vinhos mais macios, algo ligeiros, taninos leves, baixo teor alcoólico (11 a 12%) e acidez de média para alta. A classificação clássico se dá para vinhos produzidos na região produtora mais antiga ao redor de cinco municipalidades; Sant’Ambrogio di Valpolicella, Fumane, San Pietro in Cariano, Marano e Negrar e normalmente apresenta vinhos de melhor qualidade, fuçando se encontram vinhos interessantes.
Valpolicella Classico Superiore, um degrau acima com passagem obrigatória de 12 meses em barrica, vinhos de maior extração, cor, álcool um pouco mais alto (entre 12 a 13%), taninos mais presentes apresentando maior estrutura, corpo médio uma classificação que faz a minha cabeça e há muito vinhos sedutores por aqui.
O Valpolicella Ripasso, que passa por uma segunda fermentação nas borras dos Amarones por 15 a 20 dias, ganhando estrutura e complexidade, corpo médio para encorpado, vinhos redondos, harmônicos muito bem balanceados e de teor alcoólico um pouco mais alto que o superiore e bem gastronômicos
Amarone, só o nome já deixa muitos suspirando sem que a maioria saiba que é um vinho de Valpolicella. Um vinho encorpado seco, elaborado com uvas que passam por um processo de desidratação de cerca de quatro meses quando as uvas perdem cerca de metade de seu peso concentrando açucares porém a fermentação segue até o fim resultando em teores alcoólicos bastante altos (15 a 17%) e vinhos densos com um minímo de 2 anos de envelhecimento antes de sair ao mercado, uva passa bem presente. Envelhecimento ocorre em toneis grande de carvalho da Slavonia e/ou barricas francesas de 225ltrs. Vinhos longevos (10 anos + dependendo do produtor), grandes parceiros para um bate papo e lascas de Grana Padano ou queijos similares.
Recioto della Valpolicella que é um vinho doce também obtido através da secagem das uvasdesta feita por períodos de até 200 dias , porém a fermentação é interrompida resultando em vinhos de teor mais alto de açucares e menos álcool. Vinhos que envelhecem bem podendo se tornar verdadeiros néctares.
Todo este preâmbulo sobre a região de Valpolicella, tem a ver com uma degustação que tive na Mistral para conhecer dois novos produtores da região que eles começaram a trazer ao Brasil. Em função da proximidade com Bardolino e Soave, outras DOC no Veneto, boa parte dos produtores de Valpolicella também acabam produzindo vinhos dessas regiões e tive a oportunidade de provar alguns mais uma vez. No próximo post falarei dos vinhos provados da Campagnola e da Speri que mais me chamaram a atenção. Até Quarta, saúde e kanimambo pela visita.