Bem, depois de tanto suspense finalmente citarei o nome do elixir que me seduziu e me levou ao nirvana. Me considero um degustador experiente com alguns milhares de rótulos na bagagem, de tudo o que é estilo, cor e origem, mas mesmo com esse “calo” me emocionei como nunca dantes perante um vinho. Como disse, a degustação se deu na Expovinis e foi algo fora deste universo, pois se tratava de uma prova vertical em que estavam presentes nada menos nada mais do que 13 vinhos de 13 safras diferentes, sendo a primeira de 1998 e a última a de 1900 tomados nessa ordem. Sim você leu corretamente, 1900! É até provável que você já tenha lido sobre elas em posts publicados por outros privilegiados participantes desse evento promovido pela J.H. Andresen de Vila Nova de Gaia, onde história e grandes vinhos se misturam em perfeita harmonia. Hoje capitaneada por Carlos Flores, a empresa foi fundada por um jovem dinamarquês de apenas 19 anos de idade em 1845, Jann Hinrich Andresen nome que até hoje prevalece na porta desta casa produtora portuense mostrando que mesmo com as mudanças de proprietário a história e tradição foram mantidas.
Foi Carlos Flores que nos recebeu nesta magnifica degustação comentada com louvor pelo conceituado critico português e jornalista do vinho Rui Falcão – Revista Wine a Essência do Vinho, e os divertidos pitacos de quem hoje comanda as caves, o enólogo Álvaro van Zeller. Show de bolae uma tremenda sinergia entre os três só batida pela excelência deste Portos Colheita na taça e na boca. A maioria dos vinhos é mantida nos cascos (600 litros) sendo engarrafados aos poucos e de todos os vinhos provados, somente um já não existe no casco e está totalmente engarrafado, o de 1937 engarrafado em 1980, uma joia rara que meu amigo César tem o privilégio de ter em sua rica adega (me aguarde César! rs).
Carlos Flores teve o privilégio de seu antecessor ter sido um “colecionador” de Portos já que ao longo de sua vida só comprou e fez vinho sem vender, estocando e envelhecendo esses caldos com toda a paciência do mundo. Da mesma forma, Carlos já trabalha nos vinhos da próxima geração que provavelmente não verá saírem ao mercado, estranho não? Começam a entender a razão de tanta emoção na taça? É pura historia, tradição e cultura engarrafadas!! Para elaboração desses Tawnies Colheita Velhos, Álvaro de Castro separa os melhores caldos em 50 cascos para envelhecimento nas caves da empresa. O restante dos vinhos é colocado no mercado com uma média de doze anos de idade e nunca menos de oito! Uma característica importante destes vinhos é que, depois de engarrafar, ele permanece dormente por cerca de 10 anos e só depois desse período é que se inicia um novo processo de evolução, agora na garrafa. Estes vinhos com mais de 40 anos em casco, ganham cor e taninos que tiram da madeira em que sencontram e devem ser servidos por voltas dos 10 a 12ºC.
Afora 0 1937, esgotado na adega, que está engarrafado e consequentemente com “packaging” final e comercial, todos os outros são amostra de cascos sem rótulos comerciais. Iniciamos a degustação com o muito bom 1998 e eu tomando minhas anotações. Na sequência os 97 / 95 / 92 (divino) / 91 (excelente) a essa altura e já entrando em êxtase me perguntei, que diabos faço eu aqui tentando explicar o inexplicável, analisando estes elixires que são impossíveis de ser descritos? Parei de tomar notas, relaxei e curti a viagem pois chegaram á mesa o; 82 (grande!) / 81 (genial) / 75 (dá para ficar melhor?) / 68 (maravilha, uma obra de arte) / 63 (para tomar de joelhos) / 37 (impressionante) /10 (obrigado meu Deus por ter me dado este privilégio!) / 00 (acabaram-se os adjetivos qualitativos e os vinhos)!!!!!
Andresen Porto Tawny Colheita 1910 o Vinho da Minha Vida
Se você esperava que eu ficasse aqui descrevendo este vinho com sua riqueza e complexidade, sua elegância, incrível textura e sofisticados aromas, acidez impressionante para um vinho de mais de 100 anos e um final interminável, esqueça pois o vinho é muito mais que isso! É indescritível, vai fundo, passa do olfato e palato mexendo com todas as nossa emoções, um vinho que beira a perfeição, se é que ela existe, e nos alcança a alma. Um ancião vibrante e cheio de vida!
Soberbo seria dizer pouco desse incrível elixir de Baco que, vi na Revista de Vinhos portuguesa, custa algo ao redor de 2.500 Euros a garrafa. Quem tiver essa grana eu sugiro ver com a vinícola se pode engarrafar em garrafas de 200ml (rs) e comprar umas duas dúzias para ir tomando ao longo da vida no escurinho do quarto, uma boa musica instrumental de fundo , olhos fechados deixando a emoção tomar conta e viajar no tempo! De chorar de felicidade e emoção á flor da pele ainda hoje quando escrevo estas linhas na tentativa de compartilhar com os amigos esta experiência que espero não venha a ser única em minha vida. Uma pena que não consegui uma garrafa dessas para meu altar de baco, mas vinho de excelência é assim mesmo, a persistência é interminável, na mente!
Hoje, um kanimambo muito especial ao pessoal da Essência do Vinho e ao Rui especialmente por sua apresentação, ao Carlos Flores por sua generosidade ao Álvaro de Castro pelo que está a fazer na adega, ao Jann Hinrich, ao Albino Pereira dos Santos que fundou esta nova fase da vinícola em 1942, a todos aqueles que contribuíram com estes incríveis caldos. pelo que sei ainda não enontraram o parceiro certo aqui no Brasil, então não sei quem o revende e tão pouco quanto custará por terras brasilis. Interessante que a grande parte dos vinhos que deixaram marcas na minha mente tenham sido doces; Pendits Tokaji Essenzia 2000, Porto Dalva Branco 63, S. Leonardo Porto Twany 20 anos, Moscatel Roxo 1971, Quinta do Vesuvio Vintage 2007, entre outros. Não sei o que me espera amanhã, quanto mais o resto da minha vida, mas até hoje, nada melhor que o Andresen Colheita 1910 preencheu a minha taça!
Salute e que baco lhe proporcione a mesma experiência que tive num futuro não tão distante, seja com este rótulo ou com qualquer outro, pois sentir essas sensações é pura emoção, algo tão marcante que se torna inesquecível. Um vinho de reflexão e meditação para ser aplaudido de pé, e foi!