Variedade Sobre a Mesa e na Minha Taça

         Se há uma coisa que me encanta nesta vinosfera, é a diversidade de sabores, cepas e regiões produtoras. Possuo meus “portos seguros”, mas sempre que posso me aventuro por mares não navegados na busca por novas experiências e sensações. Aliás, eis aí algo a ser pensado como diretriz enófila para 2010; navegar e aventurar-se mais, provar sem preconceitos, buscar sabores novos. Eis alguns desses vinhos que curti ultimamente e que achei valem a pena ser compartilhados com os amigos. São vinhos que tomei, gostei e recomendo aos amigos.

Teroldego 2005 – Produzido pela Angheben e distribuído em São Paulo pela Vinci, Vinho diferenciado produzido com uma cepa pouco conhecida no Brasil. Violáceo na cor, nariz de frutos negros em compota, algum chocolate e baunilha fruto de uma madeira bem aplicada que só ressalta e dá complexidade a um conjunto olfativo sem muita intensidade, porém muito elegante. Na boca é carnudo, ótimo volume de boca, equilibrado, taninos macios, rico com um final de boca muito saboroso invocando especiarias e algum tostado. Vinho gostoso para quem busca sabores e sensações diferenciada. Preço ao redor de R$59,00.

Barossa Valley Estate E-Minor Shiraz 2006 – Estilo: Varietal / Origem: Austrália / imp.: Wine Society – vermelho intenso com variações púrpuras e brilhante formam um visual convidativo na taça. Aromas de frutos negros com algo de especiarias típicas da casta compõem uma paleta olfativa bastante atraente. Na boca é muito sedutor, boa estrutura, frutado, fresco e elegante com taninos sedosos, muita riqueza de sabores, boa acidez, equilibrado com um final longo, mineral, levemente apimentado e apetecível. Um belo exemplar de shiraz australiano com um preço muito convidativo, ao redor de R$83,00.

Villaggio Grando Brut 2009 – o novo espumante desta vinícola situada em Caçador, Santa Catarina. Esteve presente no Grande Desafio de Espumantes que realizei em Novembro e nem rótulo tinha conforme pode ser visto pela foto. Como vieram duas garrafas e só uma foi usada no Desafio, a segunda me fez companhia neste almoço de Natal. Incrível a excelente perlage que, lamentavelmente, não consegui captar de forma adequada em foto. Intensa, abundante, tamanho médio e muito persistente formando um delicado colar de espuma na borda da taça e uma cor amarelo palha bem clarinho. Baunilha bem presente no nariz, frutos secos e algumas nuances de padaria de forma bastante sutil e delicada. Na boca mostra-se harmonioso, fresco com toques mais cítricos e bastante longo, muito agradável e apetecível tendo sido um ótimo “preparador’ do palato para os pratos que estavam por vir. Elaborado pelo método Charmat, é um corte de Pinot Noir com Chardonnay e Pinot Meunier (único no Brasil), uma ótima opção entre os bons espumantes nacionais. Na faixa dos R$40,00 na vinícola.

           Por hoje é só, mas amanhã tem mais. Falta pouco, estamos por terminar mais um ano e muita gente já está de férias. uns fazem o balanço do ano, outros preparam suas listas de objetivos e promessas para 2010. A todos um brinde especial, que no próximo ano consigamos cumprir mais objetivos e promessas. Que seja um ano melhor do que 2009!

Salute e kanimambo.

Uvas & Vinhos – Barbera

Barbera - Italian Wine HubBarbera, uma das uvas tintas mais plantadas na Itália, divide com a Nebbiolo o protagonismo de vinhedos na região do Piemonte. Existe ainda uma versão branca, conhecida por Barbera Bianca. Não devemos confundir a uva Barbera com o vinho Barbaresco que é elaborado na região do mesmo nome, também no Piemonte, porém com a uva Nebbiolo.

          Sua origem mais freqüentemente citada é a cidade de Casale Monferrato, no Piemonte. Na Catedral da cidade existem documentos que indicam o plantio de videiras de Barbera já no século XIII. É uma variedade que amadurece relativamente tarde, quase duas semanas após a variedade mais tardia do Piemonte, a Dolcetto. Sua principal característica é o alto nível de acidez natural, ainda que muito madura. Essa característica a torna uma ótima opção para regiões de clima quente desde que sua produtividade seja controlada.

         No Piemonte é amplamente utilizada, gerando vinhos desde os mais baratos e produzidos em longa escala, até vinhos encorpados, com muito boa estrutura e bastante longevidade. Algumas características são comuns aos vinhos de Barbera, coloração ruby intenso e profundo, bom corpo ainda que com moderada presença de taninos, pronunciada acidez e teor alcoólico relativamente baixo, podendo variar de acordo com as regiões onde é cultivada.

        As principais denominações de origem do Piemonte onde a Barbera é considerada a principal variedade são; Alba, Asti e Monferrato, esta última menos conhecida por aqui. Na região de Barbera d’Asti DOC existe uma sub-zona chamada Nizza, reconhecida como a melhorBarbera região para o desenvolvimento da variedade, por ser a parte mais quente de Asti, onde a uva atinge seu melhor ponto de maturação. Os Barbera d’Alba tendem a ser mais complexos, de maior estrutura e de cor mais escura, enquanto os Barbera d’Asti tendem a ser mais frutados, claros e brilhantes (lembrando os vinhos Beaujolais), muito elegantes e finos. Em 2008, Monferrato virou DOCG e seus Barbera de Monferrato Superiore são vinhos a serem garimpados assim como os produzidos na sub-região de Langhe também no Piemonte. Nos anos 80 e 90, em paralelo ao surgimento dos Supertoscanos, o uso de barricas em Barberas passou a ser considerado e utilizado de fato, agregando complexidade aos vinhos, especialmente em relação à maciez dos taninos, controle da elevada acidez e riqueza aromática tornando-os, também, mais longevos.

        Além do Piemonte, a Barbera é também cultivada na Lombardia, na região de Oltrepò Pavese, na Emilia Romagna, em Colli Piacentini, em Bologna e Parma. Na maioria do país a variedade é utilizada em cortes com outras uvas. Na Sardegna existe ainda a Barbera Sarda. E, alguns defendem que, a Perricone ou Pignatello, autóctones sicilianas, são variações da Barbera.

        Fora da Itália, a variedade é cultivada em países como Eslovênia e EUA, na região da Califórnia assim como Grécia, Austrália, Israel e Romenia. Se desenvolveu muito bem na América do sul, especialmente na Argentina, nas regiões de Mendoza e San Juan, porém não são muitos os vinhos de qualidade disponíveis no mercado. Também existe algo no Brasil com um expoente máximo no momento como veremos mais abaixo em nossa recomendação de vinhos.

Harmonização: (hoje sem as dicas do amigo Álvaro Galvão que está viajando e aproveitando merecidas férias)

Uma das características dos vinhos de Barbera é sua capacidade gastronômica em função de seu corpo médio e boa acidez que chama comida. Quando falamos em harmonização, recorrer à regionalidade é sempre uma boa escolha e, neste caso, não poderia ser diferente. Em geral os vinhos de Barbera são ótimos parceiros para antepastos e embutidos italianos. Massas com molhos mais estruturados, com um belo ragù alla bolgnese, prosciutto di Parma, ou ainda pratos com funghi secchi e salmão defumado.

Vinhos Tomados e Recomendados: (preços aproximados nesta data)Pio Cesare Fides

Vinhos a garimpar:

  • Araldica Barbera d’Asti Ceppi Storici 2006 – Decanter – R$59,00
  • Barbera d’Asti Camp du Rouss 05 – Mistral – R$91,00
  • Barbera d’Asti Superiore DOC – Vinea – R$114,00
  • “La Court” Barbera d’Asti Superiore Nizza 2004 – Zahil – R$275,00
  • Braida Barbera d’Asti Brico Dell Uccellone – Expand – R$298,00

Sugestões do Oz Clarke retiradas de seu excepcional guia “Grapes & Wines”, um de meus livros de cabeceira e fonte de referência para todos estes posts. Estes rótulos são de origens outras que não Alba e Asti.

  • Bonny Doon Ca’del Solo Barbera – California
  • Dromana Estate “I” Barbera – Austrália
  • Norton Barbera – Argentina – esse está fácil e já entrou na minha mira!
  • Renwood Amador County Barbera – California
  • Giulio Accornero e Figli Barbera del Monferrato Superiore Bricco Battista
  • Colli Piacentini Barbera della Stoppa
  • Elio Altare Langhe Larigi

Vinhos Sugeridos pelo Paulo Queiroz: Para quem ainda não conhece, o Paulo é um nobre colega de blog (Nosso Vinho) que, apesar de sua descendência Lusa, cisca mesmo é em terreiro italiano! rsrs. Brincadeira porque ele possui um gosto bastante eclético e prova de tudo o que seja bom, mas verdade seja dita, tem uma queda pelos vinhos italianos. Pedi-lhe ajuda para finalizar estas dicas já que minha experiência com os vinhos italianos é bem mais limitada e a idéia aqui é prover o leitor com as mais diversas opções possíveis. Eis as sugestões do amigo, sendo que o Pio Cesare Barbera d’Alba foi comum aos dois.

Post elaborado a quatro mãos! O texto sobre as uvas chega pelas mãos da amiga Mariana Morgado e minha, e as sugestões de vinhos são minhas. Como convidado especial, o amigo Paulo Queiroz do blog Nosso Vinho. Para ver como contatar os importadores e checar onde, mais próximo de você, o rótulo está disponível, dê uma olhada em Onde Comprar, post em que constam os dados dos importadores e lojistas assim como de produtores brasileiros.

Esperando que este post e suas dicas lhe possam ser úteis nesta viagem por terras de Baco, fica aqui um arriverdeci especial aos amici del vino.

Salute e kanimambo

Breno direto da FENAVINHO – O salto de qualidade

breno2Breno Raigorodsky, amigo e colaborador de todos os sábnados com suas deliciosas crônicas, nos escreve direto da Fenavinho. Para acessar seus textos anteriores, clique em Crônicas do Breno, aqui do lado, na seção – Categorias

 

Nesta semana de visitas à região do Vale Vinhedo, sob o patrocínio da Ibravin e por ocasião da Fenavinho, elejo homenagear com este artigo dois sujeitos entre todos que nos acolheram e nos agradaram com seus produtos, e suas personalidades. Um lembra o outro. Idalêncio Angheben lembra Mário Geisse.

Trabalharam juntos em projetos importantes na consolidação da imagem Chandon no Brasil, o primeiro desde o começo – e por muitos e muitos anos – e o segundo ao orientar a criação do momento mais bem sucedido em termos de qualidade da empresa francesa por aqui, em torno do início dos anos 90, incluindo o lançamento do Excelence da Chandon. Pensem que ousadia foi criar um produto que atingiria o mercado com o peso de um preço ao menos duas vezes superior a tudo que ele houvera absorvido até então! O Excelence foi sucesso puro e abriu o caminho para que Garibaldi ganhasse a fama de terra dos espumantes. O Idalêncio colocou seu conhecimento a serviço da Chandon, desde o inicio do processo de implantação da gigante francesa pela América, que, como um polvo atento, estendia seus tentáculos para o Brasil, Argentina e EUA simultaneamente. Idalêncio veio de família vinhateira, mas foi dos primeiros de sua geração a se livrar do rame-rame circular das famílias de antão, que viciava a produção brasileira com álcool indevido, vindo de uvas americanas. Foi pras cabeças, não conciliou sempre que houve brechas para lutar e se locupletou com conhecimentos modernos adquiridos não apenas nas salas de aulas, mas nos campos e bodegas.

espumantes-salton1O Mario veio para cá quando já tinha dados os primeiros passos no Chile em direção às modernas técnicas que faziam da qualidade o objetivo a ser atingido e não mais – quase tão somente – a quantidade produzida. Por esta razão, a Chandon o cooptou. O chileno ficou por aqui durante alguns anos, foi-se embora para a sua terra para sempre cá voltar, seja como consultor, seja como produtor proprietário de uma das mais charmosas e melhores casas vinícolas do Brasil. Sua especialidade agora, borbulha em garrafas que saem com o nome Casa Amadeu/Cave Geisse as melhores do país (não para mim, não para você, mas para toda a torcida do Corinthians). São borbulhas que nascem neste canto do Vale do Vinhedo, onde Pinot Noir e Chardonnay – na proporção de um para três – brotam das terras que ficam na chamada Linha Amadeo, terra cujo solo rochoso, poroso e com falhas estruturais importantes, permite rápida drenagem. E, com a cumplicidade indispensável de uma amplitude térmica excelente, cria as condições de plantio que procurava.

Sem deixar seu trabalho na Casa Silva chilena, Geisse está sonhando acordado, fazendo parcerias locais para produzir o seu projeto que, não por acaso, chama-se Soño, que é de produzir ele mesmo e em terra própria o que ele mais tem como referência. Ou seja, Mario comprou e produz atualmente champanhe em Champagne, Reims, França. Mario produz carmenèrre no Chile, com marca própria. E pretende fazer muito mais, é só esperar. Em artigo recente para a revista Isto É, o leitor fica sabendo que “um de seus tintos, o Bisquertt, foi eleito em 2002 o melhor merlot do mundo pela International Wine Spirit Competition, na Inglaterra. O mesmo concurso elegeu no ano passado outro de seus “filhos”, o Los Lingues Gran Reserva 2001, o melhor carmenère do planeta”. Mas o que a revista e ninguém mais fala é sua revolucionária decisão de optar por estas caixinhas com torneira para comercializar os vinhos que produz, além dos espumantes, com o nome Casa Amadeo. São vinhos de uvas de vinhateiros da Linha de Amadeo que ele fiscaliza e vinífica criando seus Reservas, um tinto – em caixas de 5 litros – e outro rosado – em caixas de 3 litros. É um projeto que pretende diminuir custos e popularizar o vinho, que pode chegar às taças dos restaurante a menos de R$5,00 com a qualidade Geisse, produto de excelência como já demonstrou com todos os outros que faz.

Mas o Mario continua lembrando o Idalêncio Angheben, depois de tudo isso. Eles se assemelham pela quantidade de coisas que fizeram para o vinho brasileiro ganhar qualidade. Pois não bastasse Idalêncio ter seu nome ligado à história da Chandon, foi ele o principal professor formador desta geração de enólogos que começam a aparecer atrás de todas as vinhas Brasil afora. Não bastasse sua ação acadêmica, foi o técnico explorador que com seu filho Eduardo – doutor em enologia, formado pela primeira turma do Brasil, com especialização em Bordeaux – descobriu para o vinho a Campanha, particularmente a Encruzilhada da Serra, onde mantém sua plantação, muito antes de Lidio Carraro sequer pensar em plantar por lá. Foi ele também responsável pela realização do Vale do Vinhedo, dando condições para que aquela produção passasse do vinho de mesa a vinho fino entrando para uma rota de qualidade. O cara é sério. Fora do meio, seus produtos são conhecidos apenas alguns de seus vinhos de muita qualidade, como estes Gewurtzraminer e  Touriga Nacional que tive oportunidade de provar e colocá-los entre as melhores surpresas que experimentei nesta semana (veja abaixo).

Geisse e Angheben. Uma dupla que merece um olhar atento, porque quando parece que eles estão deitando em berço esplêndido, mostram que se levantam, só para surpreender. 

remuage 

  • Palmas para um produtor como o Geisse, que decide comercializar seus vinhos tinto e rosado reservas, em caixinhas de papelão, incentivando o mercado para superar a pecha de produto de carregação colados às caixinhas, que não deixam o ar entrar conforme o vinho vai saindo, uma solução ideal para vender vinho em taça em restaurantes de bom movimento.
  • Palmas para a Angheben por estes Touriga Nacional e Gewurtzraminer, ambos traduções locais, sem muitas concessões aos modelos europeus.
  • Palmas dobradas ao elegante brinde que os jornalistas receberam do Juarez Valduga: uma grappa de chardonnay embalado como se fosse perfume com spray. Ótimo para pulverizar um embutido fatiado ou uma salada ou sei lá o quê, provando que a Valduga atingiu a maturidade em comunicação.
  • Palmas para os chardonnay tranqüilos da Guerini, Salton e da Valduga. Competem com outros grandes como os da Cordilheira de Sant’Ana, do Bettù e do Villa Francione. O Valduga tem quase tanta manteiga quanto o da Villa Francione e até arrisco dizer que pode ser mais equilibrado que o prestigiado concorrente. Palmas para os espumantes em geral, o que não é mais surpresa. Surpresa neste quesito é o da Dal Pizzol, finalmente um moscatel que não exagera no açúcar.
  • Palmas para o Elo da Lidio Carraro, que usa o malbec em 20% para equilibrar o cabernet sauvignon e fazer do vinho um retorno gastronômico à vocação autóctone em Cahor da uva ícone argentina. Finalmente, nada daquela gosma enjoativa de compota de açúcar que tanto caracteriza o ataque na boca.
  • Palmas (?!) para o Series: Cabernet Franc da Salton. Palmas pela qualidade, mas pena pela descontinuidade, pois o produto saiu da linha de produção.
  • Palmas para a propriedade do Dal Pizzol. Palmas para a sua adega de vinhos de mais de 30 anos. Palmas por nos conceder uma degustação com um deles, polêmico na avaliação, agradando mais um do que outros.
  • Palmas para aqueles que procuram sua identidade porque parece ter chegado a hora de não apenas servir o que se espera, mas surpreender e educar com a qualidade.

Breno Raigorodsky; filósofo, publicitário, sommelier e juiz de vinho internacional FISAR

 

Brasil, Vinhos que Tomei e Recomendo – I

Ao longo dos tempos tenho tomado diversos vinhos brasileiros. Aliás, nos idos de oitenta não havia muitas opções, ou era isso ou tinha-se que ter o bolso bem recheado pois os importados eram caríssimos. Hoje existem muito mais opções no mercado, mas sempre tento provar os nossos nacionais e tenho visto um enorme salto de qualidade no produto. Acho que a nível comercial ainda há muito o que fazer já que é difícil encontrar os produtos, exceção feita a umas três ou quatro vinícolas maiores, nos diversos pontos de venda. O próprio consumidor conhece pouco de nossos produtos o qual olha com certo preconceito baseado em más experiências de anos anteriores. Por outro lado, em um ano de atividade tive somente um convite para degustação de vinhos brasileiros, a Cordilheira de Santa’Ana, a qual comentarei mais adiante, enquanto não tenho dedos para contar todos os convites que recebi de diversas importadoras. Isto, obviamente, reduz o nível do garimpo, conhecimento e capacidade de divulgação.

Por sinal foi incrível o baixo retorno das vinícolas, a grande maioria sequer se dignou a responder aos e-mails enviados, quando lhes informei do painel sobre vinhos brasileiros que estava realizando. Nada contra, ninguém precisa me atender e isto não é uma reclamação ou desabafo, cada um age da forma que acha devida e há que se respeitar isso, somente uma constatação de que o trabalho de pesquisa e garimpo certamente ficam prejudicados e esta ausência de informações, de acordo com conversas com diversos outros atuantes na área, parece ser uma característica do setor. Ou seja, o que quero externar, é minha opinião sincera de que grande parte das vinícolas brasileiras, obviamente que existem exceções e falo de forma genérica, são vitimas de seus próprios erros na ausência de uma política adequada de divulgação e distribuição. Num mercado competitivo que nem o Brasil, entre os quatro principais no mundo em termos de diversidade, com cerca de 18.000 rótulos só de importados, quem ficar sentado na vinícola esperando o cliente chegar ………

Enfim, o problema é mesmo dos produtores, não nosso e já dei palpite demais sobre esse assunto. Como consumidores o que queremos é tomar bons vinhos com bons preços e ter uma certa facilidade de acesso aos rótulos que mais gostamos. Nesse sentido, creio poder lhes sugerir alguns rótulos bastante interessantes, uns mais conhecidos, outros menos, baseado em minha experiência. Começo pelos mais baratos, como sempre faço, lembrando que as safras de 2002, 2004 e 2005 foram muito boas e são uma boa pedida para se procurar nas lojas, especialmente a 2005. Quanto aos vinhos brancos, melhor tomar o mais jovem possível e a safra de 2008 tem apresentado bons produtos.

 

Até R$30,00 uma série de vinhos que não têm a intenção de serem grandes, mas que são muito bons para o dia-a-dia e estão prontos a beber.

 brasil-002

  • A Miolo tem uma linha bastante grande de produtos, mas dentro desta faixa de preços os que mais me entusiasmaram foram o Miolo Reserva Merlot os Fortaleza do Seival Tempranillo e o branco Pinot Grigio. Uma ressalva, o Tempranillo 2005 estava muito bom porém não tenho tido boas informações sobre o 2006 então a safra é importante.
  • Marson Reserva Cabernet Sauvignon é um outro vinho de grande relação custo x beneficio que surpreende por suas qualidades com taninos finos e elegantes, muito harmônico, copro médio e saboroso passando seis meses em barrica de carvalho americano e mais seis meses em garrafa nas caves, uma bela pedida.
  • Marco Luigi Merlot, mais uma prova de que a nossa principal uva é a Merlot com bons produtos nesta faixa de preços e alguns ótimos em faixas acima. Um vinho muito redondo, equilibrado, boa fruta madura, boa acidez, muito apetecível com taninos macios e agradável final de boca.
  • Fausto Rosé da Pizzato, um rosé de merlot muito frutado, boa acidez, bem refrescante que acompanha muito bem comidas leves como um peru à Califórnia.
  • Adolfo Lona corte de Merlot/Cabernet 2004, um vinho diferente e bastante interessante com um nariz muito floral e intenso que assusta num primeiro momento mas que se encontra bem resolvido na boca com taninos doces, redondo e saboroso.
  • Cordelier Merlot, existe o reserva elaborado com uvas selecionadas, sem passagem por madeira e mais tempo de cave, e o básico com somente uns 4 meses de cave antes de ser lançado ao mercado e que vem acondicionado em uma garrafa que imita garrafa envelhecida. Os dois são bons, mas eu curto mesmo é o da garrafa envelhecida que tem uns aromas e paladar bem marcantes e uma ótima pedida pelo preço em torno de R$15 a 17,00, apesar de que o Reserva não fica atrás e pouco mais custa.
  • Rio Sol, um vinho surpreendente e, apesar de ser o mais barato da linha com preço ao redor de 20 Reais, é um dos meus preferidos. Corte de Cabernet Sauvignon com Syrah, é um vinho muito equilibrado, harmônico e saboroso que substitui amplamente a grande maioria dos vinhos nesta faixa trazidos do Chile e da Argentina.
  • Angheben Barbera 2007, provei ontem e é realmente uma grande pedida nesta faixa de preços, mostrando bom equilíbrio, taninos macios, médio corpo, redondo e muito agradável de tomar. O Touriga Nacional de que falam tanto não me conveceu e é bem mais caro.
  • Aurora Varietal Cabernet  Sauvignon e Merlot, são dois vinhos para aqueles dias de caixa baixo, já que estão abaixo do 20 Reais, mas que não negam fogo. São corretos, ligeiros, fáceis de beber e bastante agradáveis sendo ótima companhia para um belo sanduba de fim de semana, um caldo verde ou uma carne grelhada não muito condimentada.
  • Salton Volpi. Quero finalizar com esta linha de produtos da Salton que acredito ser uma das melhores, se não a melhor relação Qualidade x Preço x Satisfação no mercado. A Salton também possui uma linha mais barata, a Classic, que é correta, ligeira mas não me encanta. Já a linha Volpi recomendo sem pestanejar, especialmente o Merlot que é sempre muito bom, de taninos doces e sedosos num corpo médio, muito saboroso e de média persistência, um dos bons merlots nacionais e uma aposta certeira nesta faixa de preços, e os Pinot Noir e Sauvignon Blanc que tive o grato prazer de provar ontem. O Pinot 07 está em outra faixa de preços, falo depois, mas o Sauvignon Blanc 08 me encantou e conquistou desde a primeira fungada na taça! Surpreendente porque, apesar de ter alguns vinhos brancos nacionais de que gosto são poucos os que realmente me encantaram e este é uma delicia. Com baixo teor de álcool (11.9º), muito balanceado, nariz intenso em que aprece uma goiaba branca muito presente, e olha que meu nariz é meio fraquinho, frutado na boca, muito boa acidez o que o torna fresco, agradável e fácil de tomar deixando na boca aquele gostinho de quero mais.
  • Casa Valduga Premium. Esta linha possui vinhos de muita qualidade, porém com somente um rótulo que conheço e que cabe nesta faixa de preços, sendo um dos outros brancos nacionais de que gosto muito. É o Gewurtzraminer, que apresenta muita tipicidade com aqueles aromas florais e lichia, muito saboroso e ótima companhia para pratos orientais apimentados como curry de frango ou camarão.

É isso gente, conforme for dando vou publicando a seqüência dos posts sobre o Brasil já que ainda existe muito por falar e começo a receber novas e interessantes informações. Um abraço, bom fim de semana e amanhã tem a Coluna do Breno, depois no Domingo novidades, oportunidades e eventos. Volto na segunda-feira, Salute e kanimambo.