Depois da bela degustação na Achaval, foi hora de subirmos a montanha a 1200 metros de altitude para nossa segunda escala do dia no Vale do Uco em Tupungato, a Bodega Atamisque. Mais vinhos, obviamente, e almoço no Rincon Atamisque onde mais uma vez vimos a diversidade em ação; Chardonnay, Viognier, Pinot, Blends e, já que estamos por aqui, Malbec! (clique nas imagens para ampliá-las)
John du Monceau é um francês que se apaixonou pelo lugar e decidiu montar sua bodega por aqui em companhia de sua esposa Chantal, ela neta de vinhateiro borgonhês. Lugar idílico , 1.000 hectares de matas, rios e campo de golf, é muito mais que uma vinícola, é um marco sem marco! Explico, a bodega fica a uns dois ou três quilômetros do Rincon (restaurante e da sede da empresa) numa entrada sem sinalização. Quem não conhece passa batido, assim como nosso motorista! rs Enfim, chegamos e nos deparamos com uma construção bem diferente do que tínhamos visto até o momento, toda em concreto aparente e com telhados de pedra. Em 2007 lançou seu primeiro vinho elaborado nas novas instalações com um projeto bastante avançado todo focado na movimentação por gravidade sem uso de bombas, onde possuem capacidade para elaboração de cerca de 1 milhão de litros anuais e quatro diferentes linhas de produtos muito bem conceituados pela critica internacional. Produzem, no entanto, algo ao redor de 450.000 litros anuais com vinhedos localizados a 1300 metros de altitude. Força argentina com a alma e sutileza francesa, a conferir almoçando as trutas do lugar, uma pena a chuva!
Fomos muito bem recebidos pela Ana Laura para uma curta porém interessante visita à Bodega. Após algumas visitas, passar pelo interior das Bodegas vira repetitivo e cansa, a turma quer mais é conhecer os vinhos, mas a Ana tirou de letra, curto porém educativo! A Bodega é toda bem clean e funcional, um projeto bem moderno elaborado com o que de melhor a tecnologia tem disponível na atualidade e rapidamente chegamos à bela sala de degustação repleta de vidro, tanto para a sala de barricas quanto para a paisagem da região que nesse dia pouco se via, uma pena. Primeiro nos debruçamos sobre uma diversa linha de produtos e depois iriamos para o Rincon para almoçar. A Atamisque possui basicamente três linhas de vinhos tranquilos começando pela Serbal que matura seus vinhos entre 6 a 8 meses em tanques de inox ou barrica (esta só com os tintos), a Catalpa que é a linha intermediária com passagem de 10 a 12 meses de barrica de 2ºuso e inox e a Atamisque que tem 14 a 16 meses de barricas de 1º uso e os usa uvas dos vinhedos mais antigos. Possui também uma interessante gama de espumantes.
Iniciamos a degustação como gosto, com um espumante para preparar o palato para o que estava por vir. Cave Extreme é um corte majoritario de Chardonnay com Pinot Noir com 12 meses de contato com as leveduras, método champenoise e muito equilibrado, com notas de brioche e cítrico, boa perlage e persistente, uma bela forma de abrir a degustação.
Iniciamos os vinhos tranquilos pela linha Catalpa. O primeiro, o qual estava muito curioso de conhecer, foi o Catalpa Chardonnay e gostei demais! Um vinho que prima pelo equilíbrio, barrica muito sutil e bem integrada, muito fresco, um vinho que dá vontade de tomar a garrafa, não uma taça. A altitude mostra seu serviço ao vinho aportando uma boa acidez, aliás algo que se mostrou marca dos vinhos deste produtor.
Catalpa Pinot Noir foi nosso segundo vinho e mostrou boa tipicidade da uva com menos extração, num estilo mais europeu, mas sem perder as raízes do terroir. Um vinho mais difícil de agradar os amigos presentes, Pinot não é uma uva tão popular assim e a maioria estava com a boca mais pendente para os vinhos de maior potência. Um bom vinho que chama a atenção!
Catalpa Assemblage, um vinho que mescla muito bem a Cabernet Franc e a Merlot em partes iguais (35%) mais a Malbec e Cabernet Sauvignon (15% cada) perfazendo um conjunto muito saboroso, nariz algo floral, taninos macios, corpo médio, suculento, elegante e com um rótulo que nos atrai. Sim, esse fator também ajuda nossa percepção quanto ao conteúdo e o vinho na taça confirma a atração provocada pela garrafa, muito elegante.
Atamisque é a linha top do produtor quase que na sua totalidade composta de uvas de vinhedos velhos com mais de 90 anos, provamos dois rótulos e ambos algo novos ainda. Atamisque Malbec 2011, realmente mostrou na taça toda a sua juventude. Bastante concentrado na cor, aromas ainda fechado mostrando algo de frutos secos como figo e uva passa, madeira bem integrada com grande estrutura, mas sem exageros de extração, final longo com notas de mocha e frutos negros, um vinho que merece ser revisitado daqui a uns dois ou três anos.
Atamisque Assemblage, para mim o melhor vinho da degustação elaborado com 50% Malbec e complementado com partes iguais de Cabernet Sauvignon e Merlot. Algum floral de nariz que demora a evoluir na taça onde também nos traz algumas notas mais terrosas. Mesmo sendo um 2009, demora a abrir mostrando que ainda tem muitos anos de evolução pela frente. Longo, complexo, taninos aveludados, boa estrutura, denso, notas tostadas, alguma especiaria, mas tudo colocado com um toque de elegância que deixa o conjunto muito apetitoso pedindo comida, um vinho que certamente crescerá muito se bem acompanhado por um prato untuoso. Belo vinho!
Bem, degustação terminada era hora de agradecer a Ana e dizer adeus porque a fome apertava. Fomos ao Rincon, onde o almoço seria servido com duas opções; trutas de produção própria ou, obviamente, carne e os vinhos servidos foram os de gama de entrada, os Serbal. O Serbal Malbec não me entusiasmou não, mas o Serbal Viognier me surpreendeu e uma pena que a World Wine, que importa os produtos da vinícola, não o traga! (fotos dos vinhos não disponíveis, sorry!)
O nosso amigo Paulão, fiscal da natureza e colaborador com algumas das fotos de hoje, se animou e pediu um Espumante Extréme, o top da casa, que estava excelente e complexo sem perder o frescor. Passou 18 meses sob as leveduras e foi elaborado também pelo método champenoise. Essas caves acho que teria sido interessante visitar, fica para uma próxima oportunidade. Mais uma grata surpresa que gostaria de ver num Desafio ás Cegas com alguns de nossos bons espumantes nacionais. O local é simples e despojado, porém a comida é bem saborosa em especial a truta, eis nosso menu nas fotos abaixo.
Bem, hora de puxar o carro (digo van) porque ainda falta mais um, o garagista e cult Carmelo Patti, mas isso fica para amanhã com o encerramento de mais um dia de descobertas e novas sensações! Até lá, salute e kanimambo pela visita.