Você Sabe o Que Está Bebendo?

Um varietal pode estampar o nome da uva em seu rótulo quando esta possua predominância de no mínimo 85% na sua elaboração, porém algumas regiões isso pode chegar a 70% como em Cahors na França onde a Malbec comumente é cortada com Tannat e Merlot. No Brasil, esse porcentual é de 75% e a especificação das outras cepas que compõem o restante do vinho não é obrigatória vindo daí a pergunta, você sabe mesmo o que está bebendo?
Pessoalmente me preocupo com o todo, com a origem, com o produtor mais do que com a composição do vinho, porém há quem seja fissurado por saber das uvas que está tomando. Tem gente que só toma Cabernet Sauvignon e não toma blends porque acha que a “mistura” não faz bem ao vinho ou não gosta de Merlot, Malbec ou Carmenére. Será?!! Pode muito bem ser que esse tomador de vinho esteja tomando um “varietal” de Cabernet com uma boa dose de Merlot, Malbec, Petit Verdot ou até uma somatória delas sem saber!

Afinal, qual a diferença entre vinhos varietais ou vinhos de corte? Vinhos varietais são vinhos, a principio, feitos com um único tipo de uva, ou com predominância de um tipo de uva de acordo com a legislação da região produtora. Já os blends (de corte, assemblages, coupage, de lote ) são vinhos de misturas de diversas cepas o que requer grande experiência e sensibilidade do enólogo que vira um verdadeiro alquimista. Os vinhos de corte brancos, tintos ou rosés, misturam diferentes tipos de uvas para tirar o melhor de cada uva, buscando assim um vinho, mais equilibrado, mais complexo e mais completo. Eu adoro blends e um bom exemplo deles são os vinhos tintos de Bordeaux na França, que normalmente são uma mistura três uvas, Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc (há ainda outras possíveis, como Petit Verdot, Malbec e Carménère).

Qual o melhor, varietal ou blend? Este não é um fator de qualidade em um vinho e é certamente tema para muita discussão, porém numa lista dos maiores vinhos do mundo a maioria será, com grande probabilidade, composta em sua maioria por vinhos de corte pois o resultado dessa somatória vai muito além do mero resultado matemático e por isso insisto em dizer que nossa vinosfera não é binária! Pessoalmente tenho uma queda por blends como os portugueses do Dão e do Douro com suas castas autóctones em perfeita harmonia e os Chateaneuf-du-Pape, com até 13 uvas, que a meu ver crescem em complexidade e são meus preferidos, porém em primeiro plano o vinho tem que ser bom, isso sim é essencial!

Já que embarco para Mendoza nos próximos dias com um grupo de amigos e leitores, me veio á mente que esta região tem fama por seus varietais, porém há inúmeros exemplos de bons blends vindos tanto de lá quanto do Chile que poucos conhecem. Esse Susana-Balbo-Briosoaumento de produção de bons blends mostra que esses mercados produtores começam a atingir sua maturidade inclusive misturando a mesma cepa porém de vários vinhedos e sub-regiões ou altitudes (a Catena faz isso muito bem com a Malbec e a Las Moras com a Syrah), na busca da utópica perfeição. Um bom exemplo disso é o Suzana Balbo Brioso da Bodega Domínio del Plata de Mendoza, fruto de um blend de Cabernet Sauvignon / Malbec / Merlot / Cabernet Franc e Petit Verdot (corte bordalês completo) que mostra extrema complexidade aromática e explode na boca com muita harmonia e equilíbrio deixando um rastro de muito prazer, sem perder sua personalidade mendocina mostrando grande estrutura e se mostrando um vinho de guarda para tomar, preferencialmente, com mais de quatro anos de vida mas que dura dez tranquilamente!

Aproveitando essa dica, decidi que trarei dessa viagem alguns blends diferenciados e, como fiz da última vez que por lá estive, vou montar uma degustação só com eles! Essa degustação que fiz foi o maior sucesso e o pessoal até hoje fala disso, então reservem o dia 28/08  “Blends da Argentina” na Vino & Sapore a partir das 20 horas! Peça já a sua reserva através do mail comercial@vinoesapore.com.br, os rótulos só vou saber depois da viagem, porém o preço já está definido, R$100 por pessoa.

Uma uva ou diversas uvas, seu prazer é o limite, mas cuidado porque você pode estar tomando uma coisa achando que é outra então melhor rever seus conceitos ou comece a exigir aqueles rótulos em que o contra rótulo claramente especifique 100% do uso da cepa mencionada. Salute, kanimambo e seguimos nos vendo por aqui.

Varietal ou Corte? Afinal, Você Sabe o Que Está Bebendo?

          Pela legislação na maioria dos países produtores, um varietal pode estampar o nome da uva em seu rótulo quando esta possua predominância de no mínimo 85% na sua elaboração. No Brasil, conforme artigo escrito pelo Marcelo Copello neste último dia 30 de Agosto e publicado em seu Simplesmente Vinho no portal Terra que copio abaixo, esse porcentual é de 75%. A especificação das outras cepas não é obrigatória e aí vem a pergunta, você sabe mesmo o que está bebendo?

          Pessoalmente me preocupo com o todo, com a origem, com o produtor mais do que com a composição do vinho, porém há quem seja fissurado por saber das uvas que está tomando. Tem gente que só toma Cabernet Sauvignon e não toma blends porque acha que a “mistura” não faz bem ao vinho ou não gosta de Merlot, Malbec ou Carmenére. Será?!! Pode muito bem ser que esse tomador de vinho esteja tomando um “varietal” de Cabernet com uma boa dose de Merlot, Malbec, Petit Verdot ou até uma somatória delas sem saber! Afinal, qual a diferença entre vinhos varietais ou vinhos de corte?

          Vinhos varietais são vinhos, a principio, feitos com um único tipo de uva, ou com predominância de um tipo de uva de acordo com a legislação da região produtora. Já os vinhos de corte (blends, assemblages, de lote) são vinhos de “misturas” de diversas cepas. Em Portugal as pessoas se referem a um vinho com 100% de uma mesma uva, como vinhos vinificados ao extremo, questões de linguagem. Veja o que disse o Marcelo Copello em seu artigo:

Pela lei brasileira um vinho para ser um varietal, ou seja, para trazer um único nome de uva no rótulo, precisa ter ao menos 75% desta uva. Quando você lê no rótulo de um vinho, por exemplo, Chardonnay, significa que a maioria das uvas neste vinho é Chardonnay, podendo ser 100%. O melhor máximo de grandes varietais são os vinhos da Borgonha, que em sua maioria são 100% Pinot Noir (nos tintos) e 100% Chardonnay (nos brancos)

Os vinhos de corte, ou assemblage, como falam os franceses, misturam diferentes tipos de uvas para tirar o melhor de cada uva, buscando assim um vinho, mais equilibrado, mais complexo e mais completo. Um bom exemplo de vinhos de corte são os vinhos de Bordeaux na França, que normalmente nos tintos são uma mistura três uvas, Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc (há ainda outras possíveis, como Petit Verdot, Malbec e Carménère).

Mas qual o melhor, varietal ou corte? Este não é um fator de qualidade em um vinhos. Este é um tema bastante discutível, mas em uma lista dos maiores vinhos do mundo, possivelmente o que predomina são os cortes.

            Pessoalmente me encanto com os blends, adoros os portugueses e os Chateaneuf-du-Pape, com até 13 uvas, a meu ver crescem em complexidade e são meus preferidos, porém em primeiro plano o vinho tem que ser bom, isso sim é essencial! Agora, a escolha é sua, mas cuidado porque você pode estar tomando uma coisa achando que é outra então melhor rever seus conceitos ou comece a exigir aqueles rótulos em que o contra rótulo claramente especifique 100% do uso da cepa mencionada.

Salute, kanimambo e uma ótima semana para todos

Blends: Desafio às Cegas – Argentina x Chile

               Mais um muito saboroso e agradável encontro da Confraria Saca Rolha reunida na Vino & Sapore. Não falei no post anterior que participo de diversas! Nossa porta-voz é a confreira e sommelier Raquel Santos que reproduz aqui sua visão dessas experiências que vivemos com bastante intensidade e alegria em nossos encontros mensais. Pois bem, embarquemos nos relatos dela, que já tem seus seguidores aqui no blog, e ao final dou meu pitaco.

Quando se fala em vinhos de corte (blends ou assemblage), há que se comparar com os varietais. Durante séculos, na produção de vinhos, poucas pessoas sabiam quais variedades de uvas existiam na bebida que consumida. Os principais produtores do velho mundo utilizavam as uvas que melhor se adaptavam à terra, misturando-as, como numa fórmula mágica e secreta, com a intenção de extrair o melhor resultado final possível. A melhor expressão da terra, clima e certamente a mão do homem, na produção de um vinho, chamou-se de “terroir”.

            Nessa época, ao se referir a algum vinho, falava-se em Bordeaux, Bourgogne, Barolo, Barbaresco, Rioja, Douro, etc. Era mais importante constar no rótulo a D.O.C. – denominação de origem controlada, junto com o nome do produtor, do que as castas utilizadas. Isso já estava implícito pela procedência e podiam variar de acordo com o clima daquele ano. Quando começou a produção de vinhos, no que chamamos hoje de “novo mundo”, optou-se por identificá-los pela variedade da uva como um fator de qualidade, já que eram mudas importadas das tradicionais e nobres castas europeias. Nós, consumidores, passamos a nos identificar com os estilos de cada uva, que por sua vez, definiria o estilo do vinho.

            No encontro da confraria de Julho, pensamos em confrontar duas regiões produtoras, muito bem conhecidos por nós : A Argentina, que se destacou principalmente pela Malbec, e o Chile, pela Carmenére. Só que, nesse desafio, optamos por vinhos de corte (blends), onde essas uvas aparecem associadas a outras. A ideia aí foi que mesmo com presença de outras castas, o resultado final não deixasse de evidenciar as características e o estilo dos vinhos dessas regiões.  

            Uma degustação às cegas, é sempre divertida, e fazia parte da brincadeira descobrir, dos vinhos degustados, quais eram argentinos e quais eram  chilenos. Para facilitar, foram servidos em pares (1 argentino e 1 chileno) por faixas de preços: (clique na imagem para aumentar)

Blends - Argentina - Chile

             1A. Estampa Gold 2009.

Muita fruta, madeira e especiarias(alcaçuz/cânfora…).Toque mineral, meio salgado que fazia contraponto com uma doçura alcoólica. Bem encorpado, boa acidez, com notas de tomate e pimentão.

Chile – Carmenére/Cabernet Sauvignon/Cabernet Franc/Petit Verdot.

            1B. Finca Agostino Família Gran Reserva 2008.

Suave no nariz, frutas maduras, ervas, eucalipto. Taninos suaves, mas presentes. Toque de menta, mate e amêndoas.

Argentina – Malbec/Petit Verdot/Cabernet Sauvignon/Syrah.

             2A. Aluvion Gran Reserva 2008.

Ataque floral no nariz(lavanda/violeta…), cânfora, noz moscada. Bem equilibrado, complexo e  bom corpo.

Chile – Syrah/Cabernet Sauvignon.

            2B. Norton Privado 2007.

Herbáceo com um leve mentolado. Muito potente em boca (acidez/taninos/álcool). Persistência longa, sobrando doçura. Pede comida.

Argentina – Malbec/Merlot/Cabernet Sauvignon.

             3A. Bressia Profundo 2007.

Muito suave no nariz. Com o tempo foi-se abrindo, demonstrando uma enorme gama de aromas: florais, vegetais, defumados, etc… Muito equilibrado na boca. Macio, encorpado e longo. Boa acidez o que denota um bom acompanhante gastronômico. Esse vinho levantou muitas ideias de harmonização!

Argentina – Malbec/Cabernet Sauvignon/Merlot/Syrah.

             3B. Caballo Loco Gran Crú Apalta 2010.

Esse é um vinho diferente. Produzido pela vinícola Valdivieso desde 1994. Muito potente e robusto, como o nome já diz, pode-se ver um cavalo selvagem de muita raça ali dentro da taça! Para domá-lo, dê o tempo que ele merece. É um desafio que sempre deixa um gostinho de “quero mais”, pela enorme gama de aromas,  sabores e sensações que vão se revelando pouco a pouco. 

Chile – Cabernet Sauvignon/Carmenére.

             No final da degustação, foi chegada a hora de revelar os rótulos provados e para surpresa do nosso anfitrião, tivemos quatro acertadores! Isso mostra que vinho argentino não é só Malbec e o chileno tampouco será só Carmenére. O estilo deles sempre estarão ali, marcando presença.  O prêmio, mais uma garrafa de vinho (é claro, rs..rs…), foi dividida entre todos! E não sei se foi proposital ou não……..querem saber qual foi o vinho?

            Um VARIETAL de uva Merlot, italiano.

            Poggio del Sasso 2011 – Cantina di Montalcino – Toscana.

Um vinho proveniente de onde as leis foram adaptadas ao gosto moderno. Os produtores da costa Toscana introduziram a uva Merlot e Cabernet Sauvignon na região dominada pela Sangiovese, ignorando a rígida classificação de DOC, e criando os chamados “Super Toscanos”.

            Os defensores dos vinhos varietais argumentam que estes são os que melhor expressam a verdadeira essência do terroir, através dos sabores da terra, o comportamento do clima e a ação do homem que traduz tudo isso de uma maneira mais verdadeira. Já os que preferem os blends, além de valorizarem o modo ancestral da vinificação, acham que a mistura de castas diferentes proporcionam vinhos de melhor qualidade, ou seja, favorecendo seu equilíbrio, corrigindo defeitos, e onde não só a matéria prima que a natureza nos oferece é utilizada para criar um vinho. A interferência do homem que o faz torna-se de grande importância se a ele é dada essa liberdade.

            Atualmente , a produção de vinhos no mundo, tem evoluído sempre no que diz respeito a tecnologia, do plantio até a distribuição. Temos desde vinhos artesanais, de pequenos produtores, naturais, orgânicos, biodinâmicos, com mais ou menos interferências no seu feitio. E dentre eles temos os blends e os varietais.

            Qual é o melhor? Temos que provar para saber…….essa é uma busca incessante que sempre existirá, graças a Deus!   

Cada um dos flights de vinhos, foi escolhido tendo como parâmetro uma determinada faixa de preço (80 a 90 / 100 a 120 e 190 a 210) para ver como a complexidade dos vinhos cresce conforme os preços o fazem. Caro não quer dizer bom e muito menos que seja do seu gosto, porém na maioria das vezes é fato consumado, quanto mais caro vinho melhor e mais complexo. Bons vinhos de cabo a rabo, mas a meu ver a Argentina ganhou (há controvérsias no grupo – rs) e esse Bressia Profundo, um grande vinho, foi para mim o melhor da noite!

Salute e kanimambo