Ufa, finalmente chegamos ao resultado deste Desafio de Vinhos que apresentou uma diversidade de vinhos e regiões bastante interessante. Foi um exagero de rótulos o que torna a degustação mais complexa, porém é interessante verificar que os últimos não foram prejudicados nas notas, ou seja, mesmo com tanto vinho o pessoal conseguiu segurar esse rojão.
Como sempre, começo os comentários dos vinhos com suas respectivas notas conforme a ordem de serviço, uma coletânea de todas as fichas preenchidas pelos degustadores que compuseram a banca deste desafio e finalizarei com os resultados apurados. São 14 vinhos então, tenha paciência, este seu amigo prolixo tentará ser um pouco mais conciso desta vez.
Callabriga Douro 2004 (Zahil), produzido pelo gigante Sogrape com interesses também na Argentina e Nova Zelândia entre outros locais. De cor rubi, translúcido, parecia um Pinot na cor, sem grande concentração. Aromas sutis em que aprecem frutos negros frescos, algo herbáceo com toques florais. Na boca é sedutor, delicado, corpo médio, taninos finos, equilibrado e fácil de tomar e gostar mostrando boa persistência. Obteve 87 pontos da Wine Spectator (WS) por sinal semelhante à nota que lhe dei, mas a média obtida nesta prova foi de 85,67 pontos, custa R$93,00.
Quinta da Chocapalha 2005 (Vinci), da CVR Lisboa (ex-Estremadura) vinho de qualidade, internacionalmente reconhecida tendo obtido WS89 e RP88 com sua safra de 2004, mas que nesta noite não se houve bem. Fechado, apresenta uma paleta olfativa complexa com fruta madura, chocolate e madeira bem equacionada. Na boca mostrou-se robusto e algo duro, taninos ainda firmes, boa acidez e algum desequilíbrio harmônico com um leve amargor de final de boca. Novo, precisa de mais tempo em garrafa, ou de decanter, para mostrar todo o seu potencial. Obteve uma nota média de 82,28 pontos e custa por volta de R$90,00.
Altano Reserva 2006 (Mistral), um vinho do Douro que dispensa apresentações produzido pela família Symington, um grupo que reúne diversas vinícolas na região. Algo terroso, hortelã e fruta vermelha com toques florais mostrando uma paleta olfativa de boa complexidade. No palato, taninos doces, finos ainda relativamente firmes, fruta compotada, boa acidez e estrutura, equilibrado, com um final lembrando café e caramelo de boa persistência. WS88, porém neste embate obteve a média de 85,72 pontos, custa por volta de R$93,00.
Esporão Reserva 2006 (Qualimpor), mais um vinho que dispensa apresentações, produzido pela Herdade do Esporão no Alentejo (CVR Alentejo). O da safra de 2005 obteve 89 pontos da Wine Spectator. Muito frutado e especiado, uma paleta olfativa intrigante e de boa intensidade que convida a levar a taça à boca. Na boca é rico, sedoso e macio, frutado, boa estrutura, equilibrado, médio corpo. Um belo e saboroso vinho que pede comida e possui muito boa persistência. Obteve a média de 88,06 pontos, custa em torno dos R$89,00.
Quinta de Cabriz Reserva 2005 (Winebrands), produzido pela Dão Sul, é um vinho muito agradável e sedutor que teve 89 pontos na Wine Spectator. No Nariz, presença de couro, especiarias e algo de baunilha advindo da madeira ainda por se integrar totalmente e bem balanceada. Na boca é muito harmônico, taninos aveludados ainda presentes, rico, com um final de boca longo que invoca chocolate. Obteve a média de 85.11 pontos e possui uma ótima relação Qualidade x Preço x Satisfação devido a seu bom preço, em torno de R$65,00.
Reguengos Garrafeira dos Sócios 2002, (Vinho Seleto 011.3815-5577 ) um vinho alentejano (CVR Alentejo) diferenciado feito á moda antiga com menos álcool, menos fruta intensa, menos taninos, menos novos tempos e novo mundo. Talvez por tudo isso, não tenha se dado tão bem neste embate, mesmo reconhecendo que esta safra está bem inferior à de 2001. O nariz é doce, lembrando frutas doces (assadas) e algo herbáceo com toques de baunilha tudo bem sutil. Cresce bastante em boca onde o vinho ganha corpo, taninos aveludados bem integrados, denso sem perder a elegância , mas faltou-lhe a riqueza de sabores, equilibrio e pujança que lhe são peculiares. A safra não ajudou, mas fica a pergunta, será que a garrafa não tinha algum problema? Não me pareceu . Será que foi somente mal compreendido? Muito diferente do que conheço e nota média de 82,83 pontos e o preço está ao redor de R$80,00.
Herdade do Pinheiro Reserva 2003, (Beirão da Serra) um vinho pouco conhecido em terras brasílis, exceção feita ao Rio de Janeiro. É um pequeno produtor alentejano (CVR Alentejo) que possui um belo portfólio em que se destaca este Reserva. Cor granada com halo atijolado já mostrando sua idade, uma paleta olfativa de boa intensidade e atraente com frutas maduras aparentes, mineral, leve amadeirado que lhe confere uma certa complexidade. Na boca é vibrante de ponta a ponta, complexo, muito rico, saboroso, uma acidez muito boa que nos deixa a boca salivando e pedindo comida. Taninos finos, elegantes e macios perfeitamente integrados num corpo médio de ótima textura, harmônico com um final muito longo, gostoso e um retrogosto que sugere uva passa. O Vinho que incendiou a prova e provocou suspiros na grande maioria que lhe deram adjetivos como; fantástico, excelente, encantador entre outros de menor expressão. Um vinho sem arestas que obteve nota média de 92,11 pontos e custa em torno de R$75,00.
Falcoaria DOC 2004, (D’Olivino) o representante da CVR Tejo (ex-Ribatejo), um vinho robusto de cor rubi intenso, quase retinto, mostrando-se ainda bem fechado. Nariz não muito aromático, fruta sutil com maior ênfase em aromas animais (couro)e algo terroso. Cresce em boca, porém sem despertar grandes encantamentos, mostrando-se um pouco rústico de taninos firmes, mas bastante rico em sabores que demonstram uma certa complexidade. Um vinho interessante e diferente que acredito cresceria muito se acompanhado de um bom cabrito assado da região. Obteve a média de 83,94 pontos e custa em torno de R$74,00.
Terras do Pó Reserva 2004, (Lusitana de Vinhos & Azeites) o único varietal presente à prova elaborado com 100% de castelão uma cepa difícil de ser trabalhada solo, dando-se, tradicionalmente, melhor em cortes. Elaborado pela casa Ermelinda Freitas, um dos bons produtores da região de Terras do Sado (CVR Setúbal), famosa por trabalhar muito bem esta cepa. Aromas animais, na boca é potente mostrando alguma sobra de álcool, macio denso com uma característica diferente de evolução na taça quando, após um tempo, começa a apresentar aromas de mostarda. Nota média obtida 82,94 pontos e custa ao redor de R$72,00.
Aveleda Follies 2004, (Interfood) um Bairrada diferente que não possui baga em sua composição, mas sim Touriga nacional e Cabernet Sauvignon que obteve 85 pontos da Wine Spectator. É um vinho de aromas vivos de fruta vermelha (ameixa), cativante, com boa e saborosa entrada de boca. Redondo, fácil de se gostar, corpo médio com bom voluma de boca, expressivo, talvez um pouco mais updated do que os demais num estilo mais novo mundo mostrando´se equilibrado com teores de álcool civilizados. Um vinho bastante apreciado que obteve uma média de 85,67 pontos e custa ao redor de R$72,00.
Ceirós Reserva 1998, (BR Bebidas/Vinhos do Douro), o vinho mais antigo da prova sendo elaborado no Douro pela Quinta do Bucheiro, ainda surpreendentemente vivo, pleno de frescor e complexidade mostrando-se em prefeito equilíbrio apesar da idade. Do nariz à boca, mostrou uma personalidade muito própria, boa persistência, corpo médio, algo resinoso e especiado. Muito apetecível, corpo médio, boa acidez que o faz um vinho muito gastronômico e diferenciado. Para mostrar que longevidade não vem de álcool nas alturas, temos aqui civilizados 12.5%! Média de 86, 28 pontos e um preço ao redor de R$88,00.
Quinta Mendes Pereira Garrafeira 2004, (Malbec do Brasil) da região do Dão, um vinho do qual gosto muito tendo sido agraciado com 17 (de 20) pontos, pela Revista de Vinhos portuguesa. Elaborado por pisa a pé, prima por ser um vinho que faz jus à tradição do Dão por vinhos mais encorpados, algo rústicos, porém de grande elegância e complexidade obtidos com tempo em garrafa. Ainda muito fechado após uma hora de decanter, mostra-se robusto, notas de madeira e frutos vermelhos, taninos firmes porém sem agressividade, boa textura e equilibrado, complexo, saboroso, final aveludado e de muito boa persistência com nuances florais e uma acidez que pede comida. Vinho para mais meia dúzia de anos e, pelo que eu conheço do vinho, nesta noite esteve muito aquém de seu potencial. Obteve uma média de 82,89 pontos e custa ao redor de R$95,00.
Quinta do Seival Castas Portuguesas 2005, um corte de Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz produzido pela Miolo na região de Campanha, próximo da fronteira com o Uruguai. Surpreendente e prova inequívoca da melhora de qualidade dos vinhos brasileiros num projeto muito interessante que conta com a participação do amigo e enólogo português Miguel de Almeida. Frutos negros maduros com algo resinoso no nariz, madeira, fruta passa, bem estruturado com taninos finos, equilibrado, saboroso com um final de boca agradável e de boa persistência em que se manifestam nuances herbáceas. Nota média de 84,89 pontos e custa ao redor de R$50,00.
Caldas Reserva 2005, (Decanter) do renomado produtor Domingos Alves de Souza tendo obtido 15,5/20 pontos na Revista de Vinhos portuguesa. Fruta doce e especiarias aparecem de forma tímida ao olfato. Cresce na boca, mostrando boa riqueza e complexidade de sabores, taninos finos de presença marcante, médio corpo para encorpado, madeira bem integrada. Obteve média de 84,61 pontos e o preço é de R$100,00.
Nesta noite, a banca degustadora avaliou e definiu como grande ganhador, o Melhor Vinho deste Desafio, por mais de um corpo de vantagem, o Herdade do Pinheiro Reserva 2003. Em segundo, outro alentejano, o Esporão Reserva 2006 e em terceiro o surpreendente Ceirós Reserva 1998. Completando o nosso pódio com os primeiros cinco vinhos da noite, temos o Altano 2006 em quarto e o Callabriga 2004 em quinto. Na eleição do Melhor Custo x Benefício e Melhor Compra, novamente o Herdade do Pinheiro Reserva 2003 o primeiro dos vinhos a participar destes Desafios que levou os três prêmios máximos, a tríplice coroa ou, como se diria nos velhos tempos, fez; cabelo, barba e bigode. De ressaltar a boa posição do Castas Portuguesas da Miolo que obteve a oitava colocação e dois votos como melhor compra, votos estes também alocados ao Quinta de Cabriz 2005.
Normalmente relaciono as notas dadas aos vinhos preferidos de cada jurado, mas como o Herdade do Pinheiro foi o escolhido de doze dos treze degustadores, creio que isso não seja necessário. Ah, o Ralph quebrou a unanimidade escolhendo o Esporão Reserva por meio ponto o que foi bom, porque como já dizia Nelson Rodrigues, guardadas as devidas exceções, “toda a unanimidade é burra”! Finalizamos o Desafio com um jantar regado a Muros Antigos Loureiro 2007 (Decanter) e Quinta Mendes Pereira Dão Touriga-Nacional Reserva 2005, mas esse é papo para outro dia e outro post, só adianto que foi muito bom e os vinhos ótimos.
Sobraram rótulos não apresentados na prova, então em Outubro faremos um Desafio de Vinhos diferente, um Alentejo x Douro em que o Herdade do Pinheiro, como vencedor desta noite, terá lugar cativo. Será que faturará de novo?! Já em Setembro, nosso Desafio de Vinhos viajará pelo mundo na busca de representantes das cepas ícones de cada país produtor. Alguns vinhos mais conhecidos, outros menos já que estes Desafios também visam garimpar novos vinhos e sabores, mas sempre com rótulos em torno de R$100,00.
Salute e kanimambo.
(PS. Houve um equivoco nos cálculos médios das notas que acabei de revisar no texto acima (11:00). Peço desculpas pelo inconveniente, mas pouco alterou o resultado. O efeito maior fo efetivamente nas notas em si.)