Quatro países diferentes em prova às cegas na gostosa confraria Saca Rolha que se reúne mensalmente para explorar os sabores de nossa vinosfera. a Cabernet Franc vem crescendo muito tanto em quantidade plantada quanto em vinhos produzidos por toda a América do Sul sendo hoje considerada como a bola da vez na Argentina onde também aparece em divinos asemblages normalmente em dueto com a Petit Verdot. Para contar um pouco dessa experiência que vivemos no último encontro eis nossa porta voz, a amiga e confreira Raquel Santos.
“Mais uma degustação às cegas no nosso encontro mensal. Desta vez para conhecermos melhor uma uva que ultimamente tem estado à frente dos holofotes. Sua boa adaptação nos países da América do Sul e a redescoberta de seus vinhos varietais, tem colocado a Cabernet Franc em destaque.
Pode-se dizer que desde a sua origem, em Bordeaux, viveu à sombra da sua prima mais famosa: a Cabernet Sauvignon, que juntamente com a Merlot, formam o corte bordalês. Mas é no coração do Vale do Loire que ela brilha como uma estrela principal, nas regiões de Saumur, Bourgueil e Chinon. Suas características aromáticas e de grande frescor fazem vinhos sedutores e ímpares. Na argentina, mais precisamente em Mendoza, temos visto os varietais de Cabernet Franc tirando a atenção dos Malbecs. No Chile, onde a alquimia dos cortes é quem dá o tom, ela tem aparecido cada vez mais nessas composições.
Logo de início tivemos uma grata surpresa de boas vindas: O espumante Argentino da Lagarde Altas Cumbres – Extra Brut 2012 – feito pelo método Charmat com as uvas Chardonnay, Pinot Noir e Sémillon. Bem clarinho na taça, com aromas delicados, florais e (acreditem!)…pão. Boa acidez, frutado e refrescante.
Estávamos prontos para o desfio às cegas. Lápis e papel à mão, anotando todas as impressões sentidas em cada taça. Pela ordem de serviço, foram eles:
Angélica Zapata – Cabernet Franc 2010 ( Catena Zapata)
Aromas florais, madeira verde e ervas aromáticas. Com mais tempo na taça evoluem para especiarias (canela), chocolate e caramelo. Na boca percebe-se boa acidez bem combinada com taninos aveludados. Frutas maduras e doces. Bem equilibrado e agradável. No final, tende para um adocicado excessivo.
La Diligence – Chinon 2010 ( Couly-Dutheil )
No nariz pareceu bem mais seco e fresco em contraste com o anterior. Aromas de madeira molhada, mofo discreto (sem ser desagradável), leve mineral, flor seca (saché). Na boca era bem complexo com sabores que evoluíam rapidamente: florais, frutas do bosque, herbáceos, terra molhada, etc….com muita personalidade, de características austeras.
Cabernet Franc Limited Edition 2012 ( Pérez Cruz )
Floral, com muito frescor. Ervas frescas tendendo para aromas mentolados. Na boca sente-se um mineral, quase salgado, iodo, pimentão e álcool bem potente, dando uma sensação de calor. Bem equilibrado e longo.
Le Pensée de Pallus – Chinon 2008 ( Pallus )
Pela cor já deixava evidente alguma evolução a mais em relação aos anteriores. Aromas discretos no início tendendo para os florais. Muito elegante, equilibrado, com corpo médio, boa acidez e taninos finos e presentes. Paleta gustativa bem ampla, com sabores frutados, vegetais e florais e um final adocicado de erva doce. Muito agradável.
Cabernet Franc Single Vineyard 2011 ( Lagarde )
Aromas intensos de flores e frutas. Bem estruturado, encorpado, taninos presentes e boa acidez. Um vinho que enche a boca, cheio de frutas, com leve defumado e persistência longa.
Churchill – Cabernet Franc 2011 ( Valmarino )
Esse vinho sempre causa furor por onde passa! A começar pelo rótulo, uma cópia do famoso Romanée Conti. Porém, essa semelhança nos confunde por estar numa garrafa típica dos vinhos de Bordeaux. Enfim quando provamos, sentimos um intensidade de sabores, que imediatamente nos leva a perguntar: Que vinho é esse??? A resposta sempre vem para quebrar todos os preconceitos que ainda reside no nosso repertório. Trata-se de um projeto de Nathan Churchill (importador de insumos e barricas americanas) em conjunto com a vinícola Valmarino, em Bento Gonçalves, na região de Pinto Bandeira. O resultado é um vinho suculento, potente, cheio de fruta, com a madeira bem colocada que agrega um sabor tostado de café, chocolate e toffee. Tudo isso muito bem “encaixado”. Taninos macios, com uma acidez que pede outro gole e o corpo que satisfaz esse desejo. Pura sedução!
Assim como o ciclo das estações do ano que se sucedem umas após as outras, as novidades e modas na produção vinícola estão em constante movimento. As novas tendências e experimentações, as alterações climáticas, evoluções tecnológicas e de mercado, fazem com que sempre, a todo ano, seja renovada a produção dos vinhos que um dia vamos poder conhecer.
A Cabernet Franc, desde que a conheci, me encanta. Aqui tivemos a experiência com 2 argentinos, 2 franceses, 1 chileno e 1 brasileiro. Esse ano tive a oportunidade de desbravar com mais afinco, suas características e comparar sua expressão em diferentes partes do mundo. São vinhos mais leves, mas há exceções, florais, porém com personalidade marcante, assim como a primavera que nos presenteia com dias ensolarados, com céu muito azul e temperatura agradável.”