Descomplicando o vinho

Como Falar de Vinhos, Eis a Questão!

Ainda recentemente escrevi sobre a necessidade de descer do salto xv e olhar, sentir o vinho de forma diferente sem os estereótipos que se criaram em torno do tema. O tema levantou algumas celeumas, e mais tarde vi no Face um monte de gente falando sobre a linguagem no vinho, tirando sarro de alguns termos usados por diversos blogueiros ou simples apreciadores de vinho que usam palavras tipo “guloso”, o que significaria tal palavra? Em sendo face, os comentários foram imediatos e dos mais diversos, porém o que mais me chamou a atenção foram os comentários algo pejorativos a uma série de termos usados. Está certo alguns são excessivos, mas gente deixemos as pessoas se expressarem da forma que mais lhes convier, qual o problema? Muitas vezes um simples gosto ou não gosto cai bem! Afinal, quantos sabem o significado de Sur Lie, Botritizado ou Sous Bois na descrição de um vinho??

Acho que a forma e o conteúdo têm muito a ver com quem lê o que você escreve e qual a mídia em que é publicado. Com minha atividade comercial neste nossa vinosfera tupiniquin, canso de ver gente sem qualquer base, gente que confunde taninos com acidez e acidez com amargor, tudo bem, afinal isso ocorre nas nações consumidoras mais antigas onde a o vinho faz parte da cultura do povo à gerações! O vinho pode ser guloso para uns, gordo, raquítico ou esquálido para outros e eu gosto de vinhos que falam comigo! Uns são brutos, outros elegantes, uns me dizem pouco, outros possuem um papo bem cabeça, importante é que me transmitam algo que valha a pena ou simplesmente não me fazem falta, como algumas pessoas! A linguagem figurativa por muitas vezes nos diz mais sobre o vinho e seu impacto sobre quem o consumiu, do que frases cheias de termos mais técnicos a não ser que vocês esteja numa reunião de experts. Eu, por exemplo, quanto mais um vinho me empolga mais adjetivos uso!

Andamos críticos demais, acho que se deixarmos fluir as sensações sem querer estabelecer regras canônicas sobre este tema, respeitando a todos e lendo aqueles que nos interessam, talvez o tal  de “descomplicar” o vinho  (que tantos alardeiam e tão poucos praticam) efetivamente ocorra. Viva e deixe viver, cada um do seu jeito, com seu estilo com sua dialética, o resto meu amigo, o resto é só “broma” para valorizar passe! rs Importante, a meu ver, é deixar os sentimentos fluírem dentro de uma certa razoabilidade em que se consiga, de forma figurativa, facilitar a linguagem do vinho de forma mais coloquial e menos técnica, deixando esta última para momentos mais adequados.

Abraço, kanimambo e um bom fim de semana com vinhos de bom papo, repletos de adjetivos positivos e um belo Dia dos Pais!

 

Pensamento do Dia

Li na Revista la Nación um gostoso texto sobre um grupo de jovens e talentosos enólogos argentinos da atualidade, gente pela qual tenho o maior respeito. Pois bem, diz o artigo que para Alejandro Vigil, Marcelo Pelleriti, Alejandro Sejanovich, Matias Michelini y Matías Riccitelli, grupo de amigos, que o grande segredo de um bom vinho é somente saber “si está rico o no, si te gusta o no te gusta, si te tomás una copa o querés abrir tres botellas”.

Mendoza Boys 1

Certamente mais um frase que adornará minhas apresentações e textos sobre nossa vinosfera. Tem tudo a ver com minha percepção e sempre digo a meus clientes na Vino & Sapore que me pedem um bom vinho ” amigo, vinho ruim não entra aqui pois é barrado antes na minha taça já que provo tudo, agora, pode ser que você goste ou não”. Gosto e bolso são coisas muito pessoais que têm que ser respeitados. Estudemos, mas não compliquemos, estou com os moços e adoro os vinhos que me fazem querer tomar três!!

Recomendo a leitura do artigo completo mostrando essa verdadeira banda de enólogos, clique aqui. Kanimambo, saúde e desfrutem sem preconceitos!

Salvar

Menos, Menos, o Vinho Só Tem que Nos dar Prazer

Uma das coisas que me irritam em nossa vinosfera ainda é a mania de alguns em colocar o vinho num pedestal onde, em minha opinião, ele não deveria estar! Acho que o vinho é algo social, culturalmente uma bebida que nasceu para acompanhar comida, jantares, amigos em volta de uma mesa, coisa simples como o pão e o azeite. Não deveria ser algo complicado e cheio de mistérios, frescuras e salamaleques.

Está certo, existem segredos e misticismos que envolvem o vinho e o fazem especial entre o mundo das bebidas, porém devemos tratá-lo de uma forma mais simples e tentar não complicar. Deu prazer, ponto, objetivo alcançado! Um de meus melhores momentos com vinho foi numa tasca do interior de Portugal com um primo que há anos não via; direto da barrica num copo de requeijão acompanhando pataniscas de bacalhau feitas na hora! Tudo simples, tudo ótimo, e como Fernando Pessoa já dizia; “Tudo vale a pena Se a alma não é pequena.”

O titulo deste post veio em decorrência de uma experiência que fiz há poucos dias com alguns confrades. O tema que escolhi para o encontro foi, Uvas de Bordeaux na Argentina. Em Bordeaux os vinhos são essencialmente, há exceções, assemblages de diversas uvas autorizadas pela AOC, basicamente as; Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec, Carmenére e Petit Verdot então escolhi 4 varietais para provar, todos vinhos muito qualificados: DV Catena Malbec-Malbec, Fabre Montmayou Gran Reserva Merlot da Patagônia, Angelica Zapata Cabernet Franc e Susana Balbo Signature Cabernet Sauvignon. Os vinhos estavam divinos sendo o Merlot uma das grandes surpresas da noite.

Varietais de Bordeaux

No dia seguinte, manhã cedo, hora da limpeza, verifiquei que as garrafas ainda possuíam algum caldo nelas, pouco, mas tinha. Decidi então produzir meu próprio assemblage, meu próprio “Bordeaux”! Partes iguais de Cabernet Sauvignon e Malbec (chuto uns 35% de cada), uns 20% de Cabernet Franc e finalizei com Merlot. Sem frescuras, só buscando prazer e deu certo. O vinho ficou muito aromático, fruta bem presente, aveludado e rico na boca, também olha só o que tive de matéria prima! Ainda vou querer reproduzir essa receita de forma mais técnica retirando uns 5% do Cabernet Franc e adicionando esse porcentual em Petit Verdot. Peguei as sobras da noite anterior e deu um belo almoço,

Tudo isso só para passar uma mensagem, solte-se! Tem gente que coloca gelo em vinho, outros coca-cola, ginger-ale ou seven up, tudo bem. Eu posso até não gostar ou discordar, mas dependendo do contexto e dos vinhos envolvidos, why not?! Viaje, experimente, faça coisas diferentes, quebre o establishment, seja infiel, curta a diversidade, se divirta. Nossa vinosfera não é tão séria e “amarrada” como alguns podem tentar lhe vender, então relaxe e curta a viagem sem preconceitos! O bom de nossa vinosfera é que não existem regras nem dogmas a serem seguidos então explore o infinito com vontade, aqui você pode e, numa dessas, você pode se dar bem, como eu!

Cheers, kanimambo e tenham todos um ótimo fim de semana. Semana que vem tem mais.