Dando sequência a nossa maratona de mais de 3.800 kms e 4 regiões produtoras argentinas a convite da Wines of Argentina (WofA), chegamos a Mendoza por volta das 7:30 de la matina depois de 10 intermináveis horas de bus e o corpo todo quebrado. Direto para o hotel e um belo e merecido café da amanhã seguido de uma ducha e uma horinha de descanso enquanto colocava meus mails em dia para às 11 horas já voltarmos aos trabalhos num dos melhores momentos desta viajem, um encontro com Roberto de la Mota com quem poderíamos charlar por uma eternidade sorvendo de sua experência e vasto conhecimento. Papo fácil e sedutor, falou da diversidade vitivinícola enquanto provávamos alguns exemplares provando na prática a teoria apresentada, divino!
Vou compartilhar algumas notas do que escutei e também dos vinhos provados, porém, para quem não conhece, deixem-me antes apresentar o Roberto de la Mota. Enólogo dos mais conceituados, começou sua carreira aos 19 anos ajudando o pai (o lendário Raul de la Mota) na Weinert. Depois foi estudar e trabalhar em Bordeaux sob a batuta de Émile Peynaud retornando ao país quando, entre outras, andou pelo projeto Terrazas da Chandon. Hoje dá consultoria para diversas bodegas em várias regiões produtoras assim como tem seu projeto pessoal, a Mendel Wines. Um craque, simpático, sabe tudo do vinho e da vitivinicultura, sua charla (sem pompa nem soberba) é uma aula para quem quiser ouvir!
Até os anos 80 o foco de Mendoza era quantidade! Eram 350 mil hectares de muita uva mas tão somente 15% era de uvas e vinhos finos. Esta situação hoje se inverteu e novas fronteiras se abrem para novas uvas na busca de diversidade pois a região se mostra propicia para muitas mais castas do que a Malbec. Por sinal, foi Roberto que trouxe as primeiras mudas de Cabernet Franc e Petit Verdot para a região, acreditando que se dariam bem e hoje os resultados mostram o quão acertado ele estava.
Mendel Semillón 2013– mais uma aposta do Roberto, desta feita com uma uva branca e quantidades de produção limitadas a cerca de 4 mil garrafas que ele comercializa em quantidades iguais nos Estados Unidos e no Reino Unido com algumas poucas reservadas para seu estoque na bodega. Vinte porcento passam em barrica por uns seis meses, que é o que lhe dá a untuosidade porém sem cobrir o frescor e a fruta muito presentes. Floral (frutos secos) nos aromas, boga rica e fresca de boa persistência, gostei bastante! Para comprar lá na bodega em uma próxima visita.
Dona Paula Estate Sauvignon Blanc 2014 – Só inox, nariz muito intenso, na boca é mineral, ótimo final, fino e fresco. Um SB muito bem feito e agradável. Bela surpresa.
Bodega Colomé Torrontés 2013 – para mim segue sendo um dos melhores torrontés hoje no mercado mostrando todo o potencial desta uva quando bem trabalhada nos vinhedos. De Salta, 2600 metros de altitude, é um vinho clássico, floral com cítrico no nariz, encantador, faz a minha cabeça!
Durigutti Reserva Bonarda 2010 – não conhecia o produtor até uma recente viagem e agora comprovo sua aptidão para vinhos de muita qualidade. Com 18 meses de barrica, apresenta na entrada uma framboesa marcante, meio de boca com grande volume, denso e carnoso apresentando um final fresco com nuances minerais. Sai um pouco fora do padrão de vinhos mais leves e mostrou ter estrutura para guarda. Na linha do Nieto Partida Limitada que é um marco nos vinhos elaborados com esta uva e que necessita de bastante tempo de garrafa para mostrar todo seu valor.
Rutini Cabernet Sauvignon 2011 – com 12 meses de barrica, mostrou-se extremamente equilibrado, madeira muito bem integrada, terroso, rico, boa estrutura, taninos aveludados, um belo vinho bem no estilo da casa de vinhos bem feitos que agradam fácil. Belo vinho!
Andeluna Pasionado Cabernet Franc 2010 – este produtor tem uma característica que a nível geral não me agrada, revi isso posteriormente numa outra cata, pois seus vinhos costumam ser algo excessivos, seja no álcool, na extração ou corpo. Denso, taninos marcantes, para mim faltou deixar a uva se expressar melhor, porém há quem goste.
Finca Decero Mini Ediciones Petit Verdot 2011 – delicia na taça, trouxe para minha Degustação de Vinhos da Mala e todos se apaixonaram. Este produtor já andou por aqui, porém com o encerramento das atividades de seu importador, anda negociando sua volta. São 16 meses de barrica francesa, das quais 50% novas, e o resultado é um vinho muito expressivo tanto no nariz quanto na boca, classudo, gordo, taninos finos e sedosos, ótima textura e longo. Queria beber caixas!
Grandes vinhos, grande charla, um momento inesquecível, um tremendo privilégio! Depois, visita a uma bodega com almoço e mini-feira com mais 8 produtores, mas isso é papo para outro post! Salute, kanimambo e nos vemos por aqui, na Vino & sapore ou juntos na viagem a Mendoza com a Wine & Food Travel Experience em Janeiro.