Que o mundo do vinho tupiniquim anda em polvorosa com uma tremenda dança de cadeiras, isso já não é mais noticia. Que estamos vendo um crescimento acentuado de novas pequenas importadoras com foco em nichos, também não. Mesmo não conhecendo algumas, temos a De La Croix, a Cave Jado e a Emporio Sorio (Córsega) todas com vinhos franceses, porém com nichos diferenciados, a Wine Lover’s com vinhos americanos, a Vinho Sul, Porto Mediterraneo e Brasart com vinhos chilenos e argentinos, a Tradebanc com vinhos italianos, Vinhas do Douro e por aí afora. Faltava alguém que focasse a Espanha, mas não falta mais.
Chegou a Cultvinho, uma empresa movida pela paixão e razão, ou melhor, pela Sandra e Armando o casal que abraça esta causa. Já são 43 rótulos, 14 deles abaixo de R$100,00, com projetos de chegar a próximo do dobro dentro de um tempo. Inicialmente centrado em pequenas vinícolas familiares de pequena produção e grande qualidade o foco de região é a Rioja Alavesa, que possui uma característica de vinhos mais modernos, e algo de Ribera Del Duero, mas a idéia é expandir esses horizontes para outras regiões de Espanha já havendo alguns rótulos do Priorat, Málaga e Penedès.
Junto com alguns outros colegas blogueiros, tive a grata satisfação de participar de uma degustação seguida de almoço lá no Café Journal, um local muito bonito, simpático, com uma decoração rústica chic e intimista que serve um Buffet primoroso. Gosto de degustações em locais que possuem Buffet porque permite-nos brincar num playground de sensações diversas harmonizando vinhos e comidas, fazendo exercícios loucos, enfim me esbaldo! O maior foco, no entanto, é nos vinhos e estes vieram confirmar a ótima escolha de bodegas feita pelo casal. Nessa parceria, o Armando aporta com toda a sua experiência industrial e empresarial de diretor de multinacional automobilística por vários anos tendo sido presidente da Mercedes Benz Espanha onde consolidou sua relação com o vinho, ele que é português. A Sandra, sua esposa brasileira da gema, já na apresentação da empresa e seus planos, mostrou claramente de onde vem a paixão nessa parceria. Uma dupla que, “despacio”, certamente vai encontrar seu espaço! Uma bela sacada que eu aplaudo, inclusive pela boa relação custo x beneficio apresentada.
Tanto o Álvaro (Divino Guia) como o Beto (Papo de Vinho) quanto o Daniel (Vinhos de Corte), todos com links aqui do lado, já fizeram alguns comentários, porém não posso deixar de dar meus pitocos aqui e registrar minhas impressões dos vinhos provados e que teve, a meu ver, dois grandes destaques entre os diversos bons rótulos provados. Provamos um vinho branco e cinco tintos de muito boa qualidade.
Ostatu Tinto Jovem 2008, um 100% tempranillo muito frutado, produto da maceração carbônica por que passa, num estilo de vinificação a la Beaujolais Noveau. Muito gastronômico, aliás como foram a maioria dos vinhos provados, para ser servido fresco, ao redor de 14º acompanhando umas tapas. Bom, correto, mas é um estilo de vinho que não me encanta. Preço R$54,00.
Nobleza Dimidium 2007, aromas gostosos, muita fruta, madeira sutil. Na boca é de corpo médio, taninos aveludados, acidez moderada, final algo seco e especiado de média persistência. Vinho agradável, sem arestas e de preço justo, R$64,00.
Ostatu Crianza 2006 de nariz muito tímido, ganharia muito com uns 45 minutos de decanter, cresce na boca onde se mostra complexo, redondo mostrando boa estrutura e taninos finos, guloso e de boa persistência que só melhorará com mais alguns anos de garrafa apesar de já ser muito apecetível. Preço justo por um crianza desta qualidade, R$94,00.
Erial 2007, um senhor vinho já na paleta olfativa complexa e encantadora em que sobressai a fruta e um chocolate expressivo que convidam a levar a taça à boca. No palato é equilibrado, muito boa estrutura, denso e rico preenchendo a boca com sabores sedutores, taninos maduros e sedosos com um agradável final de boca. Provavelmente o melhor vinho desta degustação que é vendido a R$114,00 no site da Cultvinho, mas que ainda não foi o meu vinho.
Prios Maximus Roble 2007, apesar da muito boa coleção de vinhos apresentados, foi este que me seduziu por completo tendo, inclusive, achado que foi o que mais facilmente se harmonizou com os mais diversos pratos provados e apresentado a melhor relação custo x beneficio entre os vinhos tintos provados. Possui um nariz de boa intensidade, muito frutado e fresco, com algo difícil de encontrar num tinto, toques cítricos que o tornam muito interessante. Na boca é encantador com bom volume de boca, equilibrado, harmônico repetindo a fruta do nariz, macio, um vinho vibrante e muito gostoso que só cresceu com a comida em função da ótima acidez. Com um preço de R$78,00, um achado que recomendo aos amigos.
Ostatu Branco Joven 2008, faz parelha com o Prios no meu pódio do dia. Corte de Viura e Malvasia de vinhedos de mais de 60 anos, possui delicados e sutis aromas cítricos, frutos brancos como pêra e melão, com nuances minerais que encantam à “primeira fungada”. Com o tempo em taça aparecem alguns aromas mais doces, provavelmente em função da presença da malvasia. Na boca, complementa aquilo que prometia no nariz mostrando-se muito fresco, cremoso, saboroso e fácil de encantar. Com uma salada, queijinho de cabra/endívias e tomatinhos cereja, frutos do mar ou acompanhando uma costelinha na brasa, certamente um grande prazer. Um destaque ainda maior porque é uma das melhores opções disponíveis no mercado nesta faixa de preços, excelentes R$38,00 que faz com que ele seja o campeão na relação de Qualidade x Preço x Prazer. Maravilha!
A linha de rótulos é vasta, cada um tem seu gosto e aprecia mais determinados estilos de vinho do que outros, então aventure-se pelo site e curta alguns desses bons caldos. Do que provei e o que pude conhecer da empresa e seus projetos, gostei e recomendo. Sigo achando que os vinhos espanhóis ainda estão longe de terem a participação de mercado que merecem e torço para que este novo empreendimento incentive mais importadores a alçarem vôo naquela direção. Aliás, até porque não posso deixar de puxar a sardinha para meu lado, os vinhos da Peninsula Ibérica são show!
Salute e kanimambo.