Falando de Tempranillo

 

Falar de Tempranillo é falar de Espanha e da região da Rioja onde a maioria dos vinhos tintos são elaborados Tempranillo 1com esta cepa tanto em forma varietal como em cortes tradicionais com Garnacha, Graciano e Mazuelo. A origem de seu nome vem palavra espanhola temprano, que significa cedo, devido á precocidade de seu ciclo vegetativo em relação às outras variedades tintas da região. É uma uva de muitos nomes porém de um mesmo perfil independentemente de onde seja cultivada; Ull de Llebre (Catalunha); Cencibel (La Mancha); Tinto Fino ou Tinta del Pais (Ribera del Duero ), Tinta de Toro (Toro) todas na Espanha e ainda Tinta Roriz (Douro e Dão) e Aragonez (Alentejo) ambas em Portugal. Em geral, os vinhos de Tempranillo são elegantes, estruturados, ganhando grande complexidade quando passam por madeira tornando-se bastante longevos com ótima resistência à oxidação. Seu estilo fica entre os tintos de Bourgogne e Bordeaux. Podem apresentar aromas de frutas vermelhas, caramelo e especiarias, mas é mais marcante em boca onde realmente mostra a que veio!

Jovens Tempranillos, tendem a ser de corpo leve para médio, macios e amistosos devendo assim como os Pinots, serem servidos levemente refrescados, por voltas dos 15 a 16º quando melhor demonstram toda a sua sedução, alcançando a plenitude dos sentidos. Os vinhos de Ribera Del Duero, Toro e Douro (Roriz) tendem a ser mais encorpados com uma carga tânica maior precisando de mais tempo para se abrir e mostrar toda a sua exuberância ao palato. Hoje encontramos ótimos exemplares destes vinhos vindos da Espanha a preços cada vez mais camaradas, mas há de tudo; de 30 a mais de 1.000 Reais! Em 2013, duas das principais revistas americanas, Wine Spectator e Wine Enthusiast, tiveram no topo de seus TOP 100 do ano, dois Riojas Gran Reservas, uma mostra que esta uva pode produzir grandes e inesquecíveis vinhos. A Argentina, Uruguai e Brasil também são opções para se encontrar vinhos para prova, mas hoje me atenho a recomendar somente vinhos espanhóis de três regiões e diferentes faixas de preços que cabem no bolso!

DSC03739Canforrales Tempranillo – La Mancha
La Mancha não é das regiões produtoras espanholas de maior destaque, apesar de ser a maior, porém é de lá que vêm alguns dos melhores custos benefícios do mercado nos dias de hoje. Muitos vinhos nesta faixa abaixo de R$50,00 tendem a ser algo esqueléticos, ligeiros e sem qualquer estrutura, porém este rótulo é uma prova viva de que se pode tomar bons vinhos sem deixar um rombo no bolso no processo. Leve passagem por madeira (3 meses), taninos sedosos, boa estrutura, fruta fresca abundante (cereja bem presente), acidez presente e bem balanceada um ótimo gama de entrada para esta uva. Para acompanhar carnes grelhadas, queijo manchego, chorizo fatiado, até uma morcilla! Preço médio – R$49,00

Finca Nueva Crianza – Rioja
DSC03740Roja é minha região preferida quando o tema é tempranillo/Espanha e este rótulo mostra bem como esta saborosa e versátil uva se adapta bem à madeira. Em sendo um Crianza, já temos uma exigência mínima de 12 meses de barrica e mais 12 de cave antes de sua comercialização. Num patamar de preço intermediário, é um dos melhores e mais saborosos rótulos do mercado. Nariz marcante de frutos escuros e cereja com notas de baunilha, um toque de mocha e algo terroso. Boa estrutura, corpo médio, taninos bem equacionados, um vinho apetitoso e sedutor com um final algo especiado e longo mostrando toda a personalidade da uva. Preço médio – R$79,00

DSC03741Viña Sastre Crianza – Ribera del Duero
Grande produtor desta região, no sentido qualitativo, este é seu vinho de gama média entre os seis rótulos que disponibiliza. Passa 14 meses em barricas novas de carvalho francês e americano sendo elaborado com uvas de vinhedos entre 20 e 60 anos de idade. No palato uma riqueza de sabores ímpar, ótima textura e volume de boca denso, fruta madura, terroso, taninos aveludados de grande qualidade ainda presentes dando-lhe estrutura, boa acidez e um final longo com toques minerais que pede bis. Um belo vinho, bastante complexo, que prima pela harmonia, mas se quiser extrapolar e tiver bolso para tanto, vá do potente Pago Santa Cruz, i-na-cre-di-tá-vel!
Preço médio deste Crianza – R$ 140,00

É isso, bom fim de semana. Salute, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui. Ah, ia-me esquecendo! Ainda temos vagas para o Riedel Tasting – Degustação de Taças no dia 16, vem vai! Reservas para comercial@vinoesapore.com.br e pode ver mais clicando aqui > http://falandodevinhos.wordpress.com/2014/04/09/degustando-tacas-pode/

Rioja e seus Vinhos

Hoje a Espanha amplia seu leque de regiões produtoras para o mundo, porém Rioja sempre será a marca principal e símbolo de um país que gera grandes e inesquecíveis vinhos, haja visto que o melhor vinho do ano para a revista especializada Wine Spectator, foi exatamente um Gran Reserva de Rioja, o Cune Imperial 2004 que, em 2011 e com outra safra, já fez parte de meus Deuses do Olimpo!  No encontro deste mês da Confraria Saca Rolha, foi a vez de conhecermos e provarmos alguns destes vinhos e, através deles, tentar conhecer um pouco da história por trás da região, seus sabores e mistérios. Eis o que nossa porta voz e confreira, Raquel Santos, tem para nos relatar sobre o encontro e os vinhos.  

        Mais um encontro da confraria, final de ano chegando e  todos esperam que o calor chegue também, certo? Errado! Nosso começo de primavera tem sido bem atrapalhado, com ondas de frio pegando todo mundo de calça curta…..Por outro lado, veio a calhar a nossa escolha do tema desse mês: Vinhos da Espanha. Mais precisamente da região de Rioja. Digo isso, porque se existisse uma só palavra que definisse o estilo desses vinhos, seria “versatilidade”. São vinhos de personalidade forte, mas que se adaptam muito bem às circunstâncias.

         A região, que está localizada ao norte do país, recebe a influência dos climas atlântico e mediterrâneo. Abrigada ao norte pela Sierra rioja-map by Quentin Sadler-2013Cantábria e ao sul pela Sierra de la Demanda, é cortada pelo Rio Ebro. As temperaturas variam de acordo com as sub-regiões: Rioja Alta – com clima Continental, e influência do mar Cantábrico, tem invernos muito frios e verões quentes e secos. Rioja Alavessa – com clima de influência atlântica e mediterrânea, com invernos frios e chuvosos e verões amenos. Rioja Baja –  influência mediterrânea, com clima mais quente e seco.

         Além do clima, convivem ali diferentes culturas. Rioja Alavessa, do lado norte do rio Ebro, a província de Álava é basca, com sua própria língua, e politicamente luta para ser um país independente. Do outro lado do rio, Rioja Alta, na província de San Vicente de la Sonsierra (oeste) e Rioja Baja na região de Logroño (leste). Contudo, essas diferenças parecem desaparecer quando se fala da uva Tempranillo.

         Muito versátil, ela ocupa quase todo esse território e reina soberana. E ainda mostra-se muito amigável com outras variedades que  complementam e valorizam suas qualidades: A Garnacha, a Mazuelo e a Graciano. Com elas, produzem vinhos que podem variar de delicados a potentes, dependendo da maturação, evolução e envelhecimento nas barricas de carvalho.

         Igualmente acontece com sua principal casta branca: A Viura, que juntamente com a Malvasia de Rioja e a Garnacha Blanca, resultam num vinho fresco, fácil de beber e acompanham bem uma refeição. Por outro lado, é tradicional na Rioja o processo de passagem por barricas também para os brancos. A evolução é surpreendente, resultando vinhos muito vibrantes e ricos em sabor.

         Esse processo de afinamento que consiste na maturação do vinho, depois da fermentação, em barricas de carvalho é uma técnica que os espanhóis dominam como ninguém. O objetivo é enriquecer o conjunto sem ofuscá-lo. O passo seguinte é o tempo que o vinho depois de maturado, clarificado, filtrado (ou não) e engarrafado ficará  “envelhecendo” na cave antes de ser comercializado.

         A classificação de qualidade dos vinhos da Espanha é baseada nesse processo de elaboração, e foi dividido em quatro categorias:

   Joven ou Cosecha: Brancos e Tintos – sem passagem por barrica

  Crianza: Brancos – mínimo de 6 meses em barrica

               Tintos ( 2 anos)– mínimo de 12 meses em barrica + 12 meses em garrafa

  Reserva: Brancos ( 1 ano)– mínimo de 6 meses em barrica + 6 meses em garrafa

             Tintos ( 3 anos)– mínimo de 12 meses em barrica + 24 meses em garrafa

  Gran Reserva: Brancos (4 anos)– mínimo de 12 meses em barrica + 36 meses em garrafa    

                   Tintos (5 anos)- mínimo de 24 meses em barrica + 36 meses em garrafa

          Começamos a degustação com um branco fermentado em barrica:

    Rioja - Luis Canas Viura Barricado II     Luis Cañas 2010 – Da Rioja Alavessa, elaborado com 90%Viura e 10% Malvasia. Um branco fermentado em barrica sobre as lias, onde permanece por 3 meses. Muito fresco, com aromas florais e baunilha. Na boca lembra abacaxi e casca de limão. Enche a boca com ótimo extrato. Bem típico da região.

         

O segundo vinho da noite foi um 100% Tempranillo, da região de Rioja Alta:

         Sierra Cantabria Selección 2011. Bem frutado, com especiarias e chocolate. Na bocaRioja - Sierra Cantabria seleccion aparece uma mineralidade quase que salgadinha. Muito equilibrado e madeira bem incorporada. Acompanha bem uma refeição, aperitivos, ou mesmo sozinho para relaxar. Leve, gostoso e despretensioso. Lembram quando falei de vinhos versáteis? É esse!

         

O terceiro foi um Crianza, 100% tempranillo, também de Rioja Alta:

Rioja - Finca Nueva Crianza         Finca Nueva 2007. A madeira é o que aparece primeiro dando as boas vindas! Depois, muito suavemente e em camadas aparecem aromas de tabaco, folhas de chá, alguma erva mentolada (cânfora). Na boca se mostra mais frutado, com álcool presente, mas bem colocado juntamente com os taninos finos e boa acidez. Um vinho bem instigante…e o rótulo é lindo!

          No quarto vinho o assunto foi ficando mais sério:

         Marques de Murrieta Reserva 2007. Um vinho tradicional da região de Rioja Alta, nas Rioja - Marques de Murrietaproximidades da província de Logroño. Elaborado com 85% Tempranillo, 8% Garnacha, 6% Mazuelo e 1% Graciano. Permanece 20 meses em barrica e 24 meses em garrafa. Muito equilibrado, com ótima acidez, taninos macios e corpo que permanece um bom tempo na boca. Vai se mostrando aos poucos, nuances de fruta madura, um leve defumado, um toque de madeira abaunilhado, ervas perfumadas que remetem à vinha d’alhos… enfim, uma nebulosa caminhada que exige tempo e paciência para percorrer. Aos que se dedicarem a ela, a recompensa será infinita, pois permanece na memória por muito tempo.

          O quinto e último vinho, para encerrar a noite com chave de ouro:

 Rioja - Lan Gran Reserva        Lan Gran Reserva 2003. Mais um de Rioja Alta, este vinho foi feito com 85% Tempranillo, 10% Mazuelo e 5% Garnacha. Antes da comercialização, passa por 24 meses em barricas de carvalho e depois mais 36 meses em garrafa. Um belíssimo exemplar, que apesar dos seus 10 anos, ainda demonstrava muito potencial para evoluir. O mérito de um Gran Reserva não é o tempo que passa em barrica e sim se há extrato suficiente no vinho para receber essa longa permanência. Esse conseguiu e ainda está em fase de crescimento.

          O tempo de vida de um vinho depende de vários fatores. Quanto maior for seu extrato, volume de álcool, acidez, açúcar e taninos, maior será sua durabilidade. É um erro pensar que quanto mais velho, melhor é o vinho. Cada vinho tem seu tempo certo de vida e assim como as pessoas, uns envelhecem bem, outros nem tanto. Todo vinho tem sua infância, juventude, maturidade e velhice. O momento em que podemos encontrar seu esplendor, é uma tarefa difícil, que funciona como um belo aprendizado na base da tentativa e erro. Tanto um vinho bem jovem pode ser encantador, nos mostrando sua vivacidade e inquietude, quanto um envelhecido que mesmo já tendo passado do seu ápice, retratando suas “rugas”, ainda pode ser uma experiência interessante. Nessa hora, o caráter ou a personalidade é que conta. A diferença pode ser algo bem parecido entre brincar com uma criança de 1 ano ou conversar com uma pessoa de 100 anos!

         A decisão do melhor momento para apreciar um vinho está nas nossas mãos. Enófilos  como na nossa confraria, curiosos e apreciadores de um bom vinho em geral, nunca faltarão. E se depender de mim……