Uvas & Vinhos é uma categoria que fala um pouco das cepas e os vinhos com elas elaboradas ao redor do mundo. Apesar de, obviamente, virmos a falar das cepas mais tradicionais, é nossa intenção fugir um pouco do lugar comum ampliando o leque um pouco. Hoje falamos de uma uva que gera vinhos maravilhosos e em vários estilos. Conheça um pouco mais da aromática GEWURZTRAMINER.
Apesar de seu nome, difícil de pronunciar, a Gewürztraminer é muito fácil de ser reconhecida. Seja por seus aspectos físicos ou pelas características dos vinhos elaborados com ela. Sua origem mais provável é italiana, ou pelo menos do que conhecemos por Itália hoje. As primeiras menções à uva Traminer, apontam para o ano 1000, no vilarejo de Tramin, ou Termeno, nos altos vales de Etsch onde hoje temos o Tirol italiano (perto da região do Alto Adige). No meio do século XVI já era amplamente cultivada nessa região.
Uma outra versão, diz que a uva pode ser descendente da uva Aminea da Thessalia, ao norte da Grécia, de acordo com dados de ampelógrafos da época, com sua difusão pelo norte da Itália e pela região do Rhein (Alemanha) dando-se através dos romanos ou, ainda, que nada mais é do que uma mutação da Savignin Rosa que, morfológicamente é idêntica, porém mostra sabores diferenciados.
A relação entre a Traminer e a Gewürztraminer tem sido muito discutida e, muitas vezes mal interpretada. O prefixo “gewürz” que significa “especiaria”, termo muito utilizado pelos degustadores de vinhos, para descrever os aromas dos vinhos elaborados com Gewürztraminer, por sua complexa gama de aromas, que lembram frutas tropicais e flores perfumadas, como lichias e rosas. A palavra gewürz também pode ser interpretada simplesmente como “perfumado” ou “aromático”. Na Alemanha, ainda se podem encontrar as duas versões, sendo a Traminer usada para os vinhos mais aromáticos e os Gewurtzraminer para os de mais acentuada presença de especiarias como canela, o que também ocorria na Alsácia até 1973 quando Traminer foi eliminado.
É uma uva cultivada em muitas regiões, principalmente na Alsacia (França) e nas regiões do Rhein e Pfalz (Alemanha), mas também na Austria, Itália (Alto Adige), Nova Zelândia, Austrália, Chile, Estados Unidos e alguma coisa por aqui, no Brasil. É, no entanto, na Alsácia que se encontra a maior área plantada com cerca de 3.000 hectares, de acordo com Oz Clarke em seu livro “Grapes & Wines”. Conforme amadurecem, ganham uma cor mais rosada.
Os vinhos de Gewürztraminer normalmente são de cor amarelo intenso, quase dourados. Por conta de sua composição e características da casca, são vinhos com grande estrutura em boca. Uma de suas “fraquezas” é a acidez, muito delicada e, que em anos mais quentes, tende a ser muito baixa. São sempre muito aromáticos, com notas marcantes e características lembrando lichias e pétalas de rosas com toques, de maior ou menor intensidade, de especiarias. No Chile e Califórnia, apresentam características mais frescas e notas florais, e Nova Zelândia, Canadá e Oregon, onde tendem a ser mais complexos. Por ser uma casta de maturação tardia, não é incomum nos depararmos com vinhos por vezes excessivamente alcoólicos.
Por ser uma uva de difícil produção e baixo rendimento, os preços tendem a ser caros, especialmente entre os melhores, o que não tem incentivado o incremento de novos vinhedos. Por outro lado, devido a uma acidez pouco acentuada, são vinhos tradicionalmente de tiro curto, para serem tomados jovens, entre os primeiros dois a três anos de vida. Os melhores exemplares da Alsácia e de maior acidez, podem envelhecer por até 10 anos ou mais, porém tendem a atingir seu pico por volta de 6 para 7 anos, exceção feita aos grandes vinhos doces que podem atingir 20 anos.
Harmonização:
Apesar de, à primeira vista não parecer, graças às suas características aromáticas e gustativas, os vinhos de Gewürztraminer secos e jovens são ótimos parceiros para a culinária, especialmente pratos com riqueza aromática e bem condimentados, como a cozinha asiática – chinesa e indiana. Curries mais suaves aceitam bem os mais maduros.
Além disso, as versões mais adocicadas são especialmente agradáveis para acompanhar sobremesas à base de frutas. Veja o que o amigo Álvaro Galvão (Divino Guia) tem a nos sugerir; “Os vinhos elaborados com esta cepa podem ter toques minerais também, mas é tão perfumada que, às vezes, este perfume sobrepuja todos os outros. Harmonizar a Gewurz é fácil, pois em tendo acidez e também corpo, ajuda na harmonização quando temos mais gorduras e lácteos.
Como gosto sempre de propor harmonizações mais ousadas, que tal um risoto de 3 queijos(brie, gruyere e gorgonzola)? Sua veia aromática e certo dulçor em boca, irá harmonizar com o amido do arroz, e com as gorduras e tons salgados dos queijos. Outra ousadia, peixe temperado com o mesmo vinho e leite de coco, embrulhado em papel alumínio(papillote) com ervas e especiarias. Que tal também uma sopa fria, suculenta e calórica?”
Os estilos da Gewurztraminer são dos mais variados, podendo ser elaborados como vinhos secos, off-dry e doces, porém poucos atingem o nível de botrites devido a sua pele grossa que serve como barreira a essa “podridão nobre”. Eu prefiro meus Gewurztraminer secos, bastante jovens e os doces em cortes com cepas de maior acidez que lhe dão uma incrível complexidade aromática e riqueza de sabores. Eis alguns poucos rótulos, com preços aproximados, que já tive a oportunidade de degustar e outros a conferir.
Vinhos Recomendados:
- Valduga Premium – Brasil – R$30,00
- Angheben – Brasil – R$30,00
- Tarapacá Late Harvest (S.Blanc/Gewurz) – Chile – R$35,00
- Cono Sur Reserva – Chile/Expand – Cono Sur – R$39,00
- Santa Helena Late Harvest (maior parte de Riesling)– Chile/Interfood – R$39,00
- Cordilheira de Sant’ana – Brasil – R$46,00
- Knappstein Three (corte com Riesling e Pinot Grigio) – Austrália/Wine Society – R$64,00
- Casa Marin “Casona” 2008 (off-dry) – Chile/Vinea – R$115,00 (Divino)
- Marcel Deiss Saint Hypplolyte – Alsácia/Mistral – R$142,00 (Maravilha)
Sugestão de Vinhos a Conferir:
- Dal Pizzol – Brasil – R$30,00
- Hugel & Fils “Gentil” (Corte c/4 outras uvas) – Alsácia/World Wine – R$48,00
- San Michelle – EUA/Expand – R$55,00
- Dopff & Fils – Alsácia/Mistral – R$75,00
- Léon Beyer – Alsácia/Vinci – R$111,00
- Elena Walch – Alto Adige – Itália/Decanter – R$114,00
- F.E. Trimbach AC – Alsácia/Zahil – R$125,00
- Domaine Paul Blanck – Alsácia/Decanter – R$131,00
- Hugel & Fils “Jubilée” – Alsácia/World Wine – R$160,00
Post elaborado a seis mãos! O texto sobre as uvas chega pelas mãos da amiga Mariana Morgado e minha, a harmonização pelas do experiente Álvaro Galvão e as sugestões de vinhos são minhas. Para ver como contatar os importadores e checar onde, mais próximo de você, o rótulo está disponível, dê uma olhada em Onde Comprar, post em que constam os dados dos importadores e lojistas assim como de produtores brasileiros.
Quem quiser compartilhar de alguns bons rótulos conosco, o espaço é vosso. Impossível provar todos os vinhos então a contribuição dos amigos, para alegria da coletividade enófila que acompanha este blog, é sempre muito bem vinda.
Salute e kanimambo