Grandes Quintas

Mais Experiências Lusas na Confraria Saca Rolhas

Portugal Fixe Hospedando cinco confrarias ao mês, sem contar os eventos promovidos, volta e meia esqueço o tema escolhido para o encontro seguinte. Pior, como a escolha é normalmente feita ao final dos encontros, rs, a maioria também esquece! Em cima da hora não podia dar outra, optei por dar uma volta pelas ricas regiões produtoras em Portugal que a confreira, amiga e porta voz do grupo assim descreveu:

 

Mais um encontro da Confraria Saca Rolhas e como é de praxe, procuramos decidir o tema do próximo encontro, no final da noite….E não sei porque, depois sempre aparecem dúvidas à respeito do que foi decidido! Depois da degustação dos Brunellos então, esquecemos de combinar o tema. Decidimos então degustar os vinhos que foram selecionados para harmonizar um jantar português, promovido pela Vino&Sapore. Acho que foi uma boa pedida, já que os portugueses estão em evidência atualmente, além do que, o fato de serem vinhos que deveriam acompanhar uma refeição, indicam uma característica muito mais próxima de vinhos que nós normalmente procuramos comprar no dia a dia, do que aqueles simplesmente degustados para conhecer uma região, um produtor, ou mesmo uma qualidade de uva, etc e tal. Seria uma visão diferente com um viés mais gastronômico.
Salvo algumas exceções, a sequencia dos vinhos servidos foi mais ou menos esta:

Espumante Valmarino & Churchill – Brut Nature – Prestige
Boa surpresa da região de Pinto Bandeira, Rio Grande do Sul (BR). Elaborado pelo método tradicional ( champenoise), com as uvas Chardonnay e Pinot Noir em que o vinho base passa por um estágio de 180 dias em barrica de primeiro uso americana. Bela pérlage que enche a boca, revelando ao mesmo tempo, cremosidade e frescor. Aromas e sabores equilibrados que se alternam entre as frutas cítricas e pâtisserie. Tem uma longa persistência e deixam uma agradável e sedosa sensação amendoada na boca.

Pedra Cancela – Eco Friendly 2009
Da região do Dão, este vinho foi elaborado à partir de princípios ecológicos e preocupações com o meio ambiente, desde o plantio, colheita, vinificação, e engarrafamento (garrafa, rolha e rótulo).
Início bem perfumado ( flores e frutas), e fresco. Na boca, é bem encorpado e a presença das frutas se confirma, principalmente amoras e cerejas maduras. Os taninos são suaves e o álcool aparece um pouco demais, deixando um final quase doce. Não ganha muito com tempo na taça. Apenas aparecem alguns traços amadeirados. Um vinho de alma jovem!

Solar dos Lobos – Reserva 2007
Da região do Alentejo, mostrou-se discreto no início. Com tempo, demonstrou sua vocação gastronômica com aromas de especiarias, pimentas, vinha d’alhos, defumados, notas de tostado da madeira, tabaco, equilibrando-se muito bem com o frutado, criando um corpo harmonioso e persistente na boca. Boa acidez e taninos suaves. Mas pede comida.

Vinhos Lusos Junho 2014

Meia Pipa – Private Selection 2010
Do mesmo produtor da “Quinta da Bacalhoa”, na Península de Setúbal, esse vinho é elaborado com uma mistura de uvas portuguesas e francesas. Ataque potente na boca. Bem encorpado, com taninos marcantes e acidez equilibrada. Sobressai sua estadia em madeira bem incorporada com o frutado das cerejas e ameixas maduras. Um vinho redondo, agradável e fácil de beber.

Grandes Quintas – Reserva 2010
Proveniente de vinhas velhas da região do Douro. Nariz elegante e sutil. Bem equilibrado e estrutura alinhada. Sem arestas. Bom extrato, taninos finos e presentes, e acidez muito boa. Refresca o paladar e o torna um bom companheiro para refeições. Final longo com frescor persistente. Um vinho versátil, que acompanharia muito bem do primeiro ao último prato.

Francos Reserva 2009 – DOC Alenquer
Esse vinho tem história!
Produzido pelo Enólogo José Neiva Correia ( DFJ ), para comemorar seus 30 anos de enologia. As uvas utilizadas para produzi-lo vieram da Quinta do Porto Franco ( DOC Alenquer , na região de Lisboa ), que também foi o local de nascimento de José Neiva. Foi eleito o um dos 100 melhores vinhos de Portugal em 2013 pela Revista de Vinhos de Portugal.
Pareceu um pouco tímido no início. A primeira sensação na boca foi um gosto de comida! Super equilibrado, e complexo. Fiquei com a impressão que esse vinho perdeu um pouco por ser deixado para o fim da degustação……Não tivemos tempo suficiente para apreciá-lo por completo. Havia algo nele que não consegui entender até agora. Sim, existem vinhos intrigantes que temos que repetir e esse certamente é um deles. Algo no frescor, uma mineralidade incomum e uma acidez que parecia vinho branco! Esse vinho, se encontrá-lo novamente, não me escapa!

VanZellersPorto-550x471VZ – Van Zeller – Tawny 10 anos
Esse Porto, de cor belíssima, âmbar, veio para encerrar a noite e acompanhar o delicioso toucinho do céu. Com seus sabores amendoados e puxados para frutos secos, me fez por alguns momentos esquecer que também tratava-se de mais um vinho. A fusão entre ele e a sobremesa foi tão grande que na minha cabeça tudo transformou-se em uma coisa só. Harmonização perfeita!

 
Resumindo as escolhas da noite:
Tirando o Espumante de boas vindas e o Porto de sobremesa que podem variar, os 5 tintos tinham em comum, qualidades tipicamente encontradas em vinhos portugueses desse padrão. Todos eles tinham espírito jovem, eram frescos , com boa acidez, aromáticos e pediam comida para acompanhá-los. Além disso, caracterizavam-se por serem frutados, com bom corpo, e madeira bem integrada aos aromas e sabores.

Os vinhos gastronômicos são aqueles que melhoram com a comida e a comida melhora com eles. Igual um casamento que dá certo ou uma amizade longeva. Não existe regra, e acontece na base da intuição, do conhecimento e do experimento. Quando da certo é ótimo. Quando não, continua-se tentando. E cabe a nós, apreciadores da boa comida e da boa bebida, essa árdua tarefa da escolha. Engana-se quem acha que é fácil!

Portugal – Enorme Riqueza e Diversidade Vínica com Precinho!

Castelo almourol Dizem que grandes perfumes vêm em pequenos frascos e, certamente, a enogastronomia deste pequeno país com pouco mais de 92 mil quilômetros quadrados, menor que Santa Catarina, faz jus ao ditado popular e surpreende a maioria que por lá perambula pela primeira vez. Sua gastronomia rica em frutos do mar e carnes diversas, o famoso bacalhau e doces deliciosos, com cada região produzindo uma culinária típica do pedaço, é um prato cheio para os amantes do vinho se esbaldarem em harmonizações das mais diversas, alimentando o corpo e, porquê não, a alma! Visitar Portugal, ô saudade (!),  é também uma tremenda imersão na história com uma vasta opção de locais a visitar e estórias a ouvir numa simples tasca, copo cheio de vinho e umas boas pataniscas de bacalhau!

Falar de vinhos neste país que não possui a maior extensão de vinhedos, não é o maior produtor de vinhos e tão pouco tem o maior consumo per capita, é falar de diversidade, de sabores únicos advindos de uma enorme quantidade de uvas autóctones (cerca de 250) que nos fazem sair da mesmice dos Cabernets, Merlots e Chardonnays de nossa vinosfera. É uma viagem por sabores e emoções diferenciadas que vêm fazendo a alegria dos apreciadores do vinho pelo mundo afora desde muito tempo. Pode-se pensar que a projeção do vinho português no mundo seja algo recente, mas muito pelo contrário! Desde o inicio do século XVII os ingleses já importavam vinhos que, mais tarde, se tornariam os Vinhos do Porto que conhecemos hoje. A primeira região produtora de vinhos demarcada no mundo, é exatamente a do Douro em 1756 ou seja, há muita história por trás dos vinhos portugueses.

Panorama do Douro

Com características únicas, a grande maioria são fruto de blends (mais de um tipo de uva) elaborados com uma série de uvas autóctones pouco conhecidas fora do país como Trincadeira, Castelão, Alfrocheiro, Touriga Nacional, Baga, Jaen, Tinto Cão, Tinta Barroca, Touriga Franca nos tintos e Alvarinho, Antão Vaz, Arinto, Trajadura, Loureiro, Bical, Encruzado, Roupeiro, Rabigato, Gouveio e Fernão Pires entre os brancos. As uvas mais tradicionais como Cabernet Sauvignon, a Tempranillo que é uma casta típica da península Ibérica e que aqui se conhece como Aragonês (no Sul) ou Tinta Roriz (no Norte), a Syrah e Alicante Boushet muito presentes no Alentejo vêm também sendo usadas com sucesso especialmente nas regiões produtivas mais novas como Tejo e Lisboa onde houve uma maior flexibilização das comissões reguladoras regionais. Incrível como num país tão pequeno possa existir tamanha diversidade de regiões produtoras e com tantas diferenças entre si! Das mais importantes como Alentejo e Douro, de onde sai a produção mais emblemática do país, passando pelo tradicional Dão, a Bairrada da cepa Baga, Terras do Sado com seus bons tintos e emblemáticos vinhos Moscatel, Lisboa e Tejo com sua modernidade e o Minho dos vinhos verdes, entre outras.

Já lá se vai o tempo de vinhos rústicos, pesados sem qualquer finesse! Estamos diante de um Portugal vínico revigorado que merece ser revisitado e conhecido sem preconceitos desde os vinhos mais baratos e jovens para consumo imediato até os vinhos de média e longa guarda de maior complexidade e de preço idem. Nas minhas mais recentes viagens de garimpo por feiras e eventos vínicos, tive o prazer de garimpar alguns rótulos muito interessantes que valem ser conhecidos em função de sua excelente relação Preço x Qualidade x Prazer que deixa claro que hoje os vinho de Portugal são fortes concorrentes dos argentinos e chilenos em vinhos de todas as faixas de preço, mas especialmente nas mais baixas, aventure-se e saia da mesmice, quebre paradigmas e se surpreenda. Eis algumas dicas para você descobrir com preços abaixo de 60 reais:

  • Vilaflor Branco – um vinho branco do Douro que rentemente, na última Expovinis, ganhou o troféu de melhor branco abaixo de R$50 promovido pelos Wine Hunters, um grupo de blogueiros especializados convocados para a missão. Um vinho branco barato porém com conteúdo que satisfaz a maioria e encanta quando se vê o preço. Seu tinto, na mesma faixa de preço que o branco (R$35) não tem a mesma “vibe”, mas é igualmente saboroso.
  • Casa do Lago Tinto – um tinto da região Lisboa que mistura castas autóctones com internacionais, um saboroso blend de Touriga Nacional com Cabernet Sauvignon de corpo médio, ar modernoso, fruta madura, bom volume de boca, um vinho para conhecer e se surpreender pois o blend ficou muito bom. Entre R$45 a 50,00 uma bela compra e gostei do branco também!
  • Casa da Passarela Dão Colheita – Uma região que andava meio esquecida e mal tratada, mas que de alguns anos para cá vem produzindo algumas preciosidades. Este gama de entrada é delicioso e já quebrou a resistência de alguns por vinhos lusos! Vinícola premiada, vinho com boa intensidade de frutos do bosque vermelhos, boa acidez, elaborado com as 4 principais castas regionais (Alfrocheiro, Tinta Roriz, Touriga Nacional e Jaen), que não é cepacol (os mais velhos entenderão!) mas é bom de boca! Também entre R$45 a 50,00.
  • Grandes Quintas Colheita – Mais um saboroso blend do Douro só que desta vez tinto e de uvas exclusivamente autóctones. Corpo médio e muita fruta, final macio, meio de boca muito rico, taninos aveludados e já uma certa complexidade, uma enorme surpresa na faixa de preços. Entre R$50 a 55,00.
  • Confidencial Tinto – também da região Lisboa é mais um daqueles vinhos que encantam ao primeiro gole e o produtor faz questão de não divulgar o blend que, dizem, tem cerca de sete diferentes uvas. Um vinho redondo, harmônico, gostoso e fácil de agradar tanto os de mais litragem quanto os iniciantes desbravadores do mundo de Baco. Na casa dos R$35 a 40,00.

Tem mais ainda, vinhos como os; Gaião do Alentejo; Casa de Cambres Reserva, Castello d’Alba e Casa do Brasão do Douro (abaixo dos R$30!); o Forja do Ferreiro de Beira Interior, o Terras do Pó Branco e Tinto da região Setúbal, enfim uma enormidade de rótulos estão disponíveis, converse com seu fornecedor de confiança e mergulhe nessa aventura que garanto será surpreendente e ainda um plus, nessa faixa duvido que consiga mais prazer com los Hermanos!

Portugal Fixe

Por outro lado, os vinhos topo de gama que se destacavam não só por sua qualidade, mas também pelo preço, agora começam a perder esse atrativo de preço e ficaram no mesmo patamar dos vinhos de seus vizinhos italianos, franceses e espanhóis sendo cada vez mais comum encontrar rótulos na casa dos 400, 500 e 600 Reais no mercado e não falo dos astros Pera Manca e Barca Velha! na faixa de R$200 a 300 são inúmeros os rótulos, porém na igualdade de preços, o atrativo da “marca” e aqui vale a nacionalidade, ainda faz diferença num mercado ainda pouco evoluído e muito levado por estereótipos formados ao longo do tempo. Como, no entanto, achados há em todas as faixas de preço, seguem aqui três dicas de belos vinhos com preços idem face o que entregam. Não vou falar muito sobre eles, por enquanto, mas se der de cara com estes rótulos pode mergulhar sem medo. Eu não garanto (rs), mas se você é leitor assíduo e se dá bem com minhas dicas, posso dizer que não vai se arrepender pois os três entregam mais do que cobram.

  • Grandes Quintas Reserva – premiado rótulos deste produtor do Douro na casa dos 100 reais, de final especiado, longo e prazeroso que acompanhou maravilhosamente uma rabada desfiada sobre uma cama de polenta!
  • DFJ Francos – um vinho da região Lisboa que só é produzido em safras especiais e nesta década só em dois anos foi engarrafado. Causa impacto ao primeiro gole, um vinho de personalidade forte, denso e rico de sabores, na casa dos R$140/150.
  • Monte da Peceguina Tinto – um belo vinho da Herdade da Malhadinha que entrega bem mais que um monte de seus primos alentejanos mais famosos. Um vinho de ótimo volume e estrutura de boca, harmônico, sedutora e vibrante paleta olfativa, mais uma ótima opção nesta faixa um pouco mais alta de preços, na casa dos R$100,00.

Salute, kanimambo e vamos curtir os vinhos de Portugal? Eu tou nessa e faz tempo!!