Tenho uma queda por vinhos elaborados com esta casta, difícil em varietais, mas que possui a tendência de aportar complexidade aos vinhos assim como uma enorme capacidade de os “arredondar”. Nos últimos tempos temos visto ótimos exemplares de varietais de Petit Verdot vindo do Chile, da Argentina e da Espanha, regiões mais quentes onde a uva atinge seu nível de maturação de forma mais regular. Um dos meus favoritos é o Finca Decero Petit Verdot que há dois anos ganhou o Troféu de melhor vinho de Mendoza pela Wines of Argentina, assim como os chilenos Perez Cruz Chaski e o Casa Silva, todos grandes vinhos, porém de preço idem!
Mais acessíveis são aqueles vinhos em que encontramos a Petit Verdot como participante de blends e garimpar esses vinhos é algo que me agrada bastante, pois, ao que me lembre, dos muitos provados só um não fez minha cabeça! Normalmente, inclusive em Bordeaux de onde é originária, é usada em porcentual pequeno, entre 7 a 10%, porém não é incomum ver belos blends onde esse porcentual é amplamente ultrapassado. Antes de falar deste La Playa em que 40% do corte é desta uva, compartilho com você a opinião de dois amigos enólogos que prezo muito:
1 – Miguel de Almeida é o enólogo do projeto Seival da Miolo, jovem e competente, de origem lusa. Lhe perguntei o que ele achava desta casta, veja o que ele respondeu: “sobre o Petit Verdot, no Seival temos 2 hectares desta uva [o único vinhedo do Grupo Miolo a tê-la no encepamento]. A Petit Verdot é uma uva de cacho e grão pequenos que entrega aos vinhos sempre muita cor, acidez e tanino. Das não tintureiras, é a seguir ao Tannat a uva que mais cor e estrutura coloca nos vinhos. Por aqui é uma uva de boa maturação, média resistência à umidade, quase tardia e generosa em produção. Gosto de Petit Verdot como monovarietal, mas como temos pouco PV, usamo-la sempre em corte e sempre intensifica o visual do vinho e prolonga a longevidade do mesmo.”
2 – Tomás Hughes – Argentino, enólogo da ótima Finca Decero (Mendoza), que possui, na minha opinião, o melhor Petit Verdot da Argentina e o usa também no seu vinho ícono onde participa como coadjuvante no corte, o Amano. Eis o que ele me respondeu: “De mi punto de vista , cuando usamos PV en cortes, este ayuda a terminar la boca, dándole elegancia, largo y un toque de jugosidad. En lo que se refiere a nariz aporta notas a especies frescas las cuales se combinan muy bien con los aromas de malbec y cabernet, generando un marco de aromas sutiles y elegantes que forman base de una gran complejidad. Es un varietal de gran personalidad que rápidamente toma protagonismo en los cortes, por ende si uno quiere trabajar sobre un corte donde no quiere el PV como driver, tiene que trabajar con proporciones inferiores al 10%. Por ej, en nuestro “Blend Amano”.
Este é um corte inusitado e muito bem feito onde a Peti Verdot tem papel de protagonista avaliado em 2014 pela Wine Enthusiast (http://www.winemag.com/buying-guide/la-playa-2011-block-selection-reserve-claret-red-c ) com 88 pontos e classificado com um dos melhores 100 Best Buys desse ano com um preço médio de USD12 nos EUA, o vinho está no ponto!
Tradicionalmente este vinho segue uma composição de castas bordalesas, mas o enólogo se permite variar isso ano a ano dependendo da safra e da evolução das uvas no ano. Em 2010 seu corte foi composto de Petit Verdot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Carmenére, porém neste anos de 2011 esse blend sofreu variações. O corte deste vinho de safra 2011 é uma composição da Petit Verdot (40%) com Malbec, Cabernet Franc e Syrah, que é uma uva do Rhône, que resultou muito bem.
Ao abrir uma garrafa para prova com os amigos, a primeira percepção foi de qualidade, muito boa paleta aromática, com uma boca densa, complexo, porém de taninos aveludados. O fato de ter um forte porcentual de Petit Verdot no vinho, contradiz um pouco os conceitos emitidos por diversos enólogos e especialistas o que me faz crer que há ainda muito a estudar sobre a enorme capacidade de desenvolvimento que esta casta ainda tem pela frente e, por outro lado, confirma de que não existem verdades absolutas em nossa vinosfera. Por sinal, me lembro bem de um vinho português marcante que se foi e deixou saudades, o Terras do Pós Syrah/Petit verdot 50/50 outro belo vinho!
Neste caso do La Playa Block Selection Reserve Claret 2011 (que de claret não tem nada), mais uma vez fica comprovada a característica da casta em gerar blends de muita qualidade sem que necessariamente os vinhos tenham que ser caros. Os aromas com notas florais e frutadas, pedem para levar o vinho á boca e a entrada de boca é impactante para um vinho deste valor. Ótima estrutura, boa acidez, frutos negros (ameixas e cerejas?), algum defumado, muito harmônico e vibrante, final de boca de boa persistência com notas de baunilha e cafés fruto de seus doze meses de barricas americana e francesa.
Mais um vinho que fez parte da seleção de Fevereiro da Confraria Frutos do Garimpo (link no banner acima aqui no canto direito do blog) que também teve a presença do Clos Lagoru espanhol de Jumilla. Uma ótima semana a todos e seguimos nos encontrando por aqui, pelas estradas de nossa vinosfera ou, quiçá, na Vino & Sapore onde sempre haverá uma taça para compartilhar com os amigos. Saúde e kanimambo pela visita.