Coluna da Eliza – Alain Chabanon, uma Preciosidade do Languedoc

      A Eliza voltou, mas por enquanto recupera baterias e mata saudades da mommy  porque ninguém é de ferro! Em breve, certamente, o mercado a absorverá novamente pois gente boa com bagagem e a gana qe essa menina tem, não tá sobrando não!  Trouxe na bagagem muitas experiências que certamente estará compartilhando conosco em sua coluna quinzenal por aqui em Falando de Vinhos. Hoje fala de um produtor que, por sinal, me parece uma ótima  dica para importadores já que o produtor ainda não está presente por estas bandas. Fala aí Eliza!

 

Alain Chabanon, uma preciosidade do Languedoc!

 

            Presente em quase todas as lojas de vinho da região, este engenheiro agrônomo dá o que falar por aqui (lá!). Adorados pela crítica, pelos profissionais e pelos consumidores, seus vinhos são únicos, complexos, ricos, equilibrados, maravilhosos! E olha que eu tive o imenso prazer de prová-los todos (alguns mais de uma vez)!  

            Filho de professores, Alain Chabanon estudou enologia à Bordeaux e à Montpellier e trabalhou em diferentes domaines antes de se instalar no terroir de Montpeyroux, sul da França, em 1990. Sua ambição era de elaborar grandes vinhos, finos e elegantes… mas sua natureza perfeccionista conseguiu muito mais! Atualmente com uma produção de 50 mil garrafas por ano, e uma linha composta por um branco, um rosé e seis tintos, este vigneron está satisfeito com as suas terras e os frutos de seu trabalho. Seus 20 hectares de terra, espalhados em diferentes “cidadezinhas” são todos trabalhados em agricultura orgânica e biodinâmica. Um verdadeiro ritual cuidadoso que é traduzido em sensações e em palavras: “Um dia um senhor me ligou, e me disse que ele experimentou emoções extremamente fortes degustando meus vinhos… no início eu fiquei um pouco surpreso… mas finalmente eu entendi e eu entendo, e isto me deixa muito feliz porque nós tocamos o essencial do homem, quer dizer, o prazer, algo além da felicidade… é muito bom poder provocar isso…” compartilha Alain Chabanon na abertura do seu site (http://www.alainchabanon.com/index.html).

            Eu, particularmente, sou apaixonada pelo seu ícone, descrito como uma réussite exceptionnelle, L’Esprit de Font Caude, um vinho que interage conosco e transforma um momento ordinário num momento mais do que especial. Seu nome, poético e cheio de significação – Font Caude significa “nascente quente” na língua occitana, língua esta utilizada à mais de 10 séculos atrás pelos trovadores da região para proclamar poemas e canções – é uma homenagem à nascente que existe na propriedade, onde a água brota à 19°C, faça chuva ou faça sol.

            Elaborado com 50% de Syrah et 50% de Mouvèdre, “o espírito da nascente quente” inspira e surpreende; vinho profundo, saboroso, denso, rico e cheio de elegância. Magia? Não, ele é o fruto de um savoir faire único e de muito trabalho! Vou pincelar alguns momentos importantes para vocês, mas quem quiser saber mais me avisa! Uma das principais etapas, a maceração, dura 5 semanas. Durante este período, um dia sim, um dia não, o vinho é pisado. Depois, ele passa 12 meses nas cubas, 24 meses nas barricas de carvalho francês compradas à Bordeaux – já com 2 anos de utilização – para que depois, finalmente, o blend seja feito. Você já estava pensando que o processo termina por aí? Ainda não… mais uns bons 12 meses de estágio seguidos de um engarrafamento sem colagem e nem filtragem… ou seja, a colheita de 2006 começou a ser disponibilizada no mercado em 2011 e a de 2007 ainda não saiu!!

            Pois é, vinificação é sinônimo de tradição na casa de Alain Chabanon e cada garrafa de L’Esprit de Font Caude resume uma verdadeira epopeia vitivinícola…  tudo isso  com a ajuda de apenas um funcionário… quantas horas será que ele dorme?

Bonne semaine à tous et à la prochaine!

Coluna da Eliza – O Sul da França é Bio

           Mais uma participação da Eliza aqui no blog direto do Languedoc. Acho legal que os leitores de blogs das mais diversas atividades, eu incluso, possam ver quem é a pessoa que fica por trás daquilo que se escreve pois a mundo blogueiro é muito anônimo e acho que ver quem está do outro lado, saber quem ele é, valoriza, ou não, o conteúdo. A principio, sempre desconfio de tudo que seja anônimo! Por isso esta coluna da Eliza, como já tinha feito com o Breno, trará sempe sua foto. A partir de agora, se a Eliza seguir nos enviando matéria, publicarei seus post quinzenalmente enquanto ela não volta para terras brasilis e nos alegra com sua simpática presença e seu alto astral. Chega de papo, fala aí Eliza:

          O vinhedo da região Languedoc Roussillon sempre foi conhecido e reputado por ser o maior produtor de vinho da França. Mas, como quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade, sua reputação nunca foi das melhores, seja no cenário nacional ou no internacional.

            Conscientes deste problema, os produtores da região decidiram mudar este conceito. Após milhares de euros investidos e kilometros de vinhas arrancadas, a nova generação de vignerons colhe os frutos dos trabalhos iniciados na primeira metade dos anos 80. Hoje, o Languedoc Roussillon aparece triunfante na mídia, ganhando cada vez mais espaço nas lojas e também na mesa dos consumidores franceses.

            Felizes de suas conquistas, mas em busca de muito mais, o ano de 2012 começou com mais uma vitória dos nossos incansáveis escravos da vinha : a região é apontada pela “Association Interprofessionnelle des Vins Bio” como o maior produtor de vinho orgânico da França.

            Nas terras banhadas pelo mar mediterrâneo, o bio deixou de ser uma tendência para se tornar uma realidade. Sede da feira Millésime Bio 2012, a cidade de Montpellier conta hoje com inúmeras lojas de produtos orgânicos : legumes, frutas e verduras podem ser adquiridas sem agrotóxico, assim como produtos processados, como biscoitos, macarrão, sopas, enlatados… e as opções não se resumem tão rapidamente : vocês já imaginaram uma loja inteira de vinhos, dedicada aos vinhos bio elaborados na região?

            A “La Cave des Arceaux” (http://www.cave-arceaux.com ), dirigida por Frédéric Jeanjean em Montpellier, se especializou no comércio de vinhos do Languedoc Roussillon desde a sua fundação em abril de 2001. Hoje, com um portifólio de cerca de mil rótulos, mais de 80% são orgânicos ou em vias de conversão. A explicação é simples : “Nos trabalhamos com vignerons que trabalham de forma orgânica, para defender a expressão do terroir e mais vida nos vinhos” confessa Frédéric.

            Reflexo de qualidade ou não, o que observamos neste pedacinho de paraíso é que bio não está sempre associado à preço exorbitante. Com um budget de 30 reais encontramos inúmeras opções, é vinho para todas as ocasiões e para todos os gostos!

 

Frédéric Jeanjean e Agnès Peyre da “La Cave des Arceaux”

Coluna da Eliza – O Languedoc

            Antes dela se apresentar e começar a introduzi-los no mundo enogastronomico do Languedoc, deixa eu falar um pouco da Eliza. Durante muitos anos ela foi a alma e força motora por trás da Lusitana de Vinhos, uma importadora que fechou há uns anos e deixou saudades. Lembro bem dos; Quinta Giesta, especialmente o rosé, vinhos bem honestos da região do Dão, do incomparável e inesquecível S. Leonardo Tawny 20 anos, dos Portos da Quinta de Baldias em especial o delicioso Tawny que mais parecia um reserva e os Barão do Sul e Barão do Sul Reserva que eram incríveis relações Qualidade x Preço x Prazer. Fechou a empresa e a Eliza alçou voo rumo a uma terra distante porém encantadora e repleta de cultura, conhecimento e muito vinho! Agora, enquanto não encontra seu caminho de volta, compartilhará conosco suas experiências. Benvinda amiga e espero ansioso por mais posts.

 

            Atualmente moradora do Sul da França (quelle chance) e completamente apaixonada pela cultura local, aproveito esse espaço (gentilmente cedido pelo queridíssimo João Filipe) para compartilhar com vocês algumas descobertas, minhas impressões e ainda muitas novidades do mundo vinícola francês, disponíveis ou não no Brasil.

            Neste primeiro momento, eu proponho um resumão da história da vinha e do vinho na região Languedoc-Roussillon. Preparados?

            Foram os gregos os primeiros a cultivar a vinha na região méditerrannée, 5 séculos A.C.. Naquela época, o vinho era uma importante moeda de troca e os proprietários das vinhas possuíam poder e prestígio.

            No entanto, quem realmente expandiu a cultura da vinha, desenvolveu o comércio do vinho e até criou as primeiras regras de produção, foi o povo romano. Imaginem que, um século antes do nascimento de Cristo, ao longo de toda a voie domitienne, os centuriões romanos cultivavam a vinha e vendiam o seu fruto mais precioso: o vinho. Mas, como nada dura para sempre, com o declínio do Império, as invasões germânicas e a expansão da presença muçulmana, o comércio se desestabilizou e muitos vinhedos foram esquecidos ou arrancados…

            Por mais de 15 séculos, a região perdeu a sua vocação vinícola… apenas os monges pareciam se interessar pelas práticas vinícolas herdadas da época romana. Muitas Abadias possuíam um pequeno vinhedo, instalações para a vinificação e ainda uma cave para estocar as preciosas garrafas. Mas atenção: tudo isso para consumação própria.

            Foi somente durante os séculos XV e XVII que algumas personalidades se interessaram em desenvolver o comércio no sul da França e, em consequência, a vinha. Mesmo sendo a rota de passagem mais importante entre a Itália e a Espanha, as estradas da região eram muito perigosas e o mar repleto de piratas, o que dificultava énormément o desenvolvimento do comércio. Com a construção do Canal du Midi, em 1681, tudo mudou! A vinha expandiu, expandiu sem parar… o Languedoc tornou-se, em apenas um século, o maio produtor de eau-de-vie, aguardente de uva, do mundo. E, logo em seguida, tornou-se o maior produtor de vinho barato da França. Títulos que marcam a reputação da região até os dias de hoje.

            Mas, atualmente, muita coisa mudou por aqui. Após anos de crise e de falências de caves cooperativas, os antigos produtores preocupados com a quantidade, cederam espaço à uma nova geração de vignerons. A região, enquanto produtora de vinho, se estrutura, descobre seu terroir, tão diverso e tão rico. E nós, hoje, podemos fazer parte dessa história, degustando os vinhos da região, com toda a atenção e o carinho que eles merecem!

Dois países, Dois mundos, Dois vinhos saborosos!

             Este post é para deixar você no mínimo curioso e para mostrar que o mundo do vinho não precisa ser sério e sempre tratado com cerimônia. Pode até ser, em alguns casos, mas o vinho, acredito eu, tem mesmo é que trazer alegria e prazer. Não é para ser um assunto sisudo, há que se colocar um pouco mais de humor neste angu, tratar as coisas com mais leveza de alma e menos pompa, com menos padrão acadêmico e mais paixão, com alguma razão e muita emoção! Eis aqui dois bons exemplos do que estou falando:

Goats do Roam Red  – A Goats do Roam, é uma vinícola alegre e bem humorada. Passear por seu site é um tremendo barato e já a coloquei na minha lista de “vinícolas” a conhecer. Quem sabe em 2010! Já comentei o vinho branco e rosé, eis agora o tinto.

  • goats-red-custom.jpg  Produtor – Fairview
  •   Região –  Paarl / Perdeberg / Stellenbosch / Malmesbury e Piekenierskloof  (Western Cape)
  •   País – África do Sul
  •  Composição de uvas – Corte de, majoritariamente,  Syrah e Pinotage, mas com adição de pequenos lotes de Cinsaut, Grenache, Mouvédre, Merlot, Carignan, Gamay e Cabernet.
  •   Detalhes Produção – Curta passagem por madeira.
  •   Teor de álcool – 14º
  •   Safra – 2005
  •   Preço em Março/08 – R$38,00  (lojas da Expand)
  •   I.S.P. $ 

Um vinho encantador, com influência do Rhône, mas com características muito próprias típicas dos vinhos do Novo Mundo. Muito rico no nariz com aromas de muita fruta vermelha fresca, boa acidez, bem balanceado pouco transparecendo seu alto teor alcoólico. A assemblage de 9 cepas diferentes nesta safra, lhe dá uma certa complexidade, difícil de encontrar em vinhos nesta faixa de preços, com notas de especiarias, algo herbáceo que vai abrindo na taça e evoluindo com outras matizes aromáticas difíceis de apontar. Boa estrutura, fácil de tomar, um vinho para acompanhar carnes pouco condimentadas e que, a principio, é super fácil de harmonizar. Muito agradável e  é, com muita tranquilidade, que o recomendo devido a suas qualidades e preço. Pode comprar, levar à mesa ou bebericar “solo” com os amigos que, garanto, não haverão vozes discordantes. Não é a toa que virou um dos vinhos Sul Africanos mais vendidos nos Estados Unidos.

Le Loup Dans la Bergerie – Saindo do sul da África para a Europa de onde vem este delicioso exemplar de um tinto alegre e saboroso. O nome, algo como ” lobo tomando conta de ovelhas” (raposa tomando conta do galinheiro?), significado que ainda preciso destrinchar! Do rótulo ao conteúdo da garrafa, este vinho é uma alegria só.

  • loup-003-custom.jpgProdutor – Domaine de l’Hortus
  • Região –  Languedoc, mais precisamente de Val de Montferrand.
  •  País – França
  • Composição de uvas – Corte de Merlot (60%), Grenache (20%) e Syrah.
  • Detalhes Produção -Envelhecido por 9 meses, em tanques de aço inox.
  • Teor de álcool – 12.5%
  • Safra – 2006
  • Preço em Março/08 – R$38,00 (De la Croix)
  • I.S.P. $ 

Como alguém poderia dizer em algum vilarejo Francês, este vinho é; “Trés delicious, séduisant un magnifique exemple de joie de vivre!” metido né? Pior é que não falo patavina de francês e espero que não tenha errado muito no texto! Vamos ao vinho que é, realmente, um vinho que conquista ao primeiro gole, que me traz à lembrança, gosto de festa. Não é nenhum vinhaço e nem se propõe a ser, seu propósito é agradar fácil e isto o faz com galhardia. È leve, suave e delicado, mas nada insípido, muito pelo contrário. Belos aromas de frutas silvestres e na boca é macio, saboroso, uma elegância só, com taninos finos e sedosos no ponto para ser apreciado. Boa acidez e frescor num conjunto realmente cativante. Não é de complexidades, ao contrário, é franco, direto diz logo ao que veio e cumpre todas as expectativas.  Desliza maravilhosamente pela boca e penso neste vinho num alegre encontro de amigos, refrescado a cerca de 14º e acompanhando um queijo & vinho descomprometido. Certamente acompanhará muito bem pratos elaborados com carnes brancas sem grandes condimentos, embutidos, um belo lanche de queijo brie, patê de foie, alface, tomate cortado bem fininho e um toque de chutney numa baguette. Mon Dieu, já babei todo o teclado! rsrs Outro vinho que não tem erro, é servir e agradar tendo somente um problema, uma garrafa é pouco!

É isso, dois vinhos alegres, muito agradáveis, com propostas e características algo diferentes mas igualmente deliciosos e, muito importante, por um preço que podemos pagar. Minha sugestão? Compre um para abrir o encontro ou jantar e o outro para servir na refeição. Será aplaudido de pé! Salute.

Harmonização de Bacalhau – Aprendendo com os Erros

                Aqueles que acompanham este blog, vão lembrar que Domingo de Páscoa em casa, o almoço seria Bacalhau à Brás e que tinha separado dois vinhos portugueses para tomar; Duas Quintas do Douro e o Meia-Pipa das Terras do Sado, ambos da safra de 2004. A escolha recaiu sobre o Duas Quintas, o qual já há tempos andava seco para tomar e …………..não deu certo! O Bacalhau estava ótimo, a companhia nem se fala e o vinho muito bom, mas não casou com o prato. Esqueci-me de que o Bacalhau à Brás é um prato leve, estava demasiadamente focado no vinho, e o Duas Quintas se mostrou demasiado encorpado para acompanhá-lo. A personalidade muito forte do vinho simplesmente anulou o bacalhau. Não estava ruim, mas se o Bacalhau fosse à Lagareiro ou no azeite com grão, cebola, tomate e pimentões, certamente o vinho teria harmonizado muito melhor! A harmonização requer um equilíbrio entre o vinho e o prato o que não ocorreu aqui, me deixando um pouco frustrado. Nota 5, com muita patriotada.    

              Pois bem, sobrou um pouco de Bacalhau que decidi traçar na Segunda-feira no almoço e agora, fiz o que devia ter feito antes, abri um Travers de Marceu. Uma delicia, casamento perfeito! Primeiramente quebrei um paradigma, pelo menos pessoal, de que Bacalhau se acompanha com vinho Português ou Espanhol e segundo, pensei antes de agir. O Travers de Marceau é um vinho tinto Francês, produzido pela Domaine Rimbert, importado e vendido no Brasil pela De La Croix, pequena e simpática importadora que trabalha muito bem o conceito de custo x beneficio em vinhos Franceses. É da região de Saint-Chinian no Languedoc, elaborado com 40% de Carignan, 30% de Syrah e 30% de Cinsault gerando um vinho bem frutado, ótimo equilíbrio, com taninos doces e sedosos que encantam na boca e no nariz. Um vinho sedutor que se “achegou” ao Bacalhau à Brás formando uma total harmonia entre as partes. Agora sim, a harmonização foi adequada e, se não tirou 10, pelo menos 8 ou 8,5 foi! Ah, ia esquecendo do preço do vinho, R$48,00 e com isso minha nota sobe para 9, yesss!!

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