Dando uma resposta aqueles que desejam um debate técnico decidi tocar nesse tema e fica muito claro que, se houver seriedade por parte dos técnicos do Ministério, e acredito que assim seja, esse pedido de Salvaguardas não passa porque os argumentos apresentados são fracos para se sustentar e é um tremendo risco econômico e politico pois as eventuais retaliações podem custar muito mais caro ao país!
1 – Vejamos, qual a razão da existência de Salvaguardas? De acordo com o site do MDIC > “As medidas de salvaguarda têm como objetivo aumentar, temporariamente, a proteção à indústria doméstica que esteja sofrendo prejuízo grave ou ameaça de prejuízo grave decorrente do aumento, em quantidade, das importações, em termos absolutos ou em relação à produção nacional, com o intuito de que durante o período de vigência de tais medidas a indústria doméstica se ajuste, aumentando a sua competitividade”. Tendo como base essa premissa e o pleito apresentado pela Ibravin, Uvibra e Cia. por conta e ordem do oligopólio produtor nacional, leia-se Miolo/Lovara (mesmo que Miolo)/Aurora/ Salton (que depois voltou atrás) e outros como Perini, Garibaldi, Don Giovanni, etc. e o que esses mesmos produtores e entidades divulgam na imprensa, fica claro que houve erro de informações/comunicação entre os peticionários e seus seguidores ou má fé, na qual prefiro não acreditar dando-lhes o beneficio da duvida, com graves consequências tanto jurídicas como morais já que 2011, mas palavras deles mesmos, mostra grande recuperação versus o que eles alegam e consta da Circular do MDIC – “Considerando os anos extremos da série, 2006 e 2010, a receita acumulou declínio de 11,2%.”:
- Site da Miolo: “É a maior exportadora brasileira de vinhos e está entre as três principais produtoras de espumantes, com participação de 15% no mercado. Em 2009, seu faturamento foi R$ 95 milhões, 32% acima do de 2008. “Todas as linhas têm mantido um crescimento constante. Nosso objetivo é fortalecer cada marca e aumentar a participação de mercado”, explica o diretor comercial Alexandre Miolo. A empresa projeta, para 2011, crescimento 30% nas vendas do produto no mercado interno. A linha superpremium – que engloba o Bueno Prestige e o Millésime – registrou crescimento ainda maior, de 50%. Estamos nos preparando para consolidar em 2020 nossa posição como líder nacional na produção de vinhos finos e espumantes e figurar entre os três maiores grupos de vinhos da América do Sul.” Por curiosidade, 2012 + 8 de Salvaguardas = 2020 e nós pagamos a conta!
- Noticias no site da Perini: “A convenção anual de vendas da Vinícola Perini, realizada na sede da empresa, neste último mês de Março em Farroupilha (RS), reserva um desafio especial aos cerca de 70 participantes, entre diretores, gerentes, representantes e equipes de venda: superar a própria competência. Com crescimento de 23% em 2011, acima da média do mercado, a empresa ambiciona fazer ainda melhor em 2012: “Nossa meta é de crescer 30%. Para isso, estamos investindo cerca de R$ 10 milhões.”
- Vinicola Aurora – Deu no Jornal Semanário De Bento Gonçalvez última edição! Falando sobre as eleições no conselho de administração e o êxito do comando da empresa nos últimos anos, declaram que “houve um crescimento de 15% no faturamento em 2011 em relação a 2010, passando de 200 milhões para 231 milhões.”
- Do site da Salton – “O diretor de planejamento da Vinícola Salton, Maurício Salton, recebeu a premiação Grandes Líderes – 500 Maiores do Sul, promovida pela Revista Amanhã, em evento realizado esta semana em Porto Alegre. O ranking da revista destaca empresas de referência do Estado, sempre com ênfase em excelência e gestão. A Salton figura entre as 100 maiores do Rio Grande do Sul. A Salton, hoje a maior produtora de espumantes do Brasil, faturou em 2010 R$ 238 milhões e espera crescer 15% ainda em 2011.”
- Vinícola Garibaldi – nota do assessor de imprensa enviado ao amigo Beto Duarte do ótimo blog Papo de Vinhos. “A Cooperativa Vinícola Garibaldi atingiu um faturamento de R$ 51,7 milhões em 2011 e pretende alcançar os R$ 62 milhões este ano. Os 347 associados comemoram a evolução da safra de uva, que alcançou 17,3 milhões de quilos este ano, 6,8% a mais do que os 16,2 milhões de quilos de uvas colhidos em 2011. O balanço do ano passado aponta que a comercialização do suco de uva foi ampliada em 28,5% e a venda de vinhos finos cresceu 90% com a aquisição da marca Granja União no final de 2010, reafirmando a posição da empresa como uma das líderes do mercado nacional. Os investimentos realizados nas atividades da empresa alcançaram o valor de R$ 2,4 milhões em 2011, aplicados na modernização da fabricação de vinhos e sucos de uvas com uma nova linha de produção, fundamental para o alcance das novas metas de 2012. “A comemoração das oito décadas de atividade da vinícola teve um saldo vitorioso na produção, no crescimento e no fortalecimento da Garibaldi. Projetamos um futuro, a cada ano, mais promissor para a nossa cooperativa, com resultados positivos constantes e surpreendentes para os nossos associados”, observa Oscar Ló, que foi reconduzido ao cargo de presidente do Conselho Administrativo da Cooperativa Vinícola Garibaldi
As ameaças de prejuízo grave e declínio na receita são tão evidentes baseado nos dados acima que me assusta ver que as Salvaguardas ainda não tenham sido aprovadas! É uma tremenda injustiça com esses desamparados, não?! Não tenho nada contra seus vinhos nem contra eles fazerem dinheiro, trabalham para isso, agora devagar com o andor, né?! Burro é …….deixa para lá vai!
2 – Declinio de preços – Eles alegam que houve um decréscimo de preços de cerca de 20,3% de 2006 a 2010. Neste caso acho que os advogados das entidades que certamente estarão apresentando defesa contrária à instalação dessas Salvaguardas poderão facilmente apresentar cópias das tabelas de preços dessas empresas no período e não se esqueçam de incluir as de 2011 e 2012, porque estas não param de subir! Só por curiosidade, desconsiderando eventuais promoções, eis uma comparação de preços feita com vinhos aqui em São Paulo:
- Em julho de 2010 a garrafa de Aurora Espumante Pinot Brut, escrevi aqui sobre ele, tinha um preço que variava entre R$23 a 30,00. Hoje, essa mesma garrafa gira em torno dos R$40,00 a 45,00.
- Há dois anos se comprava um Quinta do Seival Castas Portugesas da Miolo por cerca de R$50, também escrevi aqui sobre ele, e hoje não se encontra por menos de R$65,00.
e por favor não me venham com histórias de que quem aumentou foram as lojas, porque aí já é abusar de nossa paciência!
3 – Da similaridade – aqui acho importante os técnicos do Ministério fazerem o trabalho de casa pois vinho não é parafuso! Não existe no Brasil, ou em qualquer outro lugar do mundo, um similar aos vinhos da Borgonha, do Piemonte ou do Douro, só para citar alguns. As diferenças são enormes e o conceito meramente técnico, sem estudar as características e especificidades do setor, de similaridade não se aplicam aqui. Não existe um Barolo nacional, nem um Brunello, nem um Madeira, nem um Bordeaux e tão pouco um Tokaji!!!
4 – Da representatividade – as partes em negrito ressaltadas no texto a seguir, retirado da Circular do MDIC, não é por si só incoerente? “Segundo os peticionários, o setor de vinhos é composto por um grande número de produtores, com forte concentração em pequenas e médias vinícolas, o que impossibilitou a apresentação de dados individualizados de todas as empresas do setor.
Isto não obstante, foram tomados os dados da Cooperativa Vinícola Aurora Ltda., Vinhos Salton S/A, Vinícola Miolo Ltda., Cooperativa Viti Vinícola Aliança Ltda., ABEGE – Participações Ind. e Com. de Bebidas Ltda. e Lovara Vinhos Finos Ltda., que, segundo consta da petição, representam, em conjunto (6 produtores), mais de 50% da produção do Estado do Rio Grande do Sul, proporção considerada substancial para fins de análise da existência de prejuízo grave ou de ameaça de prejuízo grave.” Ou seja, o que vale é o poder econômico e não a representatividade do grosso das empresas coisa ao qual eu teimo em chamar de democracia!
Será que passa? Estou sem tempo para esmiuçar mais ainda o pleito constante da circular, lamentavelmente ninguém salvaguarda meu negócio contra a concorrência e desaparecimento de clientela, então tenho que correr atrás para garantir o pão sobre a mesa, aliás algo que a grande maioria de nós tem que fazer. Certamente as entidades representativas dos supermercados e importadores com seu corpo de advogados especialistas já prepararam sua defesa com esses e muitos outros fatos que contestam os dados apresentados, então resta-nos seguir fazendo barulho, elucidando o leitor da melhor maneira possível, e esperar que o bom senso e seriedade dos órgão competentes prevaleça sobre interesses políticos menos claros. Com tanta mídia expondo esse verdadeiro golpe contra o consumidor em pról dos coronéis do vinho, imagino que politicamente ocorra um certo constrangimento (será que isso ainda é possível?) nas hostes do poder para que não se repita a vergonhosa aprovação de bastidores do Selo Fiscal mesmo após parecer negativo da Receita!
Salute, kanimambo e uma ótima semana para todos. A luta continua; no Encontro de Vinhos OFF e Expovinis, todos de luto usando algo preto e ignorando os estandes dos coronèis e seus testas de ferro, vamos aderir a esse movimento?!