Narbona Blend

Desafio de Blends – Velho x Novo Mundo

Degustando, Comparando e Aprendendo de forma lúdica, esta é a melhor forma de conhecer um pouco mais sobre vinhos, provando! Brincadeira para gente grande, pelo menos com mais de dezoito, viu crianças! rs Adoro criar temas de degustação de forma a tornar os encontros das confrarias algo mais interessantes, especialmente quando realizadas ás cegas. É um exercício muito interessante já que sem a influência de preço e rótulo a percepção sensorial de cada um muda drasticamente, especialmente quando a comparação é mais direta como, por exemplo, uma só uva.

Numa das Confrarias que administro, montamos um Desafio de Blends muito interessante envolvendo velho e novo mundo,se é que isso existe, uma verdadeira Copa das Nações. Numa primeira etapa provamos seis vinhos do Velho Mundo classificando três. Depois repetimos a dose com os vinhos do Novo Mundo classificando seis vinhos para a grande final que foi muito interessante, vejam só:

Classificatória Velho Mundo – Tinto da Talha Grande escolha 2009 (Alentejo), Grandes Quintas Reserva 2010 (Douro), Villa Antinori Toscana2010*, Clos de Bellane Valreàs Cotes du Rhône 2009*, Peyremorin de Villegeorge 2010 Bordeaux, Señorio de Sarría Viñedo Sotés 2005*

Classificatória do Novo Mundo – Hawequas (África do Sul), Casa Silva 5 Cepas 2013 (Chile), Benegas Finca Libertad 2009 (Argentina), Narbonna Blend 1 2013 (Uruguai) e St. Hallet Gamekeepers 2014 (Austrália) e Wild Rock 2011 (Nova Zelândia)

Classificados os vinhos marcados com asterisco e lògico que esta brincadeira sensorial só poderia acontecer num evento hedonístico como esse pois comparar “alhos com bugalhos” requer um know how e uma experiência além do que a maioria possui, porém o objetivo do vinho não é dar prazer? Pos bem, esse objetivo foi claramente alcançado e isso é o que vale e me deixou feliz. Na grande final seis belos vinhos sem duvida alguma e eu também tive meu ganhador da noite, mas eis os TOP3 que a turma da Confraria Brinde à Vida elegeu como ganhadores da noite:

1 – St. Hallett Gamekeeper´s 2010 – blend de Shiraz e Grenache, um vinho extremamente harmonioso e consistente onde a Grenache se sobrepõe no blend mostrando toda a sua fruta. Fruta madura, que agrada sobremaneira o consumidor brasileiro em geral. Equilibrado, taninos finos, cremoso, acidez dando equilíbrio ao conjunto, dos oito confrades presentes, seis lhe deram o voto de melhor vinho da noite e do Desafio, e olha que já tinha ganho sua classificatória! Barba e bigode como diziam antigamente!! Um vinho de gabarito este e recentemente provei o 2014 que teve a adição de um tico de Touriga Nacional que o deixou ainda melhor e sugiro essa nova safra.

2 – Narbonna Blend 1 2013 – um blend não especificado, mas que tem como protagonista a tannat. Obra de Michel Rolland, este vinhos é sempre uma grata surpresa e as pessoas costumam não acreditar quando digo que é uruguaio. Ótima paleta olfativa, que convida à boca onde ele se mostra denso, untuoso, complexo, unindo força a elegância de taninos, com um final longo muito prazeroso. Mais um vinhos de grande consistência que teve um primeiro lugar e quatro segundos, classificando-se em segundo lugar. Em minha opinião, esta garrafa estava especialmente boa e me seduziu tendo sido o meu primeiro lugar mostrando que os tannats de qualidade, ou seus blends, estão longe de assustar primando por taninos bem mais equilibrados e domados do que as pessoas esperam.

3 – Clos de Petite Bellane Valreás Cotes du Rhône 2010 – Com um primeiro lugar e quatro terceiros, foi o melhor classificado do Velho Mundo e acho que foi bem escolhido, um Cotes du Rhône de um Cru que faz a diferença. A Syrah aparece bem sobre a Grenache, inverso do australiano de mesmo blend, que neste caso é a coadjuvante no blend. Mostra-se bem especiado, corpo médio para encorpado, taninos ainda bem presentes porém de muita boa qualidade sem qualquer agressividade, escuro, deixando claro sua jovialidade, apesar dos seus 5 anos, abrindo-se gradativamente na taça comprovando que o tempo lhe fará muito bem. Um belo Rhône que comprovou o caráter dos vinhos de qualidade da região, anos luz daqueles “rônezinhos” esquálidos que encontramos por aí.

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Um exercício muito interessante e saboroso, inclusive para mostrar que garrafas do mesmo vinho podem gerar sensações diferentes entre si, lembrando que nesta final degustamos os vinhos pela segunda vez já que houve a classificatória. É isso por hoje, e ainda temos 4 vagas para nossa viagem a Santa Catarina e os Vinhos de Altitude, quem vem?!

Cheers, kanimambo e espero poder ter alguns de vocês a bordo dia 28!

Sacando Rolhas de Vinhos Uruguaios

Mais uma vez a Confraria Saca Rolha viajou por águas desconhecidas para a maioria, os vinhos do Uruguai. Gosto bastante do estilo dos vinhos deste simpático país, algo mais tradicionais com uma tocada mais europeia do que novo mundista já tendo escrito aqui sobre ele, já faz um par de anos! Não é só de Tannat que o mundo vitivínicola uruguaio é composto, porém nossa experiência deste encontro se debruçou sobre ela e alguns blends onde ela é protagonista. Ainda faremos outras incursões por estas terras, mas hoje a surpresa foi grande, pois ninguém botava muita fé não! Eis o que nossa porta-voz, confreira e amiga tem a compartilhar conosco sobre mais esta gostosa noite!

Quando decidimos escolher os vinhos do Uruguai como tema do nosso encontro, confesso que senti pouco entusiasmo geral da turma, ou mesmo uma postura “burocrática”, como quem pensa: Afinal, temos que conhecer de tudo!

O Uruguai é um país pequeno, que faz fronteira com o Brasil e Argentina. Tem sido destaque na mídia, seja pelo estilo de governo implementado por seu ex-presidente, José Mujica, ou como a nova rota turística que tem atraído muitos visitantes, que agora não mais procuram só cassinos ou praias. Entre polêmicas e excentricidades que caminham na contra mão das altas performances, tecnologia de ponta, consumo sem freios, via-se uma ação mais voltada ao humano, simples e verdadeiro. O fato é que o Uruguai está na moda e o franco desenvolvimento do enoturismo faz parte de tudo isso.

A historia da vitivínicultura no Uruguai começa em 1870, quando os imigrantes bascos trouxeram mudas da cepa Tannat. O clima temperado com influência marítima do Atlântico e do rio da Prata, o solo argiloso e calcário, garantindo a drenagem, os ventos das correntes marítimas dissipando o alto índice de umidade, favoreceram o desenvolvimento das vinhas. Atualmente a Tannat que tem como berço o sudoeste francês (Madiran), é sua uva ícone. Sua principal característica é a tanicidade, por isso o nome, muito presente. Pode-se comparar até com a Baga portuguesa, cuja vinificação exige muito trabalho para domá-la. É sempre um desafio transformá-la em vinhos dóceis e macios.

Chegada a data, já com a seleção dos vinhos feita, partimos para desvendar essa terra ainda desconhecida.
Para preparar as papilas, tivemos o elegante espumante italiano Contessa Borghel Rosé Dry. Sua delicadeza com aromas de rosas e frutas de bosque nos colocou no ponto inicial do que vinha pela frente.

Saca Rolha Uruguai

A principal região produtora, Canelones, fica ao sul do país, próximo à Montevideo. E o primeiro vinho veio de lá: Pisano – Rio de los Pájaros – Tannat 2011.
Sutil no nariz demonstrando alguma fruta e traços defumados. Na boca é bem equilibrado, com boa acidez, taninos macios e bom corpo. Evolui bastante na taça. Fácil de beber.

A região de Carmelo, à sudoeste, tem se desenvolvido muito nos últimos tempos por conta do turismo nos arredores de Colônia do Sacramento. Com pequenos produtores investindo no local, apareceram novas vinícolas e entre elas está a Narbona que tem a assessoria do enólogo Michel Rolland. Narbona Blend I 2013 é um vinho assinado por ele, cujas variedades e safras não são divulgadas (faz parte do marketing). A cor intensa e aromas complexos reforça esse mistério. A princípio aparecem aromas de tabaco e cacau. Depois vai se abrindo num leque intenso e bem amalgamados de frutas em compota, defumados e algo mineral. Na boca tudo isso se confirma com um toque alcoólico que se evidencia, sem atrapalhar o equilíbrio. Muito aromático e longo.

A família Carrau tem grande tradição na produção de vinhos na região de Rivera e em Canelones (39 kms de Montevideo) onde se encontram seus primeiros vinhedos. Rivera, por outro lado, está localizada no centro-norte do país, quase na divisa com o Brasil. Bodegas Carrau – Grand Tradicion 1752 foi uma edição comemorativa aos 250 anos de existência da vinícola. Essa safra, de 2010 mescla as melhores uvas Tannat, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc obtidas no ano. O resultado foi um vinho delicado, com elegância e sutileza. Mostra equilíbrio com taninos muito finos, acidez e corpo médios. Vale ressaltar que durante a degustação ficou a impressão de tratar-se de um vinho inferior. Mas a meu ver ele ficou prejudicado pela forte presença e opulência do anterior. Isso acontece quando comparamos vinhos e mostra que a interferência da situação deve ser levada em conta.

A região de Maldonado, já em direção às praias banhadas pelo Atlântico, bem conhecida pelo turismo próximo à Punta del Leste, também tem se desenvolvido na área vitivínicola. A Alto de la Ballena é uma nova bodega, estabelecida nos anos 2000 nessa área, e teve sua primeira colheita em 2005. Um dos destaques da sua produção nos foi apresentado: Alto de la Ballena – Reserva Tannat/Viognier 2010.
Muito aromático, cheio de flores e frutas. Leve tostado e frescor mineral. Na boca mostrou-se bem equilibrado, com taninos presentes, corpo com muita fruta e acidez que fez salivar. Evolui bem na taça realçando a madeira bem colocada, com especiarias e final herbáceo.

Também da região de Canelones, a Bouza Bodega Boutique se destaca como produtora familiar que investe numa pequena escala de produção em prol de qualidade. Elaborado com 100% Tannat, provenientes de uma única parcela dos vinhedos:Tannat A8 Parcela única 2011.A cor muito escura e a densidade quase sem transparência já chamou a nossa atenção de imediato! Nariz complexo, mostrando sua passagem por madeira, onde os aromas tostados e de especiarias dão abertura para os vários que ainda vieram na sequencia. Quando provamos dava até a sensação de viscosidade, pelo grande volume que apresentava em boca. Os taninos bem presentes, equilibravam-se na mesma proporção com a acidez. Um vinho “musculoso”, potente, que sustentaria muito bem uma refeição com carnes gordurosas, defumados, queijos maturados, etc. Muito bem feito e agradável, apesar da sua robustez, que mostra à que veio.

Definitivamente, acho que aquela pré- disposição de pouco interesse em conhecer os vinhos do Uruguai, caiu por terra com tanta qualidade na taça! O clima propício, continental de influência marítima(que vai desde ao norte do país com verões quentes e invernos muito frios, até à beira do estuário do rio da Prata), já foi até comparada com a mesma situação geográfica existente em Bordeaux. E apesar das comparações, sua história é única, assim como seus vinhos. Seja pela simplicidade de seu povo de alma camponesa, espírito de luta, ou pelas paisagens pampas com horizontes a perder de vista. O desejo de conhecer muito mais esse país que tem nos surpreendido tornou-se maior. E tudo isso por conta do que vimos refletido dentro daquelas garrafas.