Ramon Bilbao Viura

Paella y Vino – The Day After

Faz um mês, nossa há quanto tempo, que tivemos a oportunidade de nos sentarmos na Vino & Sapore com amigos para mais uma degustação harmonizada. Mais uma vez um grande sucesso já que conseguimos atingir nossos objetivos ao conseguirmos montar as bases estruturais de toda e qualquer harmonização; Prato, Vinho, Pessoas e Momento! A ideia deste encontro veio da quantidade de pessoas, clientes e eleitores, que me perguntavam sobre os vinhos mais adequados para harmonizar com Paella e optei por diversificar os vinhos em prova.   Na Granja Viana a reputação da Paella preparada no forno a lenha pela Dona Sagrario é irretocável e célebre há décadas, então a fonte do alimento sólido para esta experiência enogastronomica só  poderia vir de lá e não deixou duvidas, delicia! Já os vinhos, aí a escolha foi bem mais difícil pois as potencialmente boas “maridajes” no mercado eram enorme. Optei por mixar o tradicional ao inusitado, rótulos mais conhecidos com aqueles menos midiáticos e só provando para ver o que dará certo.

  • Ramon Bilbao Branco – um Viura fermentado em barrica de que gostei muito quando visitei o tradicional e famoso Don Curro. Ótima acidez, saboroso, equilibrado e complexo com bom corpo, um vinho que entusiasmou o pessoal mas que não aguentou a paella valenciana que junta carnes brancas e frutos do mar.
  • Señorio de Sarría Rosado – um vinho de Navarra, região famosa por seus rosés, elaborado com a uva símbolo da região, a garnacha. Menos residual de açúcar do que estamos acostumados a ver nos vinhos deste estilo, mais seco e com uma acidez bem presente, acompanhou muito bem a paella com um toque mais refrescante e provavelmente seria minha escolha para uma tarde de verão.
  • La Calandria Cientruenos Garnacha – um vinho que acaba de chegar ao mercado, pequeno produtor que cria mais que vinhos, cria poesia engarrafada. Tentando restaurar a essência e tradição da Garnacha nos vinhos tintos de Navarra, um vinho diferenciado. Muita fruta, pouca madeira, taninos suaves paleta olfativa deliciosa e sedutora que evolui para bala de cereja, porém sem qualquer açúcar residual no palato. Um vinho que combinou muito bem com a Paella sem brigar com ela em nenhum momento tendo se mostrado um vinho muito alegre e jovial que certamente também deverá acompanhar muito bem um variado dortido de tapas. Uma maridage muito agradável que fez a cabeça de alguns.
  • Finca San Martin Crianza – um Rioja delicioso e sedutor que provei o ano passado e me surpreendeu muito positivamente já que, inclusive, possui um preço muito bom. Mas é na boca que ele realmente mostra a que veio e arrasou neste encontro com a Paella. Uma maridaje clássica, que mostrou uma incrível harmonia com o prato. O vinho mostra muito de um estilo mais clássico qdos vinhos de Rioja alta, porém algo mais light. Madeira muito bem colocada, taninos finos e maduros, um caldo vibrante que seduz e que, na minha opinião, foi a melhor harmonização num encontro em que os vinhos, como um todo, foram muito bem com o prato.
  • Trapezio Plus – nenhuma degustação que armo fica completa sem algo diferente e este vinho, fruto do corte entre a Merlot, maior porcentual, e a Cabernet Franc produzido na Argentina, surpreendeu a todos. O vinho por si só já surpreende pois prima pela elegância muito mais que potência que creio ser típico dos vinhos advindos de Agrelo em Lujan de Cuyo, pois tenho tido essa sensação da maioria dos vinhos dessa sub-região em Mendoza. Taninos bem posicionados, médio corpo, frutos negros muito agradáveis, final algo especiado, equilibrado e fresco. Uma ótima descoberta neste encontro em que a harmonização geral foi muito bem.

Destes cinco vinhos, quatro muito boas harmonizações, o ganhador fica por conta de cada um já que houve preferências por diversos. Só o branco, que todos adoraram, acabou destoando o que não lhe tira valor, uma pena pois o produtor não mais exportará esse rótulo. Mais uma noite muito agradável onde a alegria imperou e nos mostrou que as pessoas são claramente parte integrante de qualquer harmonização.

Salute, kanimambo e amanhã tem mais.

 

Salvar

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Revisitando um Clássico, Don Curro

          Cozinha minimalista não é minha praia. Não que não seja legal, uma experiência de sabores e texturas diferentes, mas gosto mesmo é de um prato farto em diversos sentidos. Existem em São Paulo alguns restaurantes que fizeram história e seguem sendo ícones de uma época, um deles eu frequentei há 30 anos e ultimamente revisitei por duas vezes com enorme felicidade pois vi que pouco mudou e, o que mudou foi para melhor!

        Falo de um clássico da cozinha espanhola, o Don Curro! Com mais de meio século nas costas, é um restaurante que não deixa duvidas ao que veio; celebrar suas raízes espanholas e a família, tanto no que se refere aos seus consumidores quanto à sua administração que é feita pelos irmãos Rafael e Zé Maria. A cozinha, como tem que ser, toda envidraçada, viveiro de lagostas na entrada, tapas incríveis, pratos para dois (sim, ainda há gente que cultiva esse bom hábito) e um preço justo face a quantidade e qualidade servida.

        No final do ano passado estive por lá numa degustação de Cavas e me deliciei com os diversos tapas servidos. Chorizo argentino e Presunto cru espanhóis de importação exclusiva, linguado á doré no azeite, croquete de jamon, polvo á la feria, manjubinha escabeche, camarãozinho alajillo,  não precisa nem pedir prato principal! Um vinho branco, sangria ou um Cava de sua adega subterrânea, boa companhia e a felicidade enogastronomica será completa! Já que falamos de clássicos, no entanto, suas paellas (pronuncia-se Paêlha e não Paeja) são a marca registrada da casa e famosas, para muitos a melhor da cidade.

        A primeira adega subterrânea e climatizada a ser construída nos restaurantes em Sampa, um viveiro de lagostas, uma peixaria de primeira com recebimento diário de produtos, tudo é pensado e executado com extremo detalhe e dedicação para dar, com excelência, sequencia ao projeto de Don Curro Dominguez (ex-toureiro) e Dona Carmen há 54 anos. Nesta última incursão, em que tive o privilégio de circular pelos bastidores do restaurante, um magnifico prato de lulas recheadas os quais foram acompanhados por um vinho branco diferenciado e também de importação exclusiva, o Ramon de Bilbao Viura fermentado em barrica. Comem três (!) e custa R$102,00 sacou?!

        O vinho me encantou tanto quanto a comida e a “maridaje” com o prato foi perfeita. A Viura se dá bem com madeira e envelhece bem, os Vina Tondonia que o digam, e este da safra de 2009 só vem confirmar isso. Extremamente aromático, seduz rapidamente por uma paleta olfativa deliciosa e cítrica. Na boca mostra um corpo médio, bem estruturado e finamente equilibrado por uma acidez gulosa que pede comida como esta lula recheada. Ah, ia-me esquecendo dos “postres”! A Torta de Santiago é demais de boa, mas me encantei mesmo pela Torta Espanhola! Vá até ao fim, não se acanhe não, pois as sensações palativas despertadas valem a pena e cada centavo gasto.

       História repleta de estórias, como a de quando foram parar na delegacia de Itanhaém há mais de 30 anos ao serem pegos retirando água do mar com um caminhão pipa para seu viveiro de lagostas! Ainda bem que a tecnologia solucionou esse problemas !! rs. Uma viagem ao passado com muita qualidade mostrando que, como os bons vinhos, a gastronomia também pode envelhecer com classe  evoluindo com o tempo. Uma experiência enogastronomica em São Paulo que recomendo a quem aprecia as coisas boas da vida. Ficam em Pinheiros, Rua Alves Guimarães 230 e você pode conhecer mais clicando aqui e visitando seu site onde poderá fazer uma visita virtual à linda adega da casa.

Salute e kanimambo.