Depois de uma primeira parte em que degustamos vinhos de grande qualidade, eis-nos chegando no jantar que, como já havia dito no post anterior, foi de lamber os beiços, a começar por aqueles acepipes que a incrível chef Helena Rizzo (Restaurante Mani), nos serviu para acompanhar o delicioso espumante da Filipa Pato, o 3b; Raviólis de manga com queijo de cabra, espetinhos de polvo com batata confitada e terrine de foie gras com galletas de uva assa, um mais gostoso que o outro! Mas era só o inicio de uma noite inesquecível repleta de gostosuras!
Entrada – Brandade de Bacalhau com geléia de pimentões e azeite de azeitonas pretas. Yummy! Para harmonizar, um Redoma Branco Reserva 05 muito elogiado pela critica especializada, mas que a meu ver, talvez pela harmonização, não se saiu tão bem. O vinho é muito bom, muito complexo, mas é um vinho já com um certo peso que se sobrepôs à delicadeza da Brandade de forma muito impositiva. Preferiria ter visto o Alvarinho aqui, creio que seria a harmonização, para o meu gosto, perfeita. Um exemplo claro de que harmonização é algo bem particular.
Primeiro Prato – Carne de Sol à Brás com palha de mandioquinha e azeite de coentros. Delicioso prato que teve o acompanhamento de um bi-varietal Touriga Nacional/Pinot Noir 2004 da Casa Santos Lima elaborado na região da Estremadura. Um clássico exemplo da arte de harmonizar. Sozinho o vinho era bom, mas não encantava, com a comida no entanto, foi um casamento perfeito tendo ambos – prato e vinho – crescido muitissímo.
Segundo Prato – um verdadeiro êxtase, uma explosão de sabores e harmonização difíceis de esquecer. Um divino Magret de Pato cozido em baixa temperatura com manga e rosas devidamente escoltado por um soberbo Zambujeiro 03 uma das mais recentes estrelas do Alentejo. Um vinho de muita qualidade, um complexo corte de Touriga Nacional, Aragonez, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet e Trincadeira de grande intensidade aromática, encorpado, denso e de grande concentração, potente com 15º de álcool, porém muito equilibrado de taninos doces e aveludados, um vinhaço! Teoricamente, este encorpado vinho deveria matar a delicadeza do prato, mas não! Para minha enorme surpresa, ambos se complementaram de forma absolutamente maravilhosa.
Fizemos, eu e o Álvaro Galvão, um teste meio aventureiro, fomos buscar no fundo da garrafa, um restinho do Moscatel Roxo 97 que haviamos degustado antes. Algo totalmente diferente e muito prazeroso. Não sei se acompanharia a refeicão inteira, mas foi uma harmonização muito especial e extremamente rica.
Sobremesa – Sorvete de gemas com espuma de côco e coquinhos crocantes, delicadeza e sabor que se completaram com um excelente, objeto constante de desejo meu, Madeira Justino Old Terrantez, um vinho da Madeira elaborado com esta cepa (terrantez) quase em extinção. Uma maravilha, após o qual me levantei e beijei a careca, com todo o respeito mestre, do Dr. Mário Telles Jr. sob a batuta de quem ficou a escolha dos vinhos que tomamos, afora seus primorosos comentários que são sempre fonte de grande aprendizado.
Uma noite única, um enorme privilégio que recebi como um prêmio pelo trabalho que Falando de Vinhos fez ao longo deste primeiro ano de vida, tanto nas colunas dos jornais como deste blog. Uma noite comprovando a excelente qualidade e versatilidade dos vinhos portugueses, das diversas regiões e da capacidade de todos aqueles que se envolveram no evento; da ViniPortugal, da ICEP, do Consulado, da Fernanda Fonseca (Propop), da Chef Helena Rizzo e equipe do Mani (valeu Felipe) enfim, uma mostra do grande potencial vinícola de Portugal, tanto nas gamas mais baixas como nos grandes néctares. Não existem mais duvidas, nasceu uma nova estrela nesse competitivo mundo dos produtores de vinho e, como já disse a Wine Spectator, Portugal é a bola da vez!
Salute e kanimambo.