Rosé de País

Um Rosé de País na Taça.

Tinha prometido compartilhar com os amigos duas preciosidades que recentemente tive a oportunidade de provar num evento da importadora inglesa Berkmann Wine Cellars, pois aqui estou cumprindo a promessa com o primeiro deles, o J. Buchon Rosé de País 2018, uma das mais gratas surpresas dessa degustação que me foi apresentado por um dos dois irmão que hoje tocam a vinícola, o Juan Buchon (da foto), o outro é o Julio.

Originária de Castilla-La-Mancha (Espanha) onde é conhecida como Listán Prieto, esta casta responde por uma série diferente de nomes dependendo de onde se encontra. Trazida pelos colonos e missionários espanhóis,  é conhecida como País no Chile, Criolla na Argentina, Mission nos Estados Unidos, Misión no México e como Negra Corriente ou Negra Peruana no Peru. Parece que se plantou inicialmente no México por volta da metade do século XVI de onde viajou ao Peru e posteriormente à Argentina e Chile, onde é a segunda variedade de vitis mais plantada depois da Cabernet Sauvignon. Os vinhedos são prolíferos e as uvas de difícil vinificação, tendo sido por muito anos usada na elaboração de vinhos tintos e rosés coloniais baratos. De uns dez anos para cá, como aconteceu na Argentina com a Criolla, gestão de vinhedos e novos processos de vinificação possibilitaram elaboração de vinhos mais finos, porém os famosos Pipeños (que não me agradam) viraram meio cult de uma nova tendência de retorno às origens e a País começa a ganhar um espaço de destaque com grandes produtores investindo pesado na produção e divulgação de novos vinhos, por vezes muito caros.

Tenho provado deliciosos vinhos tintos de Criolla na Argentina, mas sinceramente nada do que provei do Chile até agora me agradou e não compraria. Pois bem, o primeiro País que me seduziu por completo é este, elaborado como Rosé. Pensando bem, uma vez (2015) provei um espumante rosé desta uva que também achei bastante interessante, O Santa Digna Estelado Rosé da Miguel Torres, que mesmo que não tenha me encantado por completo me despertou o interesse por essa uva. Fica a pergunta no ar, será que o caminho não é o rosé em vez de insistir nos tintos?? A história da uva no Chile parece que corrobora isso, só precisava ser melhor trabalhada.

Este delicioso e festivo Rosé era elaborado até 2017 com uma maior participação de Cabernet Sauvignon e um toque de País, em 2018 a País aparece solo e brilha. Estamos diante de um vinho que prima pelo frescor, um vinho vibrante cheio de vida, um vinho para cantar em verso e prosa! O melhor rosé do mundo? Tem gente que que adora essas coisas, rs, não, não é, porém é certamente um dos mais prazerosos e festivos que já tive a oportunidade de tomar nos últimos tempos. Este não só provei como já tomei, sim porque provar (quando se gosta) dá uma vontade danada de tomar.

A cor de casca de cebola (tradicional junto com a cor salmão em rosés) e brilhante já é um baita convite a abri-lo e encher a taça. Aromas frutados onde aparece de tudo, de cítricos a frutos vermelhos, nectarina, na verdade uma tremenda e fresca salada de frutas que repete na boca com um aporte de acidez que lhe dá uma crocância e vivacidade como poucos. Um vinho que acompanhará bem a culinária japonesa, peruana, frutos do mar em geral mas que, acima de tudo, combina comigo, com minha loira e com felicidade, eta coisa boa, puro prazer engarrafado e ainda vou tomar muitas delas! Preço na casa das 85 a 90 pratas nas boas casas do ramo (rs).

Um ótimo fim de semana para todos, retorno semana que vem para falar do Mendraka Bizkaiko Txacolina. Kanimambo pela visita, saúde e bons vinhos sempre.

 

 

Explorando o Portfolio da Berkmann.

Vou falar um pouco sobre este gostoso evento promovido pela importadora Berkmann Wine Cellars de origem inglesa no sentido de mostrar a seus potenciais clientes e alguns formadores de opinião, blogueiros, sommeliers etc. um pouco de seu portfolio, tinha vinho para dedéu!! rs Consegui provar 50 dos quais 27 se destacaram, entre eles selecionei alguns que fizeram minha cabeça tendo descartado os que não cabem no bolso da maioria como o incrível Querciabella Batár 2013 um incrível blend de Chardonnay com Pinot Blanc, biodinâmico, vinho para bocas mais treinadas e bolsos cheios porque custa no mercado algo entre 800 a 900 pratas, mas se tiver mergulhe de cabeça, divino.

 

Áustria e Alemanha : Gosto bastante da uva austríaca Gruner Veltliner, sempre muito fresca porém algo cara para o que entrega, o Zero-G é uma grata exceção apresentando a notas típicas da casta com um uma textura bem gostosa e um preço estimado entre 120 a 125 pratas, o que mesmo não sendo barato, é um bom preço comparado ao mercado e outros rótulos disponíveis. Gostei bastante também do Riesling alemão White Rabbit em que nem o nome nem o rótulo ajudam muito (rs), mas o que interessa é o conteúdo e esse mostrou a boa mineralidade e tipicidade da casta, sem exageros, bem balanceado. Para vinho alemão de qualidade, os 150 a 160 Reais está de bom tamanho porque a maioria começa a partir de 180, gostei, apesar do rótulo. rs

 

Argentina. – De la Rioja a bodega San Humberto apresentou alguns bons vinhos entre eles um baita Petit Verdot raçudo e potente o Nina Gran Reserva, mas o que mais me seduziu foi o Nina Gold Torrontés. Tem gente que vira a cara para a Torrontés, eu não sou um deles, e há ótimos produtos no mercado entre muita zurrapa, tenho que reconhecer e estes não têm ajudado em nada na divulgação dos vinhos dessa cepa, mas estamos diante de um exemplar primoroso desta uva. De mais corpo, ótima intensidade aromática sem exageros que muitas vezes prevalecem nestes vinhos, boca de ótima textura, vivaz um vinho para quebrar preconceitos, pena que o preço seja algo puxado na casa dos 200 Reais.

 

Brasil: Vinhetica, franceses fazendo vinhos no Brasil e trabalhando com uvas dos dois melhores terroirs brasileiros, Campanha Gaúcha e Serra Catarinense. Dois vinhos me surpreenderam, um mais tradicional mas de corte fora dos padrões regionais e um blend de brancas não filtrado. O branco é o Terroir de Blanc, blend das uvas Sauvignon Blanc, Fiano de Avelino e Robolla Gialla da Serra catarinense, que poderá assustar os mais incautos por não ser filtrado sendo bem turvo, estilo visual Shweppes Citrus! rs Me fez lembrar os espumantes sem degorgment hoje disponíveis mercado, muito interessante, vinho a se descobrir com notas cítricas bem acentuadas e um toque vegetal que lhe aporta a Sauvignon Blanc que é mais presente no corte e boa textura de boca. Provei o filtrado também, bom, mas este me despertou mais a atenção e o preço na casa dos 75 a 80 Reais. O tinto Terroir d’Elegance é o, a princípio, mas tradicional com passagem em barricas por 12 meses porém um corte algo diferente; Cabernet franc, Teroldego, Cabernet Sauvignon, Ancellota e Tannat da Campanha com boa pegada, corpo médio, bom volume e taninos sedosos bom vinho com preço entre 80 a 85 Reais, bem honesto para o que entrega.

 

Chile – o produtor presente foi a J. Bouchon que depois de uma fase mais “popular” volta a presentar vinhos de muito bom nível que me agradaram bastante. Gostei bastante dos Canto Sur e Canto Norte, dois cortes muito bem feitos, O Norte bem bordalês com Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, porém foi o Sur que mais me seduziu com um corte diferenciado de Carmenére, Carignan e País bastante complexo, fresco, de taninos muito elegantes ambos na faixa de 130 Reais. A linha Block Series é um nível acima, vinhos mais robustos e estruturados, tanto o Malbec quanto o Cabernet Sauvignon, porém foi este último que mais me chamou a atenção. Belíssimo Cabernet de boa tipicidade sem aquela marca que me incomoda (coisas do Tuga! rs) de pimentão e goiaba que faz a cabeça de alguns. As notas vegetais são suaves, a fruta se mostra mais presente, notas tostadas um vinho de 2015 com ainda muitos anos pela frente de evolução, gostei muito e aqui já chegamos na casa dos 150 a 160 Reais que já começa a ser para poucos, mas vale a pena. A linha Granito é soberba, especialmente o branco de Semillon com 12 meses de passagem por barrica, tremendo vinho e o preço acompanha (talvez um pouco exagerado) chegando já na casa dos 350 Reais, mas tendo disponibilidade, compre logo a dupla! rs Seduzido mesmo fui pelo vinho mais barato desta leva provada o J. Bouchon Reserva Rosé de País 2018 que merece um post separado num futuro breve, o primeiro País (uva regional também conhecida como Criolla Chica por aqui e Criolla Grande na Argentina) 100% que realmente gosto, o resto não rolou nenhum até agora, e que é para tomar de caixa, delícia com preço de cerca de 89 Reais.

 

Espanha – Aqui separei dois vinhos que valem muito a pena, um bem barato o outro já na gama mais alta de preços porém condizente com seu status. O primeiro é um Tempranillo de Rioja o Casa Roja Tempranillo que possui um preço algo abaixo das 60 pratas e que nesta faixa mostrou que entrega algo a mais, muito bem feito, corpo mais leve mas cheio de sabor, bem bom! Já a Finca del Marquesado apresentou três vinhos também de Rioja, dos quais dois me chamaram a atenção, o Crianza com bons  135 Reais de custo ao consumidor o que o torna muito competitivo nessa classificação e é um vinho muito bem feito e rico, mas o Gran Reserva 2009 é da hora e o preço condizente com este nível de qualidade, idade e classificação, tremendo de um vinho que pode tranquilamente evoluir por mais uma meia dúzia de anos e fez minha cabeça. Preço beirando as 300 pratas. A grande surpresa e uma delicia de vinho, com uma acidez no nível dos Vinhos Verdes e vinhos da Galícia, estilo que me agrada muito, um vinho Basco, o Mendraka Bizkaiko Txacolina. Este vinho, como o Rosé de País da J. Buchon, vai merecer um post solo pois é deveras interessante. Txacoli é o estilo, Bizkaico é região demarcada na área rural de Biscaia e as uvas Hondarrabi Zuri e Zerretua, simples assim! rs Na boca explode em sensações vibrantes e frescas, acidez lá em cima, limão, maçã verde, adorei e tudo a ver com nossas regiões costeiras, frutos do mar, adorei! Vinho na casa dos 110 Reais e vale.

 

França – não me dediquei muito a este país e três foram os vinhos que achei bastante interessantes com preços idem, porque a busca é por qualidade com preço. Vinho bom e caro tem de monte, tem que garimpar por “acessibilidade vínica” rs! Guy Allion é o produtor de dois deles, o Les Quattre Pierres Cabernet Franc do Loire de boa tipicidade e preço razoável (130 a 140 pratas) e um belo Cremant do Loire Blanc de Blancs Brut 2016 na mesma faixa de preço e elaborado com um blend de Chenin Blanc (80%) e Chardonnay com autólise de 18 a 24 meses, método champenoise, mousse incrível, ótima perlage, fresco porém complexo, brioche, cítrico, o mais perto de champagne que provei nos últimos anos e por cerca de 140 pratas, menos de metade do preço destes!

 

Da Hungria – Produtor Sauska. Não sou chegado em Furmint seco, tomei poucos que me agradaram e este é certamente um deles, saboroso, ótima boca, aromas sedutores, por um preço de 110 pratas é uma boa pedida para quem gosta de brancos diferentes e explorar uvas menos conhecidas. Seu Tokaji Late Harvest Cuvée Sauska na faixa dos 350 Reais é muito bom, mas me parece que o 5 Puttonyos é bem mais negócio por cerca de 60 pratas a mais.

 

Portugal – Ermelinda de Freitas da região Setúbal é o protagonista e vi para minha alegria, mesmo não estando lá para prova, que os vinhos Terras do Pó Branco, tinto e Reserva estão de volta ao mercado pelas mão desta importadora com preços bem competitivos. Do que provei se destacaram dois rótulos da linha Casa do Rosário Branco e em especial o Rosé elaborado com Castelão cortado com Syrah e Touriga Nacional de cor mais intensa, bela pedida para companhar Paella Mista e a um preço bem moderado na casa dos 75 conto.

 

Itália – Alguns bons vinhos de produtores renomados como Fenocchio (Barbera d’Alba duro e muito jovem) e Maculan (delicia de Vespaiolo) de preços algo mais salgados. Na linha mais acessível, o Villa Rossi Sangiovese,  ligeiro e gostoso, da Emilia Romagna por 59 Reais é um belo companheiro para o macarrão da mámma ou a pizza de Sábado e o Visconti della Rocca Primitivo de Salento, um primitivo fácil de gostar na casa dos 75 Reais, preço bem honesto para vinhos dessas uva no mercado

Fazia tempo que não dava essas saídas de garimpo, pena que tirei poucas fotos, estava com saudades e foi muito bom rever alguns amigos presentes. Diversos vinhos interessantes, outros nem tanto e isso faz parte do jogo, mas “overall” uma seleção que deixou algumas (diversas, rs) pulgas atrás da orelha e certamente esses acima destacados são para os amigos marcarem no caderninho na próxima visita a um restaurante ou loja preferida.

Um ótimo fim de semana, kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui ou na Vino & Sapore, onde dou plantão de Quarta a Sexta das 14 às 20h ou aos Sábados das 10 às 19h dia em que sempre tenho algo aberto para receber os amigos. Fui, saúde