Brasil, Regiões Produtoras – III

Para finalizar este tema e estudo sobre as regiões produtoras de vinho no Brasil, daremos uma olhada nos vinhos do Paraná e do Nordeste Brasileiro.

 

Paraná

Como de praxe neste estudo sobre o Brasil produtor de vinhos, extremamente difícil encontrar informações detalhadas sobre a região, que tem  a Dezem como expoente máximo da produção de vinhos finos. A grande maioria dos vinhos produzidos,, é de vinhos de mesa produzidas com Vitis Labrusca (uvas americanas) nas cidades de Francisco Beltrão e Colombo, dois dos principais pólos produtores. A Dezem, em Toledo, é uma das poucas vinícolas que ganharam destaque, boa qualidade e escala para expandir para diversos mercados. Recebo agora a informação, de que apareceu uma nova vinícola durante o IV Concurso Internacional de Vinhos do Brasil que apresentou vinhos interessantes produzidos em Colombo. É a Vinícola Franco Italiano com o vinho Censurato Cabernet Sauvignon Reserva 2005, devidamente comentado pela Fabiana Gonçalves em seu blog Escrivinhos (http://www.escrivinhos.com/2008/11/novos-horizontes-na-produo-de-vinhos-no.html). Da Dezem, os destaques são o Cabernet Sauvignon e o Merlot.

 

Nordeste – Vale do São Francisco

Dizia-se que, fora dos paralelos 30 a 50 no hemisfério norte e 28 a 42 no hemisfério sul, dias mais quentes e noites mais frias com boa amplitude térmica, não seria possível o cultivo de Vitis Vinífera para produção de vinhos finos. Que fora dessas duas faixas, ou seria muito quente ou demasiado frio para o cultivo adequado. Pois bem, o Brasil com esta região incrustada no paralelo 8, meio que deu um nó nesse conceito, produzindo vinhos no Nordeste. Na verdade, Vale do São Francisco, englobando parte de Pernambuco e parte da Bahia. 

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Região semi-árida, necessita de irrigação e é hoje um importante pólo produtor de uvas e frutas tropicais no Brasil. Topografia quase plana, alto grau de insolação, temperaturas altas e constantes, gerando uvas com alto grau de açúcar e produzindo mais de duas safras anuais. O interessante é que com a ausência de inverno e baixas temperaturas, as uvas não sabem que está na época de hibernar, O homem entra com a tecnologia, retirando-lhe a irrigação após a poda, “tapeando” a videira que “pensa” que é inverno. Voltando a irrigação, a planta “se sente” na primavera e inicia mais um ciclo vegetativo que, em função do clima, permite que os enólogos controlem a maturação das plantas com a irrigação e daí, as duas safras e meia pela qual a região é conhecida. Esta tecnologia aplicada a um terroir muito especifico, permite que se controle cada parcela de forma diferente, ou seja, cria-se inverno, primavera e verão (para as plantas) controladamente para cada parcela plantada podendo gerar diversas colheitas. Vejam o que disse a enóloga Marta Ágoas, da Vinibrasil (Rio Sol) ao jornal Bon Vivant“A área produtiva da propriedade está dividida em parcelas de 20 hectares. “Cada lote está numa fase distinta do ciclo da videira”, explica a enóloga. Dessa forma, colhe-se quase todos os meses e não é necessário manter uma vinícola enorme para dar conta de toda a produção do vinhedo, visto que a entrada de uva para elaboração de vinho é escalonada ao longo do ano. Marta ainda aponta outra vantagem do sistema. “Se chover na colheita, nunca se perde toda a produção da fazenda, mas apenas um lote da safra”.Tudo isto tem seus prós e seus contras e acaba gerando vinhos para consumo mais ligeiro, vinhos jovens e fáceis de beber, tendo a Syrah como carro chefe da região, no sentido de qualidade, sendo usada como varietal ou no corte com Cabernet Sauvignon. Outras cepas plantadas na região que possui uma certa semelhança climática com o Alentejo em Portugal, é a Alicante Bouschet, Tempranillo, Touriga Nacional e nas brancas a Moscato (principal) e as tradicionais Sauvignon Blanc e Chardonnay assim como a Chenin Blanc. Todavia, devido a ser uma região muito nova, muitas outras espécies estão sendo testadas, em especial as castas da região do mediterrâneo. É esperar para ver e a ViniBrasil já começa a produzir vinhos de maior complexidade e com mais potencial de guarda.

De acordo com o Institudo do Vinho Vale do São Francisco, na região se produzem uvas desde 1960, tendo a Cinzano sido pioneira na produção de vinho para elaboração de seu vermute. Foi em 1982 que a Vitis Vinífera foi introduzida na região pela fazenda Milano. A partir dos anos 90 é que começa uma fase de ampliação e investimento maior no setor e a consolidação se dá a partir de 2000 com fortes investimentos nacionais e estrangeiros sendo o mais famoso a da ViniBrasil (Dão Sul de Portugal) com os vinhos Rio Sol, porém aqui estão as pioneiras Botticelli e Bianchetti, a Miolo (Terranova), Valduga, Lagoa Grande (Carrancas e Garziera), Georges Aubert, entre outros. Total, a confirmar já que aguardo alguns dados mais detalhados, são cerca de 8 milhões de litros (vou precisar rever meus números sobre a produção brasileira) em 800 hectares, presentemente, sendo elaborados por 8 empresas, mas com muitos outros projetos já em andamento.

Quanto aos vinhos da região, afora o Rio Sol (corte de Cabernet Sauvignon e Syrah) por meros R$19,00 um dos melhores achados do ano na relação Qualidade x Preço x Satisfação para um vinho do dia-a-dia, não conheço nenhum outro. Me lembro que cheguei a provar um outro vinho da Rio Sol e um Botticelli, mas sinceramente, nem me lembro o que me leva a pensar que não agradaram. A mídia especializada, no entanto, destaca o Rio Sol Winemakers selection Alicante Bouschet, o Terranova Late Harvest e o Terranova Cabernet Sauvignon/Syrah. Parece-me que alguns espumantes Moscatel da região também estão obtendo sucesso, tenho que provar.

Bem, creio que terminei, com um longo atraso, mas terminei. As dificuldades são imensas e ainda estou por receber algumas informações adicionais, assim que chegarem farei as alterações e/ou adendos que forem cabíveis, que espero que cheguem logo. Talvez a maior descoberta feita durante este trabalho, tenha sido a constatação da falta de organização, estrutura e projeto para a industria vitivinícola brasileira como um todo e uma maior atenção às novas regiões produtoras. Como exemplo, acho incrível que um órgão extremamente competente como a Embrapa, não tenha dados centralizados e ainda apresente estatísticas que vão somente até 2002. Quando será que nossos governantes e órgãos oficiais vão acordar para a pujança comercial e cultural que o vinho pode trazer para um país? Quando será que o ministério da agricultura acordará para esta realidade? Pensamos pequeno e, conseqüentemente, os resultados são pífios. Há que se pensar grande, pressionar os órgãos competentes, que agem de forma incompetente, por um plano estratégico único, apesar de regionalizado, para o setor, visando transformar todo o nosso potencial em realidade. O caminho não é coibir as importações, é crescer com estrutura e melhora de rentabilidade. Eu torço para que se faça a luz, porque o problema, ao que me parece, não são os outros, somos nós!

Salute, kanimambo e um brinde com um belo espumante nacional sobre os quais falarei mais durantes este próximo mês de Dezembro.